domingo, 16 de junho de 2013

June 15th



Capítulo 10.



(Colocar para carregar: McFly - Just My Luck)
(Colocar para carregar: John Mayer - Love Song For No One)
Acordei cedo, seria a minha última prova e eu estava muito empolgada para ficar livre dela. No outro dia, completaria uma semana desde a aparição do McFly no Children In Need e duas e alguma coisa que não o via. Mas dessa vez foi diferente, Thur me ligou quase todos os dias. E eu não consigo esconder o fato de isso praticamente salvar todos os meus dias, um por um. Nos dias que ele ficava sem ligar, era como se me sentisse incompleta, já nem dormia direito. As nossas conversas ao telefone não eram melosas, por mais que eu desejasse chegar nesse ponto algumas vezes e me odiasse por isso. Mas ele não dava muita abertura. Algumas vezes, Thur dizia alguma coisa bonitinha, mas antes que eu me empolgasse, falava outra por cima, que dava a entender quase o contrário. Ele estava viajando com o McFly, estavam em turnê por toda a Inglaterra. Da última vez que me ligou, estavam em Leeds. Nessa última vez foi quando nos falamos por mais tempo, aproximadamente 4 horas ao telefone. Não tenho muita paciência para essas coisas, mas com Thur é diferente. A cada minuto que passa, quero falar mais e mais, quando ele desliga é como se eu estivesse tendo um sonho lindo e tivesse sido acordada por um despertador com a risada do Bob Esponja. Frustrante.
A Mel não tinha parado de me encher, muito pelo contrário, sempre que me via no celular começava a fazer dancinhas e gritar, algumas vezes ela pedia para falar com Thur e falava um monte de coisas que me deixavam morrendo de vergonha. Quando ela me dava o telefone de novo, aí era ele quem me enchia a paciência. No fundo eu gostava disso, ouvir a risada do Thur sempre era como terapia. Em uma das vezes, pedi para que cantasse para mim, ele negou e eu insisti por muito tempo, até que finalmente cantasse, mas com uma condição: cantaria apenas um trechinho e mais nada. Bufei, mas acabei concordando. Ele começou a cantar e eu sentia arrepiar, a voz dele é divina e eu continuo dizendo que ela massageia os meus ouvidos. Depois eu me arrependi de ter escutado aquilo, pois está na minha cabeça como chiclete, e eu fico me perguntando se ele cantou aquele trecho por cantar ou se queria dizer alguma coisa a mais.
“When I was younger so much younger than today I never needed anybody's help in any way and now these days are gone. I'm not so self assured. Now I find I've changed my mind I've opened up the doors.” 
(Quando eu era jovem, mais jovem do que hoje, eu nunca precisei da ajuda de ninguém de maneira alguma e agora aqueles dias se foram. Eu não estou tão seguro, agora eu encontrei, eu mudei minha mente. Eu abri as portas).
Cada palavra martelava em minha mente. O que ele quis dizer? Ou será que ele nem quis dizer nada? Argh, cada vez mais complicado. Aprontei-me e fui tomar café com a Mel, só eu parecia estar empolgada aquela manhã. Os motivos dela eram compreensíveis, Jack começou a namorar e eles pararam de se encontrar.
— Estou estressada — bufou e apoiou a cabeça nas mãos, ignorando que tinha que comer.
— Amiga, eu sei que é difícil, mas vira a página — falei cordialmente e depois mordi a torrada.
— Pô, eu estava me acostumando com ele. Homens são um $@#% — ela disse e depois tomou um pouco de leite quente.
— É assim mesmo, mas pensa bem. Vocês nem tinham nada, pior seria se ele tivesse te trocado, certo? — indaguei, desviando o olhar dela para o relógio na parede.
— É — falou simplesmente, olhando para o prato e ensaiando comer a torrada ou não.
— Já vou amiga, prova no primeiro horário! — tomei rapidamente mais um pouco de leite e levantei.
— Boa prova e não deixa o meu bom humor te contagiar — ela desejou, rindo.
— Obrigada. Não esquenta, eu sei como você deve estar se sentindo — dei de ombros e fui à sala. Peguei a bolsa e corri para o curso.
A última prova sempre tem um gostinho especial: liberdade. Só em me livrar daquela pilha de livros toda tarde em casa, já me dava uma felicidade tamanha. Nada se compara a um dia todo sem fazer nada, de cara para a televisão e comendo qualquer coisa. Nossa, como eu posso me sentir realizada assim? Não posso ser humana. Terminei a prova e saí com um sorriso de orelha a orelha. Passei em um mercado lá perto e comprei algumas coisas essenciais que estavam faltando. Cheguei ao prédio cheia de sacolas, mas por sorte um rapaz que morava no apartamento ao lado me viu chegar e se ofereceu para ajudar. O nome dele é Allan, e logo que chegou em nosso prédio, pediu para ficar comigo. Nós ficamos por alguns dias, mas a coisa desandou. Apesar de tudo isso, ele sempre era gentil e creio que não haja mais segundas intenções, até porque descobriu que sou prostituta alguns meses depois de “terminarmos” o que não tínhamos.
— Obrigada, Allan — agradeci sorrindo e ele sorriu também.
— Estamos aí! — bateu continência. — Sempre que precisar pode contar! — disse e logo depois me puxou e me abraçou, dando um beijo em minha bochecha que, para ser sincera, pegou no canto da minha boca e eu fiquei completamente constrangida. Fingi não ter percebido e entrei no apartamento.
Coloquei algumas coisas na geladeira e outras na despensa. Enquanto empilhava algumas conservas, ouvi baterem à porta. Devia ser Allan de novo, será que deixei alguma coisa cair? Andei despreocupadamente e nem olhei o olho mágico, de tão convicta que estava.
Não sabia mais onde o meu coração estava batendo de tão nervosa que fiquei. Não era Allan e eu não deixei nada cair, a não ser a minha pressão. Era Arthur, com um sorriso infantil, irritante de tão lindo.
— Não gostou de me ver aqui? — perguntou ainda sorrindo. Ele sabe o que provoca em mim, maldito. Tentei me conter.
— Ai, Thur, deixa de ser idiota, claro que sim! É só que você me disse que só viria daqui três dias! — falei tentando, disfarçadamente, ajeitar os cabelos, que deviam estar assustadores de tão bagunçados. Ele arqueou as sobrancelhas.
— Eu menti. Queria te ver assim! — riu alto e ficou me olhando, deixando-me completamente sem graça e corada. Eu estava muito feliz em vê-lo, tão feliz que não sabia como agir. Queria abraçá-lo apertado, senti muito a falta dele, mas não sabia como esse abraço seria recebido. Eu não sei o que se passa na cabeça de Arthur.
— Besta — baixei o olhar, sorrindo fraco. — Entra, né?! — obedeceu e entrou, fechei a porta e quando me virei para ele, notei que estava parado, olhando para mim, imóvel. — Que foi? — perguntei tentando imitá-lo.
— Nada — deu de ombros e sentou no sofá, para o meu desespero. Grrrrrr, odeio quando ele age assim... Frio, estranho.
— Você chegou que horas? — perguntei tentando quebrar o silêncio que ainda nem tinha tido tempo de dar o ar da graça e sentei na poltrona ao lado do sofá, olhando para ele, que olhava fixamente para a TV desligada.
— Oito — respondeu simples e claramente, sério.
— Como você sabia que eu estaria em casa mais cedo? — questionei, confusa.
— Você me disse da última vez que liguei — olhou-me de relance e voltou a encarar a TV desligada.
Eu estava completamente insegura com aquele momento. O que estava acontecendo? Porque ele estava agindo daquela forma? O Arthur não é assim. Não o que eu conheço. Antes que pudesse falar mais alguma coisa, ele se levantou e pegou uns papéis no bolso, pareciam cupons. Deu dois passos e ficou parado em minha frente. Em seguida, estendeu a mão e pude ver que eram dois ingressos.
— Aqui. Pra você e para Mel irem ao nosso show no Wembley, sábado — peguei os ingressos e toquei sem intenção a mão de Thur, logo depois, ele a colocou no bolso.
