terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A Bela e a Fera (Capítulo 11)






Além da colina, além do muro de pedra que cercava a casa,Lua estava parada à beira-mar, os dedos dos pés enterrando-se na areia, as mãos enterradas nos bolsos da jaqueta. Sentia-se mal por pressionar Arthur, mas nunca conhecera um homem tão teimoso quanto o senhor do castelo Arthur. O vento levantava os cabelos macios  fazendo-a estremecer. Mais chuva, mais trovões, pensou, dizendo a si mesma que seria bom checar se havia previsão de furacões. Olhando para a casa, viu a figura que descia correndo o caminho às escuras. 

Era Arthur. Ele desapareceu junto ao portão para ressurgir em seguida, correndo na direção dela, num passo firme. Imediatamente Lua recuou. Ele usava um capuz e um abrigo escuro, que o deixavam quase invisível na noite iluminada apenas pelas luzes de segurança que vinham da casa.


Ao vê-la, ele parou.


Por um instante, ela hesitou, mas logo se virou, andando na direção da casa.


—  Lua — disse ele, ao vê-la passar, sem fitá-lo.


— Não quero que Sofia fique na casa sozinha.


— Os alarmes estão ligados.


— Isso não faz diferença se ela acordar e começar a me procurar. Por ela, não por ele, pensou Arthur sentindo a frustração dominá-lo. Mas era por isso que Lua estava ali. Para cuidar de Sofia e amá-la. Para fazer tudo que ele não podia.


— Lua, espere.


—  O quê? Outra discussão? Já sabe o que sinto.


—  Sei? Uma noite se entrega nos meus braços, e na outra fica furiosa.


—  Com razão, nas duas situações — disparou ela. — O beijo não tem nada a ver com a sua filha e com o quanto ela deseja estar com você.

Eu sei — disse Arthur, aproximando-se. — Só queria ter certeza se você sabia. Lua deu um passo para trás.


—  Não vamos falar sobre isso — disse, lutando contra o impulso de atirar-se nos braços dele e beijá-lo de novo. Como ele sempre conseguia arranjar um jeito de ficar na sombra?


—  Isso não fará com que desapareça — retrucou ele. Um silêncio pesado pairou no ar, e Lua podia ouvir-lhe a respiração, o vento contra as roupas dele, até que falou novamente:


— Nem eu quero isso.


Ela também não queria esquecer, mas precisava dizer o que sentia.


— Não gosto que me usem.


—  Não sou aquele canalha que fez você sofrer, Lua.


— Isso não importa. O beijo apenas mostrou como podemos perder a cabeça facilmente. — E como poderia ser maravilhoso, acrescentou, em silêncio. — Eu estava disponível, e quem eu era não fazia muita diferença.


— Por que diz isso?


—  Gosto da verdade. É mais fácil encará-la.


— Então está vivendo uma mentira. — De repente, ele aproximou-se, e dessa vez, Lua não recuou. — Nunca usei uma mulher. E amei apenas uma vez na vida. — Ele respirou fundo.


— E nada se compara ao que sinto quando você está perto. Lua sentiu os joelhos fraquejarem, o coração disparar.


— É apenas atração.


— Atração eu conheço. É algo apenas temporário.


—  E eu sou apenas temporária em sua vida, Arthur — disse Lua, tentando manter a voz firme.


— Meu Deus, o que esse homem fez com você? — perguntou ele, detestando aquela frieza, e querendo saber o que a causara.


Ela ergueu o queixo, num gesto de desafio.


— Ele me pediu em casamento, e cometi o erro de aceitar, acreditando que me amava. Dois dias antes do casamento, soube que iria casar-se comigo por causa de meus títulos de beleza, para me exibir para a sociedade.


Arthur murmurou, demonstrando compaixão, mas ela não queria piedade. Já bastavam as irmãs e os amigos, tentando confortá-la.


— Chay pretendia continuar com a amante, e eu seria um troféu para mostrar aos amigos, receber visitas e gerar um lindo casal de filhos. — Ela sacudiu a cabeça, fitando o mar. — E eu não queria nada — disse, virando-se para Arthur —, além de amor.


— Ele foi um tolo, egoísta e arrogante. — Aquela mulher maravilhosa o amara e o idiota não reconhecera seu valor, pensou Arthur.

— Também prefiro pensar assim. — Ele segurou-a pelo braço, e Lua estremeceu de expectativa. Mesmo assim, reagiu.


—  Não, Arthur. Não posso me envolver com você.


— Acho que não tem mais jeito... está na minha casa, cuidando da minha filha... e me deixando louco. — Ele baixou a cabeça.


