Capítulo 08 e 09
— Luh...
Celular... Amor... Deus.
Acordei
ouvindo a Mel tentar falar alguma coisa e pude ouvir o celular morrendo de
tanto tocar. Levantei atordoada, tentando abrir os olhos normalmente, o que não
era possível e peguei o celular em cima da estante.
— Alô? —
falei esfregando os olhos que insistiam em não abrir.
— Eu
te acordei? — meu coração quis saltar. Era ele, aquele imbecil.
— Uhum —
falei simplesmente e bocejando em seguida.
— Desculpa,
mas, er, a gente tinha combinado uma coisa hoje, lembra? —
lembro, seu idiota, mas eu devia te dar um bolo DAQUELES.
— Ah, sim
— bocejei novamente.
— Você
ainda vai querer ir? — NÃO.
— Sim — O
QUÊ? AGORA ERA SÓ O QUE ME FALTAVA. NÃO TENHO MAIS CONTROLE SOBRE A MINHA BOCA.
— Digo, não está muito cedo?
— São,
tipo, duas da tarde — ele riu.
— HÃ?
MENTIRA?
— Juro
por tudo o que você quiser... Apronte-se aí que daqui a pouco eu passo pra te
buscar. — HÁ! Agora ele manda em mim?!
— Ok —
HEIN? Meu Deus, vou me jogar da janela. — Er, tchau.
— Tchau,
eu te dou um toque quando estiver indo — e desligou.
Coloquei
o celular na estante novamente e fui caminhando a passos de tartaruga para o
banheiro. Tomei banho e depois escovei os dentes. Voltei para o quarto enrolada
na toalha e vi mel já sentada, pelo jeito lutando para abrir os olhos.
— Quem
era? Essa hora? — ela perguntou em meio a bocejos.
— O
Arthur... E já são duas da tarde — respondi indo para o guarda-roupa.
— HÃ? E o
que aquele idiota queria? — indagou, levantando.
— Pois
é... Ah, a gente não tinha combinado de sair hoje? Ele tá vindo me buscar —
informei, vestindo a calcinha.
— E VOCÊ
VAI? — falou indignada, chegando ao meu lado e me ajudando a escolher alguma
coisa pra vestir.
— Vou, né
— dei de ombros.
— Ah,
você é uma bestona mesmo! — deu-me um tapinha no ombro. — Eu no seu lugar... —
pensou — ia também, afinal é o Arthur Aguiar, né? — levou as mãos ao coração e
suspirou como uma boba apaixonada.
— Idiota!
— empurrei-a, rindo — esse aqui está legal? — mostrei um short jeans curto.
— Huuum —
ela arqueou a sobrancelha analisando. — Ótimo! Agora pra ficar perfeito, uma
batinha — e começou a vasculhar na parte das blusas. — Essa! — deu-me uma bata
estampada de alcinha.
— Gostei
— falei já vestindo o short.
— Você
vai arrasar, mas ei... — virei para olhá-la e perguntei “ei o quê?” — Vou
almoçar sozinha? — fez bico.
— Ouuunn,
desculpa amiga. Mas você pelo menos vai almoçar... E eu? Acho que o Arthur já
almoçou há anos — falei revirando os olhos e vestindo um sutiã sem alça, em
seguida coloquei a blusa.
— Tudo
bem, tudo bem. Eu guardo as sobras pra você. E vale a pena passar fome para
fazer companhia ao Arthur — novamente suspirou de forma boba. E eu ri. — Vem,
vou secar o seu cabelo e fazer um rabo de cavalo maravilhoso! — concordei e
puxei um banquinho para ficar novamente de frente para o espelho e ela pegou o
secador e uma escova.
— Estou
ficando mal acostumada com esses seus ataques de personal stylist.
— Então é
bom você aproveitar enquanto tem, querida, uma hora eu canso — rolou os olhos.
— 'Tá.
Outch, cuidado aí com a minha orelha, sua doida — reclamei depois de receber
uma escovada na orelha. Ela me xingou de “frouxa”.
— Você
vai falar sobre aquela que não se deve nomear de VAGABUNDA? — não consegui
ficar sem rir. A Mel realmente não nasceu nesse mundo.
— Acho
que não. Ontem falei que ele sabe o que faz... Então, problema dele. E para de
dizer que ela é vagabunda, Mel, a coitada não tem culpa do namorado dela ficar
atrás de mim, deixando-me louca por ele... — ela deu um gritinho e eu ri. — O
vagabundo é ele — bufei e cruzei os braços.
— O fato
de ele ser vagabundo já está até fora de cogitação... Porque ele rala muito no
McFly... — falou a palavra McFly dando ênfase e suspirando de novo. — Mas não
deixa de ser um filho da #$%@ lindo, maravilhoso, gostoso, sem vergonha e
idiota! — agora quem bufou foi ela. — Acredite, a Sophie é vagabunda. Eu sei o
que estou dizendo.
— Quem me
garante que você não está dizendo isso só pra me consolar? Mel, eu vi com os
meus próprios olhos quando fomos ao banheiro. Ela é louca pelo Arthur, quer
casar e tudo!
— Amiga,
você chegou até a dormir de conchinha com um dos caras mais famosos desse país
e por que não desse continente, sem saber disso! Ainda acha que tem condições
de deduzir quem presta e quem não presta? Confie em mim, a Sophie é vagaba e
pronto! — rimos e eu dei um tapa em seu braço.
É, até
que faz sentido. Eu não sou a pessoa mais esperta para entender as coisas. Mas
dessa vez eu não posso estar enganada. Eu vi, ali, com os meus olhos a Sophie
praticamente engatinhar pelo Arthur. Como ela seria uma vagabunda? Ela podia
até ser antes dele, mas acho que agora realmente o amava. É como naqueles
filmes, em que a pessoa faz tudo de errado, mas quando conhece quem o faz amar,
transforma-se da água para o vinho.
Mel
terminou a escova e prendeu o meu cabelo em um rabo de cavalo realmente bem
feito. Ela leva jeito para essas coisas. A faculdade de moda definitivamente
foi a melhor escolha que poderia ter feito. Levantei e a abracei, agradecendo o
ótimo trabalho. Ela se vangloriou um pouco, como de costume e me indicou a
sandália a ser usada. Segundo ela, definitivamente tinha que ser uma melissa
tradicional. Quem sou eu para discordar, não é? Fiz exatamente o que Mel mandou
e me olhei novamente no espelho.
— O Arthur
vai ser seu! — disse batendo palmas.
Oh, como
eu queria que isso fosse verdade. Por que eu queria que isso fosse verdade?
Acorda pra vida, .
— Talvez
eu nem queira isso... — dei de ombros e ela balançou a cabeça.
— Eu sei
que quer. E você vai ter! — Mel me deu um beijo na bochecha. — Vou tomar banho
— saiu do quarto me deixando sozinha com os meus pensamentos.
Peguei um
dos perfumes mais doces que tinha e passei uma quantidade pequena, para ficar
cheiroso e não enjoativo... Como o da maioria dos clientes que tenho. Argh!
Peguei uma bolsa de cor marfim e coloquei os dois celulares dentro. Olhei-me
novamente no espelho e fui para a sala. Sentei no sofá e liguei a TV. Já estava
impaciente esperando Arthur, quando ouvi meu celular finalmente tocar.
— Oi?
— Estou
aqui embaixo! — Arthur disse.
— Estou
descendo! — levantei, desliguei a TV, guardei o celular na bolsa de novo e
gritei avisando a Mel, que estava no banheiro, que eu já estava indo.
Ela me
desejou sorte, também gritando, e disse que era para eu esbanjar todo o meu
charme, o que me fez rir. Tranquei a porta e a cada degrau que descia, sentia o
coração bater mais forte. Quando fui chegando à porta, vi Arthur encostado no
carro, do lado de fora, mexendo no celular. Quando ele notou a minha presença,
ficou com uma cara engraçada. De surpresa, quase a mesma que ele fez na festa
quando me olhou dos pés à cabeça. Depois sorriu levemente, e eu retribuí,
corando e me aproximando dele. Nesse momento já não sentia as minhas pernas,
braços e nem nada. Ele estava tão lindo. Vestia uma camisa branca, sem nenhum
outro detalhe e uma bermuda da mesma cor da minha bolsa. Usava apenas um tênis
branco com detalhes azuis.
— Não vai
me dar um beijo? — o imbecil mais lindo que já vi perguntou quando fiquei de
frente para ele, que estava encostado na porta que eu entraria. Senti o rosto
arder e as mãos ficarem geladas. Acho que transpareci isso. Então, se inclinou
um pouco para ficar da minha altura e mostrou uma das bochechas. Tentei, mas
não consegui resistir, dei-lhe um beijo até demorado na bochecha. Arthur sorriu
e me deu a mão, ficou segurando-a enquanto abria a porta do carro para que eu
entrasse. Um perfeito cavalheiro, que só não era impossivelmente mais perfeito
por causa de seu namoro com Sophie. Entrei e ele beijou a minha mão antes de
fechar a porta, sorri corada e ele sorriu também. Depois entrou e ligou o
carro.
