quinta-feira, 30 de maio de 2013

June 15th


Capítulo 1.


Londres, 15 de junho de 2008. Mais um dia “normal”. Ou nem tanto. Estava um pouco frio e passei praticamente o dia todo embaixo do meu edredom. Na verdade tive que sair algumas vezes do “quentinho” porque a minha colega de quarto — e melhor amiga — forçava-me a procurar as bijuterias que ela tinha me emprestado e eu nem lembrava aonde tinha deixado. Mel ia sair à noite com um garoto que ela conheceu, não me recordo o nome dele... Mas ela parecia animada, e quando a vejo feliz, fico feliz também e acabo com as perguntas sobre o caráter, a família e etc, etc, etc. Não que eu seja a pessoa mais indicada a fazer esse tipo de perguntas... eu não sou o que se pode chamar de “garota normal”. Não completamente. Diferente de Mel, que se dá bem com seus pais, mas decidiu morar sozinha e ter a sua própria vida por sempre sonhar em ser independente, eu costumo rir com as conversas que temos, os planos que ela faz e tudo o que ela imagina que ainda está pra acontecer na vida dela. Às vezes, Mel joga todos os planos que tem para a sua carreira para cima de mim, eu sei que ela tenta me animar, convencer-me de que eu sou capaz de ter uma vida bem melhor do que essa que eu levo. Sempre odiei que as pessoas fizessem planos para o meu futuro, sempre fui muito reservada, mas quando é a Mel que planeja eu chego até a suspirar imaginando como seria bom se tudo aquilo desse certo, assim como ela narrava. Nem sei por que com ela me sinto assim, acho que é por saber que ela me aceita como eu sou, mas tenta me aconselhar para melhorar.
Certo, deixa eu falar de mim. Quem melhor do que eu pra me definir, não é? Meu nome é Lua, mas na minha profissão, prefiro ser chamada de Rachel. Não gosto de dar esse tipo de intimidade — se é que perto do que acontece ainda exista alguma falta de intimidade — à pessoas que eu nem ao menos conheço e nem pretendo conhecer melhor.
Saí de casa muito cedo, com mais ou menos 16 anos, tinha problemas sérios com os meus pais. Nunca fomos uma família normal. A minha mãe era egoísta demais para dar amor a alguém que a fez ter dores inesquecíveis no dia de nascer. E o meu pai... Ah, o meu pai. Meu pai é (ou era, não tenho mais notícias deles) alcoólatra, tinha noites em que ele chegava em casa destruindo tudo e até acertou objetos em mim algumas vezes. Eu aguentava tudo isso porque não me imaginava perambulando sozinha pelo mundo. Todo ser humano tem um limite. Mesmo que demore, um dia ele chega. E o dia chegou quando eu tinha completado 16 anos há menos de duas semanas. Era uma noite fria, quase como a de hoje, lembro-me como se fosse ontem. Fui a uma festa de umas pessoas populares da escola em que eu estudava; eles não eram bem o que se entende por boas companhias. Rolou de tudo ali. Bebidas, cigarros, sexo, rock n´roll e o principal: drogas. Apesar dos pais nada exemplares, sempre assisti muita televisão e via comerciais que realmente me educavam mais do que aqueles dois postes que me “criaram”. Droga para mim era como me atirar de um penhasco. Mas eu definitivamente não estava bem naquela noite. Tinha tido uma briga com a minha mãe mais cedo, aliás, eu não a chamava de mãe, sempre a chamei pelo seu nome... Oras, ela não merecia ter um tratamento diferente de outras pessoas. Bom, voltando ao ocorrido. Lembro que estava sentada na grama com duas amigas, bem, colegas. Uma delas abriu uma bolsa e tirou alguns cigarros de dentro. Olhei assustada, fiquei surpresa comigo mesma por estranhar aquilo, já que para a criação que eu tinha tido eu teria que ser no mínimo uma fumante compulsiva. Aquele definitivamente não era um cigarro normal. O que eu menos queria que acontecesse, aconteceu.
