domingo, 2 de junho de 2013

June 15th


Capítulo 3.





— Luinha, Luinha, pelo amor que você tem por mim, atende essa droga, não aguento mais essa música! — ouvi a voz de Mel se aproximando de mim como um beliscão a cada palavra, e então pude ouvir junto ao seu ataque histérico uma canção, reconheci-a, era o toque do meu celular de “trabalho”. Abri os olhos lentamente e a vi parada em pé, ainda de camisola, de frente pra mim estendendo o celular. Peguei-o e ela me olhou confusa, seu olhar se dividia para mim, ali, dormindo sentada e para o balde de pipoca em meu colo. Ignorei e resolvi atender logo, já estava me deixando louca também. 
— Alô? — tossi após falar, e abanei a mão livre para Mel sair do quarto, ela me mostrou o dedo e saiu. Pareci levar um balde de água fria no rosto quando ouvi a voz do outro lado da linha. 

— Oi, er, Rachel?
— Hum? Quem é? — perguntei fingindo não reconhecer. 
— Oi, aqui é o Arthur... spray de pimenta semana passada, cineminha ontem, lembra? — idiota! Por que ele gosta de me fazer rir e me sentir uma louca toda vez que lembro do que fiz com ele? 
— Dããã, claro que sim! E aí? 
— É que, bom, como hoje é feriado, queria te chamar pra gente sair... sexta-feira em casa é suicídio! A não ser que, claro, você já tenha planejado alguma coisa...

Nem lembrava que era feriado, e muito menos que se não fosse eu teria aula e teria perdido por dormir demais. Sorri para mim mesma quando ouvi a palavra “feriado” e depois a palavra “sexta-feira”.
— O que você sugere? — praticamente ignorei a última frase que ele falou. 

— Clube, piscina, jogar conversa fora. Que tal? 
— Hum, ok. Mas agora não posso ir, deve ser o quê? Meio dia? — ele respondeu algo como “uhum”. — É, vou almoçar aqui e lá pelas três você me pega ou a gente se encontra em algum lugar... 
— Três? Nossa, você é muito enrolada! Mas ok, também tenho que almoçar na casa de um amigo... eu te pego, não tem problema, só me diz o endereço que eu passo aí... às três!

Quase cometo uma ratada, abri a boca para ensinar onde fica o apartamento, ainda bem que não sei de onde lembrei que Arthur era um “cliente”. 