— Pra
onde você vai me levar? — perguntei ansiosa.
— Para a
lua, baby — disse arqueando uma das sobrancelhas e sorrindo. Não pude deixar de
rir também.
— Não,
Arthur, sério! — falei dando-lhe um leve tapa no braço.
— Você
não almoçou ainda, né? — desconversou, mas eu estava com muita fome para
continuar insistindo.
— Não —
abaixei a cabeça, fazendo drama.
—
Coitaaaaaaada — falou fazendo carinho em minha nuca, assim como fez com Sophie
no shopping com a mão livre, a outra estava no volante. — Vou te levar pra
almoçar.
— Você já
almoçou? — perguntei levantando a cabeça subitamente, o que o fez tirar a mão
da minha nuca e levá-la ao volante de novo.
— Já, faz
tempo.
— Então
não esquenta, Thur. Eu como alguma coisa depois — falei com vergonha.
— Tá
louca? As pessoas quando têm fome costumam ser agressivas... Se você, que come
pra %#@$ já vive me batendo, imagina quando está com fome — disse me olhando de
relance e rindo, dei-lhe um pedala. Ainda bem que ele manteve a idéia, porque
eu realmente precisava comer.
— Aonde
você vai me levar pra comer? — perguntei, ligando o som do carro.
— Um
lugar longe, mas muito bom! — falou fazendo mistério e eu apenas ri, não tinha
escolha mesmo! Para a minha surpresa, a música que tocava era do Oasis, comecei
a cantar baixinho. Ele me olhou, com uma cara de espanto. — Você conhece essa
música?
— Tudo
que tiver Oasis no meio eu sei — falei rindo e continuei cantarolando.
— Pô, me
senti um fracassado agora. Você podia entender de McFly também! — fez a carinha
triste mais fofa do universo.
—
Ouuuuunnnnn — apertei-lhe as bochechas. — Prometo que vou procurar entender. —
POR QUE DIABOS EU DISSE ISSO MESMO? ELE QUE SE DANE COM O MCFLY DELE, EU TINHA
QUE TRATÁ-lo MAL. Ou não. Sei lá.
— Aposto
que só ouviu a música da garota de cinco cores no cabelo. — deu de ombros.
— Não é
verdade, já ouvi várias, porque a Mel adora. Mas não costumo guardar canções na
cabeça... A não ser que seja Oasis, Beatles e Libertines, você sabe — dei de
ombros propositalmente, como se ignorasse o McFly.
— Valeu,
valeu. Vai ter volta — falou indignado, num tom de brincadeira.
— Eu ouvi
uma sobre uma Joanna aí... Muito linda — lembrei da canção que ouvi, antes de
dormir, no som e me assustei ao reconhecer a voz de Arthur. Ele me olhou de
novo, agora com um sorriso imenso, vitorioso.
—
Finalmente, então você guardou mais uma música nossa na mente! — assenti e ele
falou alguns “yeahs”.
— Sabe,
eu queria achar alguém que dissesse o que diz naquela canção para mim. — falei
não sei nem por que. Eu sou algum tipo se alienígena, não posso ser normal.
Arthur me olhou de relance, agora sério.
— Você
tem que deixar alguém sentir isso por você. Aí então encontrará — agora ele
sorria. Idiota, imbecil, lindo, charmoso... E vidente, porque eu tinha pensado
nisso na noite passada. — É aqui! — falou estacionando em um restaurante na
beira da estrada que eu conhecia muito bem! Foi aquele mesmo que Leopold me
levou para comer quando fugi. Olhei para o lugar boquiaberta e senti o coração
bater abafado, aquilo me fez ter várias memórias, lembrar perfeitamente do dia
em que estive lá.
— Lua?
Tudo bem? — Arthur perguntou, me acordando do transe. Apenas assenti e saí do
carro. Continuei ali, parada, olhando para o local. Vi vários caminhões
estacionados, tentei achar algum igual ao que a minha cabeça lembrava ser o de
Leopold, mas não encontrei nada parecido. Senti Arthur segurar a minha mão e
entrei em outro transe. Parecia estar sentindo novamente um choque térmico.
Então fomos nos aproximando, de mãos entrelaçadas, mas não conseguia olhá-lo.
O
restaurante já estava bastante diferente do que a quatro anos atrás. Agora
parecia estar em uma situação melhor, já via famílias almoçando ali. Quando
entramos, vi aquela mesma senhora que parecia ser dona e trabalhar lá. Agora
ela já estava com a maior parte dos cabelos brancos e um pouco mais robusta. O
coração estava ficando apertado e senti um nó na garganta. Era como se por
alguns segundos eu revivesse o dia em que cheguei a Londres. Mas essas
lembranças foram mandadas embora, porque vi várias menininhas gritarem
histéricas olhando para nós dois. Nós dois não, para Arthur, vamos ser
coerentes. Então, elas correram da mesa de seus pais e vieram pedir autógrafos.
Arthur
soltou a minha mão subitamente para poder assinar em guardanapos e outras
coisas que as garotas tinham arranjado para conseguir assinaturas. Aquilo
realmente me assustou, mas ele parecia familiarizado, sorria para elas e
aceitava tirar fotos. Todas com seus celulares, até se dando cotoveladas para
conseguir uma simples foto.
— Tira
pra mim? — bastou uma delas pedir para que todas as outras pedissem e me
entregassem seus celulares. Tirei foto por foto, via Arthur ser quase amassado
em cada abraço e ouvia algumas até perguntarem pela Sophie. Elas deviam saber
do namoro deles. Ele ficava sem graça e respondia que ela estava bem. Algumas
meninas me olharam com cara feia, não sei se por gostarem de Sophie e acharem
que eu era “a outra” ou por sentirem ciúmes de Arthur. Então, ele pediu licença
para poder almoçar, mentindo, porque só quem almoçaria seria eu.
—
Desculpa, não sabia que ia ter isso aqui hoje — desculpou-se, sem graça,
tentando desamassar sua camisa e ajeitar os cabelos, sorrindo fraco e apontando
uma mesa para sentarmos.
— Tudo
bem, é a sua carreira — falei tentando parecer natural, mas na verdade estava
quase tendo um ataque cardíaco de tanto medo.
Sentamos
e eu senti todos os olhares femininos de 12 a 14 anos de idade nos olharem
atentamente. Comecei a olhar o cardápio, que ainda estava quase do mesmo jeito
que no dia em que cheguei a Londres. Vi o prato do dia, que era o mesmo que o
daquele dia, mas decidi escolher outra coisa, já que não havia dado conta do
comer tudo. Arthur brincava com a chave do carro enquanto esperava que eu
escolhesse. De vez em quando, ele acenava para alguém, devia ser para as
miniaturas loucas. Escolhi e chamei aquela senhora, que estava perto da mesa.
Senti o coração bater mais forte enquanto ela se aproximava, notei que ela me
olhava com atenção, devia saber lembrar de mim de algum lugar. Lembrei então
que Leopold e ela conversaram um pouco no dia, ela certamente o conhecia,
certamente eram amigos ou coisa do tipo.
— O que
vai querer? — perguntou ainda me olhando apreensiva. Fiz o pedido e voltei a
olhá-la, enquanto ela anotava senti que não conseguiria ficar sem perguntar,
nem que Arthur me achasse louca se aquela mulher me desse um fora ou sei lá.
—
Desculpe, mas eu posso perguntar uma coisa? — perguntei ansiosa. Ela parou de
anotar e me olhou espantada.
— Claro
que sim, se eu puder responder... — disse. Arthur agora me olhava espantado
também.
— A
senhora conhece o Leopold? Um caminhoneiro? Parecido com o papai Noel? — notei
quando deu uma risadinha. Arthur olhava de mim para ela, ansioso para entender.
— Sim,
conheço muito bem, por quê?
— É que
eu queria saber se ele está bem, como anda a sua vida... — ela me analisou por
alguns segundos antes de responder e levou uma das mãos à boca.
— Você é
a garota que fugiu do caminhão dele no dia que almoçou aqui, não é? —
constatou, com os olhos arregalados. Arthur falou algo como “hã?” e eu fiz um
gesto para que ele esperasse. Então Leopold havia contado para ela que eu fugi!
E ela lembrava de mim! Sorri e assenti, no mesmo minuto a senhora sorriu para
mim. — Se você soubesse o tanto que ele ficou preocupado com você, não teria
feito aquilo! — balançou a cabeça.
— Eu
imagino, e sinto até um pouco de vergonha de ter feito isso... Mas ele está
bem?
— Sim,
esteve aqui ontem mesmo — comentou animada e eu suspirei. Queria tê-lo
encontrado. Mas ao mesmo tempo senti uma alegria invadir o peito, estava tudo
bem com Leopold, como queria dar-lhe um abraço e agradecer por ter me dado
aquela carona.
