segunda-feira, 3 de junho de 2013

June 15th


Capítulos 4 e 5



Capítulo 4
(Colocar para carregar: Stop Crying Your Heart Out - Oasis) 

— AAIIII JÁ VAAAI! — falei como se o celular fosse parar de tocar pelo grito que tinha dado. Olhei o visor antes de atender e era
 Mel, claro, no meu número pessoal. Deitei no sofá e atendi. — Ooooi sua vaquinha! Estou sentindo a sua falta aqui! 
 Nossa Luinha, alô pra você também! — ouvi-a rir. — Sabia que você estava sentindo a minha falta, afinal esse apartamento sem mim é nada. 
— Convencida você, né? — ri. — Como está aí com seus pais? Nossa, parece até que estamos a milhas distantes!
 
 Pensei a mesma coisa! Então, tá... você sabe... bom. — ouvi-a bufar. 
— Que foi? Algo errado?
 

 Ah, nada demais, é só que... meuexnamoradoestáaquieeutocomnojo.  Mel falou tão rápido e baixo que não entendi a última frase. 
— O QUÊ? Amiga, aprenda a falar e me ligue, beijos — ouvi-a dar uma risada de reprovação.
 
 Ai, tá. Meu ex-namorado está aqui e eu estou com nojo disso. 
— Q-q-q-q-quê... Como? O que o Ryan está fazendo aí? — perguntei incrédula.
Mel odeia Ryan com todas as forças e, bem, eu também o odeio. Acontece que sua família é muito próxima da dela, então um casamento dos dois seria como uma realização para eles. E ela tentou fazer dar certo, sou prova disso. Eles namoraram por seis meses no ano passado, claro, empurrados pelas suas respectivas mães. Ryan sempre se insinuava para ela, mas ela sabia que era madura demais para ele. Em um momento de carência e solidão, Mel resolveu dar-lhe uma chance. E então ele estragou tudo, depois de quatro meses, ele começou a traí-la com a própria prima, e Mel só descobriu dois meses depois. Foi o fim de namoro mais louco que eu já vi, com direito a tapa no rosto e tamancada na cabeça. Não que ela o amasse, mas ficou inconformada por ter tentado fazer algo que ela tinha certeza que não daria certo. Sentiu-se enganada. É perfeitamente compreensível. Ele também não é o tipo de pessoa mais agradável de se conviver. É completamente metido e antipático, acreditam que nos seis meses que estiveram juntos ele nem me cumprimentava? Mas ok, voltando ao raciocínio. Mel contou tudo o que havia ocorrido para a sua mãe e seu pai, sobre o fim do namoro. Eles pareceram entender e pararam de chamar os pais de Ryan e ele para irem lá enquanto ela estivesse presente. Só que agora, depois de praticamente um ano que eles terminaram, Ryan tinha ido à sua casa.
 Eu ainda não entendi, estou tão surpresa quanto você. Acordei, levantei, sorri para o dia, mas quando desci o vi todo folgado sentado na borda da piscina. Quando ele me viu ainda fez questão de acenar. Argh! 
— Que cínico! E sua mãe? Seu pai? Não acredito que eles estão compactuando!
 
 Tudo indica que sim, cara Luinha. Minha mãe acabou de gritar para eu descer para almoçar com eles. Ainda fez questão de gritar em alto e bom som que Ryan estava sozinho, precisava de companhia para conversar. Ah ele que converse com o #@$% dele! — ouvi-a bufar novamente e não consegui controlar um sorriso. Pobre Mel. — Mas agora vamos falar de algo agradável e, ao que tudo indica, bonito, charmoso e sexy... ao contrário desse orangotango imbecil! 
— Hein? Bebeu? — fingi não entender, ouvindo-a gargalhar em seguida.
 
 Arthur ... — ela suspirou. — Oh, Arthur! — cantarolou essa última parte como uma perfeita tola, então bufei, ouvindo-a rir alto. — Quero saber detalhes de ontem! Não pense que esqueci que vocês dois saíram juntinhos e felizes! 
— Tem certeza que quer que eu conte isso por telefone? Não vai ficar caro pra você? — tentei desconversar. — E também, nem fomos somente os dois, um amigo estava junto.
 
 Ah, meus pais que se comprometem em pagar a conta do meu celular... e depois disso que aprontaram, eu quero mais é torrar o dinheiro deles. Quero que se danem! — ela bufou novamente. — Mas saindo do esgoto e voltando ao jardim... Que história é essa? 
— Ai cara, você vai mesmo me fazer contar por aqui? — nem sei por que perguntei, a resposta era óbvia.
 
 Lógico, Lua. Só volto praí amanhã à noite. Você não acha que eu vou aguentar até lá, acha? NÃO VOU DESCER, MÃE, ESTOU COM PROBLEMAS. — ela gritou a última parte ainda no telefone, fazendo-me afastar o aparelho do ouvido. — Desculpe. Prosseguindo... Vamos, conte-me antes que eu enlouqueça de curiosidade. Já basta enlouquecer pela raiva que estou daqueles dois velhos! 
— 'Tá, 'tá, 'tá sua curiosa. Saco! — respirei fundo, estava com preguiça de contar tudo. Mas resolvi fazer isso para evitar uma futura gritaria amanhã. — Bom, ele estava com um amigo no carro... chama-se Thomas. Fomos apresentados e eu fiquei morrendo de medo dele ter contado ao amigo que eu sou garota de programa, mas pra minha felicidade ele não o fez.
 
