quinta-feira, 20 de junho de 2013

June 15th

Capítulo 13.



(Colocar para carregar: Matt Costa - Sunshine)
— Que bagunça é essa? Meu Deus, vocês não são mais crianças! — ouvi uma voz grossa e acordei, tendo dificuldade para abrir os olhos. Espera! Onde eu estava? A minha cabeça doía agora, as pontadas passavam do limite do suportável. Olhei para o lado e vi Thur dormindo calmamente. Senti que estava deitada em um lugar desconfortável e então me situei que estava no chão. Demorou até que eu entendesse que estava no estúdio. Olhei para cima e vi alguém me olhando atentamente, um rosto desconhecido. Sentei em um impulso e coloquei a mão na cabeça, numa tentativa falha de melhorar a dor que sentia. Olhei para frente e vi que Harry também estava acordado, já sentado. Pelo jeito, com as mãos na cabeça também. — Onde estão seus celulares? Tentei ligar a noite inteira! — o homem que estava me olhando atentamente continuou falando.
— Sei lá! — Harry respondeu em meio a bocejos.
— Nós temos compromissos hoje, Judd — ele continuou e eu não estava entendendo mais nada. Agora Mel se mexia, devia estar acordando também. — Vocês estão cada vez mais irresponsáveis.
— Quem está aí? — ela perguntou tampando os olhos.
— Eu é que pergunto! Quem são vocês, o que fazem aqui?
— Fletch, vai com calma cara, elas são nossas amigas e a culpa disso é nossa! — Harry saiu em nossa defesa e eu o agradeci mentalmente.
— Mel, vamos! — chamei e ela se sentou devagar.
— Não gente, fica aí! — Harry tentou se redimir, mas aquele homem que falava com ele não parecia muito satisfeito e eu estava constrangida demais para continuar ali.
— A gente se fala depois, Harry — Mel disse se levantando e me ajudando a levantar. Ela parecia já ter entendido tudo.
— É bom mesmo que vocês se falem depois. Porque agora vocês têm compromisso, MCFLY! — o tal Fletch continuou, falando o nome da banda de forma irônica. Os outros três dormiam tranquilamente. Harry se levantou e nos seguiu até a saída. Nem mesmo cumprimentamos aquele homem.
— Eu quero pedir mil desculpas pra vocês! — Harry disse me abraçando e em seguida abraçando null.
— Não, Haz, fica tranquilo — Mel falou em tom cordial.
— É, a gente sabe como é esse negócio de compromissos — tentei consolá-lo.
— Vou levá-las até em casa — ofereceu educadamente.
— Não precisa, a gente chama um táxi! — Mel sorriu para ele.
— Não, sinto-me na obrigação de levá-las depois desse chilique do Fletch! — acabamos aceitando e Harry nos levou para casa. Eu fui com ele no banco da frente e Mel foi deitada no de trás. Ele nos explicou que tinham uma conferência naquele dia, mas que tinham se esquecido, ou melhor, Fletch devia ter avisado Arthur e o Arthur não tinha uma memória muito regular, o que me fez rir. — O Fletch é um cara legal, só é meio estressado! — continuou e nós rimos.
— Tudo bem, Harry. Eu imagino o que deve ter passado pela cabeça dele — dei de ombros e ele sorriu fraco. — É aqui — falei quando ele passava pela frente de nosso prédio, alegando não lembrar direito aonde era. Dei um beijo em sua testa e Mel o abraçou por trás, abraçando o banco do carro também. — Diz pros outros que nós mandamos beijos.
— Ok. Cuidem-se! — ele se despediu enquanto saíamos do carro. — Ah, quando a gente tiver um tempo livre, peço pro Arthur ligar — assentimos e acenamos.
Ele, então, se foi.
— Que dia o de ontem, hein? — Mel comentou enquanto subíamos as escadas.
— Só lembro o dia mesmo — ri alto. — O que será que aconteceu à noite? — Mel me olhou apreensiva.
— Agora é rezar para que nenhum deles se lembre de nada também, assim se tiver acontecido algo que possa nos envergonhar, eles nem vão saber — falou dando de ombros e eu ri. — Perdi aula! — bufou enquanto colocava a chave na fechadura.
— Duas. Ainda bem que as minhas provas acabaram sexta — respirei aliviada.
— É, antes perder aula do que perder o trabalho. Pior que eu estou com um sono do #$%@ — abriu a porta e nós entramos.
— Dorme um pouco, ainda tem tempo — olhei para o relógio na parede, que marcava nove da manhã.
— É, quem sabe. Bom dia amiga, vou dormir — ela disse me abraçando e bocejando e logo foi para o seu quarto.
Entrei na cozinha e procurei algum remédio para dor de cabeça no armário próximo à geladeira. Por sorte ainda tinha um comprimido na cartela. Peguei um copo e coloquei um pouco de água, engoli a pílula e fui para o meu quarto. Do jeito que estava, joguei-me na cama e não vi mais nada.
— Luh, você vai trabalhar hoje? — fui acordada por Mel. Ah, droga. De volta ao mundo real. Por um fim de semana eu tinha até conseguido esquecer como ganho a vida.
— Uhum — respondi esfregando os olhos e a vendo em pé, observando-me. — Por quê?
— Porque já são 7 horas da noite, bela adormecida.
Sua informação veio como um balde de água fria.
— QUÊ? — gritei, sentando num impulso. Já estava escuro.
— É isso aí, honey — ela disse sentando na beira da cama. — Já tinha até esquecido, né? — perguntou me olhando.
— Esquecido o quê? — questionei.
— Essa rotina — respondeu com um olhar triste, como se sentisse pena. A minha amiga deve ler pensamentos.
— Já mesmo — sorri fraco. — Mas não me olha assim, não gosto quando você sente pena de mim, Mel — ela baixou o olhar.
— Não é pena, é só que eu acho que você merece uma vida melhor — deu de ombros. — Mas não vou falar mais nada, qualquer coisa estou lá na sala vendo TV — assenti e ela deixou o quarto.
Até eu mesma pensava nisso, que eu merecia uma vida mais tranquila, trabalhando honestamente. Mas nem o ensino médio eu tinha concluído. Achar trabalho em Londres sem esse requisito é quase impossível.
Peguei a minha toalha e fui ao banheiro, tomei um banho demorado e pude ouvir a minha barriga roncar. Não tinha comido nada o dia inteiro. Terminei o banho e me enxuguei, escovei os dentes e ouvi o celular tocando. Corri enrolada na toalha para atender.
— Alô?