— Ele
ainda é caminhoneiro? — perguntei e ela assentiu.
— Quando
eu contar a ele que te vi aqui, acho que é capaz de sair gritando de
felicidade. Leopold sempre dizia que tinha medo que você tivesse sido raptada,
que se sentia culpado por não ter mais notícias suas — disse baixando o olhar.
— Eu
imagino! Então, você diz a ele que mandei lembranças, que estive preocupada com
ele todo esse tempo, imaginando como estava e morrendo de vergonha por ter
feito o que fiz! — sorri fraco e ela sorriu de orelha a orelha.
— Pode
deixar. Se você quiser deixar algum telefone pra contato, me procure depois —
piscou e eu agradeci, então nos deixou para preparar o que eu tinha pedido.
Aquele
par de olhos hipnotizantes me olhava fixamente. Arthur não estava entendendo
nada! Ele certamente devia estar pensando que eu fiz programa com o Leopold,
então tratei de começar a falar antes que fizesse esse tipo de perguntas.
— Não me
olha assim. Não dormi com o Leopold — sorri pelo canto da boca e notei que
suspirou aliviado.
— Que
história é essa? Você fugiu de onde? — perguntou confuso.
— Longa
história, Arthur. Te conto com mais calma depois... Com essas garotinhas
olhando todo o tempo pra cá fica difícil — ele concordou meio que contra a
vontade e riu quando falei das fãs.
—
Bem-vinda à minha realidade — falou com um sorriso maroto.
— É, essa
sua realidade me assustou um pouco — Arthur riu um pouco alto, olhou para a
minha mão, que estava em cima da mesa e ficou encarando as minhas unhas. — Elas
realmente gostam da Sophie, né? — quando perguntei isso ele levantou o olhar
bruscamente e me olhou confuso.
— Hã? Por
quê?
— Porque
várias delas me olharam quase que me esfaqueando só com o olhar. Devem achar
que estou entre vocês — ri e dei de ombros. Ele então riu.
— Nááá,
elas odeiam a Sophie e odeiam qualquer mulher que apareça com um de nós quatro.
Elas são meio possessivas, você sabe — fiquei um pouco mais aliviada, pelo
menos as fãs odeiam a Sophie. Mas ei, elas também estavam me odiando.
— E agora
me odeiam também... Grande consolo! — falei balançando a cabeça e ele balançou
a cabeça também, negando.
—
Enquanto um paparazzi não nos flagrar, só essas que estão no restaurante
saberão da sua existência. O resto é o resto — deu de ombros e olhou para o
lado, mandando um beijo para alguma delas, que cutucou a amiga e ficaram dando
risadinhas e gritinhos.
Arthur
gostava daquilo, daquele assédio, e isso é engraçado.
— Ah, e
você fala isso assim, tranquilamente? — perguntei incrédula.
— Ué, e
por que não falaria? — franziu a testa, me olhando.
— Você já
imaginou como seria se a Sophie abrisse uma revista e visse uma foto nossa por
aí? Ia imaginar um milhão de coisas que nem existem e te daria um pé na bunda —
tentei puxá-lo para a realidade, mas pareceu nem ligar.
— Talvez
ela merecesse ver isso — bufou, encarando a chave do carro em sua mão. — Mas
então... — notei que queria mudar o assunto, pois sua expressão facial também
mudara. — Você sabe dirigir? — olhei-o confusa, o que ele quis dizer com
aquilo? Por que ela merece ver? Mas decidi apenas responder a sua pergunta, não
posso ficar me metendo.
— Sei —
falei simplesmente.
— Huuuum,
que ótimo — disse com um sorriso misterioso e eu o olhei sem entender.
Antes que
pudesse perguntar alguma coisa, o almoço chegou e minha barriga estava
praticamente conversando comigo e com Arthur. Comecei a comer sem me importar
se ele estava observando ou o que, mas percebi que estava caindo na risada.
— Que
foi? Está rindo de quê? — olhei furiosa.
— Parece
até que eu te tirei da rua... Onde você tava amarrada, Lua? — perguntou em meio
a risadinhas provocativas. Mostrei-lhe o dedo do meio e ignorei, continuei
concentrada na minha refeição.
Fomos ao
balcão pagar — Arthur insistiu em fazer isso, mas o impedi — e então quando
paguei, disse à senhora que deixaria um celular para Leopold entrar em contato
comigo. Arthur estava ao meu lado, olhando-me ansioso. Devia estar se mordendo
para entender tudo aquilo. Então, dei meu número pessoal.
— Ei, não
é esse o número que eu tenho! — ele quase gritou, olhando para a anotação,
inconformado.
— Outra
história que eu te explico depois — falei ignorando o fato de ele estar me
olhando atentamente e entreguei o papel à mulher. Nos despedimos e saímos do
restaurante. Várias garotinhas ainda correram para abraçá-lo antes de sair e me
olharam com olhares assassinos mais uma vez.
— Ufa!
Essas meninas estão ficando cada vez mais loucas — ele disse quando já nos
aproximávamos do carro. — Toma — jogou a chave, e eu em reflexo, peguei. Sem
entender, claro.
— Quê? —
o olhei confusa, segurando a chave.
— Você
dirige! — riu e deu de ombros, já entrando e sentando no banco do passageiro.
Entrei no
carro e coloquei a chave na ignição. O encarei, ele agora havia deitado o banco
mais um pouco para se acomodar.
— Arthur,
você tá me zoando, né?
— Claro
que não, gracinha — falou simulando um ronco e fechando os olhos. — Agora anda
que eu quero passear — abanou a mão para que eu fosse logo. Fechei a porta do
carro.
— Por que
você tá fazendo isso? — perguntei mais confusa ainda.
— Lembra
que no dia em que te conheci falei que um dia deixava você dirigir? Então, o
dia chegou, Cinderela! — abriu os olhos novamente e sorriu para mim, que o
olhava inconformada.
Foi então
que lembrei, foi uma das primeiras coisas que o ouvi falar. Fiquei até com
vergonha por ter percebido o quanto fiquei surpresa com o carro importado dele.
—
Ahhhhhhhhh... Agora sim, lembrei — mudei aquela expressão de choque para
sorriso malicioso. — Aperta os cintos, príncipe encantado! — devolvi o apelido.
Arthur gargalhou e ajeitou o banco novamente, colocando o cinto de segurança.
— Vou até
colocar mesmo, sabe lá o que você é capaz de fazer — falou rindo. Apertei os
cintos também e liguei o carro. Vi aquela estrada todinha pela frente e não
pensei duas vezes. Saí em alta velocidade do estacionamento, arrancando um
“woooooow” bem espantado de Arthur.
Dirigir o
seu carro era como pilotar um carrinho de brinquedo, de tão leve que é. Bastava
encostar o pé no acelerador para que ele corresse. Arthur ficava todo tempo
pedindo mais velocidade, e eu entrei na brincadeira. Estávamos a sei lá quantas
milhas por hora, só sabia que aquilo estava sendo muito divertido. Ele colocou
alguma seleção de músicas antigas muito boas e nós cantamos quase todas as
canções, pois haviam feito sucesso quando éramos crianças. De vez em quando eu
tinha que tomar cuidado para não perder a atenção, Arthur falava umas coisas
engraçadas e eu quase morria de tanto rir.
— Para! —
gritou, subitamente e eu fiz o pneu cantar inconscientemente, de tanto susto
que levei. — Isso, acaba com os meus pneus! — riu.
— Você é
louco? Como você faz isso? — perguntei ofegante, recuperando-me do susto.
— Você
não vai ficar parada aqui, né? — quando dei por mim, vi que estávamos parados
no meio da estrada.
— E você
mandou parar por quê? — olhei sem entender.
— Dobra à
direita — falou apontando.
— Pra
quê?
— DOBRA
CARAMBA, para de perguntar! —disse impaciente e depois mostrou um sorrisinho.
Dei um tapa em seu braço e fui à direção que ele indicou. Quando andamos mais
um pouco, pude ver o que parecia ser uma pequena lanchonete. Haviam
pouquíssimos carros estacionados lá, uns três, para ser mais precisa.
— Arthur,
de onde você conhece esses lugares? — perguntei espantada.
— Turnê,
querida. Às vezes viajamos de ônibus e saímos procurando esses buracos pra
comer — ele riu e eu estacionei. — Aqui tem o melhor sorvete de toda a
Inglaterra — falou passando a mão na barriga e depois abriu a porta do carro e
desceu. Desliguei o carro e peguei a chave. Saí e pressionei o alarme.