 Têm de ser fabricadas mais cópias dele no mundo! — ela disse num tom de voz inconformado, fazendo-me rir. — Mas então, prossiga. 
— Bem, chegamos ao clube e o amigo dele encontrou uma garota que tinha combinado de encontrar lá. —
 Mel me interrompeu. 
 
Droga! Já estava começando a me animar com a idéia de ele ter um amigo. Vai que o amigo é bonito como você diz que ele é e gentil como oArthur? — ouvi-a suspirar. 
— Vai deixar eu continuar ou não? — ouvi-a berrar algo como “SIM, CONTINUA SUA FILHA DA ?#$@”. – Então, ele me comprou uma bebida e depois conversamos coisas sem nexo.
 
 Tipo o quê? Conta aí! Anda sua sem vergonha! 

— Ai ai ai, vamos controlar esses xingamentos... Ah, ele disse que eu era diferente do jeito que eu estava, tipo, sem aquela maquiagem pesada e sem aqueles trajes. — falei sentindo-me corar ao lembrar da cena. Também fiquei com medo do que
 Mel ia falar. 
 OH MEU DEUS. Por que um desses não cruza o meu caminho? Se bem que... — pausa. — Diferente em que sentido? 
— Pelo que eu entendi, ele me achou mais bonita, ou talvez nem ele saiba. Porque falei que achava que tinha mais graça daquele outro jeito, mas não sabia se achava isso por simplesmente me olhar mais no espelho quando estou indo “trabalhar” — ouvi-a falar algo como “você é uma idiota”, ignorei e continuei contando. — E ele disse que com certeza eu pensava assim por isso. — Ouvi-a prender a respiração.
 
 Amiga, ele te cantou. Finalmente, de um jeito estranho, mas te cantou! 
— Nááá, não acho! Depois ele desviou o olhar e não pareceu mesmo estar me cantando... — dei um suspiro desanimado, que desejei voltar no tempo para não fazer, porque
 Mel certamente ouviu. 
 Lua Blanco, você está caidinha por esse cara, não está? 
— Quê? Não, você está louca? — desconversei.
 
 Eu percebi só nesse seu suspiro, mas ok, não vou te deixar sem graça. Continua... 
— Bom, então depois ele levantou para ir à piscina, chamou-me para mergulhar e eu fiquei com vergonha de ficar só de biquíni ali, menti que ia depois.
 
 Por que você fez isso? Vamos usar seu poder de sedução, garota! — ela riu. 
— Também não é assim, e você sabe. Só sei que depois o imbecil e o seu amigo me pegaram de surpresa e me jogaram na piscina! De roupa e tudo!
Mel gargalhou por alguns muitos instantes, mas a ouvi parar de rir subitamente. 

— Que foi? — perguntei preocupada.
 