— Que tal você me pegar na calçada? 
— Tem certeza? Tipo, não é um... você sabe, programa... não desse tipo! 
— Arthur, não tem garotas de programa ali de dia! — ri ironicamente e o ouvi soltar um riso baixo. — E eu entendi! Mas você tem que me devolver antes das oito, ok? Não existe feriado na minha profissão. 
— Certo, tenho que desligar agora. — ouvi uma voz de mulher ao fundo, o chamando de “Thur” — Às três estou lá hein, não vai me deixar esperando! 
— Se o meu relógio não for mais atrasado que o seu, pode ter certeza que eu não vou te deixar esperando! — sorri ironicamente mais uma vez e ele deu uma curta gargalhada. Despedimo-nos e eu levantei finalmente. Antes tirei o balde de pipoca e sorri novamente para ele. Coloquei-o novamente na estante e fui ao banheiro. Lavei o rosto e comecei a escovar os dentes. Enquanto escovava, comecei a pensar no que estava havendo. Eu tenho algum problema mental? O cara liga pro meu celular profissional e me chama pra sair como “amigos” e eu aceito? O que está acontecendo? Eu sei que Arthur é lindo, brincalhão e o que mais me chama atenção: respeitador; mas eu não posso dar tanta intimidade a ele. Não o conheci esbarrando no corredor de um shopping, ou sendo apresentados por amigos em comum. Conheci-o no meu “trabalho”. Em seguida cuspi a pasta e enxaguei a boca, vi Mel entrar no meu quarto enquanto enxugava o rosto. Voltei para o quarto e prendi o cabelo em rabo de cavalo. Notei que ela me olhava confusa. 
— Luinha, quem era? Por que você estava dormindo sentada e por que você dormiu segurando um balde de pipoca? — por que Mel não é tapada e por que ela tem que perceber tudo o que está havendo? Droga! 
— Err... estou louca? — ri. — Bom dia amiga. — não sei por que esperei que aquilo fosse convencê-la, então ela fez uma cara mais confusa ainda. 
— Lua, você não me engana. Era o Arthur, não era? 
Ótimo, tenho dois videntes em meu caminho. Engoli seco e me virei para ela, que estava sentada na cama me encarando com os olhos praticamente vidrados. 
— Por que tem que ser o Arthur? Eu não posso ‘sair’ de vez em quando com outros clientes? Era o John! — rezei para que ela se desse por vencida, mas foi em vão. 
— Que John o quê! Toda vez que o John liga você revira os olhos e sempre que ele tenta te chamar pra sair como amigos você inventa alguma coisa! — ela estava ouvindo atrás da porta? Pensei. — E eu ouvi você chamá-lo pelo nome! — é, ela ouviu sim. Apenas balancei a cabeça e fingi arrumar melhor o rabo de cavalo, encarando fixamente o espelho, de costas para ela. — Cara, e esse balde de pipoca? Onde vocês foram ontem? — DEIXA DE SER CURIOSA, . Senti as pernas vacilarem nessa hora. Por que ela presta tanta atenção em tudo? Eu não sou assim! 
— Tá, não consigo esconder nada de você mesmo! — decidi parar de fingir arrumar os cabelos e me voltei para ela, me aproximando mais. – OArthur apareceu ontem lá na calçada... — Vi-a levar uma das mãos à boca aberta e dar tapinhas na cama com a outra. Então resolvi prosseguir, estava estampado em seu rosto que ela queria saber detalhes. 
— Desculpei-me pelo spray e ele foi gentil, até fechou o meu casaco dizendo que estava frio. — Ouvi-a falar “hum”, como que dizendo que estava tudo romântico, balancei a cabeça negativamente e voltei a falar. — Então fomos para o seu carro e ele me fez uma surpresa. Levou-me para ver ‘E o vento levou’ no cinema ao ar livre, que nem nos filmes. — Mel falou algo como “AI MEU DEUS QUE LINDO” após ouvir isso e então contei parte por parte, arrancando algumas risadas e suspiros idiotas, que até me faziam rir também. Aí então a vi parar de rir e me olhar séria novamente. 
— Você não está se envolvendo com esse cara, está? — ela me olhou e acho que devolvi um olhar angustiado para ela. 
— Não, não... — falei num tom em que parecia estar tentando convencer mais a mim do que a ela. — Ele me conhece por Rachel, você sabe... quem sai com ele é a Rachel e não a Lua. — Mais uma vez vi aquele olhar não satisfeito dela, não consigo mesmo enganá-la, mas decidi desconversar, queria encerrar aquele assunto. — E aqui quem está falando com você é a Lua, e ela está morrendo de fome! — Mel fez careta e me mostrou a língua. 
— Folgada, sorte sua que pedi comida chinesa e chegou um pouco antes de eu te acordar...