O perfume dele a envolvia, e o calor do corpo forte aquecia a pele, protegendo-a do vento. Lua não podia mentir para si mesma. Apesar de saber que era arriscado, que poderia magoar-se outra vez, já que ele não sairia para a luz, nem por ela, nem pela filha, não pôde resistir. Queria que ele a beijasse novamente, precisava saber se o que havia sentido na escada era verdadeiro, se o toque dele realmente podia fazê-la arder. Ou seria apenas o mistério do rosto e do corpo que não podia ver, a dor que escondia nas sombras? Ou seria apenas o erotismo daquela voz sedutora, que vinha das sombras e parecia enfeitiçá-la?

Arthur sentiu o gosto de Lua, antes mesmo de seus lábios se tocarem. Ouviu o gemido abafado, pedindo mais. Então, a boca de Arthur devorou a dela, e o calor espalhou-se por seu corpo, penetrando nos ossos, como um fogo incontrolável.


—  Lua  — murmurou, e ela enterrou os dedos no peito dele, puxando-o para mais perto.


— Não devíamos... — As mãos dela deslizaram pelo peito forte, mas Arthur segurou-lhe os pulsos, prendendo-os atrás das costas de Lua.


— Não — gritou ela, o desejo transformando-se em raiva. — Não posso — ofegou, afastando os lábios dos dele. — Não consigo viver assim. Se não confiar em mim, não pode haver nada entre nós.


Ela lutou para livrar-se, e imediatamente Arthur soltou seus pulsos. Lua não olhou para trás, enquanto corria para a casa, o corpo ansiando pelo dele, o coração partido.

Arthur viu-a afastar-se, tentando recuperar o fôlego. Aquilo não estava acontecendo, não podia ser, disse a si mesmo, o corpo ardendo de desejo. Mas, no mesmo instante, viu-se como uma imitação patética do homem que fora um dia. E detestou.

Depois de uma corrida que testou até o limite seus músculos doloridos,Arthur  voltou para casa, pegando um copo de água antes de subir. Ao passar pela sala, encontrou um dos desenhos de Lua sobre a mesinha de café. Era um esboço de Sofia, dormindo na poltrona, com a gatinha. Havia outro, da casa, e mais um, de Sofia sorrindo graciosamente. O que o surpreendeu não foi apenas o fato de que eram muito bem-feitos, mas o amor que era possível detectar em cada traço. E tinham sido feitos num bloco simples, a lápis. Arthur pegou um dos desenhos de Sofia e dirigiu-se ao quarto, quase sem se importar em ser descoberto vagando pela casa. Sabia que Lua faria de tudo para evitá-lo.


Os dois dias seguintes provaram que estava certo.


Lua deixava as refeições na porta da suíte, com uma batida na porta, e não mais do que duas palavras. Sabia que, se falasse com ele, às lembranças voltariam, e o desejo também. Também sabia que não iria adiantar, mas precisava de tempo para pôr a cabeça e o coração, no lugar. No entanto, cada vez que pensava nele, ficava mais confusa.


Sofia parecia especialmente feliz naquele dia, e Lua tentou se concentrar na menina, para esquecer suas apreensões. Andaram na praia, catando conchas, que lavaram e colaram na moldura de um espelho antigo que ela encontrara na garagem. Um dos lados da garagem estava todo desarrumado, enquanto o outro estava em ordem e limpo. Lua imaginou que muitas daquelas caixas deviam ter pertencido à ex-mulher de Arthur, e guardavam lembranças do casamento.


— Quer pintá-lo para combinar com seu quarto? — perguntou Lua, e Sofia negou, com um gesto de cabeça.


—  Quero dá-lo para o papai.


Lua piscou, surpresa, mas logo sorriu.


— Aposto que ele vai adorar.


— Vou levar para ele.


—  Querida, não sei se é uma boa ideia  — Mas Sofia já corria para a casa, o tesouro apertado contra o peito. Lua seguiu-a, alcançando-a na escada. — Espere, Sofia. Precisa secar. Por que não põe em seu quarto, por enquanto?


— Não! Quero dar para ele!


Sofia soltou-se da mão de Lua e correu escada acima. Mas Lua foi mais rápida e alcançou-a, abraçando-a contra o peito.


— Solte-me!


—  Querida, não pode vê-lo. Ninguém pode.


Sofia começou a chorar e Lua sentou-se nos degraus, abraçando-a carinhosamente e pondo de lado o espelho. Algumas conchas caíram, e a menina passou os braços e pernas à volta de Lua, soluçando.


— O que está acontecendo aí?