 Estão batendo na droga da porta aqui. Tenho de desligar, mas não pense que você me escapa! Amanhã quando chegar quero saber de tudo! Quer dizer, do resto! 
— Tá amiga, pode deixar! Cuide-se, cuidado com o Ryan! — falei em tom de provocação e a ouvi resmungar, chamando-me de várias coisas promíscuas que passavam pela sua cabeça, algumas até que eu nunca havia escutado. Desliguei ainda rindo dela.
Já havia almoçado e estava de bobeira na frente da tv. Passava algum desenho animado. Comecei a lembrar de quando fui com Arthur até a porta e ele me disse que ligaria ou me procuraria. Já passava das 2 da tarde e nenhum sinal. Por que eu estava esperando mesmo? Por que eu achava que ele estava realmente se divertindo comigo o tanto que eu me divertia com ele? Afinal aquelas coisas que costumamos fazer deviam ser rotina para ele. Mas para mim são as coisas mais divertidas que eu faço desde os 12 anos de idade. Depois comecei a lembrar do dia em que fomos ver “E o vento levou”, criei mais uma dúvida em mim. Naquele dia pude ver em seus olhos o quanto ele se divertia. Cantarolar com ele uma canção dos Beatles foi como terapia para mim, e pelo que percebi, para ele também. Lembrei então dele me dizer que lembraria de mim toda vez que ouvisse “I Wanna Hold Your Hand”. Balancei a cabeça tentando entender tudo aquilo, mas apenas ignorei os meus pensamentos. Decidi parar de esperar por algum sinal, com certeza devia ter aparecido algo mais interessante para ele fazer. Levantei do sofá e desliguei a tv. Caminhei até o meu quarto e enquanto tirava a roupa para ir ao chuveiro, lembrei da minha pesquisa de história que teria que entregar na segunda. Dei um tapa em minha própria testa e peguei a toalha que estava pendurada atrás da porta. Tomei um banho apressado, vesti uma calça um pouco folgada preta e coloquei uma blusa rosa bebê regata, deixando a alça do sutiã preto amostra. Calcei meu all star preferido, que tinha praticamente a mesma cor da blusinha e peguei uma bolsa. Apanhei algum dinheiro e coloquei em um dos bolsos da bolsa. Em seguida apanhei os meus cadernos e saí trancando a casa.
Peguei um táxi e fui até o shopping, mais precisamente em uma lan house dentro do shopping. Tinha algumas horas sobrando lá. Sentei-me em frente ao computador e coloquei a bolsa na mesa, apoiando os cadernos nas pernas e procurando dicas que o professor havia nos mandado copiar para a montagem do trabalho. Estava completamente sem vontade de fazer aquilo, mas me obriguei mentalmente. Tentava pensar em algum assunto interessante, que tivesse a ver com guerra, mas não me vinha nada em mente. Foi então que lembrei novamente da sessão de cinema comArthur , quando vimos “E o vento levou”. Claro, era perfeito! Ia falar sobre a Guerra Civil Americana! Então como em passe de mágica colhi vários dados e imprimi algumas páginas da internet, agora era só pegar tudo aquilo e dar um toque pessoal à pesquisa. Saí da lan house e enquanto passava pela praça de alimentação decidi parar para tomar um sorvete. Fui até onde estava localizada a máquina de sorvete italiano, pedi o misto e a moça me entregou em questão de segundos. Paguei e sentei à mesa onde havia deixado os meus cadernos. Tomava o sorvete tranquilamente até que decidi olhar para o lado.
Era ele. Por isso ainda não havia me ligado! Quis me matar quando pensei nisso, eu não tinha o direito de ficar esperando. Arthur usava uma camiseta branca e uma bermuda preta, estava com o mesmo gorro que usara no dia em que nos conhecemos, na hora que foi me devolver à calçada. Ri internamente quando lembrei disso. Ele estava com algumas sacolas na mão, devia ter feito muitas compras. Mas o que mais me chamou atenção não foi isso. Foi o fato de ele estar acompanhado. Era uma mulher mais ou menos da minha altura, muito bem vestida, devia ter a minha idade ou mais um pouquinho, talvez. Eles pareciam animados, Arthur estava rindo e falando ao mesmo tempo, assim como o vi fazer tantas vezes. Ela apontou uma mesa ali perto para eles ficarem e o vi deixar as sacolas em uma das cadeiras. A mulher sentou-se e tentei fazer uma leitura labial, acho que ela falou algo como “estou te esperando”, não tenho tanta certeza. Ele fez carinho no topo da cabeça dela e se virou, indo em direção a um dos fast foods que se encontravam exatamente na lateral de onde eu estava sentada. Arthur fez o pedido e ficou olhando inquieto para os lados, o que me deixou extremamente nervosa. Quando vi que ele talvez olharia para mim, baixei a cabeça e fingi estar estudando, deixando os cabelos caírem sobre a face. Primeiramente, tive a certeza de que ele havia dado as costas e voltado para a mesa com aquela mulher e aí sim voltei a tomar o sorvete, que já nem tinha mais graça, a essa altura.
Eles comiam e conversavam de vez em quando. Vi-o por diversas vezes fazer carinho na nuca dela, e aquilo parecia me agredir por dentro. Decidi levantar, pegar as minhas coisas e sair por um caminho que não me fizesse passar por eles e muito menos que ELE me visse. Então peguei um táxi de volta para casa e durante o caminho ouvi o taxista falar algo como “essa canção é velha, mas parece que foi feita ontem!”, e era a canção, a maldita “I Wanna Hold Your Hand”, e ele ainda fez o favor de aumentar o volume. Eu não sabia por que estava me sentindo daquela forma, Arthur tinha a vida dele, isso era tão óbvio, então por que eu apenas não aceitava? Sempre tinha conseguido separar a vida pessoal da profissional. Fazia programas com John há uns três anos e já o vi várias vezes com outras mulheres, ficava até feliz por ele... Por que com Arthur não era assim? Se eu nem o conhecia direito? Mas espera, e se ela nem for nada dele? Digo, e se ela for apenas sua amiga? Irmã? Prima? Ah, esquece. Paguei o táxi e desci do carro. Subi as escadas e entrei no apartamento, respirei fundo e deixei as coisas em cima da mesinha de centro. Era informação demais para a minha cabeça. “Te ligo ou venho aqui amanhã.”, essa frase de Arthur antes de sair daqui de madrugada parecia martelar a minha mente e o meu corpo. Não, ele não apareceria, ele estava ali, com uma mulher, sorrindo e acariciando a nuca dela. Por que ele viria atrás de mim? Talvez ele estivesse carente quando me procurou, por ter levado um pé na bunda dela e então foi readmitido e resolveu me deixar pra trás. Espera, como me deixar pra trás? Será que eu realmente estive presente em alguma parte de seus pensamentos? Nem que fosse em uma parte provisória? Decidi parar de ouvir a minha mente e desliguei o meu celular profissional. Não queria ver Arthur naquele dia. Precisava de um tempo para tentar separar o fato de tê-lo conhecido na calçada e o fato de ele tentar ser gentil comigo de sua vida pessoal. Assim como Lua é Rachel à noite, ele não deve ser a mesma pessoa comigo e, bem, com ela ou com qualquer outra mulher que passe por sua vida sem ser garota de programa.
Aquele Arthur que dava risada e tirava sarro de mim devia ser muito diferente quando saía de vista. Talvez eu estivesse me envolvendo com ele, ou quem sabe, com o seu personagem. E isso não é certo. Eu não posso interferir em sua vida e também não posso desejar que ele se importe comigo só porque tivemos três encontros e ele nem ao menos insinuou uma “transa”, talvez eu nem fosse especial para ele... É claro que não sou! Mas só queria conseguir, por alguns instantes, sentir a frieza que costumava habitar meu peito no quesito “relacionamentos”. Não conseguia. Arthur havia começado a quebrar o gelo, e quando isso é feito, dificilmente volta a congelar. Peguei uma cerveja na geladeira e acendi um cigarro.
(Coloque a canção para tocar)
E por que eu deveria estar chateada mesmo? Balancei a cabeça e vi o quão infantil eu estava sendo, danificando os meus pulmões por alguém que estava certamente naquele momento dando risadas e trocando beijos com outra pessoa. É ridículo agir assim. Fumei uns três cigarros e consumi três latas de cerveja, estava estirada no sofá da sala quando ouvi alguém bater na porta.
— Rachel?
Era Arthur, sim, ele estava lá. Do outro lado da porta, realmente foi me procurar. Mas agora eu não podia vê-lo, estava certamente com cheiro de cigarro em todas as partes do corpo possíveis e não estava muito lúcida. Três latas de cerveja com a barriga vazia não me fazem muito bem, e eu também não sou o maior exemplo de pessoa forte para bebida. Ouvi-o bater com mais força, e me chamar ainda mais alto, apenas me encolhi e tentei até respirar o mínimo que conseguisse, achando mesmo que ele me escutaria respirar. Então a movimentação cessou e respirei aliviada, finalmente tinha desistido. Pude confirmar ouvindo-o pisar com força em cada degrau da escada ali fora. Apanhei o controle da tv e fiquei passeando por vários canais, até parar em um que estava passando um videoclipe do Oasis. “Stop Crying Your Heart Out”, fiquei incrédula, tudo estava contra mim. Apesar de ser fã número um do Oasis, aquela não era a melhor canção para se ouvir quando se está triste. Mesmo assim não consegui mudar de canal, cada verso dali para frente parecia entender o que se passava dentro de mim.
'Cause all of the stars
(Porque todas as estrelas)
 