— Obrigada! A Mel vai morrer quando ver! — falei sorrindo abertamente e olhando para cima, para poder ver seu rosto. Ele, no entanto, não devolveu o mesmo sorriso, só um fraco e estranho.
— Com esse, vocês têm acesso ao camarim antes e depois do show — informou e me deu as costas, caminhando em direção à porta.
— Já vai? — perguntei sentindo mais uma vez um clima estranho. Levantei e o segui.
— Já, tenho compromisso, só vim deixar os ingressos — ele mesmo abriu a porta e foi saindo. Eu não conseguia deixá-lo ir sem entender o que estava se passando. Não estava normal, não era nem de longe o jeito de agir do Arthur. Tinha algum problema. — Tchau, apareçam lá — disse dando as costas para descer as escadas. Então, apressei o passo e peguei em seu braço.
— Espera, Arthur — pedi, fracamente, com medo de sua reação sei lá por que e ele se virou bruscamente, ficando de frente para mim. Notei que tentava não me encarar.
— Quê? — franziu a testa, indicando impaciência.
— Está tudo bem?
— Uhum — sorriu fraco e me deu um beijo na testa. NA TESTA. Não consegui dizer mais nada, também não ia insistir. Ele devia ter motivos. Deve ter tido algum problema com os outros garotos ou sei lá em que mais. Não devia ter a ver comigo, ou com a gente, já que ele me deu um beijo na testa. Ei, será que ele quer dizer que o nosso beijo foi uma coisa do momento e que não quer que eu me iluda, mas não teve coragem de dizer?
Não, não pode ser. Se fosse assim ele não teria me dado os ingressos VIP. Droga, queria tanto ser uma mosquinha e conseguir entender tudo sobre a vida do Thur, acompanhá-lo a vários lugares e saber o que acontece. Mas não, tenho que me contentar com o “pouco” que sei. Fiquei observando-o descer os degraus. Até a sua forma de pisar estava diferente. Ele definitivamente não estava bem. Fiquei parada ali, tentando encontrar alguma justificativa para aquele comportamento, mas não conseguia. Nada fazia sentido. Desisti de procurar uma falha e voltei para o apartamento. Guardei os ingressos na gaveta da estante e comecei a preparar o almoço. Estava quase na hora da Mel chegar. Liguei o som que ficava perto da televisão e começava a tocar alguma canção muito bonita na rádio, fui preparar o almoço a ouvindo. A letra era um tanto quanto realista no que se tratava de relacionamentos estranhos. Assim como o meu e de Arthur.
Não estou dizendo que temos um relacionamento, mas digamos que o que temos não é qualquer coisa. Pelo menos não o que tenho por ele. Temos que concordar que também não é normal um cara como Arthur procurar uma prostituta e nem transar. Ele nem chega a insinuar tal coisa. Algum carinho ele sente por mim. Ou talvez por eu sentir, fico achando que ele tem o mesmo sentimento. Talvez Arthur só sinta respeito. Mas eu paro para pensar e não consigo achar uma razão para ele me respeitar sem sentir nada. Bom, ele pode gostar de mim como amiga, talvez. E o jeito que ele agiu hoje pode ter sido uma maneira implícita de dizer que não quer mais me beijar para não confundir as coisas. Ele não estava bem e aquilo não me fazia bem também. Enquanto cortava a cebola, algumas lágrimas provocadas por ela se misturavam com lágrimas vindas direto do meu coração. Como o fato de alguém agir diferente podia mexer tanto comigo? Por que ele não me disse o que estava sentindo? Eu preferia que tivesse sido claro a ter ficado daquela forma. Se ele tivesse sido direto, eu não estaria aqui cheia de questionamentos. Aliás, por que Thur me deixa tão cheia de dúvidas? Por que ele simplesmente não me diz que foi um equívoco e que vamos ser só amigos? Que foi longe demais e agora tinha medo de me magoar?
Será que ele sabe que me deixa assim? É como diz aquela canção: "Eu sei, eu não te conheço, mas eu te quero tanto". Por que raios mesmo? Parece até que gosto de sofrer. Credo. Coloquei os pedacinhos de cebola picada na panela e continuei preparando o almoço, os meus olhos ainda ardiam um pouco, mas as lágrimas já tinham parado. Tantos as que eram provocadas pela cebola quanto as que eu mesma provocava. Por sorte, voltei a lembrar de Leopold e me dei conta de que ele não tinha dado notícias ainda. Devia estar sem tempo. Como seria bom se ele aparecesse, assim eu me distrairia e pararia de só pensar no que estava acontecendo com Thur. Era sempre isso, agora. Arthur, Arthur, Arthur. Odeio os homens e o que eles provocam. Eu estava aqui, na minha, trabalhando e sendo fria. Por que aquele Don Juanzinho tinha de aparecer e tirar o meu foco? Imbecil.
Quando o almoço estava quase pronto, ouvi a porta abrindo, era Mel, conheço aquele barulho todo. Ela nunca consegue ser silenciosa, toda porta para ela é como se fosse uma geladeira.
— Chegueeei — disse me dando um abraço por trás e um beijo na cabeça.
— Está melhor? — perguntei virando-me para olhá-la, porque achei seu tom de voz um pouco mais animado do que no café da manhã. Ela deu as costas e sentou na cadeira mais próxima.
— Digamos que um pouco — respirou fundo. — Ele falou comigo hoje na faculdade. Disse que não queria me magoar. Aí eu pensei: ei, não estou magoada. E &%$@#-se — rimos.
— Então eu tenho uma coisa que vai te animar mais ainda!
— ADORO SURPRESAS! — bateu palminhas. — O que é? Você vai me dar um dos caras do McFly? — perguntou animada.
— Quase isso... — ouvi-a prender a respiração e voltei a mexer na panela.
— Oh céus, fala logo antes que eu me jogue da escada!
— Digamos que não só um... TODOS os caras do McFly — ela deu um grito e mandou que eu falasse logo. — Tenho dois ingressos para o show deles sábado no Wembley — levou uma das mãos à boca e eu prossegui. — E tem mais... VIPs. Vamos poder entrar no camarim antes e depois do show! — agora ela já pulava e me abraçava, enchendo-me de beijos no rosto. — Chega, Mel! — empurrei-a, rindo.
— Espera, mas como você conseguiu? — perguntou, colocando as mãos na cintura.
— O Arthur esteve aqui mais cedo e me deu — respondi simplesmente. Ela abriu um sorrisão e eu ignorei, pegando a panela e levando até a mesa para almoçarmos.
— E então...? — queria aumentar a conversa, esperançosa. Coitadinha.
— E então nada — falei pegando dois pratos, copos e talheres e colocando na mesa. — Vem — sentei e ela veio caminhando. Sentou de frente para mim.
— Como assim, nada? Vocês estão há quase três semanas sem se ver e você me vem com um “nada”? — perguntou incrédula e se servindo.
— É — respondi em um tom baixo, servindo-me em seguida.
— Ah, mas isso não é normal. Você está me escondendo alguma coisa?
— Não, estou falando sério. Não foi culpa minha — falei antes que ela me xingasse.
— Então... O que tem de errado? — indagou com os olhos arregalados.
— Não sei, e estou me matando por isso — desabafei, soltando os talheres e levantando, indo em direção à geladeira pegar refrigerante.
— Não estou mais entendendo nada — ouvi-a dizer e voltei para a mesa.
— O Arthur não estava bem. Isso era explícito — falei abrindo a garrafa. Mel me olhou fixamente.
— Continuo sem entender — reclamou, segurando o seu copo para que eu a servisse, então o fiz.
— Eu também — falei colocando refrigerante no meu copo e em seguida fechei a garrafa novamente, voltando a sentar e comer. — Quando abri a porta ele estava sorrindo, mas depois, quando entrou, estava completamente diferente. Mal conversamos — dei de ombros e evitei encontrar os olhos de Mel, que nem piscavam.
— Hã? O que ele tem? — perguntou como se achasse que eu sabia a resposta. Quem dera.
— E eu é que sei? — tomei um pouco de refrigerante. — Deve estar com vergonha de ter me beijado, de ter se precipitado e não sabe como dizer isso.