Lua  não respondeu à voz que soava no interfone, sussurrando palavras carinhosas para a menina e carregando-a escada acima, sem esquecer do tesouro. Os soluços de Sofia diminuíram quando Lua colocou-a na cama, tirando-lhe os sapatos. Embora fosse a hora em que costumava dormir, lutava contra o sono.

Quero Serabi.  - Ela pediu chorosa
Afastando os cabelos do rosto da menina, Lua sorriu.


— Vou buscá-la.


Assim que saiu do quarto, Sofia sentou-se, desceu da cama, e empurrou a cadeira da escrivaninha até a parede. Equilibrando-se na ponta dos pés, apertou o botão do interfone.


— Papai? Tenho um presente para você. Eu mesma fiz. É um espelho.


Ele não respondeu.


— Papai?


— Foi muito gentil, querida. Tenho certeza de que é lindo.


— Você não quer?


—  Quero, sim. Muito.


— Então venha buscá-lo — disse Sofia, em tom de choro.


— Não posso, querida.


— Pode, sim! — gritou Sofia. — Vi você na praia. Pode, sim. Lua entrou, trazendo a gatinha. Ouvira o suficiente para saber o que estava acontecendo. O gemido doloroso de Arthur ecoou no interfone.


— Venha, querida — disse, tirando Sofia da cadeira e carregando-a para a cama.


A menina começou a chorar outra vez, chutando as cobertas.


— Não vou lhe dar Serabi, se continuar assim.


A garotinha suspirou, fitando-a .Os lindos olhos castanhos revelavam tristeza.


— Desculpe-me — murmurou.


— Não é sua culpa, meu bem. Sei que está zangada porque seu pai não veio até aqui. — E eu também, pensou Lua. — Mas precisa se acalmar. Prometo que darei o espelho a ele.


—  Como pode vê-lo, e eu não?


— Também não o vi.


— Mas ele estava na cozinha com você!


— Estava escuro. Eu não o vi.


— Oh!


—  Agora durma um pouco e descanse. Quem sabe mais tarde possamos dar uma volta de cavalo.

Está bem — respondeu ela, pegando a gatinha. Lua sacudiu a cabeça.
— Acho que Serabi não está com sono. — E como se quisesse confirmar que ela tinha razão, a gatinha escapou para o chão e correu.

Sofia pareceu subitamente muito só. Não podia deixá-la sozinha.


Lua tomou-a nos braços, carregando-a para o próprio quarto, onde a colocou na cama. Tirando os sapatos, deitou-se ao lado da menina, que logo se aconchegou a ela. Colocando uma colcha sobre as duas, Lua continuou sussurrando palavras doces.


—  Eu gosto muito de você, Sofia —- sussurrou, antes de adormecer.


   — Eu também de você — disse Sofia.

Arthur ficou parado no quarto de Lua, observando-as enquanto dormiam. Queria deitar-se na cama com elas, abraçá-las. E amaldiçoou o momento em que vidro e metal haviam dilacerado seu corpo e sua vida.


Sentia-se como um monstro acorrentado, que magoava todos que gostavam dele, quando tentavam se aproximar. Estava tão feliz por ter as duas em sua vida, e só agora percebia como era solitário antes disso. A emoção, de repente, tomara conta do Castelo Aguiar. Podia senti-la no ar. E sabia que, quando Lua acordasse, haveria silêncio total, ou palavras duras. E não estava ansioso por isso.


Olhando para o espelho que segurava, observou a moldura coberta de conchas. Não havia espelhos no andar superior. Não precisava deles, nem mesmo para se barbear. Não queria recordar por que era melhor ficar longe dos outros, por que ninguém gostava de ver sua imagem.


Mas iria guardá-lo, vendo refletidas nele as imagens de Sofia e Lua, abraçadas, como mãe e filha. E saberia que jamais poderia tê-las.


Deixando um bilhete para Sofia, agradeceu pelo presente e saiu do quarto, sentindo no ar o perfume de Lua, que parecia estar preso às suas roupas. Subindo a escada que levava à torre, fechou a porta atrás de si, deixando o mundo do lado de fora e desejando que pudesse fazer o mesmo com seu coração.

...CONTINUA!...

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4 comentários:

  1. ooh :( eu sinto pena e raiva dele , mais a lua n ta ajudando mto . / LuArIsProud

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  2. awn sério a web é mto tocante muito,ela é linda perfeita

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  3. Que bom que vocês estão gostando, meninas. Eu já li essa web e achei ela a melhor que eu já li. Enfim, tem muita coisa por aí, e tenho certeza que irão gostar. Beijos, Sarah ;)

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