Are fading away
(Estão desaparecendo)
 
Just try not to worry
(Apenas tente não se preocupar)
 
You'll see them some day
(Você as verá algum dia)
 
Take what you need
(Pegue o que você precisa)
 
And be on your way
(E siga seu caminho)
 
And stop crying your heart out
(E faça seu coração parar de chorar)
 
Get up
(Levante)
 
Come on
(Venha)
 
Why you scared? 
(Por que você está assustada?) 
You'll never change
(Você nunca mudará)
 
What's been and gone
(O que aconteceu e o que vai acontecer)”

Capítulo 5.

Amanheceu chovendo forte, tive que levantar cedo para ir à aula entregar o meu trabalho de história. Fazia dois, bem, três dias que eu não falava com Arthur, já que vê-lo antes de ontem no shopping não contou como encontro. Deixei o celular profissional desligado desde sábado, justamente para não ter que atendê-lo. Sentia raiva de mim mesma por estar chateada com ele, ele tem a vida dele. ELE TEM! Por que eu simplesmente não aceitava? POR QUÊ? E por que ele tem que ser tão infantilmente lindo e charmoso? Por que ele tem que me encantar tanto? Os pensamentos pararam de me incomodar com um forte trovão que me assustou, não sou fã de trovões e relâmpagos, confesso que eles me assustam. Encolhi-me puxando a coberta e tapando a cabeça com o travesseiro.
— Que é isso? Escondendo-se da vida lá fora? — ouvi Mel falar com um tom de voz engraçado abrindo as cortinas do quarto. 
— Adianta? — tirei o travesseiro do rosto e a encarei, ainda deitada. — Que horas são? – falei escondendo os olhos da claridade.
 
— Seis. Levanta logo que hoje o trânsito deve estar horrível, então já sabe. — ela disse caminhando para fora do quarto.
Levantei e fui ao banheiro. Tomei um banho razoavelmente rápido, mas não deixei de aproveitar cada gota que caía do chuveiro, a água estava morna e eu me sentia relaxada. Saí e escovei os dentes, em seguida fui para o quarto e parei mais uma vez na frente do guardarroupa. Nada servia, era só o que eu pensava. Mas acabei pegando uma camiseta de mangas curtas na cor azul clara, era básica, sem nada escrito ou desenhado. Depois peguei uma calça cigarrete preta e coloquei um tênis. Apanhei uma escova e fiquei penteando o cabelo. Por um segundo notei que seu tom castanho parecia estar preto molhado, ri internamente vendo como eu estava incrivelmente idiota naquela manhã. Passei um perfume suave e fui à cozinha. Mel havia preparado dois sanduíches, agradeci-a mentalmente, não estava em condições de preparar nada. Também notei que ela havia feito suco, então peguei um copo e em seguida coloquei uma quantidade pequena. Sentei-me de frente para ela, fazendo companhia e comendo. No dia anterior, Mel fez o que ameaçou no telefone sábado. Pressionou-me a contar tudo. E, bem, na verdade contei o que ela queria saber e ainda mais o que tinha acontecido sábado no shopping. Percebi que ela ficou com um pouco de pena de mim, não é pra menos, eu tinha realmente me iludido. Notei que ela tinha receio de iniciar uma conversa comigo, talvez pensando que eu precisasse de um pouco de espaço, mas mal sabe que o que eu queria mesmo era cortar aquele silêncio, porque nele mais ilusões voltavam a habitar minha mente. Para a minha felicidade, ou não, ela puxou assunto. Não um assunto corriqueiro, como eu desejava, mas ela puxou AQUELE assunto.
— Vai continuar com o celular desligado? — ela respirou fundo. — Lua, isso é infantil! — assustei-me ao perceber que ela estava falando realmente sério, ela não costuma ser assim. 
— Ah, talvez seja. Mas não quero mais dar liberdade pra ele, você sabe — baixei o olhar, tentando não encarar os seus olhos verdes profundamente concentrados em mim, com uma expressão de reprovação.
 