— Luh... Tudo bem? — perguntou a voz mais conhecida atualmente pelos meus ouvidos, fora a de Mel.
— Hey, Thur... Tudo bem sim e com você? — senti uma alegria invadir o peito.
— Cansado, só. Quero te pedir desculpas pelo Fletch. Pra você e pra Mel. O Haz me contou tudo — oooooun, que amor.
— Não, Thur. Não esquenta com isso. Eu o entendi perfeitamente — menti.
— Eu sei que não. Ele não podia ter falado daquele jeito. A culpa não era só de vocês... — pausa. — 'Tá, a culpa era toda de vocês! — falou em tom de brincadeira.
— É né, deixa você comigo, Thur — devolvi no mesmo tom e ele riu. — Como foi a conferência? — perguntei me encostando à janela e olhando o céu nublado.
— Normal, aquelas coisas de sempre — respondeu desanimado.
— Mas vocês se divertem muito juntos, aposto que essas coisas se tornam bem menos chatas do que devem realmente ser!
— É, isso é verdade. Só que é difícil ser o único cara engraçado ali — falou convencido e eu ri.
— Nossa, hoje você está muito convencido e auto-suficiente. Está parecendo o Mica! — brinquei.
— Argh, nunca mais repita isso. Eu sou assim, o Micael que me imita. Eu o compreendo, todos querem ser iguais a mim. 
— Tchau, Arthur. É melhor você desligar antes que isso tudo vire contra mim! — o ouvi dar uma risada abafada.
— Eu sei que você não quer parar de me ouvir. Mas eu tenho que desligar. Temos uma sessão de fotos na London Eye. 
— Nossa, que legal! Fui nela um dia desses... Mentira, mês passado, acho.
— Está pior de datas do que eu — riu. — Então, se você quiser aparecer por lá, vou deixar seu nome com a Lisa... Você a procura e se identifica, daí pode ver tudo. Não que seja um programão, mas é melhor do que nada... — convidou e eu me senti uma merda em negar aquele convite.
— Ah, Thur. Eu queria mesmo ir, mas você sabe, eu tenho trabalho — falei desanimada.
— Ahh... — ele disse no mesmo tom desanimado e eu vibrei. — Eu tentei, né? — riu. — Tenho que ir mesmo, agora é sério, senão vão começar a gritar aqui e não vai ser legal pra você ouvir — rimos.
— 'Tá bom. Boa sessão de fotos pra vocês, diz pros meninos que mandei lembranças.
— Digo em partes. Eles são um pouco convencidos demais, vão ficar se achando. Diferente de mim, que sou um cara humilde e pé no chão. 
— Ah, claro! E bipolar também, né? — ele gargalhou.
— Bom trabalho pra você. Se cuida, Luh. Até algum dia. 
— Obrigada, mas que dramático esse “algum dia”... — comentei.
— É que nós vamos viajar amanhã... Então não sei — falou desanimado. — Ouviu? — perguntou quando uma voz de longe o chamou.
— Uhum. Vai logo! Beijo — ele disse “tchau” e eu já estava tirando o aparelho do ouvido.
— Ah, Luh... — ouvi de longe e achei que estava louca.
— Thur? Você está aí ainda?
— Não, em Marte — tinha que vir com as dele.
— Que foi? — perguntei impaciente e Thur riu.
— O nome que eu vou deixar com a Lisa é Rachel — senti um frio na barriga. Ele queria mesmo que eu fosse vê-lo na sessão de fotos. Eu tinha que me conter. Queria muito vê-lo, mas já não tinha ido para a calçada na sexta. Ficar mais um dia sem ir era arriscar demais.
— Eu não vou, Thur. Não tem como, mas muito obrigada — respondi desanimada e nos despedimos.
Desliguei o celular e enrolei os cabelos na toalha. Abri o guarda - roupa, vesti uma calcinha e peguei um vestido rosa curtíssimo. Vesti-o e tirei a toalha da cabeça, estendendo-a na porta do banheiro. Peguei uma escova e penteei o cabelo. Fiz uma maquiagem leve, estava com preguiça de tentar algo mais ousado. Peguei uma sandália de salto e calcei. Passei um perfume suave e fui em direção à porta do quarto, para sair. Mas antes de chegar lá, algo começou a martelar em minha cabeça. Respira, , 1, 2, 3. Eu não posso dar ouvidos ao meu coração tanto assim! Meu Deus, o que eu estava fazendo? Abri novamente o guarda - roupa e separei um casaco da Atticus preto e uma calça de jeans escuro. Peguei meu par de All Star da mesma cor do casaco e guardei tudo em uma mochila. A coloquei nas costas e saí do quarto. Despedi-me de Mel e fiz aquele conhecido caminho para a calçada. Parei pra pensar no que eu estava fazendo com aquela mochila... Eu não podia mudar de idéia. Tinha que manter a cabeça no meu trabalho, não podia me dar ao luxo de faltar mais um dia. Como sempre, peguei um táxi para chegar até lá. Não que eu me sentisse parte daquilo, mas quando olhei para a calçada se aproximando, senti um aperto no peito. Estava insuportável voltar ali. Era como se o meu corpo tivesse um peso puxando-o para longe. Mas não, eu tinha que ir. Eu tinha que pagar o aluguel. Tinha que comer. E também eu passaria, pelas minhas contas, a próxima semana sem poder ir, já que teria aquela visitinha mensal. Paguei o táxi e respirei fundo antes de descer do carro. Coloquei a mochila nas costas novamente e desci. Cada passo que eu dava era como se os meus pés gritassem “vamos para a London Eye” ou “saia daqui”. Eu praticamente discutia mentalmente com eles.
— Hoje está cheio... — uma de minhas companheiras de calçada disse, aproximando-se.
— Droga — sorri fraco, desanimada.
— Que ânimo é esse, mulher? Essa não é a Rachel que eu conheço! — ela brincou e eu ri.
— Nem eu me reconheço mais — dei de ombros e ela continuou rindo, depois se despediu e entrou em um carro que estava estacionado.
Caminhei um pouco até uma escadinha de um prédio abandonado, sentei e fiquei observando os carros passarem. Quando eu via algum dar a seta para encostar, virava o rosto e o escondia com os cabelos, para que nem pensassem em me chamar. Olhava para a mochila e ela parecia me chamar. Tentei criar vontade e coragem para ficar em pé na calçada e fazer programa. Mas simplesmente não conseguia, dava-me embrulhos. Foi então que — odiei-me por isso — resolvi “escutar” a mochila. Peguei-a e entrei em um beco. Aquele mesmo beco em que me troquei há quatro anos. Peguei a calça e a vesti, deixando o vestido por dentro. Depois apanhei o casaco e coloquei por cima, com o zíper fechado. Calcei o all star e guardei a sandália na mochila. Estava decidido, eu ia até a London Eye. Ia ver Thur. Precisava vê-lo. Coloquei a mochila nas costas e ri de mim mesma, devia estar parecendo um garoto adolescente naqueles trajes. Mas me sentia incrivelmente bem naquele tipo de roupa. Estava confortável. E então, enquanto caminhava para pegar um táxi, lembrei de quem eu costumava ser em Bolton. Eu me vestia exatamente daquela maneira. Apesar da vida medíocre com meus pais, sentia falta da minha adolescência, tive bons momentos também. Era inocente.