“Você quer?” — ela perguntou como se estivesse me oferecendo algum doce. Balancei a cabeça negativamente e notei a garota ao seu lado soltar um riso debochado, dizendo em seguida: “Experimenta, só uma vezinha não faz mal.” Parece idiota e que eu não tenho controle sobre o meu próprio corpo, mas talvez eu não tivesse mesmo, afinal acho que eu já limpava a casa e fazia comida para mim desde que era um bebê. Um filme começou a passar pela minha mente, revi todas as vezes que meu pai chegou alterado em casa e até me bateu, também revi a minha mãe gritar comigo e me negar um simples abraço, por dizer que eu não merecia. Depois lembrei da briga que tivemos mais cedo, e foi inconscientemente, sem que eu pudesse controlar mesmo que saíram três letrinhas decisivas da minha boca:
“Sim”. Experimentei finalmente, mas acho que fui com muita sede ao pote, como se diz popularmente. Assim que “pitei”, comecei a tossir, ouvi algumas risadas e alguém atrás de mim gritar algo como “iniciantes...”. Mas parece que à medida que eu tentava adaptar, ia começando a gostar daquilo. Nunca me senti tão relaxada em minha vida, como se eu não tivesse mais sobre os meus pés. Eu estava flutuando. Era uma sensação tão boa, nunca senti aquilo, nunca “mereci” sentir aquilo, como estava tão acostumada a ouvir. Senti como se estivesse em um mundo paralelo, longe de toda aquela realidade fria e nojenta em que eu vivia. Não sei como e nem a que horas cheguei em casa, só me lembro de ouvir àquela senhora que a vida insiste em dizer que se chama “mãe” gritar pelo meu pai e mostrar-lhe como eu estava. Esqueci de mencionar, mas também bebi bastante na festa. E perdi a virgindade, sim, com o capitão do time de futebol do colégio. Nem ao menos sabia o que estava havendo, estava tão dormente que nem conseguia abrir a boca para falar algo a eles. Lembro que “acordei para a vida” quando senti um tapa no rosto, nem sei ao certo quem me bateu, mas era só o que eles aproveitavam da condição de pais. Fui para o meu quarto e me tranquei. Acordei de manhã cedo, caía uma chuva fraca, a minha cabeça parecia não querer me deixar em paz. Tentei lembrar de alguma coisa, mas a cada momento que tentava, a sentia latejar com mais força. Levantei com dificuldade, senti uma dor imensa ao ficar em pé.
“Que diabos tinha acontecido?” — pensei. Andei quase que me arrastando e me olhei no espelho. Estava com olheiras terríveis, os cabelos bagunçados e uma parte do rosto roxa, provavelmente pelo tapa que levei ao chegar em casa. Senti-me incômoda com as minhas pernas, e bem, minhas “partes íntimas”. Foi quando olhei no espelho e vi uma mancha de sangue no fundo de minhas calças. A realidade me chamou como um soco em minha cabeça que já doía de forma infernal. Foi como se passasse um filme, quase o efeito da maconha, mas dessa vez eu não me sentia nada bem. Lembrei de alguns “flashes” de coisas que aconteceram durante a festa.
Lembrei que tinha dormido com um idiota que nunca me deu um “oi” sequer. Chorei, como nunca havia chorado na vida. Desejei por um momento que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo, isso, um pesadelo, eu ia acordar. Quando ouvi baterem na porta, tive a certeza de que não tinha sido o tão desejado pesadelo, mas tudo estava acontecendo. Nem ao menos respondi. Corri para o banheiro e me tranquei, sentei no vaso e abracei os meus joelhos, chorava como uma criança.
Ouvi uma voz feminina adentrando o meu quarto, provavelmente era a minha mãe, mas ela conversava com outra mulher, não quis saber quem era, só queria ter o meu momento solitário e colocar os meus pensamentos em ordem. Enquanto chorava, óbvio.
Tomei um banho demorado, esfreguei a esponja em mim com certa força, como se dessa forma fosse conseguir apagar tudo o que tinha acontecido. Minhas lágrimas se confundiam com a água do chuveiro e minha pele estava vermelha, devido à força que eu estava fazendo. Quando voltei para o meu quarto e troquei de roupa, vi meu pai adentrar o ambiente, olhando para mim como se eu fosse uma aberração. Não senti que era justo, ele não tinha o direito de me olhar daquela forma! Aquilo pareceu me maltratar mais ainda. Ignorei a sua presença e sentei na cama, escovando os meus longos cabelos. Ele se sentou ao meu lado, senti as minhas pernas tremerem com um ritmo que acho até que o fez perceber o quanto a sua presença me incomodava. Ele apenas me encarou e disse:
“Se você tiver engravidado, pode arrumar as suas coisas e sumir da minha casa. Já tenho trabalho demais tendo que alimentar você, sua mãe não tem um dia feliz desde que você cresceu e se tornou... isso.” — Quando ele falou esse “isso”, senti uma vontade imensa de estapear o seu peito, quem ele pensava que era para me chamar de “ISSO”? Respirei fundo, engoli o choro, não o daria aquele orgulho. E então ele continuou:
“Não vou alimentar mais um ser abominável que nem ao menos sabemos quem deu os espermas para que se formasse” — senti como se levasse uma facada. Notei a minha mãe nos observar encostada na porta, ela parecia concordar com cada palavra do meu pai, posso jurar que a vi dar um sorriso cínico quando ele falou a última frase. Para a minha felicidade, era a última frase, de fato. Ele se levantou e vi a minha mãe o olhar como se dissesse “estou orgulhosa de você”.
Ela me encarou e eu quis mostrar-lhe o dedo do meio, mas me segurei e desviei o olhar. Cada dia passou como uma eternidade aquela semana, aquele mês. Aconteceu o que eu mais tive medo. A minha menstruação havia atrasado. Não conseguia mais ir à aula desde o infeliz acontecimento, não tinha cara para olhar para aquelas pessoas. Sentia nojo de todos ali, e o principal: como ia encarar o cara que tirou a minha virgindade e talvez tivesse deixado uma semente em mim?