 Luinha, me escuta. Isso é idiota! E levanta a cabeça que eu odeio falar com você e você não me olhar nos olhos. 
Fiz o que ela pediu, extremamente nervosa, aquele olhar dela parecia com o de uma pessoa mais velha colocando você de castigo.
 
— Mas você já fez isso também! — dei de ombros.
 
— Fiz, mas eu fiz porque aquele estúpido do Ryan era... Argh... — ela fez uma careta. — Meu namorado! Eu tinha o direito de ignorá-lo, você não tem direito de fazer isso com o
 Arthur porque, porque... — ela me olhou como se pedisse permissão pra continuar, então eu balancei a cabeça afirmando. — Porque você o conheceu na calçada! 
Mel estava certa, completamente certa. Mesmo que me doesse ouvir aquilo, ela tinha razão... e eu mesma sabia disso, mas não conseguia aceitar.
 
— Você tem razão, ele deve estar me achando uma doida.
 
— Agora vamos, liga esse celular! — ela falou estendendo-o para eu pegar.
Respirei fundo e o fiz. Para a minha surpresa, vi que tinham várias ligações e uma mensagem de voz. Sim, uma mensagem de voz. Meu coração começou a praticamente pular, cheguei até a pensar que a Mel poderia estar ouvindo.
— ANDA! ESCUTA LOGO E VÊ SE PÕE NO VIVA VOZ! — ela praticamente berrava. Mesmo que eu tivesse medo do que ia ouvir, preferi ouvir logo ali com ela do que sozinha. Então o fiz.
“Rachel? Você está bem? É o Arthur. Fui aí agora há pouco e quase derrubei a sua porta, depois fui ver se você não estava na calçada, mas também não. Uma moça morena me disse que você não costuma ir aos sábados, estou preocupado. Beijo.”
Mel prendeu a respiração e ficou me olhando com os olhos arregalados. Acho que eu devolvi o mesmo olhar para ela. Ele disse que estava preocupado! ELE DISSE. Então eu estou em algum lugar dos pensamentos desse cara. 
A realidade me chamou quando vi a hora no celular sem querer, estava praticamente atrasada, tinha que entregar um trabalho no primeiro horário.
Aquela manhã passou se arrastando, entreguei a pesquisa e o professor parecia entusiasmado, pelo menos isso na minha vida estava correndo bem. Recebi o calendário de provas, seriam na próxima semana. Então peguei alguns materiais com uma colega e fiz cópias, tinha perdido algumas aulas no início do mês e precisaria daquilo para estudar. Quando cheguei em casa, notei que a Mel estava concentrada, fazendo anotações.
— Fazendo anotações na hora do almoço? Você está bem? — falei chegando perto dela e colocando a mão em sua testa insinuando medir sua temperatura. 
— Aiii sua idiota! — ela me deu um tapinha na mão. — É que estou vendo se já posso comprar o notebook que estou querendo. Nós precisamos de um computador, convenhamos que ficar indo à lan house é tão... desgastante. —
 Mel balançou a cabeça e bufou. 
— E a que conclusão você chegou? — perguntei interessada. Realmente precisávamos de um computador em casa.
 
— Bom, vou precisar de você — ela arqueou as sobrancelhas e fez bico.
 
— Pode contar comigo! Também não aguento mais ficar tendo que sair de casa e gastar dinheiro toda vez que tenho alguma pesquisa.
 
— Então, feito! — ela disse animada e pulou do sofá para me dar um abraço.
Fomos para a cozinha e preparamos um almoço rápido, depois Mel foi se aprontar para trabalhar. Dirigi-me então para a louça, confesso que mesmo não sendo tão organizada quanto a minha amiga, não suporto ver louça acumulada. Antes de sair, Mel passou para se despedir de mim, dando-me um beijo no topo da cabeça, afinal ela é um pouco, bem, bastante mais alta do que eu. Então a vi me observar por alguns instantes.
— Que foi? Tá me achando bonita, é? — brinquei e joguei um pouco de espuma no nariz dela. 
— Ai sua idiota! — ela limpou. — Nada, é só que... — ela parou de me encarar, olhou para baixo e me encarou novamente — você não vai retornar as ligações?
 
— Hum, acho que não — bufei.
 
— Bom, faz o que você achar melhor. Mas eu acho que às vezes as pessoas aparecem na nossa vida por algum motivo — ela disse simplesmente e sorriu, saindo em seguida.
“Às vezes” não é sempre. “Às vezes” Arthur apareceu na minha vida apenas para me mostrar as coisas boas que nunca pude ter. E só. Espantei os meus pensamentos e continuei lavando a louça. Quando acabei, fui para a frente da TV e ouvi o meu celular tocar. E não, não era o pessoal. Corri para dar tempo de atendê-lo, não sabia onde tinha deixado, mas acabei encontrando-o na cozinha. Respirei fundo. Era ele.
— Alô? 
 Oi. É você mesmo? Digo, você ainda está viva? — não pude deixar de rir.
— Oi
 Arthur! — falei engolindo seco. — Tudo bem? 