— Como assim? Só se ele for louco! Porque me desculpe, amiga, mas o cara ligava quase todo dia nessa última semana... Só se ele for um porco indeciso e destruidor de corações. Porque o que ele deu a entender foi completamente outra coisa — falou indignada.
— Talvez ele seja um destruidor de corações — sugeri simplesmente e ela balançou a cabeça.
— Não, eu estou com raiva do Arthur. Mesmo ele sendo aquela obra de arte ambulante. Porra, parece criança. Ou quer ou não quer. Desgraçado — ela disse tudo o que eu queria dizer e não saía. — Mas... Você vai ao show? Porque se você não quiser ir, não tem problema. Eu não fico com raiva e fico aqui com você — ofereceu, fofa, e eu sorri.
— Eu vou sim. Afinal quero conhecer um pouco desse McFly. Também quero conhecer os outros dois garotos.
— Três — ela me corrigiu sem saber que, na verdade, eu sabia o que estava dizendo.
— Dois. Conheci o Chay. Aquele do carro no dia da piscina era outro integrante — sorri fraco e recebi um chute.
— #$@%&, é muito burra mesmo! Você conhece Chay Suede e nem se dá conta disso também. Ah, parei com você — cruzou os braços. — Eles devem ter rido muito de ti.
— Quem sabe — dei de ombros e cruzei os braços, baixando o olhar.
— Ah, Luh... Não fica assim — fez bico e levantou, agachando-se ao meu lado e me dando um abraço. Apoiei a minha cabeça na dela.
— Eu achei que tudo fosse mudar depois daquele beijo, mesmo tentando não pensar nisso — respirei fundo. Mel apenas continuou me abraçando, ela sempre sabe a hora de falar. — E mudou, pra pior. — Mel levantou a cabeça e me olhou. Eu via um pouco de pena em seu olhar. Era compreensível, acho que a minha cara não era mesmo das mais felizes.
— É engraçado... Eu que estava toda jururu hoje de manhã e agora você que está aí precisando de uma força — rimos frustradas. — Não esquenta, se ele continuar agindo assim vai ser pior pra ele. Não sabe o que está perdendo e eu sei que essas formas de consolo são as mais clichês, porém é a verdade nessa situação.
— Ah, Mel... Eu queria acreditar nisso... Mas acho que ele só ganha não querendo ter nada comigo.
— Nunca mais diga uma coisa dessas! — ela me deu um tapinha no braço e eu sorri fraco. — Eu sei como você está se sentindo... Eu já me senti assim. Mas uma hora, acredite, você vai se sentir boa demais pra ele — falou com confiança, mas eu não conseguia acreditar que um dia me sentiria superior ao Arthur. — Agora vamos, levanta. Vamos lavar essa pilha de louças e depois vou trabalhar... Mas olha só... Amanhã vamos sair pra dançar e eu não aceito não como resposta — falou levantando e piscando para mim. Assenti e levantei também. Ela me ajudou a empilhar e a lavar a louça, logo depois saiu para trabalhar.
Talvez eu precisasse mesmo sair para dançar, tomar novos ares e conhecer gente nova. Mel e eu não íamos muito a boates, não por falta de vontade, mas por falta de disposição. Mesmo assim ela ainda ia mais do que eu. Apesar de amar dançar, só tinha disponibilidade para sair sábado e domingo... Nesses, eu geralmente estava muito cansada, então desistia. Mas estava decidido! Amanhã eu ia faltar o trabalho e dançar até amanhecer!
(...)
— O que você acha desses brincos? — Mel perguntou exibindo duas argolas que mais pareciam pulseiras, mas que nela ficavam perfeitas.
— É sua marca, né? — ri e ela me mostrou o dedo do meio, colocando-as em seguida.
— Adorei essa sua blusa, só não é mais bonita porque você não comprou uma pra mim — falou me vendo vestir uma das blusas novas que comprei no shopping.
— Olha o drama, já te dei muito presente! — falei vestindo uma calça cigarrete. Ela riu.
— É verdade, eu que estou em falta contigo! — admitiu se olhando no espelho e ajustando melhor o tubinho preto que vestia. — Vamos as duas de scarpin. É uma ordem! — falou com uma cara engraçada.
— Sua ordem é totalmente aceita, personal! — bati continência e ela fez careta. Fui até o meu quarto e calcei o meu scarpin, quando voltei, a Mel já estava pronta e sentou na cama, esperando-me fazer o rabo de cavalo.
— Anda, quero dançar! — ela disse me apressando.
— Jáááá — falei terminando de fazer o penteado e fui até o meu quarto pegar alguns trocados. Quando fui para a sala, Mel me pediu para colocar o dinheiro dela no meu bolso. Eu o fiz. Checamos se estava tudo desligado, ferro fora da tomada etc e saímos.
Pegamos um táxi e fomos até a boate, que era um pouco longe de onde moramos. Era uma das mais sofisticadas de Londres. O dinheiro que se gasta na entrada equivale a uma semana nas boates mais simples. Mas vale a pena, é realmente a melhor. O open bar vale todo o esforço. Chegamos ao local e tinham algumas pessoas ainda do lado de fora, uma fila razoavelmente grande, então Mel me olhou desanimada, era a única desvantagem de ir lá: filas. Ficamos lá por mais ou menos 20 minutos até conseguirmos entrar. Era um lugar realmente grande, tinham cinco ambientes e uma decoração de cair o queixo. Já tinha mudado muito desde a última vez que fui. Há quanto tempo não escuto aquele “tum tum” ensurdecedor, já estava até com saudades. Já entrei empolgada, dançando, a Mel fez o mesmo e fomos dançando até o bar. Cada uma pegou uma batida e fomos para a pista. Fazíamos algumas palhaçadas durante as danças, como ir até o chão, rebolar feito loucas, mas nem ligávamos. Quer dizer, ninguém ali se importava. Tomei a batida em uma velocidade incrível, estávamos dançando muito e eu já sentia calor.
— Vou pegar um pouco de vodka. Você quer? — gritei no ouvido dela, já que a música era muito alta. Ela apenas balançou a cabeça negando. Então fui até o bar e esperei chegar a minha vez. Antes de pedir, senti uma mão segurar o meu braço, virei bruscamente e fiquei surpresa.
— Rachel? — era Chay, o amigo de Arthur. Ele sorria e estava uma gracinha. Sorri para ele também.
— Oi Chay, tudo bem? — demos dois beijinhos e ele disse que sim, logo o barman me chamou. — Só um segundinho... — falei para Chay e ele assentiu, então pedi o copo de vodka e fui atendida. Virei-me novamente para ele.
— Tudo bem com você? — perguntou-me aos berros.
— Tudo — respondi da mesma forma, estava difícil conversar ali. Ele se aproximou de mim para poder falar no meu ouvido.
— Nunca mais te vi, Arthur me contou que você descobriu que ele é famoso — riu alto e eu dei um tapa em seu ombro.
— Pois é, nossa, vocês dois me fizeram de idiota, hein? — falei rindo, ele riu mais ainda e assentiu, levando outro tapa. — Como está a sua ruiva? — perguntei, mas Chay não entendeu e pediu que eu repetisse. Gargalhou.
— Já era! — franziu a testa. — Estou à procura de outra que pode ser ruiva, loira, morena... Castanha assim que nem você — e piscou fazendo charme. Não pude deixar de rir e corei.
— Idiota! — balancei a cabeça e ele me olhou rindo.
— Levei um fora, hein? Beleza! Quando você quiser não estou mais aqui — cruzou os braços.
— Vem, deixa eu te apresentar a minha amiga — puxei-o pelo braço e com a mão livre segurava o copo de vodka. Fomos caminhando em direção à pista de dança e Mel dançava de olhos fechados. Apontei para ela e Chay fez uma cara engraçada, como se gostasse do que via. — Mel... — gritei e ela abriu os olhos subitamente. Em seguida os arregalou, olhando para Chay.
— Chay? — perguntou espantada e ele confirmou.
— Ao seu dispor — falou cumprimentando-a, ela ainda estava em choque e eu ria da cena.
— Sou Mel! — apresentou-se e ele elogiou seu nome.