Chamei um táxi e entrei, disse que queria ir até a London Eye e perguntei quanto ficaria, ele respondeu e eu vi que não teria aquele dinheiro, porque não tinha me preparado para ir até lá. Pedi para que me deixasse em duas quadras antes. Fui ansiosa, roendo as unhas. Cada vez que pensava em ver Thur, sentia o corpo gelar. E ele queria muito que eu fosse. Não era como se eu fosse chegar lá totalmente de surpresa e esperasse um tratamento ruim. Espera, e se ele chamasse Sophie? E se ela já estivesse lá e ele me chamasse da mesma forma? Não, Thur não seria capaz. Seria, ele me chamou para o show e a namorada estava lá também. Mas as coisas não estavam como estão agora. Decidi parar de pensar nas possibilidades e viver uma coisa de cada vez. Cheguei aonde tinha pedido que o taxista me deixasse e paguei. Desci do carro e caminhei rápido. A London Eye já era visível e eu a olhava, encantada. Cheguei ao local e notei que tinha uma grande faixa impedindo as pessoas de passarem para o outro lado, para a roda gigante. Havia uma grande equipe cuidando de tudo. Vi alguns flashes e pude avistar Chay de longe. Olhei mais um pouco e vi Mica ao seu lado. Havia muitas pessoas curiosas assistindo a sessão de fotos, algumas fãs enlouquecidas também, claro. Fui pedindo licença para conseguir chegar até a faixa. Vi várias mulheres com pranchetas. Ok... Qual delas seria a Lisa? As garotas ao meu lado gritavam e se descabelavam. Chamavam um por um, que vez ou outra acenava. Ainda não tinha visto Thur.
— Lisa, Lisa... — decidi gritar e esperei ter sorte para que alguma delas se virasse e me olhasse. As meninas agora me olhavam atentas. Deviam estar pensando “o que essa louca está fazendo?”. Ignorei e continuei chamando, até que uma delas finalmente me ouviu e cutucou a tal Lisa. Ela caminhou até onde eu estava.
— Você tem nome na lista? — todos os olhares ali eram para mim.
— Sim, Rachel! — falei com medo de ela me olhar e dizer que não tinha nenhuma Rachel naquela lista. Oras, depois de eu ter dito que não ia, Thur podia nem ter mandado colocar. Para a minha alegria e auto-estima, Lisa fez uma expressão de surpresa.
— Ah, você é a convidada do Arthur, certo? — perguntou-me riscando alguma coisa na prancheta e eu confirmei. Todas as fãs me olhavam dos pés à cabeça e cochichavam. — Vem — deu-me a mão e eu me abaixei para poder entrar.
— RAAAACHEEELLL... — ouvi gritos atrás de mim, enquanto ia com Lisa para perto dos garotos. Virei-me e vi que eram as garotinhas que estavam perto — ENTREGA AS NOSSAS CARTINHAS PARA ELES! — uma delas gritou.
— Posso? — perguntei para Lisa e ela apenas assentiu. Voltei lá e peguei cerca de 40 envelopes. Elas me agradeceram e mandaram beijos, apertões e etc aos seus favoritos. Voltei para perto de Lisa e continuei seguindo-a.
— Senta aqui — apontou para uma cadeira vaga ao lado daquele Fletch, que olhava concentrado para a roda gigante. Tentei ser discreta e sentar sem que ele me notasse.
— Obrigada — agradeci após sentar e o homem me olhou, assustado. — Tudo bem? — sorri fraco.
— Tudo — respondeu simplesmente e voltou a atenção para a London Eye. Como os garotos podem gostar dele? Não é possível. Que ser mal humorado!
Cruzei as pernas, coloquei as cartinhas na outra cadeira vaga ao meu lado e depois cruzei os braços, olhando para onde eles estavam. Foi quando finalmente vi Thur. Lisa estava perto dele e falou algo em seu ouvido, apontando para onde eu estava. Ele me olhou subitamente e abriu o maior sorriso do mundo. Estava dançando por dentro. Sorri abertamente de volta e acenei, ele gesticulou para que eu esperasse um pouco. Os outros o seguiram com o olhar e me notaram, acenando e sorrindo. Eu já me sentia um pouco fraca, não tinha comido nada. As mãos estavam geladas e acho que a minha pressão caía. Não deixei isso me abalar e assisti atenta cada parte do photoshoot. Eles não conseguiam ficar quietos por muito tempo, principalmente Chay e Thur, que me faziam rir o tempo inteiro. A minha barriga já roncava cada vez mais alto e eu sorri internamente ao ver Lisa se aproximar com várias embalagens de pizza nos braços, sendo acompanhada por outra pessoa, que trazia refrigerante e outra que trazia mais pizzas.
— Pausa para comer! — Fletch gritou, levantando e batendo palmas, eles comemoraram... Eu também, claro.
Finalmente Thur se aproximou, com os outros vindo atrás, mas ele praticamente corria. Fiquei de pé e ele me abraçou forte.
— Ei, deixa um pouco pra gente também! — Chay pediu, tirando-o dos meus braços e me abraçando. Mica e Harry o empurraram e depois se empurraram, tudo isso por um abraço meu. Não pude ficar sem rir daquilo.
— Bando de desesperados! — Thur disse indignado.
— Tadinhos, deixa eles — falei e eles me agradeceram, fazendo careta para Thur. Eu me sentia mais feliz ainda por não ver Sophie em lugar algum.
— Está com fome? — Harry perguntou me abraçando novamente e me dando um beijo na bochecha.
— Não como desde ontem! — respondi e ele me olhou assustado.
— Isso é um caso de urgência, então! SAIAM DA FRENTE, A RACHEL COME PRIMEIRO — ele ordenou, empurrando todo mundo e me puxando, deixando-me super envergonhada. Passei por todos de cabeça baixa. — Quero oferecer o primeiro pedaço para essa linda mulher ao meu lado! — Harry disse me dando um pedaço de pizza e recebendo aplausos e assobios. Eu não sabia onde enfiar a cara. Peguei o pedaço, agradeci e corri dali, ficando longe de todos, que se serviam no momento.