 É, indo. E aí? — qual é? Ele me ligou pra ficar de conversinha? 
— Acho que estou bem. O que você tem? — dei um tapa na minha própria testa. O QUE ELE TEM? NÃO ME INTERESSA. Ou pelo menos eu não queria que interessasse.
 

 Ah, nada demais, coisas do dia-a-dia. — ele ficou sem falar algum tempo e eu também, ficamos ouvindo as nossas respirações. Aquilo definitivamente era constrangedor. 
— Então, você ligou pra que mesmo? — fui grossa? O ouvi dar uma risada abafada e tímida. É, acho que o tratei mal.
 

 O que você vai fazer hoje? Digo, à tarde? — ele poupava as palavras, devia estar com medo de mim. Não tinha nada pra fazer, mas inventei. 
— Ah, vou, er, estudar. Tenho prova semana que vem — mentira, só estudo na véspera.
 
 Hum, sei. Aí mesmo? 
— É – falei em um tom de voz frio.
 
 Então 'tá. Vou desligar agora, tenho que sair. Bom estudo, procura não se distrair, tipo, sair de casa. Concentre-se! — seu tom de voz não me pareceu derrotado. O que ele tinha em mente? Soltei um riso baixo. 
— É, ok, eu acho. Boa saída — ele deu “tchau” e então desligamos. Fiquei encarando o meu celular por algum tempo, não acreditando que ele tinha ligado.
Decidi tomar um banho, muito quente. Ainda chovia muito, e fazia um friozinho, não aquele frio de bater o queixo, mas aconchegante, pra namorar, ver filminho junto embaixo do edredom e coisas do tipo. Falando assim parece até que já tive essa experiência muitas vezes. Pra falar a verdade nunca tive. Quando namorei na adolescência não tinha muito aquela coisa de um ir à casa do outro, dormir juntos ou pelo menos sentar juntos na mesma cama. Quando vim para Londres, já me tornei garota de programa, mas tive alguns “rolinhos” no meio do caminho. Só que era mais para sair juntos, jantar, passear... nada muito íntimo, já que eu evitava sexo nas horas vagas. Então a minha maior experiência em deitar com outra pessoa debaixo do edredom para ver filme foi com a Mel, e como vocês sabem, somos do mesmo sexo e somos amigas. Logo, não é a mesma coisa. Mas pelo menos eu imagino como seria com um homem.
Saí do banho batendo o queixo, apesar de ter dito que não era pra tanto. Sabe como é o contraste. Fiquei com vontade de usar algo confortável e quentinho, então lembrei que a Mel tem vários blusões. Corri para o guardarroupa dela e peguei uma grande blusa branca, que certamente dá duas de mim. Vesti e voltei para o meu quarto. Passei aquele mesmo perfume suave e peguei um edredom na parte própria para isso do meu guarda-roupa. Voltei para a sala, sentei no sofá e me cobri. Comecei a passear pelos canais até parar em um seriado. Estava passando “A Feiticeira”, e como eu sou amante de relíquias da televisão, não pude deixar de assistir. Passava das 3 da tarde quando ouvi tocar a campainha. Bufei e fui abrir. Estava tão concentrada no seriado que nem ao menos passou pela minha cabeça quem podia ser. Tropecei em uma sandália que a Mel deixou jogada perto da porta e quase caí, se não fosse a porta perto de mim para me apoiar, seria um belo tombo. Então comecei a rir de mim mesma e abri a porta assim, sorrindo. Mas esse sorriso não durou muito tempo. Ele se transformou em uma expressão de susto. Era Arthur, aquele maldito. Parado ali, na minha frente, com um pote de sorvete na mão e olhando sem receio para as minhas pernas, que estavam de fora, já que eu vestia apenas um blusão. Depois notei que ele se deu conta de que eu percebi a direção de seu olhar e voltou a me encarar.
— Vai me deixar aqui plantado? — ele disse rindo.
Por que o sorriso dele tem que me hipnotizar? Entrei em um transe temporário, mas voltei quando o ouvi tossir, aquela tosse incômoda, como que se esperasse alguma reação minha.
 
— Er, en-entra — sorri fraco, deixando-o entrar. Então fechei a porta e respirei fundo antes de olhar o que me esperava atrás de mim.
 
— Olha, trouxe sorvete de pistache pra gente! — ele disse me dando o pote, então fui até a cozinha e peguei duas colheres.
 