— Dança com a gente! — convidei. Quer dizer, gritei.
— Com certeza! — sorriu maroto, olhando para Mel. Eu ri da troca de olhares deles e tomei vários goles de vodka. — Vai devagar com isso — pediu preocupado. Sorri e o mandei relaxar.
Ficamos dançando ali, os três. Mel começou a se soltar mais, ela e Chay já conversavam normalmente, gritando, lógico. Bastou eu puxá-lo para dançar comigo uma vez para que a Mel fizesse o mesmo, era como se ela só precisasse de um impulso. Achei engraçado, ela parecia estar controlando mais seu fanatismo pelo McFly, pois estava agindo surpreendentemente normal. Chay se ofereceu para pegar mais bebida e ficamos só as duas.
— Meu Deus, eu não acredito! — ela disse sorrindo e colocando uma das mãos na testa. — Eu estou dançando com Chay Suede!
— E ele está querendo te pegar... — completei e ela deu uma risada abafada.
— Será? — perguntou confusa.
— Será? Você ainda tem dúvida? — ela riu e me deu um tapa no braço. — Ah, antes que eu esqueça... Ele me conhece como Rachel — adverti e ela piscou para mim assentindo. Logo Chay voltou com as bebidas, eu já bebia o 5º copo de vodka, as coisas estavam começando a flutuar na minha frente, Mel e Chay diziam estar se sentindo da mesma forma, nós apenas ríamos e continuávamos dançando.
Passava das 4h da manhã e nenhum de nós parecia estar cansado e querendo voltar pra casa. Quando falávamos nisso, outra música boa começava a tocar e então esquecíamos até os nossos nomes. Se antes eram cinco copos, agora eu já tinha perdido a conta de quantos tinham sido. Chay, que havia pedido no começo da festa para eu ir devagar com a vodka, já estava até pior. Falava um milhão de bobagens, fazendo Mel e eu gargalhar como loucas. Ele é muito engraçado. Não pensem que seus olhares para Mel diminuíram. Uma hora, quando fui ao banheiro, notei que ele se aproximou dela e começou a falar algumas coisas em seu ouvido, ela apenas ria e falava outras no dele. Ironia do destino, não? A Mel talvez ficasse com outro cara do McFly.
Decidimos voltar para casa andando, Chayzito disse que ia conosco até o nosso apartamento e de lá ligaria para o motorista deles buscá-lo. O caminho foi muito divertido, já amanhecia e estávamos os três muito bêbedos, nem me recordo da maioria das besteiras que falávamos, só sei que nunca rimos tanto. Ele ia ao meio, com um braço em volta do meu ombro e outro em volta do ombro de Mel. Lembro quando ele disse que éramos as suas duas mulheres, que quem o visse na rua àquela hora com nós duas o acharia o filho da #@%$ mais sortudo do universo. Depois de uma longa caminhada, chegamos ao apartamento. Foi quase impossível colocar a chave na fechadura, eu nunca acertava. Então passei a chave para Mel e ela também não conseguia. No final quem conseguiu foi Chayzito e nós já morríamos de rir por não conseguir. O chamamos para entrar e fomos à cozinha, tomamos café puro e ele ligou para o motorista e explicou o caminho.
— Fica aí, depois você vai! — Mel disse quando o viu desligar o celular.
— Tenho que ir, hoje tem ensaio antes do show. Nem sei como eu vou fazer, bêbado desse jeito.
Ah é, o show. Tinha esquecido completamente desse show.
— Dorme um pouco e vai, o ideal seria você dormir o dia todo, mas... — lamentei e ele concordou.
— Os caras vão me matar, já estou até vendo. E não era pra eu ter bebido tanto, minha voz vai ficar %$#@! — disse balançando a cabeça negativamente, como se estivesse decepcionado com sua falta de disciplina.
— Que nada, você vai tirar de letra — Mel o conformou e ele sorriu. — A minha mãe me ensinou uma coisa muito boa para as cordas vocais... Com limão. Vem, vou anotar pra você — então os dois foram para a sala e eu fiquei na cozinha, tomando mais um pouco de café. Sentia-me bem. A companhia de Chay tinha sido realmente muito boa, ele é muito alto astral e engraçado. As minhas bochechas já estavam doloridas do tanto que me fez rir.
— Rachel, estou indo — avisou, entrando na cozinha e vindo em minha direção. Deu-me um abraço e um beijo na bochecha. Tão fofo. — Foi muito bom passar a noite com vocês, vamos combinar mais vezes — piscou e eu assenti, sorrindo para ele.
— Vou com você até a porta — falei e ele deu as costas. Segui-o. Mel já estava parada perto da porta, então Chay se despediu dela também.
— Vejo vocês no Wembley hoje à noite, não faltem! — ordenou com uma cara engraçada e se virou para descer as escadas.
— Cuidado aí, hein? Se segura! — Mel fingiu preocupação e ele riu alto. Realmente, do jeito que estávamos tontos, era perigoso ele rolar escada abaixo. O observamos até sumir de vista e fechamos a porta.
— Preciso da minha cama — disse e Mel concordou. Nem vi mais nada depois que cheguei ao meu quarto, joguei-me na cama do jeito que estava, só tirei os sapatos.
Quando acordei, notei que já estava escuro, senti dor ao tentar abrir os olhos, eles estavam literalmente pregados. Então, apoiei-me na cama com os cotovelos e olhei para o relógio no criado-mudo. Marcava 7h da noite, o show seria às nove. Levantei como louca da cama e corri para o quarto de Mel, que ainda estava debruçada.
— Amiga, levanta! 7h da noite já! — tentei acordá-la, pegando em seu braço, ela o puxou. — Vai tomar no #@, Jack — disse quase que sem som, fazendo-me rir.
— Ô sua idiota, aqui é a Lua, acorda — sacudi-a e ela se virou, fazendo careta e abrindo os olhos lentamente.
— Sono do demônio — resmungou.
— Vou tomar banho, se apronta aí também! — avisei, dando as costas e deixando o quarto dela.
Entrei no banheiro e tirei toda a roupa, que estava completamente suja e com cheiro insuportável de álcool. Mel, Chay e eu devíamos ter nos dado vários banhos de vodka, uísque e tudo que tinha direito. Liguei o chuveiro e senti arrepiar, estava mesmo precisando tomar banho. Tomei um banho demorado e depois escovei os dentes. Voltei para o quarto enrolada na toalha e abri o guardarroupa. Não sabia o que escolher. Olhei umas 20 vezes e optei por uma camisa branca regata e uma calça preta, não pensei duas vezes e calcei o meu all star preto. Não usaria salto nem por decreto. Mal sentia meus pés depois de dançar de scarpin a noite inteira. Tirei o excesso de água das pontas do cabelo e decidi que iria deixá-lo secar naturalmente, não estava com paciência para secador. Passei um reparador de pontas e penteei. Estendi a toalha na porta e passei um perfume suave. Peguei os dois ingressos na gaveta da estante e coloquei no bolso. Saí do quarto e ouvi Mel cantar a música da Joanna no chuveiro, depois cantou outra e mais outra, creio que todas do McFly. Ri internamente e liguei a TV, depois sentei no sofá. Estavam passando alguns clipes na MTV e eu assisti atenta. Não era nenhum que eu conhecesse a canção, mas não deixavam de ser bons vídeos e boas músicas. Permaneci daquela forma por uns 30 minutos, quando finalmente Mel ficou pronta. Checamos se tudo estava desligado e saímos. Ela estava muito ansiosa, só falava em como devia ser o show, em como o Micael devia ser mais lindo ainda e que queria ver o Chay. E eu, bem, eu estava nervosa. Não sabia como seria encontrar o Arthur no camarim. Também estava empolgada para o show, queria ouvir mais dessa banda. Queria conhecer mais. O táxi parecia estar andando muito devagar, não sei se era o nervosismo que me fazia achar isso ou se realmente era o que se passava. Fomos finalmente nos aproximando do Wembley Stadium. Havia uma multidão lá fora, muitas garotinhas histéricas com o nome “McFly” pintado até a alma. Pagamos o táxi e descemos, respirei fundo e caminhei até a entrada.