— Ainda mais essa, tenho que dividir a MINHA convidada com os outros — ouvi a voz de Thur chegar por trás enquanto eu dava uma mordida generosa na pizza. Olhei-o assustada, tentando limpar o molho de tomate na bochecha. Ri pelo canto da boca, corada com o que ele havia acabado de falar. Adorei seu tom possessivo. Sou doente. — Eca, nem encosta em mim. Você não aprendeu a comer ainda? — brincou e assim que terminou de falar, um tomate caiu em sua camisa, fazendo-me rir descontroladamente.
— Olha só quem fala! — apontei para ele e começou a resmungar, tentando limpar com a mão livre. — Vai ter que se trocaaarr... — dei língua e ele fez careta.
— Ainda bem que eu sou rico! — sorriu maroto e mordeu a pizza.
— E convencido — concluí.
— Também... — deu de ombros e continuou comendo.
Os outros se aproximaram e ficamos conversando. Como sempre, rolou muita besteirada, Thur chegou a dar pedalas em Harry duas vezes para que ele me soltasse. Eu não vou mentir, aquilo me agradava muito.
Eles perguntavam da Mel o tempo inteiro e diziam que se ela soubesse que eu tinha ido sem avisá-la, receberia um milhão de xingamentos em menos de dois segundos. Mica começou a imitá-la e eu não conseguia parar de rir. Prometi que contaria o que ele tinha feito a ela e ele disse que não ia ficar com medo porque sabia que ela não tinha o seu telefone. Mas Thur jurou que me passaria o número e eu daria para ela ligar e xingá-lo. Mica disse que estava precisando de umas aulas, que estava muito paciente ultimamente, Mel poderia ajudá-lo. Eles são o bando de palhaços mais fofos que eu já conheci. É impossível ficar pelo menos um minuto próxima a eles e não dar risada. Fiquei imaginando se Mel estivesse ali e visse Mica imitando-a, ele se arrependeria de ter nascido. Aliás, de ter algum dia recebido um nome.
Depois de comerem, voltaram para a segunda parte das fotos. Eu observei tudo, agora me sentia melhor, não tinha mais um “buraco negro” no estômago, como Chay disse. Cheguei a trocar algumas palavras com o Fletch, ele não foi tão rabugento como eu achei que seria. Até sorriu algumas vezes. Perguntou de onde eu conhecia os garotos e eu contei que era “amiga” de Arthur e que ele me apresentou aos demais.
— Vocês são só amigos mesmo? — Fletch perguntou e eu quase tossi. Qual é? Até ele, que nem me conhece?
— Sim, só amizade! Por quê?
— Por nada, relaxa — deu de ombros. — Esses garotos não são bem o que eu chamo de “normais”. Por isso — continuou.
— É, eles são meio loucos, mas o Arthur tem namorada — fingi que isso significava alguma coisa.
— Grande coisa — ironizou e eu o olhei atenta.
— Ele já traiu a Sophie? — perguntei interessada e muito, muito direta.
— Não que eu saiba, mas as anteriores... — deu uma risada. — Coitadas — engoli seco e encarei os meus joelhos.
Então era da índole de Arthur trair as suas namoradas? 'Tá, eu sei que ele estava traindo a atual comigo... Mas sempre faz isso? Então não tem uma razão para ter escolhido trair Sophie comigo? E de onde eu tirei que precisaria de uma razão? É sempre isso. Nunca tenho algo concreto sobre Arthur. É tudo pela metade. O quebra-cabeça nunca se encaixa. E acho que é por isso que quero estar perto dele cada vez mais. Acho que eu gosto de sofrer, tenho algum ímã para isso. Desviei o olhar para vê-los na sessão de fotos e bastou olhar para Arthur para que eu afastasse todos os pensamentos ruins sobre ele. O que eu sentia quando o olhava não era normal. Não podia ser. Queria tanto que ele fosse mais claro.
Finalmente acabou a sessão e os garotos se aproximaram de mim.
— Meninos, tenho que entregar isso a vocês, já estava esquecendo — falei levantando e pegando as cartinhas na cadeira ao lado, entregando-as.
— Onde você pegou isso? — Mica perguntou, já abrindo uma.
— Quando cheguei, as fãs pediram para que eu entregasse.
— Rachel é a alegria da garotada! Está fazendo bem, já está conquistando as fãs... — Chay fez tal comentário infeliz e eu fiquei corada. Mica e Harry se entreolharam sem entender e Thur sorriu fraco. Já o autor da frase, ria maliciosamente.
— Ei, eu quero ir à roda gigante, vamos? — Harry convidou e todos aceitaram. Alguns funcionários deles começaram a se organizar para ir também.
Thur segurou o meu cotovelo e me arrastou disfarçadamente para longe dos outros garotos, que caminhavam rumo a uma cabine.
— Arthur! — espantei-me e ele me olhou sorrindo.
— Nós vamos na próxima, shhhh! — falou soltando o meu braço e piscando, depois desviou o olhar para a roda gigante. Eu não consegui tirar o olhar dele. Quanto mais olhava para Arthur, mais difícil era prestar atenção nas coisas em volta. Era como se naquele momento nada mais estivesse acontecendo. Como se só estivéssemos nós dois no mundo. Para o meu nervosismo, ele percebeu que eu o olhava atenta. — Nunca viu? — brincou e eu balancei a cabeça.
— Dãããã — obriguei-me a olhar para a London Eye e vi que os garotos entraram em uma cabine. — É nessa próxima? — perguntei apontando para a outra que parava em seguida.
— Sim, vamos — disse me dando a mão e então nós entramos. Notei que Lisa ia entrando conosco e Arthur jogou algum olhar para ela, pois desistiu. Fechamos a porta e eu sentei no chão, Thur sentou ao meu lado e a roda gigante começou a subir.
— É a primeira vez que eu venho aqui e fico sozinha na cabine... — Comentei olhando para o vidro e já vendo boa parte de Londres.
— Ter amigos famosos sempre dá privilégios... — Falou soltando uma risada baixa e eu lhe dei uma cotovelada. AMIGOS?
— Hoje você colocou alguma fórmula secreta do Micael no seu café? — perguntei rindo e ele fez careta.