Ele é louco? Um dia frio e ele traz sorvete? Parece idiota, mas esse comportamento estranho me encanta. Fui fazendo o caminho para a sala, mas parei para observá-lo.
 Arthur estava de costas, acho que olhando para a TV. Depois coçou a cabeça, nervoso, e pegou o celular em seu bolso. Pude ouvir claramente o barulhinho que faz quando o celular está sendo desligado. Ele não queria ser incomodado. Queria ficar ali, comigo, sem interrupções. Cheguei a suspirar, mas acho que coloquei a mesma expressão de “nada” no rosto quando ele notou a minha presença. Então disfarcei e continuei andando. Dei a sua colher e sentei, cobri as pernas e coloquei o pote em meu colo. Ele se sentou ao meu lado, notei um certo receio em conversar comigo, tinha noção de tê-lo tratado mal no celular, mas aquele silêncio estava começando a me deixar chateada.
— Não vai falar nada? — perguntei provocando-o, sabia que ia desconsertá-lo. Até que eu estava gostando disso. Eu estava finalmente no controle. Ele me olhou assustado, mas depois esboçou um sorriso. 
— Pra que falar se eu posso comer? — falou colocando a colher no pote em meu colo.
 
— Você pensa que é assim? Eu estou no comando hoje! — falei colocando o pote escondido atrás do braço que estava longe dele.
 Arthur gargalhou, aquela gargalhada gostosa que eu estava sentindo falta. 
— E você acha que tem força contra mim? — ele arqueou uma das sobrancelhas e se virou de frente para mim, sorrindo de forma provocativa.
 
— Não — olhei-o arqueando uma das sobrancelhas também. — Tenho certeza disso — fiquei de frente para ele, deixando escorregar o edredom, então coloquei as duas pernas flexionadas no sofá e ergui o pote. — Vem pegar! — mordi o lábio inferior, é, eu tenho noção de que o estava provocando de duas formas.
Vi-o viajar o olhar das minhas pernas em sua frente, até o pote de sorvete erguido, voltando logo em seguida para as minhas pernas e também mordendo o lábio inferior ao mesmo tempo que esboçava um sorriso provocativo. Confesso que aquilo me deixou louca. Então senti as pernas ficarem bambas quando notei que Arthur estava se aproximando, ele apoiou um dos braços nas costas do sofá, para conseguir ficar por cima de mim e pegar o pote, er, teoricamente. Depois com o outro braço, envolveu-me pela cintura, fazendo-me tremer. Senti seu peitoral encostar nas minhas pernas flexionadas e pressionar, como se quisesse me fazer abri-las, encarando-me profundamente. Nunca me senti tão vulnerável estando lúcida, era como se com aquele olhar ele pudesse conseguir tudo o que quisesse, como se apagasse toda e qualquer razão que pensasse em entrar na minha cabeça. Antes que pudesse me dar conta do que estava fazendo, ele já estava entre as minhas pernas, tirou o braço que me envolvia levemente da cintura e levantou, pegando o pote das minhas mãos. Por algum momento achei que ele estivesse apenas brincando, tentei segurar o pote com força, mas quando vi já estava nas mãos dele, que praticamente o arremessou para o outro lado da sala. Senti o meu coração quase gritar, o queArthur estava pretendendo com tudo aquilo? Encontrei a resposta quando o vi tirar a camisa que vestia e arremessar assim como fez com o sorvete. Então ele voltou a me encarar, com os olhos azuis em um tom mais escuro, pude ver o que ele queria só com aquele olhar. Puxei-o pelo pescoço e o acomodei entre as minhas pernas, senti a sua mão passear em minha coxa e depois pressioná-la. Continuei encarando-o e senti os nossos rostos se aproximarem, comecei a sentir a sua respiração ofegante bater em meus lábios. Vi seus olhos encararem a minha boca e fiz o mesmo com ele. Senti um prazer intenso, como se meu corpo estivesse sendo eletrocutado, cravei as minhas unhas em suas costas e ele tirou a mão que estava na minha coxa e a outra que estava apoiada no sofá, colocando as duas em minha cintura, puxando-me com desejo e um pouco de pressa. Ficamos colados, nossos narizes se encostaram. Nossas respirações se encontraram e nossas bocas já não conheciam limites, agora era só fazer acontecer.
— Droga! — sussurrei me afastando subitamente dele. Meu celular começou a tocar. Levantei e corri para a cozinha, onde ele estava, para atendê-lo. Ouvi Arthur bufar.
Era John, perguntando se eu poderia acompanhá-lo em um jantar no sábado. Filho da mãe, senti vontade de xingá-lo. Se ele imaginasse o que estragou, desejaria nunca ter nascido. Voltei para a sala cabisbaixa, Arthur já havia colocado a camisa e estava agachado juntando o pote de sorvete.
— Vou precisar de um pano, sua amiga não vai gostar de encontrar o piso assim — disse me olhando com um sorriso fraco e apontando para a quantidade de sorvete derramado e derretido fora do pote. Balancei a cabeça afirmando e voltei para a cozinha, peguei um pano e voltei. 
— Deixa que eu limpo,
 Arthur. Afinal, quem mora aqui sou eu, você é visita — agachei-me também, ficando ao seu lado. 
— Não, que é isso — ele falou me impedindo e puxando o pano da minha mão. — Eu apareci aqui sem pedir e ainda fui o responsável por isso — concentrou-se e começou a limpar.
Senti corar, estava com muita vergonha dele. Mas pensando bem, talvez nem devesse acontecer nada. Deve ter sido coisa do momento, afinalArthur nunca havia me dado sinais de querer mudar as coisas entre nós. Ajudei-o e limpamos tudo. Depois guardei o resto de sorvete no congelador, notei que ele estava sentado, olhando-me. Fingi não perceber e fechei a geladeira, voltando para a pia e lavando as nossas colheres. Aquele silêncio estava assustador. Até que quando estava secando as colheres, ele foi quebrado por um curto tempo. Não como eu queria, mas com uma musiquinha no mínimo irritante, deduzi que ele estava ligando o seu celular novamente. Depois guardei as colheres na gaveta, e enquanto fazia isso, pude ouvi-lo mexer nas teclas do aparelho. Estava com medo de me virar, mas já não tinha nada para inventar, para continuar sem encará-lo ou para não sentir vergonha de falar com ele. Sei que não foi culpa minha o celular ter tocado, mas me sentia dessa forma. Não queria ter estragado aquele momento. Se pudesse voltar atrás, teria feito o mesmo que ele, desligado o celular.
 