Ainda
estava processando na cabeça o fato de ele ter me chamado de “querida”. Aquilo
parecia repetir todo tempo. Sei que foi impulso, na brincadeira, mas mexeu
comigo. Achei lindo. Então, Arthur me surpreendeu mais uma vez e segurou a
minha mão. Não deixei transparecer que aquilo me abalava — de forma positiva,
claro — e fui caminhando com ele até a “casinha”. A dona do lugar parecia
conhecê-lo muito bem. Ele já devia ter ido ali mais de vinte vezes. Ela o
abraçou, disse que estava mais forte e perguntou pelos outros “meninos”, que eu
imagino serem os outros integrantes do McFly. Ele foi bastante amável com a
mulher, disse que os outros estavam bem, que estavam de folga essa semana. De
repente, ela me olhou, a essas horas eu estava atrás de Arthur, vendo tudo
acontecer.
— Não vai
apresentar essa bela moça? — perguntou sorrindo, muito simpática. Ele se virou
para mim.
— Claro!
— sorriu. — Dona Kate, essa é a Lua e Lua , essa é a Dona Kate, dona daqui —
ela estendeu a mão e nos cumprimentamos.
—
Prazer, . Pode me chamar só de Kate, o Arthur insiste em chamar de “dona”
Kate — os dois riam e eu apenas dei um sorriso tímido e assenti. — Então, você
a trouxe aqui para experimentar que sabor? — Arthur me olhou e passou o braço
pelo meu ombro. Aquilo me fez quase entrar em estado de coma. Como era bom
sentir aquele braço ao meu redor!
— Huuuum,
pistache! Nós comemos aquele industrializado e eu quero mostrar a ela como o
caseiro é muito melhor — Kate sorriu e disse que colocaria para a gente, que
podíamos ficar à vontade e nos sentar. Fizemos-o, sentamos um de frente para o
outro.
— Vocês
se conhecem há muito tempo? — perguntei entregando a chave do carro para ele.
— Uns
três anos já. Ela se sente nossa mãe — balançou a cabeça e riu.
— É bom
sentir isso, né? — indaguei, olhando para a mão de Arthur que estava sobre a
mesa.
— É —
respondeu simplesmente e então colocou os dois braços flexionados sobre a mesa
e apoiou o queixo, olhando-me, como se suplicasse carinho. Não tive escolha.
Além de estar irresistível, raramente Arthur transparece carência. Levei uma
das mãos à sua cabeça e comecei a brincar com os dedos, alisando os seus
cabelos. Vi-o fechar os olhos e esboçar um sorriso discreto, deitando a cabeça
sobre os braços flexionados. Continuei os carinhos e senti vontade de puxar a
cadeira para o seu lado e beijar seus lábios. Mas não tenho passe livre pra
isso. Ele mesmo já disse que nós não temos nada demais.
Kate se
aproximou com duas casquinhas e duas bolas de sorvete de pistache em cada. Ela
sorriu para mim e apontou para Arthur com o olhar, em seguida balançou a
cabeça. Sorri para ela e dei duas pontadinhas na cabeça de Arthur, e ele a
ergueu subitamente. Agradecemos Kate e pegamos os nossos sorvetes. Esse caseiro
realmente está anos à frente do industrializado. É tão saboroso que mal
conversamos. Quando terminamos, eu devia estar toda lambuzada, não sou muito
boa com sorvetes de casquinha. Então, Arthur pegou um guardanapo e limpou as
minhas bochechas e o meu queixo, nossos olhares se encontraram quase que o
tempo inteiro. Agradeci o que fez e ele assentiu. Levantamos e nos dirigimos
para o balcão.
— Não,
não, não. Que é isso! — Kate disse recusando as notas que Arthur tentava pagar
pelo sorvete.
— Toda
vez que a gente vem em bando aqui você diz que é por conta da casa... Hoje
estou sozinho, então te obrigo a aceitar — Arthur tentou convencê-la, com o seu
melhor sorriso.
—
Sozinho? Quem pode dizer que está sozinho com uma moça tão linda ao lado? — ela
provocou, piscando para mim. Senti as pernas tremerem e o estômago embrulhar.
Sorri fraco, agradeci o elogio e notei que Arthur parecia nem ter ligado para o
que ouviu. Os dois engataram uma discussãozinha engraçada e ela acabou o
convencendo de que seria por conta da casa mais uma vez. — Faço questão de
acompanhar vocês até o carro.
Fomos os
três caminhando até o carro, Arthur e Kate conversavam empolgados sobre a turnê
do McFly. Arthur abriu a porta para eu entrar. Despedi-me de Kate e disse que
foi um prazer conhecê-la, ela falou o mesmo e disse que esperava que eu
voltasse mais vezes. Entrei no carro e ele fechou a porta, fiquei observando os
dois pela janela do carro. Arthur a abraçou e ela deu-lhe um beijo na bochecha,
recomendou que ele se alimentasse direito e os meninos também, ele riu e disse
que estava fazendo isso, que estava até gordo. Bobagem, Arthur está perfeito.
Então, antes de ele entrar no carro, notei que Kate o puxou e falou alguma
coisa em seu ouvido, que o fez balançar a cabeça e rir, entrando no carro e
acenando em seguida. Deu a partida e Kate ficou acenando por algum tempo. Já
estava escurecendo, encostei a cabeça na janela fechada e fechei os olhos.
— A Kate
disse que prefere você à Sophie... — aquelas palavras me fizeram abrir os olhos
na velocidade da luz e olhar para Arthur assustada.
— Quê?
Bobagem! — balancei a cabeça, fingindo nem ligar, quando na verdade sentia o
coração festejar com bandeirinhas, confetes e tudo mais.
Ele deu
de ombros, sorrindo, e continuou dirigindo. Voltei a encostar a cabeça na
janela e fiquei olhando o caminho que fazíamos naquela longa estrada. Por que
ele não se pronunciou sobre isso? Ele podia ter concordado comigo e dizer que
era uma bobagem... Ou ter dito que concordava com Kate (essa hipótese só
poderia ter saído do meu cérebro maquiavélico, mesmo). Mas não, deu de ombros e
sorriu. Por que eu nunca sei o que ele está pensando? Por que ele nunca deixa
transparecer como eu penso que deixo inúmeras vezes? Seria tão mais fácil!
Porque aí eu desencanava de vez. E por que todos os nossos encontros são
melhores que os anteriores? Por que ficamos cada vez mais íntimos? Por que ele
faz isso comigo se não tem a intenção de se apaixonar por mim?
Já
passávamos pela cidade, pelas grandes avenidas. Lembrei mais uma vez de
Leopold, de ter passado por ali ao seu lado no caminhão e ter ficado
abobalhada. Suspirei aliviada ao lembrar o que a senhora do restaurante disse,
que ele estava bem e ainda dirigia seu caminhão. Agora só faltava saber dos
pais de Carol, dela e até dos meus pais, para que eu seguisse a minha vida sem
lembrar do passado e me remoer. Passamos, então, pela minha calçada de trabalho
e notei Arthur olhar atento pra lá, viramos à esquina e passamos por algumas
quadras até chegar em casa.
—
Entregue! — sorriu, desligando o carro.
— Obrigada,
Arthur — falei sorrindo e me aproximando dele para dar-lhe um beijo na
bochecha.
— Eu que
agradeço a paciência que você tem para as minhas loucuras — ele sorriu e eu
parei no meio do caminho. Estávamos nos olhando, profundamente, e Arthur já
estava sério. Depois o olhar dele foi desviado para a minha testa, as
bochechas, o queixo e a boca. Voltando para os meus olhos — Você é linda. —
disse simplesmente e sorriu mais uma vez. Senti as bochechas ficarem coradas e
o coração bater loucamente, parecendo que ia rasgar meu peito a qualquer
momento. Fiquei completamente sem reação. Então, senti as costas de suas mãos
acariciarem o meu rosto e fechei os olhos.
— Não é
certo — falei em um tom que, se não estivéssemos em silêncio, ele certamente
não teria ouvido.
— Cansei
de procurar o que é certo — abri os olhos lentamente e notei que estávamos a
apenas um centímetro de distância, ele ainda acariciava o meu rosto, mas agora
com a outra mão segurava o meu pescoço. Seus olhos se dividiam da minha boca
para os meus olhos. Eu já não sentia parte nenhuma do corpo, sentia estar
flutuando. Senti seu nariz encostar-se ao meu, massageando-o, assim como
naquele sonho que tive.
Voltei a
fechar os olhos. A mão que acariciava o meu rosto agora se dirigia para a minha
nuca. Eu, que apenas usava as mãos para me apoiar no banco do carro, levei-as à
sua nuca, acariciando seus cabelos. Nossos narizes brincavam e eu sentia a sua
respiração bater novamente em meus lábios. Tinha medo de abrir os olhos e estar
sonhando, então os mantive fechados. Como um choque, senti os lábios de Arthur
tocarem os meus com leveza, e esse toque começou a se intensificar. Meu coração
já nem devia bater mais, de tão acelerado que devia estar. Ele pressionou, como
se pedisse passagem para nos beijarmos. E eu o fiz, finalmente. Abri suavemente
a boca e senti a sua língua encontrar a minha. Elas iam de um lado para o outro
com muito cuidado, parecendo se conhecerem há anos. Estava sendo eletrocutada
por dentro, senti as tão famosas borboletas no estômago que tanto ouvi a Mel
falar que sentia... Lembro de tê-la achado idiota. Mas essas borboletas
realmente existem. Basta encontrar alguém que saiba a hora de despertá-las. O
beijo estava mais intenso, os braços de Arthur agora estavam na minha cintura e
os meus em volta de seu pescoço. Ele parece saber o momento certo para tudo. A
nossa sintonia era inexplicável. No som, alguma canção que nem prestamos
atenção terminava de tocar. E a que começava... Ah, a que começava. Paramos de
nos beijar, como que num impulso, e começamos a rir. Pareciam aquelas cenas
clichês de filme. Era “I Wanna Hold Your Hand”. Arthur aumentou o volume e me
olhou, sorrindo. O sorriso mais lindo que já o vi mostrar. Sorri para ele
também, não com um sorriso tão lindo quanto o seu, já que creio ser impossível.