— Não — deu de ombros e deitou a cabeça em meu colo, sem pedir permissão. Não que ele precisasse, mas eu fiquei encantada com aquele gesto. Então, Thur fechou os olhos e eu o olhei fixamente. Parte por parte de seu rosto. Eu tentava gravar cada pedaço, para chegar em casa e conseguir lembrar perfeitamente. Ainda não conseguia acreditar que tinha um homem daqueles em minha vida. Ele é lindo demais para ser de verdade. Eu pensava em quantas garotinhas dariam a vida para estar ali com ele, do jeito que eu estava... E eu, que nunca tinha feito nada para merecer, nem ao menos sabia quem ele era, tinha aquela chance. — Faz carinho na minha cabeça? — pediu com uma voz manhosa, que me fez querer matá-lo com beijos. O que eu podia responder? Nem precisei fazer isso. Meu corpo foi mais rápido e a minha mão já tinha ido até os seus cabelos. Eu massageava o seu couro cabeludo suavemente. — Huuuummmm... — sorriu ainda de olhos fechados.
— Que foi? — perguntei olhando-o atentamente.
— Você é a única pessoa que sabe fazer isso igual a minha mãe — senti as pernas tremerem.
— Mentira, Arthur — desdenhei. Ele abriu os olhos subitamente e encontrou os meus com aquele par de olhos azuis matantes. Ia dizer algo, mas parece ter recuado. Apenas ficamos nos olhando.
— Acho que eu esqueci de desligar o ferro da tomada! — falou e deu um tapa na própria testa, sentando em seguida. — O Harry vai me matar!
— Meu Deus, agora já está feito! — falei olhando-o, ele estava indignado.
— Você não entende... Esses caras pegam no meu pé por qualquer coisa! — balançou a cabeça e ficou olhando para o vidro. — Como Londres é bonita! — eu não estava entendendo mais nada. Ele definitivamente não habita o mesmo planeta que nós, seres humanos.
— Você é lerdo, né? — perguntei olhando-o fixamente e Thur me olhou com uma cara engraçada.
— Porra, Luh, até você? — balançou a cabeça.
— Ouuuunnn — abracei-o pelo pescoço e gelei ao sentir o seu braço entrelaçar a minha cintura. — O Chay que me disse, eu nem percebi nada, juro.
— Eu sabia que aquela saída de vocês dois não ia prestar! — falou rindo e me encarando. Sua expressão foi mudando lentamente. Agora ele dividia o olhar para a minha boca também. Senti que seu rosto se aproximava do meu. Mal podia esperar para receber um beijo de Arthur. Fechei os olhos para sentir ainda mais a nossa sintonia. Eu não sei se isso é coisa da minha cabeça, mas o ritmo que tínhamos, o jeito que nos abraçávamos e o jeito que nos beijávamos não era algo comum. Não para mim. Senti o seu nariz roçar o meu e depois a minha bochecha. Sabia que as nossas bocas estavam próximas, eu tinha meio que um “detector”. — Quando eu disse trepada... — abri os olhos bruscamente e o olhei assustada. Ele sorriu fraco e continuou. — Eu desconsiderei completamente a noite que tivemos.
— Ah... — corei e o soltei, desviando o olhar para as minhas mãos, que estavam sobre as minhas pernas. — Tudo bem. Eu entendo — dei de ombros e levei um susto quando ele deitou a cabeça de uma vez em meu colo, ficando por cima das minhas mãos e me olhando sorrindo. Então, tirei-as e as coloquei no chão, para me apoiar melhor.
— Nós não “trepamos”. Eu não tenho um nome certo para o que nós fizemos, mas não foi isso — explicou confuso, coçando a cabeça e franzindo a testa. Não aguentei e comecei a rir. — Que foi? Eu tento ser legal, “fofinho”, mas vocês caem na risada. Mulheres... — olhou para baixo. Eu continuava rindo.
— Arthur... — ele voltou a me olhar.
— Não fala assim, porque isso é tão sério! — fez careta e eu ri.
— Ok, Thur. Você é único. É por isso que eu rio. Porque acho que nunca conheci um cara como você. Você consegue ser de um jeito e em segundos ser de outro totalmente diferente. Você tenta dizer uma coisa, mas acaba dizendo outra. Isso é engraçado — ok, eu também não sei de onde tomei coragem para dizer tudo isso. Eu tenho merda no lugar do cérebro? Só pode. Thur me olhava atento, agora completamente sério. E eu sentia o estômago pedir para sair. Eu tinha feito uma burrada. Não posso ser transparente assim. Acho que ele estava completamente com medo de mim. E se nós não estivéssemos no topo da roda gigante, creio que ele abriria a porta e correria pra longe. Eu não devia criar todas essas expectativas sem ouvir o que Arthur tinha a dizer. A minha cabeça é tão louca que às vezes eu esqueço o quão imprevisível ele pode ser.
— Eu estou arrepiado — disse simplesmente e passou uma das mãos no outro braço, mostrando-me os seus pêlos arrepiados. Eu ri.
— Por quê?
— Porque você falou tudo o que eu sinto em relação a você — ele consegue me surpreender com cada coisa que fala. COMO ASSIM? Eu sou transparente demais! Será que ele não percebe? Ao mesmo tempo em que fiquei surpresa, respirei aliviada. Arthur não estava com medo de mim.
— Ah vááá... Eu falo tudo exatamente como eu quero que seja compreendido, você não.
— Você é que pensa. Às vezes eu fico dias tentando entender o que você quer dizer com as coisas... — fez bico. — E não consigo — cruzou os braços, acomodando-os na barriga e deu de ombros. Comecei a rir. — Olha aí!
— Acho que o Chay tem razão — insinuei e ele levou uma das mãos à minha bochecha, apertando-a.
— Nunca diga isso de novo! Eu sou inteligente, só preciso de um empurrão... Tipo, pra pegar no tranco — disse indignado.
— Eu sei, Thur — falei simplesmente, rindo.
— Quer saber? Gostei desse apelido — mordeu o lábio inferior. — Ultimamente os apelidos que eu recebo sempre têm a ver com “idiota”, “burro”...Thur, está aí, esse é bom. Valeu — após falar isso, Arthur ficou de lado, com o rosto colado em minha barriga.
— Você não vai conseguir respirar assim! — falei baixando a cabeça para observá-lo e comecei a acariciar a sua nuca.
— Eu não preciso respirar aqui, eu poderia morrer assim — disse com a voz sendo abafada, devido a sua boca estar colada em meu casaco. Senti uma corrente elétrica passar por todo o meu corpo. Devia estar sonhando, Thur não tinha dito aquilo. Não, isso tudo é devaneio. Eu estou louca. Estou me forçando a ouvir o que EU quero ouvir. — Não seria nada ruim — ele continuou, fazendo-me ser puxada para a realidade e ver que eu não estava imaginando coisas. Arthur é a pessoa mais linda que já habitou a Terra.