— Você nem estudou, hein? – ele finalmente quebrou o silêncio, e eu acordei de um transe. Virei-me para ele, mas olhei para a mesa, não conseguia mesmo encará-lo.
 
— É que, bom, eu ia estudar, mas você chegou! — menti e sorri fraco, encontrando os seus olhos me olhando como se quisesse me perguntar outra coisa, e não aquilo. Então ele sorriu mais fraco ainda do que eu e voltou a olhar para o celular em sua mão.
 
— Tenho que ir — levantou rapidamente, colocando o celular no bolso.
 
Caminhou em minha direção, fazendo as minhas pernas ficarem trêmulas. Então pegou uma mecha do meu cabelo e colocou atrás da minha orelha, senti meu rosto ficando roxo, de tão vermelho que deveria estar. Em seguida beijou a minha testa. Não foi um beijo tão terno como o primeiro — na testa — que ele me deu. Foi diferente, foi intenso. Acho que ele depositou todo o desejo que deveria estar sentindo ali. E pensar que ele poderia ter feito isso me beijando no lugar certo: na boca.
 
— Me leva até a porta? — disse logo depois de cessar o beijo e tirar a mão que se encontrava ainda naquela mecha, sorrindo pelo canto da boca. Ele estava tão sem graça quanto eu. Apenas assenti e fui atrás dele. Quando chegamos lá, fiquei segurando a porta entreaberta e vendo-o sair. Antes de descer o primeiro degrau, ele se virou e nossos olhares se encontraram novamente. Ficamos ali, daquele jeito, por pelo menos 50 segundos. Até ouvirmos um barulho de uma porta sendo batida com força, então ele sorriu e piscou pra mim. Sorri de volta, com o coração cada vez mais acelerado. Segui-o com os olhos até sumir de vista e fechei a porta.
O que aconteceu realmente? É o que a minha cabeça não cansa de perguntar. Voltei para o sofá e me cobri, deitando em seguida. Olhei para a televisão, mas nem vi o que estava passando, meus pensamentos estavam me entretendo mais. Por que agimos daquela forma? Por que tive que seduzi-lo? Mas ei, ele também me seduziu. Ele sabia onde tudo aquilo podia levar. Não somos mais crianças para fazer as coisas inconscientemente. Acho que fiquei daquele jeito pelo resto da tarde, apenas encarando o teto e tentando encontrar respostas perdidas em algum lugar no tempo. Quando dei por mim, Mel já estava chegando em casa, seu expediente havia terminado. Ela andou até onde estava e ficou me observando com uma cara engraçada.
— 25 centavos por cada pensamento seu! — ela riu. 
— Você ficaria bilionária — dei uma risada abafada e a olhei.
 
— Tudo bem?
 
— Não sei — desviei o olhar para a TV.
 
— Ah meu bom Deus do céu. O que houve agora? – ela me olhava preocupada, em seguida sentou-se na poltrona.
 
— O de sempre – encarei o edredom.
 
 Arthur? — apenas assenti. — Sabe o que eu acho? Que vocês dois deviam se agarrar logo e deixar de frescura, principalmente você — ela riu. Cocei a cabeça nervosa e ela percebeu. — AH MEU DEUS, AH MEU DEUS. O que que... — parou de falar e arregalou os olhos, levando uma das mãos à boca. 
— Não. Não transamos, mas posso dizer que — gesticulei aspas para o ar — ... nos agarramos — se a expressão dela era de surpresa, agora ela já estava com um sorriso provocativo.
 
— Finalmente! Tava começando a duvidar dos seus dotes conquistadores! — bateu palminhas e depois parou para refletir, voltando a falar. — Então por que você tá assim? Paradona?
 
— Nos agarramos, mas não nos beijamos, entende? — ela me olhou confusa.
 
— Não? — coçou a cabeça. — Como isso seria possível?
Contei parte por parte, ela me xingou — como costuma fazer sempre que cometo burrada — dizendo que já que percebi que ele havia desligado o celular, devia ter feito o mesmo. Ele deu uma grande pista, mesmo que inconscientemente de que planejava passar um pouquinho dos limites comigo. Senti-me tão idiota ao ouvir a Mel falar isso calmamente, por que eu não tinha pensado nisso, mesmo? Para a minha felicidade, ela engatou outro assunto, e ficamos conversando sobre o seu trabalho.

Créditos de blog: Mandy , Heart LuAr
Todos créditos reservados á: Fanfic Obsession


Alguém ai tem facebook? se tiver deixa o link aqui nos comentários que e add .. bjs

2 comentários:

  1. aaaaaaaah meu Deus eles são lindos d+, to louca pra saber quem é essa mlr e oq tem no celular do thur

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