Havia duas entradas: uma para os ingressos normais e outra para os VIP. Por sorte esses especiais deviam ser muito caros, porque havia poucas pessoas na fila. Mel e eu entramos, meu coração batia sufocado e acelerado ao mesmo tempo. Uma mulher, que certamente trabalha para eles, nos deu pulseirinhas e nos guiou até o camarim. Fomos andando com um grupo de mais ou menos quinze pessoas, todas garotas. Elas estavam muito nervosas também, chegamos até a conversar com algumas, a maioria já chorava, diziam que eles eram os amores de suas vidas e que morreriam por eles. Mel e eu rimos. Fiquei um pouco incômoda quando algumas delas começaram a falar de Arthur, como ele era lindo, simpático, gostoso e talentoso. Elas não mentiram, mas me deu vontade de dizer que já estive com ele e elas não. Porém me policiei para não agir de forma tola, porque do jeito que ele estava estranho, negaria na minha cara. Mel apenas me olhava rindo toda vez que uma delas falava dele. Quando chegamos ao camarim, a primeira pessoa que vimos foi Chayzito, que nos recebeu com um sorriso de orelha a orelha.
— Yay! Vocês vieram! — falou vindo em nossa direção e nos cumprimentando com um abraço apertado. Ele é um amor! Senti as garotinhas que vinham atrás nos fuzilarem com o olhar e cochicharem, certamente elas ficaram com inveja porque Chay nos conhecia e falou primeiro com a gente. Depois ri de mim mesma, eu estava criando uma competição idiota com adolescentes, o que me deu? Conversamos pouco com ele, pois tinha fãs para atender, mas pediu que esperássemos na lateral, que ele fazia questão de nos apresentar aos outros.
Mel e eu ficamos esperando ansiosas e eu procurava Arthur com o olhar ou qualquer outro integrante, mas não via nenhum deles e isso estava me deixando nervosa. Notei que Mel agia da mesma forma.
— Cadê os outros? — perguntou ansiosa e mordeu o lábio inferior.
— É, também quero saber... Mas o Chay mandou a gente esperar, então vamos ficar aqui.
— Acho que vou morrer quando cumprimentar o Micael — ela disse colocando as mãos no rosto e dando risadinhas.
— Aiaiaiai, imagina eu quando vir o Arthur — cogitei sentindo as pernas falharem ao imaginá-lo ali.
— Ah, dá um desconto. Você e o Arthur já se conhecem e você nem sabia que ele era famoso. Já eu sou fã deles e vê-los é mágico! — suspirou e rolou os olhos. É, ela estava certa. — Aquele gostoso, nossa, vou me segurar pra não agarrá-lo!
— Mel! — falei mandando-a falar mais baixo, pois avistei Chay vindo em nossa direção, ela apenas riu e deu de ombros, dizendo que era a verdade, “fazer o quê”.
— Vamos meninas, dêem as mãos para o papai aqui — Chayzito chamou, batendo no próprio peito e em seguida posicionou as suas mãos para que cada uma segurasse uma. O fizemos e caminhamos um pouco até uma salinha, onde ao chegar à porta pude reconhecer o tal Micael amado da Mel. Ela olhou pra mim incrédula e sussurrou algo como “meu Deus, vou morrer”.
— Mica, quero te apresentar as melhores companheiras de festa do Chayzão aqui — falou se vangloriando e nós rimos, quer dizer, eu ri. Mel estava imóvel.
— Ah, então vocês são as duas que embebedaram o nosso amigo aqui! — falou apontando para Chay e rindo. A Mel devia estar morrendo. Assenti e notei que a minha amiga continuava imóvel.
— Essa é a Rachel! — Chay apresentou e Micael se aproximou, cumprimentando-me. — E essa, a Mel. — Micael foi de mim para ela e a cumprimentou também.
— Mão gelada! — ele entregou, sorrindo, e eu juro que vi as bochechas dela ficarem roxas de tão coradas, mas tentou esboçar um sorriso.
— Ei Harry, vem aqui! — Chay gritou ao ver o amigo passando. Harry se aproximou e eu não pude deixar de perceber o quanto ele é charmoso. É realmente um homem muito bonito. — Quero te apresentar as minhas novas amigas — sorriu e Harry sorriu também. Mel e eu fizemos o mesmo. Micael deu um pedala em Harry e pediu licença, indo para fora da sala, devia estar indo falar com as fãs.
— Prazer, sou Rachel — adiantei-me e dei a mão para ele. Para a minha surpresa, ele a beijou. Mas não aquela coisa brega, Harry soube fazer isso de uma forma tão sensual que me deu até medo.
— O prazer é completamente meu — respondeu sorrindo pelo canto da boca e piscando.
— Essa é a Mel. Ela e a Rachel moram juntas. — Chay comentou e Harry se aproximou de Mel, cumprimentando-a.
— Muito bom conhecer vocês — Harry disse e eu estava hipnotizada em seu rosto perfeito. Muito bom foi conhecê-lo, oh céus.
— Nós é que dizemos isso — Mel finalmente falou alguma coisa depois do seu estado de choque. Harry sorriu e nos chamou para sentar. Sentamos e ele ficou entre nós duas.
— Porra, me deixaram em pé — Chay resmungou e nós rimos, ele então puxou um banquinho e sentou perto da gente.
— Todo show é isso? Esse monte de gente pra tirar foto? — perguntei.
— É, mas a gente já está mais rápido nesse esquema — Harry respondeu e Chay concordou.
— Cadê o Micael? — Mel perguntou procurando-o com o olhar.
— Acho que foi falar com as meninas lá fora — Chay disse com um sorriso maroto. — Ê vida boa — disse Harry, esticando-se no sofá.
— E o Arthur, Haz? — Chay perguntou procurando com o olhar. Droga, por que ele fez isso? Senti o ar faltar.
— Ele teve um problema com uma corda e bateu o pé dizendo que ia consertar agora.
— O Thur parece uma mulher com essas frescuras! — Chay falou inconformado e nós rimos.
Engatamos alguns assuntos, ainda faltava um tempo para o início do show. De vez em quando, quando Chay e Harry estavam distraídos, Mel me olhava e olhava para Harry, fazendo uma cara sem vergonha e eu devolvia da mesma forma, ríamos e eles dois ficavam sem entender nada. Eu estava distraída com Chay segurando a minha mão, ele disse que sabia ler mãos e ficou manuseando a minha, inventando um monte de baboseiras, Harry o xingava e Mel só faltava morrer de tanto rir. Eu também não estava muito diferente dela. Ele é doido. Foi quando ouvi uma voz bastante conhecida pelos meus ouvidos. Levantei a cabeça subitamente e olhei para a porta. Arthur estava de costas, escorado nela, conversando com a moça que nos levou até o camarim. Ele parecia bravo, devia ser por causa de seu instrumento. Então Chay continuou a brincadeira, Harry continuou xingando-o e Mel percebeu que eu estava olhando atenta para Arthur, porque a senti me olhando. Olhei de volta e fiz leitura labial, ela disse para eu ter calma. Assenti e sorri fraco.
Arthur parou de conversar e se virou, entrando na sala. Foi quando os nossos olhares se encontraram. Chayzito notou que eu olhava alguém atrás dele e se virou para olhar, viu que era Arthur e começou a encher o saco, chamando-o de afeminado, ele apenas mostrou o dedo e se dirigiu até Mel, para cumprimentá-la. Quando vi que ele vinha em minha direção, fui levantando devagar do sofá e tentando me acalmar, não queria que ele percebesse que eu estava nervosa. Ele veio, olhando profundamente nos meus olhos, parecia enxergar todos os meus pensamentos, eu nunca me senti tão frágil. Colocou uma das mãos em minha cintura e me puxou bruscamente, dando um beijo na bochecha. Olhei-o confusa e ele apenas sorriu, dando as costas e sentando na frente do enorme espelho do outro lado. Senti alguma felicidade, gostei de ele ter agido daquela forma. Parecia estar louco pra me ver. Mas essa felicidade logo sumiu quando vi alguém adentrar a sala. Era Sophie. Ela foi direto para Arthur e o beijou. Não um selinho, como tinha visto na festa. Um beijo de cinema mesmo. E ele parecia corresponder muito bem. Aquilo estava me corroendo. Comecei a lembrar de nós dois juntos, nos beijando, e senti vontade de ir até lá e tirá-la de cima dele. Ainda bem que antes que eu pudesse pensar mais em fazer isso, eles pararam e ela veio em nossa direção.