Agradeci mentalmente por ela aceitar mudar de assunto. Almoçamos e ela me contou que passaria o fim de semana com os pais, na mansão deles. Falei que sairia com Arthur às três e ela disse para eu não me preocupar que lavava a louça e limpava a casa, só ia sair por volta das cinco. Depois que almocei, levantei-me e tomei banho, enrolei-me na toalha, escovei os dentes e me dirigi ao guarda-roupa. Tirei peça por peça e joguei em cima da cama. Aquele era um dia quente, perfeito para piscina. Então escolhi uma saia jeans nem muito curta e nem muito longa, uma blusinha regata branca e um biquíni vermelho. Aprontei-me e olhei no relógio, faltavam cinco minutos para as três, apressei o passo e dei um abraço em Mel, que me elogiou e desejou sorte. Sorri e fiz o mesmo com ela, que nesse momento estava lavando copos, pratos e talheres que havíamos sujado. Saí do apartamento e desci as escadas do prédio devagar, senti o coração disparar, estava nervosa para encontrar Arthur. Não sei bem explicar o motivo, apenas não sabia qual seria a reação dele ao me ver em trajes “normais” e sem toda aquela maquiagem pesada. Respirei fundo e caminhei mais rapidamente, chamei um táxi e parei ali, naquela mesma calçada. Na parte do dia aquele é apenas mais um lugar para se passar em Londres. Várias pessoas passavam ali com suas famílias, e eu estava ali, no meu local de trabalho esquecendo tal definição por alguns segundos. Pude ver que o carro já estava parado, Arthur já estava me esperando, eu devia estar muito atrasada, já que quando saí de casa faltavam apenas 5 minutos para as três. Cocei a cabeça, indicando nervosismo e vi seu carro se aproximar de onde eu estava. Ele baixou o vidro e indicou para que eu fosse para o banco de trás, havia um rapaz loiro no banco da frente, ao seu lado. Então fiz o que ele disse e entrei no carro. Antes de dar a partida, Arthur me cumprimentou e o amigo fez o mesmo, ele nos apresentou. O nome de seu amigo é Chay, que imediatamente disse odiar ser chamado pelo nome, que eu podia chamá-lo de Suede. Arthur disse que Suede iria para o clube conosco, ele tinha um encontro lá. Após dizer isso deu um tapinha no braço do amigo, indicando que estava orgulhoso dele. Saímos de perto daquela calçada e eu fui o caminho inteiro calada. Na verdade estava pensativa. Será que Suede sabia quem eu era? Digo, o que eu fazia? Ouvia os dois conversando empolgados e sorria para mim mesma, eles pareciam duas crianças planejando comprar o planeta Terra. Algumas vezes, quando passávamos por sinaleiros, podia ver os olhos de Arthur me olharem disfarçadamente pelo retrovisor, enquanto conversava com Suede. Em uma das vezes o encarei e sorri, recebendo uma arqueada de sobrancelhas fatal. Como ele é lindo! 


Fomos chegando ao local e Arthur estacionou debaixo de uma árvore. Era um lugar muito bonito, rodeado por lindas árvores e um gramado incrivelmente verde. No meio estava a piscina, quer dizer, as piscinas. Havia uma pequena e aparentemente muito rasa, cheia de crianças brincando e jogando água umas nas outras. A outra era enorme e só tinha adultos, em volta via muitos casais observando tudo e alguns fazendo piquenique; outras pessoas estavam sozinhas, apenas apreciando o dia de sol e lendo um bom livro. Senti Arthur envolver a minha mão, gelei e apenas a segurei. Fomos andando e Suede indicou um lugar vazio perto da piscina. Então ele tirou uma toalha que tinha um tamanho grande e estendeu no gramado para que nos sentássemos. Suede é uma pessoa legal e descontraída. Nós três começamos a conversar, fui me soltando, perdendo a vergonha que sentia em pensar que talvez ele soubesse que eu era uma garota de programa. Acho que principalmente por ele me olhar com uma cara inocente e perguntar o que fazia da vida, Arthur me olhou assustado, como se dissesse pra eu inventar alguma coisa, o agradeci mentalmente, não queria mesmo que seu amigo soubesse de tudo. Disse que estudava e era mantida por meus pais. Grande mentira. Ele pareceu ficar satisfeito e interrompeu a conversa quando avistou o seu “encontro”. Deu-nos um “tchau” quase que inaudível, ele estava realmente encantado por aquela mulher. De longe ela parecia ser bem bonita, tinha longos cabelos ruivos e parecia ter um corpo em forma, ouvi Arthur suspirar alguma coisa como “nossa, que gata” e balancei a cabeça o fazendo rir. 
— Quer beber alguma coisa? — ele me assustou, estava tão concentrada naquela natureza em volta que parecia estar viajando. 
— Quero! — ouvi-o dizer algo como “vou pegar” e levantar. O interceptei, antes que saísse. — Toma, eu pago o meu, certo? — falei lhe entregando o dinheiro que havia acabado de tirar do bolso de minha saia. Vi-o balançar a cabeça negativamente, como se estivesse inconformado. 
— Que é isso, Rachel. Não vou aceitar, você foi convidada, acho até que te acordei! — ele riu e passou a mão em seus cabelos, fazendo-me suspirar, então apenas assenti e guardei o dinheiro de volta.