— John
Lennon deve estar se revirando na tumba agora! — Arthur disse gargalhando.
— Deus o
tenha, Arthur, credo! — falei em meio a gargalhadas e me benzi. Isso o fez rir
mais ainda.
—
Uhhhhhhhhhhhh! — ergueu os braços querendo me assustar — EU SOU O JOHN LENNON,
EU SOU O JOHN LENNON — fez uma cara engraçada, tentava imitar um zumbi, mas não
conseguia parar de rir.
— Para,
Arthur, para! — supliquei, rindo e gritando, e ele dirigiu as suas mãos para as
minhas costelas, fazendo cócegas. Eu não tinha forças para tirá-las, tentava
falar alguma coisa, mas faltava ar. Fui me inclinando e me encostando à porta
fechada. Arthur começou a ficar por cima de mim, ainda fazendo cócegas, mas
diminuiu a intensidade. — Para... Minha bexiga... Estourar — falei ofegante e
ele foi parando, ainda rindo, até mais do que eu, se duvidar. Então abri as
pernas lentamente e ele foi ficando entre elas. Olhou-me desmanchando o sorriso
e encarando fixamente os meus olhos. Mais uma vez nossos rostos pareciam não
conhecer limites. Estávamos a uma distância quase inexistente...
— Droga,
sempre tem que ter um celular! — Arthur reclamou, saindo de cima de mim e
voltando para o seu banco, tirando seu celular do bolso. Eu fiz o mesmo,
ajeitei-me em meu banco e tentei arrumar os cabelos, que já estavam
despenteados. Então ele realmente ficou chateado no dia em que o meu celular
tocou! Ele queria mesmo me beijar! Meu coração dava pulinhos. Procurei não
ouvir muita coisa da conversa, mas ele chamava a pessoa do outro lado da linha de
Harry. Desligou e me olhou desanimado. — Tenho uma reunião agora na gravadora.
— Tudo
bem, não esquenta — dei de ombros e sorri.
— É de
urgência, o Fletch tem essas coisas idiotas às vezes — falou desconsertado.
— Arthur,
já disse, tudo bem — sorri novamente. Mas achei lindo ele se explicando para
mim. — Quem é Fletch? — perguntei curiosa.
— Nosso
empresário. Ele é legal, um dia te apresento — e piscou.
— É, quem
sabe — sorri fraco. A realidade me chamava. Eu não era namorada do Arthur. Ele
tinha o seu compromisso de um ano, era perfeitamente compreensível que eu não
poderia estar em seus programas com os amigos. — Agora vai, não se atrasa mais
por causa de mim — dei um tapa suave em seu ombro e me virei para a porta,
tentando abri-la. Senti a mão de Arthur me impedir de sair, assim como da
segunda vez que nos vimos. Olhei-o subitamente e ele me puxou de uma vez,
dando-me um selinho. — Louco! — falei colocando a minha mão aberta em seu rosto
e o empurrei, descendo do carro e o ouvindo rir alto. Fechei a porta e acenei,
ele buzinou e saiu. Respirei fundo e virei para o prédio, entrando. Ainda não
conseguia acreditar que aquilo tudo tinha acontecido ali, bem ali na frente.
Subi degrau por degrau em passos lentos, parando de vez em quando para lembrar
do nosso beijo e sorrir internamente. Ele mostrou que me quer, ele praticamente
disse isso! Ria ainda mais ao lembrar de “I Wanna Hold Your Hand” começar a
tocar bem na hora que nos beijávamos. É clichê demais. Nunca apreciei tanto um
clichê na vida.
Entrei em
casa e não encontrei Mel, certamente ela havia saído. Encontrei um bilhete na
mesinha de centro.
“Lúh,
saí com o Jack. Sem risinhos cínicos, ok? Fui fazer o que você está pensando
mesmo. Quando chegar, eu te conto tudo e você já sabe... Vai me contar tudinho
também. Beijos, Mel. p.s.: ESPERE-ME ACORDADA, SUA VADIAZINHA.”
Balancei
a cabeça e devolvi o bilhete. Juro que consegui ouvir a voz da Mel dizendo cada
palavra escrita ali. Até a entonação. Corri para o banheiro, as cócegas não
deixaram a minha bexiga muito à vontade. Voltei para a sala e me joguei no
sofá, liguei a TV. Olhei para o teto e suspirei, lembrando novamente de cada
coisa que havia acontecido. Arthur é o homem mais lindo do mundo e ainda
consegue ser dono do melhor beijo que já recebi. É, tem alguém se apaixonando
por aquela criança de 20 e tantos anos com os olhos mais azuis da face da
Terra.
Estava
quase pegando no sono quando ouvi abrirem a porta. Obviamente, era Mel.
— Cheguei
e é bom que você não esteja dormindo — aquela voz é inconfundível. Minha amiga
estava completamente feliz.
— Er,
estava quase. Que coisa mais demorada vocês dois! — falei sentando e a olhando.
Ela estava parada perto da porta e jogou a bolsa na poltrona, sentando em
seguida e suspirando.
— Ele é o
melhor. Meu Deus que homem é aquele! — disse colocando uma das mãos na testa e
rolando os olhos.
—
Noooossa, espero que essa propaganda toda seja verdadeira — brinquei e ela
arremessou uma almofada em mim.
— E eu lá
sou de fazer propaganda enganosa! Você me respeita, hein?! — ordenou, fazendo
careta e olhando para a TV. — Que merda é essa que você tá vendo? Minha nossa —
pegou o controle e mudou de canal.
—
Folgada! Mas me conta... Como está indo com ele?
— Tudo às
mil maravilhas — suspirou idiotamente. — Estou te falando que ele é o melhor.
Não sossega amiga, tinha hora que eu ficava desesperada de tão cansada.
— Puts!
Então ele é bom mesmo, pra você ficar cansada só sendo o incrível Hulk. — Mel
me mostrou o dedo do meio.
— É, fica
falando de mim aí, mas eu estou vendo uma expressão no seu rosto que não vejo
acho que há uns quatro anos atrás, quando viemos pra esse apartamento! — agora
sim, ela é adivinha. Só o que me faltava, a Mel vendo pela minha cara que eu
estava andando nas nuvens. Apenas a olhei e dei um sorriso fraco. Ela prendeu a
respiração e arregalou os olhos. — , VOCÊ E O... AH MEU DEUS —
praticamente berrava.
— Ah meu
Deus o quê? Deixa de ser louca, claro que não — dei de ombros, ainda sorrindo e
olhei para a TV. Mel bufou.
— Droga,
achei que finalmente você tinha sentido o suor daquele deus grego, passado as
mãos naquele peitoral... Ai papai! — abanou-se, abrindo os braços e suspirando.
— Deixa
de ser tarada, menina! — devolvi a almofada com um arremesso de mesma
intensidade que ela jogou em mim — Vai cuidar do SEU deus grego e deixa o meu
em paz — maldita boca a minha.
— O SEU?
O SEU DEUS GREGO? MEU DEUS, EU OUVI DIREITO? — começou a gargalhar. Ainda não
falei da risada da Mel, mas quando ela se empolga, torna-se estridente e até um
pouco insuportável. Imaginou? Agora multiplica por mil, era esse o volume de
sua gargalhada nesse momento. Ela se levantou da poltrona e sentou ao meu lado,
deu um tapa em meu braço. — Você conseguiu o Arthur, você... Conseguiu —
chacoalhou-me.
— Não
falei nada, deixa de ser louca! — empurrei-a, mas não conseguia disfarçar, o
sorriso em meu rosto era praticamente insolúvel.
— Não
falou, fez! Te conheço! Pode ir contando... É pra ontem! — estalou os dedos.
Não tinha escapatória, eu tinha que contar tudo pra ela. E eu, no fundo, queria
mesmo contar, para conseguir lembrar ainda mais de cada momento daquele dia e o
principal: daquela noite.
— Ai, ai,
ai, tá bom. Mas vamos controlar essas gargalhadas porque elas me irritam — pedi
e Mel me deu língua, depois assentiu e ficou séria. — A gente se beijou.