— Sophie, essas são as minhas amigas, Rachel e Mel — Chay falou pela milésima vez.
— Eu a conheço — Sophie sorriu cordialmente e me cumprimentou, Chay e Harry nos olharam confusos. — Tudo bem, Rachel? Não sabia que você conhecia os meninos — agora quem se virou assustado foi Arthur.
— Não, ela é amiga do... — Chay quase solta e, antes que ele terminasse, corri para corrigir.
— Micael! — completei subitamente e agora todos os olhares da sala, menos o de Mel e de Sophie, eram para mim. Chayzito me olhou confuso e eu o olhei de volta, tentei fazer uma expressão que fosse clara o bastante e acho que ele entendeu, tanto que respirou fundo e balançou a cabeça, entendendo o que quase provocou.
— E você não me é estranha... — Sophie disse indo em direção à Mel. A minha amiga não sabe ser falsa, o sorriso que ela deu foi tão amarelo que Harry soltou um riso abafado.
— Melanie Fronckowiak, estudamos juntas em uma série do colegial — falou tentando aumentar o sorriso, que cada vez ficava mais falso. Harry já estava vermelho de tanto tentar prender a risada e se virou para mim, que também queria rir, então os dois ficamos de costas para elas fingindo conversar. Ouvi Sophie prender a respiração.
— Como você mudou! — ficou surpresa e deve ter cumprimentado Mel.
— Todos mudamos, não? — ela disse e Harry já não conseguia parar de tanto rir. Eu tentava ajudá-lo, gesticulava para que ele respirasse fundo, mas ele balançava a cabeça e sussurrava algo como “não dá”.
Ainda bem que ele foi conseguindo se controlar, porque cada vez que ele ria, eu tinha vontade de rir também. Mel veio para perto da gente e Harry estendeu-lhe a mão, dizendo baixo que o troféu de falsidade era dela. Ela riu e disse que Sophie merecia e, para a minha surpresa, Harry concordou com ela. Como assim? Os meninos da banda não apoiam o relacionamento de Arthur e Sophie? Tentei ficar neutra e não dar opinião nenhuma, também tentei não olhar para trás, pois o casal estava abraçado.
— As meninas podiam ver o show da lateral do palco! — Harry deu ideia e Mel vibrou.
— Concordo! — Chay disse.
— Melhor, porque daí não fico sozinha — Sophie comemorou, olhando-nos e sorrindo. Tive que vê-la com Arthur e não foi legal.
Depois de muito tempo, Micael voltou para a sala e conversou um pouco conosco, em seguida pediram para que Mel, Sophie e eu saíssemos da sala para que eles se aquecessem, o show já iria começar. Agradeci mentalmente terem mandado a Sophie sair também, ela e Micael não podiam conversar, pois ele me acharia louca e negaria para ela sua amizade comigo. Era um longo corredor, fomos acompanhadas por dois seguranças, que cochichavam em que lateral nós ficaríamos.
— Qual você acha melhor, Tony? — um deles perguntou.
— Lateral direita, perto do Chay e do Micael — o outro respondeu.
Mel apertou meu braço e eu a olhei sorrindo. Ela devia estar nas nuvens de ficar perto de Micael. E eu não vou mentir que não fiquei feliz em estar perto de Arthur. Só que essa felicidade não era só minha, Sophie já estava comemorando e nos dizendo que ultimamente só ficava do outro lado. Quis avançar em seu pescoço, mas apenas sorri. Subimos algumas escadas e já estávamos ali, na lateral direita do palco. Mel estava entre Sophie e eu, graças a Deus. Eu sei que não tenho direito de sentir raiva dela, mas é inevitável. Ela é um amor de pessoa, tratou-me muito bem, e ela que é namorada do Arthur, não eu.
Dali pude ver a multidão, era assustador. Eu teria que trabalhar muito estar em público para poder me soltar em um show ou em que mais precisasse ter contato com multidões. Fiquei pensando no frio na barriga que eles deviam sentir, até eu estava sentindo! Então eles foram anunciados, e os gritos da platéia eram cada vez mais intensos, ali vinham as quatro pessoas mais esperadas da noite. Pude jurar que vi muitas meninas puxando seus próprios cabelos. Chay veio para o seu instrumento e acenou para nós três, acenamos de volta e os outros três fizeram o mesmo, menos Arthur, que além de acenar para Mel e eu, soltou um beijo para Sophie, senti um cutucão de Mel no braço e balancei a cabeça. Eles começaram a tocar, e são incrivelmente bons nisso. Era a segunda vez que via Arthur tocando e era incansável. A cada canção eu ficava mais hipnotizada. Ele tem um carisma incrível. Todos têm, mas vocês sabem que eu não tinha tempo de olhá-los. Quer dizer, vez ou outra eu olhava para Harry, que tem pinta de galã até tocando bateria. Toda vez que Micael se aproximava da gente, Mel falava “gostoso do demônio” em meu ouvido, o que me fazia rir incontrolavelmente. Sophie tentava participar das fofocas, mas Mel não dava muita abertura. Vez ou outra ela mandava beijinhos para o Arthur quando ele olhava para onde estávamos. Não quero parecer convencida, mas percebi que ele me olhou várias vezes, até em uma delas deu um sorriso lindo, mostrando todos os dentes... Porém, olhei para o lado e vi que Sophie achou ser para ela, então eu mesma fiquei em dúvida sobre para quem era realmente. Ela e Mel cantavam todas as músicas, sabiam de cor. E eu apenas apreciava e pulava.
Arthur puxou o pedestal para mais perto da lateral e anunciou que aquela era uma canção nova.
— Não tenho certeza se ela vai estar em nosso próximo álbum, mas mostrei para os caras e eles quiseram tocar essa noite — Arthur anunciou, tendo a sua voz quase abafada pelos gritos no estádio. Então ele prosseguiu. — Escrevi essa canção depois de viver um momento feliz ao lado de uma pessoa querida, senti-me incrivelmente diferente, como se a minha sorte estivesse mudando... E quero compartilhar um pouco disso com vocês. Apresento: “Just My Luck” — concluiu e a banda começou.
(Coloque a canção 1 para tocar)
Alguma coisa ali me chamou atenção, não sei bem o que é. Mas sabe quando você se sente familiarizado? Eu devo estar louca.
“You and I have got a lot in common
(Eu e você temos muito em comum)
We share all the same problems
(Compartilhamos todos os mesmos problemas)
Luck, Love and life aren’t on our side
(Sorte, amor e vida não estão ao nosso lado)
I’m in the wrong place at the wrong time
(Estou no lugar errado na hora errada)
Always the last one in a long line
(Sempre o último em uma longa fila)
Waiting for something to turn out right, right
(Esperando para algo dar certo, certo)
I’m starting to fall in love
(Estou começando a me apaixonar)
It’s getting too much
(Está ficando demais)
Not often that I slip up
(Não é frequentemente que eu falho)
Well it’s just my luck
(Bem, é simplesmente minha sorte)
Rain clouds are gathering in numbers
(Nuvens de chuva estão se acumulando numerosamente)
Just when I put away my jumper
(Logo quando eu boto meu colete)
Luck and love still not on my side
(Sorte e amor ainda não estão ao meu lado)
I still refuse to be a skeptic
(Eu ainda recuso a ser um cético)
Cause I know that you could still correct this
(Porque eu sei que você ainda poderia corrigir isso)
Maybe this will be my lucky night, night
(Talvez essa seja minha noite de sorte, noite)
(...)
Eu via Thur olhar em nossa direção, mas não sabia direito para quem ele olhava. Com certeza aquela música era para Sophie, toda vez que olhava para ela, via-a com as mãos no peito, como se sentisse aquilo. É, eu não tenho chance.