Vi Arthur se distanciar cada vez mais, aproximando-se de um quiosque, onde ia pegar a bebida. No caminho ele tirou a camisa, colocando-a em volta do pescoço. Mordi o lábio inferior e em seguida balancei a cabeça rindo internamente, aquele homem mexia com o meu sistema nervoso. Desviei o olhar e vi Suede já dentro da piscina com a moça que estava acompanhando, eles já estavam em meio a beijos, risadinhas e carinhos, deviam se conhecer há algum tempo. Fiquei imaginando o quanto é bom ter aquilo, sentir-se mimado e mimar alguém. Só havia sentido isso uma vez, aos 15 anos, quando namorei um garoto que morava na rua próxima à minha. Já fazia tanto tempo que nem do rosto dele consegui lembrar, só de como me sentia idiotamente boba. Acordei do transe vendo Arthur me observar ainda de pé, rindo como se tivesse me pegado em algum flagra. Em seguida estendeu a mão com a minha lata de cerveja, peguei-a e agradeci, ele se sentou ao meu lado novamente e se ofereceu para abrir a latinha, assenti e ele o fez, devolvendo-me. Estava quase finalizando a quantidade de cerveja na minha lata, quando quase me engasguei.
— Você é tão diferente assim... — olhei assustada e vi aquele par de olhos hipnotizantes analisando pedaço por pedaço do meu rosto. 

— Assim como? — mordi o lábio, confusa. 
— Assim, ao natural. Sem aquela maquiagem e usando essas roupas... — agora pude ver seu olhar ir direto para a minha blusa e depois voltar para me encarar. Estava novamente sentindo aquele choque térmico por dentro. 
— Que é isso, acho que tenho mais graça daquele jeito. Ou não sei se é porque estou acostumada a me olhar no espelho daquela forma! — sorri envergonhada e desviei o olhar para a piscina. 
— Com certeza é por isso — ouvi-o dar uma risada abafada e notei que também desviou o olhar.

Ficamos em silêncio por alguns instantes e depois de bebermos, ele me convidou para ir à piscina. Fiquei morrendo de vergonha e desconversei, dizendo que depois iria. Foi então que ele tirou a bermuda que usava, ficando apenas em traje de banho, uma sunga preta com discretas listras brancas nas laterais. Já tinha o visto de boxers, toalha em volta da cintura, mas nunca o vi com as pernas completamente de fora. Era colírio demais para os meus olhos, balancei a cabeça e desviei o olhar quando notei que ele havia percebido que eu olhava fixamente para seu belo par de pernas.
— Se mudar de idéia, estou te esperando. — ele sorriu e acenou, se distanciando e em seguida mergulhando.
Deitei-me sobre a toalha e tampei o rosto com as mãos para que o sol não ficasse em meu rosto. Ouvia os casais por perto conversarem e algumas mães darem bronca em seus filhos por insistirem em pular na piscina maior. Comecei a pensar em coisas cotidianas, no trabalho enorme que o professor de história havia passado para ser apresentado na próxima segunda-feira e eu nem ao menos tinha pensado em um tema. Foi quando sem ao menos esperar ouvi uma pessoa fazer “shhh” e senti duas mãos segurarem fortemente os meus calcanhares, em seguida senti outras duas mãos segurarem os meus dois pulsos, tirando as minhas mãos do rosto e estendendo os meus braços. Eram Arthur e Suede. Suede segurava as minhas pernas e Arthur os meus braços, não tive nem tempo de tentar lutar contra eles, não tinha dúvidas de que são muito mais fortes e não me soltariam assim tão fácil. Sem que pudesse pelo menos raciocinar já estava ali, dentro da água, ouvindo gargalhadas, provavelmente dos dois marmanjos que me observavam ficar de pé, lutando contra a água. Os olhei com um olhar de fúria, mas depois comecei a rir, não podia acreditar que eles tinham me jogado. Arthur e Suede batiam as mãos e pulavam como se tivessem descoberto a América e eu apenas mostrei-lhes o dedo do meio, arrancando ainda mais risadas. Já que estava ali mesmo, comecei a nadar de um lado para o outro, estava um dia muito quente, e aquela água gelada realmente estava me aliviando. Então mais uma vez fui surpreendida, senti a minha cabeça ser pressionada contra a água, mas engoli uma grande quantidade, quando fui levantada estava tossindo bastante. Arthur ficou nervoso e ao mesmo tempo em que me colocava deitada em seus braços ainda na água batendo em minhas costas, pedia desculpas como que uma vez por milésimo. Consegui me recompor e dei um tapa em suas costas, o fazendo rir e pedir desculpa novamente. Olhei para onde estávamos sentados antes de tudo acontecer e vi Suede deitado com a sua garota, estavam muito concentrados em seus beijos, Arthur me puxou e ficamos cara a cara novamente. Não vou mentir que cada vez em que nossos olhares se encontravam, ficava nervosa, não sabia que cara fazer para ele. Tinha medo que percebesse que eu o estava fitando. É realmente difícil não se atrapalhar olhando aqueles olhos mais azuis que a água da piscina.
— Vem, deixa eu te ensinar uma brincadeira... — ele falou, para a minha felicidade, pois assim parei de olhá-lo.
Brincamos como duas crianças na piscina até às 6h da tarde, quando vi a hora em seu relógio saí como louca da água. Suede já havia se despedido da moça e me olhava com uma cara engraçada.
— Gostou do banho? — ele perguntou franzindo a testa e coçando a cabeça, como se fingisse não ter culpa no cartório. 