A reação
dela foi pior do que eu imaginava. Se ela tinha dado gargalhadas estridentes e
tinha me irritado profundamente, agora Mel pulava e batia em mim com uma
almofada. Só não me chamou de lerda , vocês imaginam bem as palavras que ela
usou. Então, quando ela parou de surtar e se sentou de novo, contei tudo que
tinha acontecido. Ela voltou a alimentar as próprias tolices dizendo que tinha
certeza de que ele gostava de mim, mas não deixou de chamá-lo de lerdo. Segundo
Mel, ele tinha um mulherão nas mãos e não sabia aproveitar. Eu dei risada e ela
disse que Arthur e eu teríamos uma história tipo em “Uma Linda Mulher”, ele se
apaixonaria loucamente por mim e me tiraria dessa vida. Claro que agora quem
gargalhou fui eu. A Mel não pode ser do mesmo planeta que eu e as demais
pessoas normais. Apesar de estar praticamente com os pés fora do chão depois
daquele beijo, eu ainda tinha alguma noção de realidade em mente. Sabia que não
era tão fácil assim. A vida não é um conto de fadas. Eu também não estava tão
louca pelo Arthur assim, afinal nos conhecíamos há pouco tempo.
Certamente
com ele era do mesmo jeito, quer dizer, do mesmo jeito não, porque para ele eu
não passava de uma distração, uma volta ao mundo paralelo à fama, ao dinheiro e
a tudo aquilo que estava acostumado. Os homens não são como as mulheres, eles
não se apaixonam tão fácil. E eu tenho certeza de que o Arthur não está
apaixonado. Assim como eu (acho que) não estou. É só empolgação, nunca nenhum
homem me tratou como ele me trata. Nunca. E prefiro parar de pensar nessas
coisas, só o que eu quero pensar agora é naquele clichê, no nosso clichê. Eu
amo os Beatles. Eu amo a vida. Eu amo o que estou vivendo. E eu finalmente
estou feliz.
Capítulo
9.
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Hoje foi
mais uma noite cansativa na calçada. O primeiro a me pegar lá foi um garoto de
mais ou menos 16 anos. Era virgem ainda. Não vou mentir, sinto-me mal de fazer
o que fiz. Não gosto de tirar a virgindade desses garotos. Não acho certo. Por
que eles não esperam a hora certa? Maldita sociedade, maldito ego. Esse
programa foi um dos mais estressantes que tive, não é fácil lidar com
adolescentes. Depois ele me devolveu e quem passou foi o John, para a minha
sorte. Ainda estou cansada, mas fazer programa com o John sempre é como se eu
recebesse uma massagem. Ele é calmo, faz cada coisa de uma vez. É muito bom
para mim, já disse isso antes, mas digo de novo porque é verdade. Hoje nós conversamos
mais do que fizemos alguma coisa.
Depois
que já tínhamos terminado tudo, deitamos e ele disse que estava com problemas
na empresa dos pais da Mel; alguns números não estavam batendo e isso era da
responsabilidade dele. Fiquei com pena, porque o John realmente trabalha
demais, e uma coisa dessas podia tirar-lhe o cargo e todo o sustento que tem.
Eu disse para que fosse com calma, refizesse as contas e investigasse os novos
empregados e até os antigos, nunca se sabe quem está fazendo falcatruas. Mas...
Imaginem só: ele tinha que tocar naquele assunto. John decidiu mudar o rumo da
conversa, mas para um lado que não me favorecia.
— A minha
sobrinha, Sophie, gostou muito de você — engoli seco.
Senti
John me olhar, eu apenas encarava os meus pés.
— Er, ela
também é muito simpática — sorri fraco e o olhei de relance, depois olhei para
o teto.
— Ela me
perguntou se você não tem um tempo livre esses dias para sairmos os quatro. —
NUNCA. NÃO, NÃO, NÃO E NÃO.
— De
noite eu tenho que trabalhar, você sabe. E agora meu tempo está curto, estou em
provas — fingi ficar desanimada. Nunca amei tanto estar estudando.
—
Podíamos sair no sábado, então — sugeriu, fazendo carinho na minha nuca, o que
me lembrou o dia em que eu e Arthur ficamos.
— Não
sei. Tenho um aniversário para ir, de uma garota que estuda com a Mel e que sai
com a gente de vez em quando — menti.
— Você
anda muito ocupada, Rach — brincou. — Ok, vou esperar essas provas acabarem e
esses aniversários também.
— Como é
o namoro dela com o Arthur? — perguntei subitamente, controlando a voz para
parecer uma pergunta natural, mas notei o susto que John levou, afinal nem
estávamos falando disso. Então, comecei a roer as unhas e olhar o teto
novamente.
— Por
quê? — ele se virou, ficando de frente para mim.
Senti um
frio na barriga. Eu não podia deixar John perceber que conheço Arthur ou achar
que tenho atração por ele. Tratei de inventar alguma besteira.
— Oras,
porque ele é famoso. Não imagino uma pessoa com uma vida normal tendo um
relacionamento normal com uma pessoa famosa — nossa, sou péssima com invenções,
torci para ser compreendida. E acho que fui, pois ele riu.
— É, não
é mesmo dos mais fáceis, mas eles já estão há um ano juntos — mesmo já tendo
ouvido isso de Sophie, esse “um ano” ainda me dá calafrios. Mas espera, ele
disse que não é dos mais fáceis. Arthur e ela têm problemas? Olhei-o curiosa,
ainda roendo as unhas.
— Eles
têm muitos problemas?
— Vamos
dizer que sim. O Arthur tem um espírito de adolescente, já a Sophie, mesmo
tendo a mesma idade que ele, já pensa em construir um futuro, uma família. Ele
só pensa no agora, na fama, em curtir o quanto pode. A fama não é uma coisa
muito positiva para a personalidade. Esse é o maior problema entre eles, eu
acho que aquilo não tem futuro — respondeu sinceramente.
E eu
podia sentir meu coração gritando de felicidade. Mas também me senti egoísta
por ficar feliz com isso. Pobre Sophie, ama o Arthur, quer uma vida com ele.
Quem sou eu para desejar que isso não aconteça?
— Que
pena, mas se existir amor entre eles, vão conseguir superar — tentei fingir um
tom conformativo e sorri fraco.
— Não
acho que exista assim. Talvez a Sophie por ele, mas ele por ela é uma incógnita
— então o Arthur não é imprevisível só comigo. É O JEITO DELE. ELE É ASSIM.
— Eles
pareciam se dar muito bem, John.
— Ele é
um bom rapaz, não me leve a mal, por mais que não tenha a cabeça tão no lugar
como deveria ter, não deixa de ser uma boa pessoa. É muito bem visto pela nossa
família. É só que ele não tem a mesma sintonia que ela. Eles não focam no mesmo
caminho. Mas quem sabe — deu de ombros. — Vamos? Tenho que acordar cedo amanhã
— falou se levantando e em seguida se vestindo. Concordei e fiz o mesmo.
As
palavras de John pareciam me acompanhar a todo lugar que eu ia. Arthur e Sophie
não tinham um relacionamento perfeito, eu sei que isso não existe, mas eu
achava que fossem mais estáveis. Mesmo ele tendo me dado um beijo. Ao mesmo
tempo penso que para ele pode não ter significado nada. Que todo aquele
contexto não foi nada. Eu não sinto que Arthur esteja apaixonado por mim, como
a Mel gosta de dizer desde que contei sobre aquela noite a ela. Acho que ele
gosta dele mesmo, e só. Porque de mim eu tenho certeza que não, estou começando
a acreditar que da Sophie também não. Ou tem uma terceira pessoa ou ele não
quer nada com ninguém. Mas então por que impedi-la de encontrar quem goste dela
e namorar por um ano? Isso não se faz!
Já se
passou uma semana e alguns dias desde que Arthur me beijou, quer dizer, que nós
nos beijamos. Aquele momento e aquele gosto não pararam de habitar a minha
mente por nenhum segundo sequer. Eu desejava aquilo novamente com todas as
minhas forças. É, não teve uma segunda vez nessa semana e alguns dias. Aliás,
Arthur sumiu desde aquele domingo. Eu também não tentei ligar. Mentira, tentei
uma vez, mas caiu na caixa de mensagens. Aí sim desisti. Não quero que ele
sinta que estou no seu pé, afinal foi só um beijo, não significa nada,
principalmente que temos alguma coisa. Eu tenho que manter os pés no chão e a
cabeça no lugar, não posso esperar que quando a gente se encontrar de novo ele
me receba com o maior sorriso do mundo e me dê outro beijo daquele. Por mais
que eu sonhe com isso o tempo inteiro. Sei que Arthur tem o trabalho dele, a
banda, o sucesso... Nem deve estar em Londres. Então por que eu fico esperando
por um sinal de vida? Mesmo que esteja na mesma cidade que eu, querendo ou não,
só nos veremos quando ELE sentir que isso é preciso. Eu devia simplesmente
ficar aqui, quieta no meu canto, pensando que quando chegar a hora, nos veremos
de novo e, se essa hora não chegar, apenas continuo vivendo. Mas não, eu sou
egoísta demais para isso. Não consigo viver nada pela metade, não consigo
conviver amigavelmente com o famoso “gostinho de quero mais”. A minha ansiedade
não me deixa em paz. E foi assim que acabou essa noite, mais uma vez dormi com
os meus pensamentos soando como música de ninar e o meu coração batendo
abafado. Aquele nó na garganta já era praticamente o meu melhor amigo.