Eles foram surpreendentemente bem aplaudidos. Claro que a gritaria praticamente já estava instalada, não parava um minuto.
— Ele é um amor, não é? — ouvi Sophie falar, Mel apenas fez algum barulho com a boca. Olhei para Sophie e ela estava praticamente flutuando. É, aquela música devia ser para ela. Afastei os pensamentos e voltei a atenção ao show. Eu estava realmente gostando daquelas músicas. Eles têm ótimas composições, nunca pensei que admiraria uma banda tão recente. E “Just My Luck” ficou linda. Thur realmente é talentoso. Sophie é uma mulher de sorte.
O show acabou e voltamos para o camarim, os garotos receberam mais algumas fãs que tinham ingresso VIP e depois voltaram para a sala onde estavam antes, encontrando Mel, Sophie e eu sentadas no sofá. Todo o tempo que eles passaram com as fãs, nós três nem chegamos a conversar. Mel tinha deitado a cabeça e estava com os olhos fechados. Sophie estava concentrada em algo em seu celular e eu estava concentrada em meus pensamentos.
— Gostou do show? — Sophie me acordou do transe. Sorri fraco.
— Gostei bastante. Você já deve estar acostumada, né?
— É, mas sempre tem algumas coisinhas diferentes. Hoje eu fiquei completamente encantada com aquela canção. O Tutis não é um fofo? — senti o sangue ferver. Ela estava certa de que aquela canção tinha sido para ela. Não que eu achasse o contrário, mas tinha alguma coisa naquela letra que eu parecia já ter visto. Disfarcei e assenti, sorrindo.
Antes que pudéssemos criar outro assunto, os quatro apareceram na sala, conversando alto e rindo bastante. Pude perceber que eles são muito descontraídos e unidos. Chay foi o primeiro que correu para perto de nós. Sentou no braço do sofá ao lado de Mel e puxou seu cabelo, fazendo-a abrir os olhos subitamente e mostrar o dedo do meio, rimos.
— Gostaram do show? — Mica perguntou nos olhando.
— Muito! — Mel respondeu.
— Que bom, porque a gente fez o show praticamente para vocês — Arthur falou abrindo uma lata de energético e sorrindo abertamente, fiquei corada.
— Ah amor, que fofo! — Sophie disse se levantando e ficando ao lado de Arthur, acho que ela esperava um abraço ou um beijo, mas a única coisa que ele fez foi continuar concentrado lendo o rótulo de seu energético. Mica mal a esperou levantar e já sentou ao meu lado. Aquela palavra “amor” revirava o meu estômago.
— Finalmente desocupou, estava morrendo de dor nas pernas. — Mica falou e depois bufou. null, que estava com a cabeça deitada, de repente se endireitou.
— Conheço um óleo chinês maravilhoso pra isso! — ela ofereceu e ouvi Harry gargalhar. — Que foi? — perguntou inconformada.
— A Mel quer passar óleo nas pernocas do Mica! — pronto, depois de Harry dizer isso, ele e Chay ficaram fazendo uma dancinha dizendo que Mica ia sair da estaca zero. Mica rebateu dizendo que quem estava no zero eram eles. Mel começou a rir e eu também. Depois desviei o olhar deles para Sophie e Arthur. Ele parecia meio entediado com ela. Ela falava alguma coisa e ele mal respondia, depois olhava para os três amigos e baixava a cabeça. Vi-a tentar por várias vezes ficar abraçada nele ou beijá-lo, mas não tinha muito resultado. Aquilo me fazia vibrar um pouco, confesso.
— Deixem de viadagem e vamos todos detonar uma pizza? — Arthur perguntou e Chay foi o primeiro a concordar, aos berros, dizendo que só ia com a condição de ele escolher os sabores. Harry o mandou se f*** e disse que ele quem escolheria. Iniciaram uma nova discussão.
— Cala a boca todo mundo, quem vai escolher o sabor vai ser a Mel e a Rachel — Mica disse e Chay, Harry e Arthur ficaram inconformados. Nós duas apenas ríamos.
— E eu? — Sophie perguntou em um tom de voz nada satisfeito. Vi Harry revirar os olhos e sussurrar algo como “que se dane”. Se eu não fosse muito boa em leitura labial nunca teria entendido. Quando ele viu que eu havia percebido, gesticulou para que eu me calasse. Apenas assenti, rindo.
— Er, você também — Chay se forçou a ser gentil, tentando sorrir, mas ele tinha a mesma expressão que Mel teve na hora de cumprimentá-la. Os garotos definitivamente não vão com a cara dela. E Arthur? Ele não fez nada. Fingiu que não estava ouvindo e guardou alguns pertences no bolso.
— Vamos? Estou com um buraco negro no estômago — Arthur disse dando a mão para Sophie. Todos concordamos e fomos direto para a van deles.
Eu não tinha muita certeza se queria mesmo ir comer essa pizza. Ver Arthur com Sophie ali não me faria bem. Mas em compensação os garotos são uns malucos lindos. Dá vontade de pegar todos eles e colocar em uma caixinha, para criá-los. Entramos no veículo e fiquei sentada entre Mel e Harry.Chay sentou com Mica no banco à nossa frente e ARthur com Sophie no próximo. Eles iam conversando animados e volta e meia inventavam alguma piadinha para mim e para Mel, só para nos fazer responder, já que estávamos tímidas e apenas dávamos risada do que eles diziam. Não demorou muito para que estivéssemos à vontade. Eles são muito fáceis de conversar, são amáveis e engraçados.
Chegamos ao restaurante e eles começaram a discutir de novo quem escolheria os sabores da pizza. Dessa vez Mel, para a minha surpresa, gritou dizendo que não aguentava mais e que quem ia escolher essa @#$%& era ela. Todos riram e eu disse para ela guardar sua educação, fazendo-a me dar língua. Era um lugar sofisticado, devia ser muito bom para os famosos, porque havia pouca gente e acho que ali eles podiam comer mais em paz. Sentamos e eu fiquei entre Chay e Harry, Mel estava ao lado de Harry. Fiquei de frente para Arthur, que estava entre Sophie e Mica. No final quem fez o pedido foi a Mel mesmo, sendo até chamada de “heroína” por Chay e Harry.  Arthur e Mica se chamavam de gay o tempo inteiro, era muito engraçado. O Mica sempre fazia algumas piadinhas com o Arthur, e ele ficava bravo, devolvendo outra piada pesada. Como eles são loucos. E eu estou adorando isso. Sophie parecia ser a única a não estar se sentindo bem lá. Ela olhava para outro lugar e às vezes a via revirar os olhos e balançar a cabeça. Então era isso. Ela não se dava bem com os garotos. Começamos a conversar sobre casamento, e foi aí que eu quis matar a Mel.
— Eu quero casar só pra dormir de conchinha — disse Mel suspirando, todos riram.
— Se for pra eu casar e dormir de conchinha, quero que seja com o Chay! — Mica disse abraçando o amigo e fazendo caras e bocas afeminadas, recebendo empurrões.
— Sou areia demais pro seu caminhãozinho, 'tá! — Chay respondeu também com poses afeminadas.
— A Rachel nem precisa de nada disso pra dormir de conchinha... — Mel começou e eu gelei. Não era possível, ela nem estava bebendo! Será que ela ia contar do dia em que dormi de conchinha com o Arthur? Notei que ele estava um pouco apreensivo também. — Uma vez a peguei dormindo agarrada em um balde de pipocas.
UFA! Mas mesmo assim eu quis matá-la! Só Arthur, ela e eu entenderíamos o sentido daquilo. Quis enfiar a minha cara em um buraco, olhei para ela com o olhar fuzilante e todos na mesa estavam morrendo de rir, até Arthur.
— Ah não, a Rachel é pipoqueira! — Harry falou com uma voz engraçada e gargalhando em seguida, foi aí que pela primeira vez no dia escutei aquela gargalhada gostosa que só o Arthur tem. Isso me fez até esquecer por alguns segundos que ele estava ali na minha frente com a namorada. Mostrei o dedo do meio para eles e logo pensei em algo para deixar a Mel constrangida também. Há! Ela me paga.