— Adorei! — fiz a cara mais sarcástica do mundo e depois sorri para ele, para tirar a impressão de antipatia, porque acho que ele tinha acreditado que eu estava chateada. Então ele sorriu de volta e desviou o olhar de mim, como se olhasse alguém chegando atrás, certamente era Arthur. E era. Pediu a toalha que havia pedido para o amigo guardar em sua mochila e começou a se enxugar, eu observava a cena como se estivesse em câmera lenta. Acho até que Suede percebeu, pois o vi soltar uma risada abafada que ele deve jurar que não ouvi e nem percebi. — Vocês me jogam na piscina e nem ao menos me oferecem uma toalha para me secar? — falei parecendo estar inconformada. 
— Ué, te falei que a gente vinha pra piscina. Não trouxe toalha porque não quis, agora se vira! — Arthur disse dando de ombros, tirando sarro de mim, em seguida levando um tapa no ombro dado por Suede, que disse que o amigo não sabe mesmo conquistar uma mulher. Fiquei completamente sem graça, pobre Suede, acha que Arthur estava mesmo tentando me conquistar. Ri internamente.

Depois da descontração, Suede me emprestou sua toalha, que já estava mais ou menos seca, pois fazia tempo que ele havia saído da água para se jogar nos braços de sua ruiva. Agradeci e fomos caminhando para o carro. Arthur forrou o banco da frente com um saco plástico que apanhou no porta-malas. 


— Ei, você tem que colocar isso atrás, eu vou atrás, esqueceu? — falei sem entender porque ele estava forrando o banco da frente e não o de trás.
— É que eu vou descer primeiro! — Suede respondeu. 
— Dãããããã! — Arthur disse fazendo uma cara engraçada para mim.

Sentei ao seu lado e seu amigo foi para o banco de trás, conversamos bastante durante o percurso, bem diferente de quando estávamos indo. Eu me sentia mais à vontade ao perceber que Suede não sabia o que se passava. Paramos em frente a uma casa realmente grande, deixei escapar um “wooow”, fazendo os dois rirem.
— Valeu, Thur — Suede deu um tapa no ombro do amigo, abrindo a porta para sair. — Prazer te conhecer, Rachel, espero te ver mais — ele disse bagunçando o meu cabelo e deixando o veículo. Falei um “igualmente” que acho que ele não pôde ouvir, já que bateu a porta na mesma hora. Ficamos observando-o tocar o interfone e só quando entrou prosseguimos. 

— Bom, acho que do jeito que você está aí, é melhor eu te deixar direto em casa — Arthur sorriu e me olhou rapidamente. 
— Tá, você venceu — falei dando de ombros e comecei a encarar a janela. 
— Amém, estava mesmo começando a achar que você morava naquela calçada! — ele disse tirando sarro de mim, então dei um leve tapa em seu braço, mas dessa vez estava me sentindo à vontade e não fiquei sem graça. 
— Ok, quando eu te disse que não precisava ficar com vergonha ao me bater, não estava dizendo que você tinha passe livre pra fazer isso o tempo todo! — fez uma cara bastante séria, deixando-me super envergonhada, querendo abrir a porta do carro e me jogar. Respirei aliviada quando o vi abrir novamente um sorriso. — Estou brincando. Pode abusar de mim — fez cara de cachorro abandonado e depois voltou a atenção para a direção que ia. Dei-lhe as coordenadas para chegar ao meu apartamento e o chamei para subir. Não me perguntem onde eu estava com a cabeça pra fazer isso.