— Bom
dia, flor do dia — ouvi Mel falar ao abrir as cortinas. Tampei o rosto, devido
à claridade.
— Bom
dia, brega — falei lutando para que a minha voz saísse.
— Você
tem prova, coração, vai se atrasar se dormir mais — foi aí que voltei para a
realidade e praticamente pulei da cama, fazendo a Mel rir. — Cuidado aí.
Enquanto você toma banho, estou preparando uns sanduíches caprichados para o
nosso café — piscou e eu a abracei, depois fui para o banheiro.
Tomei um
banho quente, odeio banho frio pela manhã, escovei os dentes e me aprontei
quase que na velocidade da luz. Depois peguei um livro e fui para a cozinha com
ele. Mel tinha preparado um sanduíche para mim e outro para ela, realmente
estava muito bom. O suco era de laranja, o nosso favorito. Comia e lia ao mesmo
tempo, revisando a matéria.
— Difícil
a prova de hoje? — ela perguntou e depois tomou um pouco do suco.
—
Bastante — falei sem nem desviar o olhar das letrinhas.
— Que
horas você vem pra casa hoje?
— Essa
prova é no primeiro horário, então depois dela devo estar voltando. Por quê?
— Porque
perdi a minha chave e fiquei com medo de chegar da aula e você ainda não estar
em casa — ela riu. — Sou idiota mesmo, acho que deixei no lugar que fui com o
Jack ontem.
— Vocês
estão firmes, hein?! — arqueei as sobrancelhas e dei um sorriso provocativo.
Ela me chutou por debaixo da mesa. — OUTCH, vadia, se prepara.
— Nááá,
não quero saber de nada firme fora você sabe o que... — gesticulou
exageradamente e rimos. — Estamos apenas curtindo!
— Ah,
Mel, dá licença. Você não consegue ser assim. Tem certeza que não tá rolando
sentimento?
—
Ô , acorda, eu não sou você. Eu te contaria se tivesse. Te juro que dessa
vez é diferente — agora eu que a chutei por debaixo da mesa, arrancando um
rosário de palavrões.
— Que
história é essa? Se eu tivesse, te falava também — falei inconformada.
— Uhum,
sei disso. E eu nasci ontem.
— Vou te
deixar aí com as suas idiotices e vou fazer prova — bufei e levantei, Mel riu
alto. Peguei as minhas coisas e saí.
Não foi
das provas mais fáceis de fazer, mas também não foi a mais difícil. Eu esperava
que estivesse bem pior. Antes de voltar para casa, dei uma passada no shopping,
para olhar as últimas novidades das lojas, a Mel só deveria estar em casa daqui
a umas 3 horas, então eu tinha tempo. Fazer compras sempre faz bem. Eu não
estava nadando em dinheiro, mas o último programa com John realmente tinha me
deixado com um poder maior, porque ele pagou pela companhia na festa e pelo
programa na mesma remessa. Apesar de ter visto coisas pelo shopping inteiro, só
comprei um óculos de sol lindo e caro e duas blusas. Queria levar alguma coisa
para a Mel, mas era isso ou pagar o aluguel, então era melhor pagar o aluguel
para não morar na rua. Cheguei em casa e depois de mais ou menos 40 minutos a
Mal apareceu, já com a chave. Ela disse que o Jack voltou ao lugar e tinham
guardado. Mostrei a ela os óculos e as blusas, ela amou, mas resmungou porque
não levei nada para ela. Isso é típico de sua personalidade, faz-me até dar
risada. Almoçamos e eu fiquei lavando a louça enquanto ela se arrumava para ir
trabalhar.
Seu
aniversário estava chegando e eu sabia que dali a uma semana ela só falaria
nisso todos os dias. Todos os anos seus pais faziam questão de dar um festão, e
esse com certeza não seria diferente. Eu sempre fazia questão de ajudar a organizar
também. Nunca falei muito deles, mas tenho um bom relacionamento com os pais da
Mel. Apenas a sua mãe sabe como me sustento, mas ela não me julga por isso,
pelo contrário, só me aconselha para que eu não me acomode e fique nessa vida
para sempre. Eles me lembram muito os Former, pais da Carol. São acolhedores e
apesar de todo o dinheiro que têm, não tratam de forma diferente as pessoas que
têm condição de vida pior. E souberam passar isso para a filha muito bem. A
minha amiga é muito generosa, apesar de viver se vangloriando e sonhando, ela é
bastante pé no chão e trata todos da mesma forma, não existe rico, não existe
pobre. Eu invejo bastante a criação que Mel teve, não uma inveja ruim, uma
inveja branca, porque nunca recebi a metade do carinho e dos exemplos que ela
recebeu dos pais. Quando tiver filhos, quero dar-lhes tudo o que não tive; não
só coisas materiais, estou falando de carinho, de afeto. Quero ser o inverso da
minha mãe. Quero que quando os meus filhos tiverem a minha idade e já estiverem
morando fora de casa, pensem em mim com saudade e não com pavor, com raiva e
até nojo. Quero estar sempre ali para eles, em qualquer coisa que precisarem,
não quero que se tornem o que me tornei: uma pessoa que ganha a vida de forma
não honesta e que com vinte anos ainda está no colegial. Vou fazer de tudo para
guiar-lhes para o caminho melhor e estar sempre ouvindo tudo o que tiverem para
dizer. Falando assim parece até que consigo imaginar-me tendo filhos, casada e
feliz. Já falei como me imagino daqui alguns anos, totalmente solitária e
talvez algum sucesso profissional. Ainda não consigo me ver em uma vida longe
das calçadas, ainda dependo demais disso e odeio tal fato. Mas como a Mel
sempre me diz: nunca sabemos o que o futuro reserva. Talvez até antes mesmo do
que eu imagine, vou estar transformada.
Mel foi
para o trabalho e eu peguei alguns livros para estudar para a prova do dia
seguinte. Estava tendo algum resultado, até que ouço o toque de mensagem do meu
celular profissional. Vocês já imaginam o meu coração enlouquecendo. Corri para
pegá-lo no quarto e antes de olhar tentei pensar que podia não ser Arthur, era
melhor assim do que criar expectativas e ser o John. Então, respirei fundo, já
me conformando e pressionei a tecla.
“Hoje,
às 9h, no canal 6 da sua TV. Arthur.”
Oh Deus,
era ele, Arthur Aguiar. Antes que percebesse já estava dando pulinhos, com o
celular na mão. Ele deu sinal de vida! Apareceu! Não estava me ignorando! Ei,
às 9h? No meio da semana? DROGA. Eu tinha que trabalhar. Nunca gosto de ir
tarde à calçada. Ou ia trabalhar ou veria o canal 6 da TV, às 9h. DROGA, DROGA,
DROGA. Mas ei, de novo. Por que eu tinha que ficar esperando por sinal de vida
e ainda pensar em faltar o trabalho apenas para vê-lo na TV? Que se dane, ele
podia ter aparecido antes, mandado uma mensagem, ou sei lá o que. Egoísta, só
aparece quando isso beneficia a ele mesmo. Imbecil, deve ser tão lindo na TV.
Cachorro, ele deixa a minha mente de cabeça para baixo.
Não, eu
não vou dar o braço a torcer e nem parar a minha vida pra vê-lo num programa
qualquer de televisão. Eu tenho um trabalho e eu vou fazê-lo. Não tem Arthur
Aguiar que mude isso. Coloquei essa idéia fixa na cabeça e voltei a estudar.
Não que eu tenha conseguido, já que o dilema continuava sacudindo o meu cérebro.
Foi
escurecendo e decidi que ia mesmo trabalhar, tomei banho e coloquei uma
minissaia e uma blusinha decotada vermelhas e calcei o meu maior salto. Peguei
uma bolsinha e ouvi Mel entrar em casa. Saí do quarto e a encontrei no
corredor, indo para o seu quarto.
— Já está
indo? — ela perguntou.
— Acho
que sim — sorri fraco. A dúvida de ir ou ver o Arthur na TV ainda estava me
massacrando.
— Poxa,
queria que você ficasse hoje — fez bico. NÃO FAZ ISSO, Mel, EU NÃO POSSO
FICAR. EM CASA HOJE É IGUAL À NA FRENTE DA TV NO CANAL 6, ÀS 9h.
— Ouuuun,
aconteceu alguma coisa? — perguntei preocupada.
— Não, só
que toda noite fico aqui sozinha — deu de ombros e entrou no quarto, eu a
segui.