— É né, eu nem ia falar nada... Mas a Mel tem uma lista de cantadas baratas para o Mica... — devolvi rindo e agora quem me olhou com um olhar assassino foi ela. Agora o motivo de piada era ela. E, bem, Mica.
Arthur começou a bagunçar os cabelos do amigo, que ficou xingando ele e os outros, pois cantavam “Mica arrumou namoradinha, Mica arrumou namoradinha”. A Mel estava com a cabeça abaixada e Harry pegou em sua nuca, tentando fazer com que ela a levantasse.
— Ah não Mel, agora eu quero ouvir pelo menos umas duas cantadinhas pro nosso amigo ali, tenho certeza que ele quer ouvir também! — Harry provocou, recebendo um tapa no braço. Ela levantou a cabeça e olhou para Mica.
— Não liga, ela inventa essas coisas só pra descontar os podres dela que eu conto! — Mel disse com as bochechas vermelhas. Mica a olhou com um sorriso cordial.
— Deixa pra lá, estou acostumado com esse assédio — disse em um tom convencido e um sorriso vitorioso, fazendo todos na mesa continuarem enchendo o saco da Mel e chamando o Mica de gay e ruim de papo, que não se diz uma coisa dessas para uma moça tão bonita. Notei que ela ficou um pouco sem graça, porque não falou mais nada, apenas tinha um meio sorriso.
O pedido finalmente chegou e foi a única hora em que todo mundo se calou. Estavam todos morrendo de fome. Eu tinha dificuldades para comer, já que Chay e Harry ficavam o tempo inteiro querendo pegar as azeitonas do meu pedaço de pizza e eu recusava dar. Mel não disse mais nada, apenas comia concentrada. Quando Harry percebeu isso, foi atrás das azeitonas dela também e recebia vários tapas. Sophie não parecia muito feliz, mal desviava o olhar do prato e não comia com muita vontade. Arthur, ao contrário, comia como se tivesse passado três anos sem nenhum alimento, Mica estava da mesma forma. Às vezes um derramava ketchup na roupa do outro e eles se estapeavam. Mel, Sophie e eu estávamos ali, com quatro crianças, pois era isso que eles pareciam. Só de olhá-los já sentia vontade de rir.
A noite foi realmente muito divertida, conhecer os outros meninos foi o melhor, com certeza. Eles animam qualquer um. Acho que conseguem até impedir suicídios com aquele bom humor todo. Eles nos deixaram em casa, Sophie pediu o meu telefone e eu fiquei sem graça de não dar, então falei os números quase que me matando por dentro. Mel e eu subimos conversando sobre a noite, ela me disse que mesmo Arthur sendo lindo e maravilhoso, ela estava muito p*** da vida com ele. Quem ele pensava que era para destratá-la daquele jeito? Então eu disse para ela que com certeza ele estava brincando, mas não quis acreditar e disse que teria volta. Entramos no apartamento e falei que a mataria pelo que falou do balde de pipocas, ela alegou que só ela sabia do que era aquele balde e então eu a fiz lembrar que Arthur com certeza tinha entendido. Mel se tocou da burrada que fez e me pediu desculpas. Falei que não precisava, depois que os vi rindo, inclusive o Arthur, levei na brincadeira. Também me desculpei com ela e ela assumiu que mereceu.
Nos demos boa noite e fomos cada uma para os nossos quartos, estávamos exaustas. Primeiro, joguei uma água no corpo para tirar o suor e vesti meu baby-doll. Durante a ducha, fiquei pensando no quanto me magoou ver Sophie beijando o Thur, depois que nos beijamos. Era como se eu me sentisse proprietária dele, isso não era certo, eu não podia me sentir assim. Essa noite, apesar de extremamente divertida, foi um pouco estranha. Foi como se Arthur e eu nem nos conhecêssemos. Mal nos falamos. A única coisa boa foi o beijo que ele me deu na bochecha, em que me puxou para perto de si. Só. Cada vez eu tinha mais certeza de que o que ele tentou me dizer hoje e creio que não conseguiu — por isso estava estranho — era que não queria me iludir. Que o beijo que demos foi acidente de percurso. E também ele fez aquela música, era para Sophie. Ele estava feliz com ela. Mas então se ele estava feliz com ela, por que aquela cara de entediado no camarim enquanto os dois conversavam? Ah, droga. Queria tanto que tudo fosse mais fácil. Queria tanto que ele se decidisse. Decidir o que também? Talvez nem tenha o que decidir. Eu com certeza não era opção. Tinha que aceitar isso. É, mas por que é tão difícil enfiar isso na cabeça?
Agachei-me em frente ao som do meu quarto e vi que aquele CD da Mel ainda estava lá. Lembrei de uma das canções que tinha escutado e o número da faixa. Então, coloquei-a e deitei.
(Coloque a canção 2 para tocar)
Fechei os olhos e revi Arthur beijando Sophie, realmente me feria. Eu não vou mentir, até anteontem — antes da visita de Arthur — eu estava com várias fantasias em mente. Eu sei que eu não devia contar com o que praticamente nem tinha chance de acontecer mas, querendo ou não, o Thur me preparou para essas ilusões, esses sonhos bobos. Ligou-me praticamente todos os dias aquela semana. Parecia à vontade comigo. Então, por que hoje tudo se transformou?
Staying home alone on a Friday
(Sozinho em casa numa sexta-feira)
Flat on the floor looking back
(Jogado no chão olhando pra trás)
On old love
(Pra um antigo amor)
Or lack thereof
(Ou pra falta dele)
After all the crushes are faded
(Depois de todas as paixões terem desaparecido)
And all my wishful thinking was wrong
(E todos os meus sonhos românticos estarem errados)
I'm jaded
(Eu estou exausto)
I hate it
(Eu odeio isso)
I'm tired of being alone
(Eu estou cansado de estar sozinho)
So hurry up and get here
(Então se apresse pra chegar aqui)
So tired of being alone
(Tão cansado de estar sozinho)
So hurry up and get here
(Então se apresse pra chegar aqui)
Searching all my days just to find you
(Procurando todos os dias só pra te encontrar)
I'm not sure who I'm looking for
(Eu não tenho certeza de quem eu estou procurando)
I'll know it
(Mas eu saberei)
When I see you
(Quando eu vir você)
Until then, I'll hide in my bedroom
(Até lá, eu vou me esconder no meu quarto)
Staying up all night just to write
(Acordado a noite toda só pra escrever)
A love song for no one
(Uma canção de amor pra ninguém)
I'm tired of being alone
So hurry up and get here
So tired of being alone
So hurry up and get here
I could have met you in a sandbox
(Eu posso ter encontrado você num parquinho)
I could have passed you on the sidewalk
(Eu posso ter passado por você na calçada)
Could I have missed my chance
(Será que eu perdi a minha chance)
And watched you walk away? 
(E vi você ir embora?)
(...)
Talvez eu deva ficar sozinha mesmo. Ele tem a vida dele. A vida é cheia de encontros e desencontros. Encontramo-nos agora para talvez ficarmos juntos daqui vinte anos. Ou talvez fosse apenas coincidência. A única coisa que eu sei é que eu preciso de alguém. Logo. Mas não um simples alguém. O pior de tudo é que eu sabia que se não fosse ele, não seria mais ninguém. Pelo menos por esses tempos. Sei bem o que eu quero. E infelizmente isso não é recíproco.




Autora: Ingrid H.

Obrigado pelos comentários do capítulo anterior !
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8 comentários:

  1. Ahhhhhh! Não acredito que você postou! nossa tava quase quando um ataque sem essa história. Essa história é simplesmente perfeita!

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  2. quero mais,pfvzinho,sua maldosa

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  3. perfeito,sem mais.xoney

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  4. ai meu Deus O QUE O ARTHUR QUER DA VIDA HEIN ? POXA :( posta logo um amanhã PLEASE ?

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  5. aaaaaaaaaaaaaaaaaaa serio posta maaaaaaaaaaaaaais meu eu NECESSITO please aaaaaaaaaaaaaaa ta muuuuuuuito perfeito posta dois de vez poxa ai eu axo que me contento por 12 hrs

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  6. posta mais pelo amor d Deus

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