Ao entrarmos no apartamento, Mel tinha deixado realmente tudo brilhando e vi Arthur olhar estatelado, em seguida ele elogiou a organização e disse que eu sou o inverso dele. 

— Não, não sou o seu inverso, sou muito bagunceira também. Acontece que divido o apartamento com uma amiga que é fanática por limpeza, quando ela decide limpar tudo, fica assim, brilhando — sorri e ele me olhou confuso. 
— Ela é, hum... também? — achei fofo o seu receio em pronunciar “prostituta”. 
— Não, ela tem uma vida normal — sorri fraco, desejando por alguns segundos estar no lugar dela.

Arthur pareceu ignorar o que eu disse e se dirigiu para uma mesinha perto da televisão, onde Mel e eu colocamos alguns porta-retratos.
— Essa é ela? — ele disse me mostrando uma foto de uma moça loira, com o rosto de boneca, de braços abertos na frente do mar e os cabelos ao vento. 

— Sim, chama-se Mel. Dividimos apartamento há dois anos. 
— Nossa, como ela é linda — ele falou olhando ainda para o retrato. 
— É sim, pessoalmente é mais ainda — sorri e me virei para ir para o meu quarto me trocar. 
— Rachel — ouvi Arthur chamar ao me ver afastando. 
— Oi? — virei rapidamente e o vi segurando uma foto que eu realmente odeio, mas a Mel insiste em deixar ali. 
— Quantos anos você tinha aqui? — ele disse fazendo a cara mais marota que eu já o havia visto fazer. 
— Er, acho que 17... não sei bem! Odeio essa foto — falei já tentando arrancar o porta-retrato de sua mão, ele o segurava com força e tentava me empurrar. 
— Ah não, sai. Você tá muito engraçada aqui — começou a rir e eu fiz cara de emburrada, dando-lhe as costas e indo para o meu quarto. 
— Com licença, Arthur. Vou tomar banho porque tenho o que fazer! — falei abanando o ar, arrancando risos dele, eu estava rindo também. — Pode ficar à vontade, ligar a TV, sei lá — Falei gritando já de dentro do quarto. Ouvi-o gritando de volta, dizendo que me dava carona.

Estava encharcada, tirei peça por peça e entrei no chuveiro. Depois sequei os cabelos com secador e me vesti. Fiz a maquiagem morrendo de preguiça, aquele banho de piscina realmente me deixou cansada. Saí do quarto e quando cheguei à sala avistei Arthur dormindo como um bebê, estirado no sofá e a televisão ligada. Lembrei de que Mel e eu costumamos dormir muito ali também e sorri baixo. Fiquei realmente com pena de acordá-lo, então apenas fiz um bilhete e deixei na mesinha de centro. Tranquei a porta e voltei para a minha velha rotina. Senti-me completamente estranha quando cheguei à calçada, Arthur estava me deixando mal acostumada com seus passeios divertidos e o jeito terno que me tratava: como uma pessoa normal. Quando o primeiro cliente chegou senti como se um peso estivesse em minhas costas, mas entrei no carro do mesmo jeito. Foi mais um daqueles programas. Sexo, sexo e sexo. Depois ele me deixou de volta na calçada e como ainda estava cedo, esperei outro carro parar. A mesma coisa foi com esse cliente, minhas pernas pareciam lutar contra mim. A única coisa boa e diferente foi que enquanto eles estavam concentrados entre as minhas pernas, eu estava com a mente completamente longe dali. Só lembrava daquele lindo homem deitado no sofá da sala. Era como se eu estivesse dormente, nem sentisse ninguém em cima de mim. Depois parei para pensar em como a simples respiração de Arthur no meu ouvido no dia anterior me dava mil vezes mais prazer do que as relações sexuais propriamente ditas que eu estava tendo. Então fui deixada na calçada novamente e fiz o velho caminho de casa. Dessa vez com um sorriso no rosto, sabia que chegaria lá e encontraria aquele cara que parecia ter saído diretamente de um catálogo de moda e estava saindo comigo. Não “saindo” no sentido literal da palavra, mas me fazendo companhia. Subi as escadas correndo e abri a porta, notei que não havia mais ninguém no sofá, mas que a TV continuava ligada. Tranquei a porta novamente e pude observar a luz da cozinha acesa. Quando cheguei até lá, vi Arthur de costas, apenas de bermuda, parecendo assistir um filme dentro da geladeira. 