— Mas
você tava saindo com o Jack esses dias...
— É, mas
hoje não vou — Mel coçou a cabeça e me olhou com cara de cão sem dono.
Não vou
mentir, digamos que ir trabalhar estava com 20% de preferência na minha cabeça.
Vocês já imaginam com quantos por cento o Arthur Aguiar estava. IDIOTA,
MALDITO. Antes que eu me desse conta já tinha dito para Mel que ficaria e já
tinha trocado de roupa e colocado um baby-doll.
— Vou
fazer pipoca. Hoje tem o Children In Need — Mel falou indo para a cozinha. Eu
estava no sofá vendo “Friends”.
— Ah, é
hoje? Em que canal?
— Canal
6, 9 horas — ela respondeu berrando da cozinha e eu levei um choque, voltando
para a realidade. Então o Arthur estaria no Children In Need. OH CÉUS, como eu
o veria na TV com ela ali do lado? Já estou até vendo a Mel enchendo o tempo
inteiro.
Passava
das oito e meia, eu estava ansiosa para ver aquele idiota, mesmo que na
televisão. A essas alturas, já tinha contado para a Mel que ele me mandou
mensagem dando as informações do canal e horário. Ela enlouqueceu e estava tão
ansiosa quanto eu. Comíamos a segunda remessa de pipoca e tomávamos
refrigerante. Foi quando vi a chamada do programa. Estava começando. Meu
coração batia em todas as partes do corpo possíveis. Já não conseguia mais
comer pipoca. Seria a primeira vez que veria Arthur na TV depois de conhecê-lo.
A primeira e única foi no clipe do posto de gasolina e ele já havia mudado
muito. Tomei o refrigerante tão rápido que parecia a última vez que eu tomava
uma coca-cola na vida. Meus olhos estavam praticamente estáticos. Cada vez que
o apresentador chamava uma nova atração, bufava porque ainda não era o McFly.
Eu apenas bufava, já a Mel chamava os seus tão amados palavrões o tempo
inteiro. Chamou o apresentador de “demônio” quase que quarenta vezes. Já tinham
se passado uns seis blocos e nada de Arthur e companhia. Ao final de cada um,
ele falava “Vem aí: McFly”, e nada. Se não fosse doloroso, acho que já estaria
careca de tanto puxar os meus cabelos, nervosa. Até que finalmente, assim como
disse o apresentador, “para encerrar com chave de ouro”... MCFLY. A Mel já
enlouquecia na poltrona. E eu, bem, eu estava apreensiva, mas dei alguns tapas
no estofado.
Ele
estava ali. Junto com os outros três companheiros de banda. Ei, então aquele
Chay que estava no carro e foi com a gente para a piscina também faz parte do
McFly! Como eu sou imbecil! Fiquei olhando fixamente para Arthur, Mel gritava
alguma coisa como “Micael gostosão”.
(Coloque
a canção para tocar)
A música
começou. Mas não era uma simples música. Era o que eu gostava de chamar de “a
NOSSA música”. O nosso clichê. Vocês sabem a cara que eu estava fazendo. O
sorriso já nem tinha para onde se expandir. O McFly estava fazendo um cover de
“I Wanna Hold Your Hand”. Deus, isso soa como uma serenata. Tem como esse homem
ser mais perfeito? Por que ele faz isso? Por que sempre consegue fazer com que
eu não fique zangada com ele? Levantei do sofá e comecei a dançar e cantar
junto com eles, olhando para a TV ainda, não podia perder nenhum close em
Arthur. A Mel se levantou também e ficamos berrando juntas na sala, ela não
parava de repetir o quanto o tal Micael era sensual, lindo, charmoso e ao mesmo
tempo tinha cara de bebê. Devo dizer que concordo com ela, mas só tinha olhos
para um deles. Adivinhem quem é. Como ele estava deslumbrante! Todo de
terninho, assim como os Beatles costumavam se apresentar. Como Arthur fica
lindo assim. Pena que a minha primeira experiência em vê-lo em um terno não foi
tão legal, mas mesmo assim não pude deixar de notar que fica ainda mais lindo.
Arthur estava cantando com um sorriso no rosto praticamente o tempo inteiro,
como se confirmasse para mim que aquilo era em minha homenagem. Pelo menos era
assim que eu me sentia: homenageada. Aquele homem sabe como mexer comigo, é
incrível.
“And when I touch you I feel happy inside
(E quando
eu te toco, eu me sinto feliz por dentro)
It’s
such a feeling
(É como
um sentimento)
That my love
(Que meu amor)
I can’t
hide
(Eu não
consigo esconder)
(...)
Cada
verso dessa canção se encaixa perfeitamente para o que eu idealizo de Arthur.
Às vezes tenho medo do quanto ele me faz sentir bem, do quanto ele me faz
desejá-lo.
Yeah you got that something
(Yeah, você começou isso)
I think
you’ll understand
(Eu acho
que você entenderá)
When I say that something
(Quando eu digo algo)
I wanna hold your hand
(Eu quero
segurar sua mão)”
Os
gritinhos e pulinhos eram cada vez mais intensos, Mel e eu já estávamos rindo
de nós mesmas, parecíamos duas adolescentes vendo os Backstreet Boys soltarem
beijos para a câmera, chegava até a ser patético, mas um patético aliviado. O
Arthur não estava me ignorando depois do beijo. Queria gritar isso para o
mundo.
A canção
acabou e o programa também. Sentei no sofá ainda ofegante dos pulos e gritos e
a Mel sentou ao meu lado, em seguida pegou o controle e ficou passeando por
vários canais.
— Adorei
eles cantando Beatles, estou bege! — Mel disse concentrada na troca de canais.
— Eu
também, você viu como o Arthur canta bem? — perguntei, suspirando. Ela se virou
para me olhar bruscamente.
— Que
ofensa! Eu sabia disso BEM ANTES de você! — deu-me um pedala. — Retardada!
— Ai, sua
monstra. Você entendeu o que eu quis dizer — devolvi o pedala. — Vou dormir,
boa noite. — falei levantando e dando um beijo no topo da cabeça dela, que
ainda estava sentada.
— Boa
noite... — Mel retribuiu simplesmente e eu dei as costas. Quando estava quase
entrando no quarto, tive que parar no meio do caminho. VAI PRESTAR ATENÇÃO
ASSIM NO RAIO QUE A PARTA. — O Arthur é seu. É só fazer acontecer — voltei para
a sala praticamente correndo.
— Hã?
Está falando do quê? Fumou maconha? — perguntei me fingindo de confusa. Ela se
virou e me encarou, rindo.
— Você
pensa que eu sou idiota? Eu sei que essa é a musiquinha de vocês. E ele fez o
cover dela pra você, pra você ver — franziu a testa e esboçou um meio-sorriso.
— Você
está pior do que eu pensava, está louca! Vou até dormir logo, depois dessa sua
maluquice — fingi-me de desentendida novamente e voltei para o corredor. Ouvi-a
gargalhar e cantarolar algo como “Lua e arthur estão namorando, Lua e Arthur
estão namorando”.
Entrei no
quarto e me joguei na cama, de barriga para o colchão. Coloquei a cabeça no travesseiro
e olhei para a estante, vendo o balde de pipocas praticamente colado lá. Eu
estava realmente idiota. Sorri para o balde. SORRI PARA UM BALDE DE PIPOCAS.
Meu estado não é mesmo dos mais normais. Fechei os olhos e vi tudo acontecer de
novo, desde o dia em que o conheci até o cover dos Beatles. É uma sensação
estranha, mas boa. Era como se mesmo que eu estivesse com todos os problemas do
mundo, bastava olhar para Arthur que todos eles praticamente sumiam. E mesmo
que eu ficasse chateada com ele, era só vê-lo na minha frente que tudo isso era
apagado com apenas um flash. Eu nunca me apaixonei antes. Então será que aquilo
que sentia quando lembrava de Arthur era paixão? Como eu vou saber? Por que
isso é tão complicado? Por que ele é tão complicado? Por que eu sou tão
complicada? CHEGA. Tenho que dormir, preciso dormir. Fechei os olhos quase que
os quebrando de tanta força que fiz, mas a imagem de Arthur cantando no
Children In Need era mais forte e eu sorria idiotamente a cada lembrança. Ele
me faz muito bem. Ele é o remédio, a solução. Eu preciso dele.
Autora : Ingrid H.
caracaaaaa qe perfeira socorroooooooooo . POR FAVOR PELO AMOR DE DEUS NAO DEMORA PRA POSTAR MAIS =[[
ResponderExcluircara posta loooooooooooooooooogo mais se não eu enlouqueço ok aaaaaaaaaaaa ta muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito perfeitoooooooooooooooooooooooooooooo
ResponderExcluirah,posta mais,ameeei
ResponderExcluirposta mais,perfeioo (luuh)
ResponderExcluirdivo,mais please.
ResponderExcluir06 cometários,agora queremos a web
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