Fiquei muda, tem horas em que o silêncio diz tudo. Apenas fiquei observando-o e acariciando os seus cabelos por algum tempo. A verdade é que eu também podia morrer ali, com Arthur.
Olhei atentamente para o outro lado e percebi que já estávamos descendo. Então, tratei de cutucar Arthur. Não podia acreditar no que os meus olhos viam. Ele dormia como uma criança. Mal encostou em mim e já estava dormindo. Sorri internamente e o assisti assim mais um pouco, antes de voltar a acordá-lo. Peguei em seu braço e o chacoalhei com cuidado.
— Thur... — chamei, ele se mexeu bruscamente e se espreguiçou, abrindo os olhos com dificuldade e sorrindo ao me ver.
— Quê? — perguntou com a voz quase inaudível e coçou um dos olhos.
— Estamos chegando — quando falei isso, Arthur olhou assustado e se sentou subitamente, ajeitando os cabelos e desamassando a camisa xadrez que usava.
— Eu dormi muito? — indagou levantando e me dando a mão, para ficar em pé também.
— Não, acho que uns cinco minutinhos só... — respondi rapidamente e ele riu.
— Pô, jurava que tinham sido umas duas horas... — disse inconformado, colocando as mãos nos bolsos.
— A roda gigante não fica rodando duas horas... — comentei, começando a rir em seguida. Ele me olhou incrédulo.
— Parei com você. Você é igual a eles! — balançou a cabeça e abaixou-a.
— Olha o drama, de novo! — dei um soco leve em sua barriga.
A intensidade foi diminuindo e nós já nos preparávamos para deixar a cabine. Até que ela finalmente parou. Fiquei um pouco triste, não queria que aquele momento acabasse. Foi ali que eu tive a maior demonstração de carinho por parte de Thur, além do dia em que nós fizemos você sabe o quê. E também ele estava bêbado. Hoje não, ele estava completamente são. E transparente. Querendo ou não, quando deixássemos a London Eye, eu demoraria muito para ter mais momentos como aquele com Arthur. Respirei fundo e o segui, deixando a cabine. Os outros garotos já estavam lá, nos esperando, todos fazendo careta. Menos Chay, que sorria maliciosamente para mim e para Arthur. Baixei a cabeça, timidamente, e andei até eles.
— Vocês dois se esconderam! — Mica disse irritado.
— Ah, você sabe que no edredom eu sou só seu, amor... — Arthur brincou, dando tapinhas nas costas do amigo.
— Não, sai. Estamos dando um tempo!
— Mica drama queen! — Harry disse colocando uma mão na testa e se abanando com a outra, rimos. — Hey... — parou de brincar e olhou de Arthur para mim, senti as pernas fraquejarem. — Por que vocês se esconderam da gente? — podia ver tudo naquele olhar de Harry. Ele estava desconfiado. Era só o que faltava. Chay e agora Harry.
— Porque vocês nos incomodam, simples — Arthur deu de ombros e recebeu um pedala de Harry.
— Não gente, é que a gente viu que a de vocês ia muito lotada... — tentei mentir, mas recebi várias risadinhas.
— Uhum, seis pessoas é muuuuuuuita gente... — Mica ironizou com os olhos arregalados e os outros falaram “huuuuuum” em coro. Eu queria morrer.
Thur apenas os mandava tomar naquele lugar. Conseguimos conversar amigavelmente, até Chay inventar que tinha conseguido ver o vidro de nossa cabine embaçar. Harry nos apelidou de Jack e Rose. Eu apenas ria, Thur resmungava.
Logo Fletch apareceu, chamando os garotos para ir embora. Lembrei-me de que tinha gastado todo o dinheiro com o táxi. Conformei-me e pensei em ir embora a pé.
— A gente te leva, Rachel — Mica ofereceu, parecendo gentil pela primeira vez desde que o conheci, até o olhei assustada. Os outros confirmaram.
— Não, gente, não precisa. Obrigada. Eu pego um táxi — menti, mas estava com muita vergonha de pegar carona com eles e com o tal Fletch, que tinha até sido mais simpático comigo.
— Eu te levo — Arthur disse e todos o olharam.
— Leva como, imbecil? Você está sem carro aqui! — Mica deu-lhe um pedala. Rimos.
— Outch! Eu a levo de táxi, deixo-a em casa e vou pra casa, ué. Tudo de táxi, pensei em tudo — falou orgulhoso e eu senti corar quando os meninos gritaram “huuuuuum” em coro novamente. Eu ia tentar impedir Arthur de fazer isso, mas realmente queria ficar perto dele mais um pouco.
— Tudo bem, mas lembre-se de que você tem um avião te esperando às dez da manhã — Fletch lembrou e Arthur bateu continência.
— Nada de atrasos, Arthur. Você não é mais uma criança — Mica disse imitando o tom de voz de Fletch, arrancando risadas de todos, até dele.
Despedimos-nos dos garotos — que disseram para irmos pela sombra e para eu não deixar Thur me estuprar — e de Fletch, que foi bastante cordial, mas lembrou Arthur do voo novamente. Ele me deu a mão logo que sumimos da vista de todos que estavam na London Eye. Arthur já fez isso várias vezes, mas toda vez que faz, sinto um choque passando pelo corpo. Acho tão espontâneo. Tão lindo, como tudo nele.
— Onde você vai pegar o táxi? — perguntou-me enquanto passávamos por alguns prédios. Eu o olhei rindo. Durante o caminho, tinha até esquecido que o que disse para eles era mentira.
— Eu não vou pegar táxi... — olhei para frente, rindo, e senti seus olhos fixados em meu rosto.
— HÃ? COMO ASSIM? — perguntou incrédulo.
— É... — olhei-o franzindo a testa. — Eu inventei aquela história! Nem tenho dinheiro pra pegar táxi... — agora ele soltou a minha mão bruscamente.
— Então você vai sozinha! Eu estou voltando pra pegar uma carona. Até mais! — disse se distanciando e correndo de volta.
— , NÃO FAZ ISSO, CARA. EU ESTOU SOZINHA! — gritei sem sucesso, ele continuava correndo e eu tive um ataque de riso. Arthur não podia estar fazendo aquilo!