— Achou a programação desejada? — falei chegando por trás dele e percebendo o susto que levou. 
— Ra... Rachel! Que susto! Desculpa aí a folga, mas é que eu acordei com fome e você ainda me deixa trancado aqui! 
— Relaxa, sem problemas, fizemos compras semana passada. Eu ficaria desconsertada se tivesse tudo vazio! — falei tentando aliviar a tensão, ele estava completamente tímido, o que é um milagre, porque sempre é ele quem me deixa assim. 
— Como foi hoje? O trabalho? — ele disse pegando presunto e queijo de dentro da geladeira e colocando na mesa. 
— Ah, tive dois clientes e estou exausta. O mesmo de sempre, acho — sorri com cara de derrotada e ele balançou a cabeça, acho que com pena de mim. — Vou tomar outro banho, estou me sentindo imunda! — virei-me para deixar a cozinha. 
— Rachel, posso fazer um sanduíche? — ele disse já com uma mão no pão e a outra no presunto. Ri da cena e assenti. Voltei-me para onde estava indo, entrei no quarto e fui ao banheiro tomar banho. É incrível como mesmo com um tempo significativo de “trabalho” eu ainda me sinta nojenta toda vez que chegava em casa. Como se tivesse sido estuprada, exatamente como no dia após aquela maldita festa quando tinha 16 anos.

Saí do banho e apanhei um baby doll que tem o short realmente curto, então fiquei com vergonha de aparecer daquele jeito para Arthur e peguei um roupão, colocando-o por cima. Pentei os cabelos e saí do quarto. Notei que ele ainda estava na cozinha, e fui até lá.
— Olha só, preparei um pra você também! — Arthur disse sorrindo vitorioso. Acho que aquele sanduíche era o maior de todos existentes no mundo. Certamente ele tirou de tudo um pouco que tinha na geladeira e colocou ali dentro. Não pude me segurar e soltei uma risada. — Que foi? Não quer? — ele fez bico. 

— Quero! Não é isso, criança mimada. 'Tô rindo da altura desse pão! — falei pegando o meu e agradecendo, chamando-o para ir à sala. 
— Sua amiga não vai se importar de chegar aqui e me ver? — ele disse passando pela porta da cozinha. 
— Nááá, ela vai passar o fim de semana com os pais — dei de ombros continuando o percurso. Ouvi-o dizer algo como “que bom” e rir aliviado. 
— Por que você está com esse roupão? — gelei ao ouvir isso sentando no chão e encostando as costas na parte de baixo do sofá. 
— Hã? — fingi não entender. 
— Não se podem esconder tão belas pernas! — ele disse sentando ao meu lado e fazendo uma cara de tarado, em seguida dando risada, fazendo-me corar idiotamente. Apenas lhe dei uma cotovelada. — Outch! Você é meio violenta... Então, antes de você chegar vi que ia passar um filme antigo de comédia nesse canal. 
— Sério? Qual? — perguntei bastante interessada e me preparando para dar a primeira mordida no sanduíche. 
— “Curtindo a vida adoidado”, esse é bom! — ele disse já com a boca um pouco cheia e sorrindo, entendi na hora, ele quis dizer que “E o vento levou” não é bom. O que esse cara tem na cabeça?