— TCHAU! — gritou de longe. Sem que eu pensasse nisso, já estava correndo. Arthur não podia me largar ali sozinha. Eu estava com medo de fazer aquele caminho todo àquela hora! Comecei a correr atrás dele, parando algumas vezes durante o percurso para tomar ar... Já que corria e ria ao mesmo tempo da situação. Notei que ele começou a diminuir a velocidade e parou, me esperando chegar até lá.
— Não... Acredito... Que... Você... Me fez... Correr... Até aqui... E estava... Brincando — falei ofegante, apoiando as mãos nos joelhos.
— Estava, eu sou assim, brincalhão, você sabe — deu de ombros, se aproximando. Eu, então, fiquei bem perto e comecei a estapear seu peito. Arthur segurou os meus pulsos. — Não adianta! Eu sou mais forte! — e me abraçou.
Ficamos abraçados por um bom tempo, era uma noite fria e os braços de Thur pareciam ter aquecedores elétricos, de tão aconchegantes. Enterrei a cabeça na curva de seu pescoço e o senti deslizar os dedos em meus cabelos. Ouvia muitos carros passarem pela rua, mas parecia ser um som distante. Naquele momento eu tinha me esquecido de quem era e de onde estava. Só sabia que queria permanecer daquela maneira.
— Luh... — ouvi sua voz rouca chamar e levantei a cabeça em um impulso, olhando-o. — Vamos andando, que vai ficar muito tarde — sorriu e eu sorri de volta, assentindo. Caminhamos em silêncio. Eu, com a cabeça deitada no ombro de Arthur e os braços em volta de sua cintura. Já ele, encostou a cabeça na minha e me envolvia pelo ombro, com um de seus braços. Ouvia-o respirar ofegante enquanto caminhávamos e sorria internamente. — Acho que o meu pulmão está congelando.
— Quer o meu casaco? — perguntei brincando.
— Quero, porque ele com certeza cabe em mim e nos meus braços musculosos — vangloriou-se.
— Iiiiiih, você nem está com essa bola toda — brinquei, quando na verdade queria dizer que ele estava uma “delícia”. Ele me olhou rapidamente.
— Não foi isso que pareceu naquela madrugada... — deu de ombros. Levantei a cabeça de seu ombro e soltei uma das mãos de sua cintura, dando-lhe um tapa leve no rosto. — Outch! — massageou. — Sabia que quando está frio dói mais? — perguntou inconformado.
(COLOCAR A CANÇÃO PARA TOCAR. P.S.: A PARTIR DE 0:19)
— Que dó! — massageei e ele tirou a minha mão, dizendo que agora não adiantava mais. O caminho era realmente longo da London Eye para o meu apartamento, mas ali com Thur parecia ser praticamente vizinho. Quando estávamos entrando na rua do meu prédio, ele me perguntou sobre os meus pais. Fiquei receosa de contar tudo, então contei-lhe pela metade. Disse que nunca tivemos uma relação muito boa. Aproveitei para contar sobre Leopold. Tentei fazer um breve resumo, excluindo completamente o fato de ter engravidado. Não queria deixá-lo assustado. Subimos as escadas conversando empolgados e enquanto abria a porta, mandei que ele fizesse silêncio, Mel podia estar dormindo no sofá e acordá-la ali não seria uma experiência boa. Ele atendeu sem contestar, sabia o que ela seria capaz de fazer. Entramos e eu notei que Mel não estava na sala, devia dormir em seu quarto.
— Entra — convidei-o.
— Não, Luh. Tenho que ir pra casa terminar de arrumar as minhas coisas. — respondeu parado na porta.
— Então deixa eu te emprestar um dinheiro pra você chamar um táxi! Entra! — dei as costas.
— Poxa... Eu esperando você me chamar pra dormir... — ouvi-o falando baixinho e nem acreditei. Então, voltei a ficar de frente para ele.
— Você disse que tem que arrumar as suas coisas... — dei de ombros.
— Estava me fazendo de difícil, mas nem adiantou — fez bico. Tem como dizer não?
— Arthur Aguiar, você aceita dormir nesse humilde recinto? — fiz reverência e ele riu.
— Assim eu aceito! — sorriu vitorioso e entrou, fechando a porta. Fui andando em sua frente e o senti me abraçar por trás, cheirando o meu pescoço. — Seu cheiro me enlouquece — falou com a voz fraca, enquanto começava a beijar o meu ombro. Ainda bem que eu estava de costas para ele, acho que as minhas bochechas estavam pegando fogo. Então o meu cheiro o enlouquecia? Por que não me disse isso antes?
Entramos em meu quarto daquele jeito, mas Thur se soltou para desabotoar a camisa e tirar as calças, ficando apenas de boxers azul-marinho e se jogando em minha cama em seguida. Coloquei a mochila na estante. Fui até o guarda - roupa, peguei um babydoll e me vesti no banheiro. Escovei os dentes e aliviei a bexiga, que parecia querer estourar. Voltei para o quarto, Thur já tinha apagado a luz e deixado apenas o abajur com a luz acesa. Ele estava de bruços. Não pude deixar de olhar seu corpo escultural e seu bumbum avantajado. Não resisti e sentei na cama passando as unhas levemente sobre as suas costas. Thur estremeceu e ficou de barriga pra cima, puxando-me para si. Fiquei por cima dele e nos beijamos. Ele passou uma de suas mãos pelas minhas coxas, pressionando-as e eu fiz o mesmo com a sua barriga. Nosso beijo esquentava mais a cada segundo. Foi quando o parei.
— Vai dormir, você tem que viajar às 10h amanhã — falei desvencilhando-me e deitando ao seu lado, puxando a coberta e me cobrindo.
— Estraga prazeres... — disse inconformado, passando um de seus braços pela minha cintura e deitando a cabeça sobre o meu busto. — Você me acorda amanhã cedo?
— Acordo. Quando eu levantar para ir à aula, eu te chamo — respondi e ele se acomodou melhor. Fiquei roçando o seu couro cabeludo com as unhas.
— Continua assim e eu durmo três semanas seguidas — Thur disse antes de soltar um riso abafado. Eu apenas sorri fraco, já com os olhos fechados. A vida é irônica. Eu nunca sei o que está acontecendo. Nós estávamos incrivelmente bem, ali. Porém não sei como tudo vai estar amanhã. Não sei como ele vai agir amanhã. E isso me deixa com medo. Com medo de tudo ficar no passado. Com medo de ter que deitar a cabeça no travesseiro e aceitar a idéia de que Thur pode não estar mais em minha vida. — Boa noite, coração — soltou outra risada abafada e eu ri alto.
— Boa noite, brega — falei com as pálpebras pesando e já me sentindo longe dali.