Engatamos uma discussão sobre filmes, discordamos na maioria e se concordamos em dois foi muito. Aquele sanduíche estava realmente apetitoso; além de perfeito ele ainda sabe preparar comida? Tem como não se encantar por um homem desses?
Já estava chegando a hora do filme começar, peguei os pratos e copos sujos e levei à cozinha. Empilhei na pia e me voltei para a geladeira. Tinham dois potes de sorvete no congelador, escolhi o de pistache e voltei para a sala com o pote e duas colheres. Quando cheguei, Arthur já estava sentado no sofá, com os braços abertos se apoiando e as pernas apoiadas na mesinha de centro. Pedi licença para poder passar por ali e sentei-me ao seu lado, dei uma colher e ele mesmo abriu o pote, sacudindo o meu ombro e dizendo que adivinhei o seu sabor de sorvete favorito. Começamos a tomar sorvete, ele segurando o pote e eu indo com a colher lá, então iniciamos uma nova conversa. 


— Você é de Londres mesmo? — Arthur perguntou olhando-me passar a colher pegando uma quantidade de sorvete e tentando me impedir com a sua colher, dando risada. 
— Não. Vim de Bolton com 16 anos — falei normalmente colocando a colher na boca e fazendo careta pra ele, insinuando que venci e consegui pegar sorvete. Ele arregalou os olhos. 
— Você tá me zoando? — por que eu o zoaria quanto a isso? 
— Não?! — olhei confusa e peguei mais um pouco de sorvete. 
— Eu também sou de Bolton! Só que me mudei pra cá com 12 anos! — agora quem o olhou surpresa fui eu.

Falamos das escolas em que estudávamos, dos lugares em comum que frequentamos, mas nunca nos vimos, e falamos nomes de pessoas que conhecíamos, amigos mesmo, para ver se tínhamos alguém que conhecesse os dois. Chegamos à conclusão de que não conhecíamos ninguém em comum e desistimos de tentar falar nomes de amigos.
O filme finalmente começou, o sorvete já estava pela metade. Sentei por cima da perna e ajeitei uma almofada na altura da cabeça para poder encostar e assistir TV ao mesmo tempo. Arthur, por sua vez, apenas tirou as pernas da mesinha e se acomodou colocando uma almofada atrás da cabeça. Aquele filme é realmente bom. Ríamos descontroladamente. Diferente das outras vezes, ele prestou atenção no filme e não me encheu muito a paciência, só quando, algumas vezes, eu ia tirar sorvete e ele puxava o pote para que eu não conseguisse. Para falar a verdade, eu estava desejando profundamente que ele tentasse me incomodar e respirasse perto do meu ouvido de novo, ele está mesmo me deixando mal acostumada.
O filme acabou e ele se ofereceu para deixar o pote vazio na cozinha e lavar as colheres. Estava bastante acomodada e apenas assenti. Depois que ele fez tudo, apanhou a camisa que estava jogada na poltrona ao lado do sofá e vestiu. 
— São duas da madrugada! — falou olhando atentamente o relógio. 
— Já? Caramba, passou rápido — falei espantada e ele concordou. 
— Bom, então já vou — falou indo em direção à porta. 


Levantei-me e o segui. Quando estávamos na porta, ele já pelo lado de fora e eu segurando a porta, voltou a falar. 



— Ligo-te ou venho aqui amanhã. Descansa, você tá começando a ficar com olheiras — sorriu com ternura e piscou para mim, em seguida me deu um beijo na testa, que me deixou em transe. Quando acordei, ele já estava descendo as escadas. O observei descer cada degrau e me peguei sorrindo para o nada, mais uma noite feliz tinha acabado.


Créditos: Mandy , Heart LuAr

Todos créditos reservados á: Fanfic Obsession


Obs: Se eu não colocar o fundo de alguma cor ele fica todo branco , pois o fundo de onde eu pego a web é branco..E eu não sei porque eu não consigo colocar a fonte desse troço em preto, pois quando eu edito ele tá preto tudo bonitinho, e quando eu publíco a fonte fica branca .. ai com a fonte branca e o fundo branco , só da pra ver o que tá escrito em vermelho ..



Obs2: Alguém ai tem Facebook? se tiver deixa o link aqui nos comentários que eu add ok?.. bjs


4 comentários:

  1. Maaaaaaaaaaaaaaaaaaais

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  2. isadora.araujo.39545@facebook.com

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  3. cara,eu amo essa web,estou començando a fica viciada nela ( olha aqui meu face https://www.facebook.com/gabriela.goncalves.54379?ref=tn_tnmn )

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  4. essa web é d+ , to amando , meu fb : https://www.facebook.com/rannara.silva?ref=tn_tnmn

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