Continua ..

Autora: Ingrid H.

Quantos comentários merece este capítulo ?





16 comentários:

  1. Heyy gente,Eu sei que o blog é sobre LuAr e coisa e tal , Mas será que vocês podiam dar uma olhada neste vídeo ? é da banda Cw7 e fala disso que a maioria de nós estamos vivendo , essa revolução .. o nome da música é exatamente essa .. REVOLUÇÃO .. se vcs puderem olhar ! - http://www.youtube.com/watch?v=Oqnk9aIJcpQ - é bem interessante ! bjs e amoO a Web Novela ..
    Falando nisso POSTA MAIS !

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  2. 1.000.000 não vejo a hora do proximo capitulo,estou me viciando amo <33

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  3. divooooooo,posta mais please

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  4. Só merece 04 comentários??
    Eu achei que merecia mais :(
    Só por isso também, só posto amanha !!
    Se Tiver mais comentários ate 00:00 eu posto outro hoje ainda !

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  5. aiiiiiiiiiiii muuuuuuuuuuuuuuuito perfect mais uma vez ner aaaaaaaaaaaaaaaah posta maaaaaaaaaaaaais

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  6. ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

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  7. pelo amor de Deus posta mais

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  8. mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais

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  9. que capitulo fofo posta mais

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  10. aiai viciei nessa web!posta mais

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  11. 15 a comentar e que se faça as palavras dos outros ai de cima as minhas
    poooooooooooosssssssstaaaaaaaaaaaaaaaa mmmmmmaaaaaaaaaaaaissssssssssss

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  12. essa web ganhou meu coração q plmdds , um dia sem ela me deixa estressada

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