“Maldito” — eu resmungava a cada vez que ele me vinha em mente. Sei que devo ter dado liberdade a ele, já que eu estava bastante vulnerável com as coisas que havia ingerido, mas nunca fui com a cara dele e nem ele com a minha. Procurei a minha vizinha, não aguentava mais aquele desespero, aquele medo de tudo o que o meu pai disse acontecer. Ela segurou a minha mão, me olhou nos olhos como se fosse conseguir me dar forças e disse “Nós vamos à farmácia, vamos descobrir o que está ocorrendo com você, essas coisas acontecem! Nem toda mulher é regular” — senti um frio na espinha quando ela disse isso. Eu era regular, não sei se herdei da minha mãe, geralmente as meninas da minha idade menstruavam de três em três meses ou no começo do ano e de novo só no final. Mas eu não, sempre estive em dia. Sabia que não vinha coisa boa ali.
A minha vizinha se chamava Carol, ela era dois anos mais velha do que eu, mas costumávamos conversar bastante. Acho até que a Carol que merecia ser chamada de “mãe”, praticamente tudo o que eu sei sobre a vida hoje em dia aprendi com ela. Carol e sua família sabiam tudo o que acontecia em minha casa, afinal as nossas residências eram coladas... Eu até que gostava disso, pois isso os tornava acolhedores comigo, nunca gostei que sentissem pena de mim, mas não vou negar que gostava de me sentir acolhida, bem-vinda em algum lar. E era assim que eles me faziam sentir.
Continuando... Fomos à farmácia e ela me comprou o teste, fomos direto para a sua casa, onde ela me deu passe livre para o banheiro e fiz o procedimento assim como indicava na bula. Depois esperamos o tempo certo para que o recipiente praticamente desse o resultado. Não quis olhar para ele, foram os minutos mais longos da minha vida.
“Pronto, tá na hora” — ouvi Carol dizer se aproximando dele.
Meu coração praticamente saiu pela boca e eu já não sentia as minhas pernas. Pedi para que ela olhasse, ela negou, pois disse que não conseguiria me dar a notícia se desse positivo. A abracei e decidi ir em frente. Tudo passou tão rápido pela minha cabeça, as possibilidades pareciam querer me arremessar no chão. Engoli seco e olhei. Não quis acreditar naquilo que os meus olhos viam. Tudo apareceu como descrito na bula. Reli 50 vezes, mas estava tudo certo. Virei para Carol e só lembro de cair chorando em seus braços. Deu positivo. Eu tinha um “ser abominável que nem ao menos sabemos quem deu os espermas para que se formasse” dentro de mim, como o meu pai disse.
Ela tentou me confortar, dizendo que esses testes podem dar errado, sempre tem chance de estar errado, mas meu sexto sentido me dizia que nunca algo estivera tão certo. Refiz o teste todos os dias daquela semana, todos deram positivo. Não tinha cara para olhar para os meus pais. Então em um momento de total insanidade, medo e não sei mais nem o que se passava por mim, simplesmente aprontei as malas e saí de madrugada sem que ninguém me visse.
Escrevi uma carta e a empurrei pela fresta embaixo da porta da casa da família de Carol. Sentiria falta deles, eu sabia. Então os disse que estava indo embora, claro, na carta. Era covarde demais para encará-los naquele momento, sabia que eles me ofereceriam para ficar lá, mas eu precisava sumir dali, precisava passar um bom tempo sem ver meus pais. Precisava passar um bom tempo sem viver aquela vida. Saí como uma pessoa perdida pelas ruas de Bolton, cidade em que morávamos. Eu nasci lá. Nunca gostei de viver ali, não pela cidade, que era muito bonita e organizada, mas pela vida que eu levava lá. Não parecia certo. Então fui andando apenas com uma mochila nas costas, até o acostamento da estrada principal. Sentei em minha mochila e fiquei esperando algum carro passar por ali. Era a madrugada mais escura que eu havia visto. Não tinha uma estrela sequer no céu, tudo o que me rodeava era o barulho de grilos que insistiam em me fazer companhia. Então encarei os meus pés por algumas horas, juro que pensei em voltar, mas quando imaginei o que me esperava, me conformei com a situação em que estava.
Meus pais me expulsariam de casa de qualquer forma. Então eu os poupei de ter esse trabalho. Estava quase dormindo sentada quando avistei faróis e ouvi um barulho como o de um caminhão se aproximando. Fiquei de pé e fiz gesto de carona. Acho que eu, apesar de tudo, estava com sorte. Ele parou e abriu a porta. Perguntei para onde ia, o senhor de barba branca, gordo (que eu internamente apelidei de Papai Noel) e com uma cara de “boa pessoa” respondeu que estava indo para Londres. Senti meu coração praticamente falar, não pensei duas vezes e entrei. Antes que eu perguntasse, ele se apresentou como Leopold, disse que vinha de uma cidade pequena do norte da Inglaterra e tinha dois filhos, mas a mãe deles não o deixava vê-los por problemas que tiveram no passado. Leopold parecia realmente aflito por estar naquela situação, juro que vi uma lágrima teimosa escapar de seus olhos enquanto ele contava. Aquilo me deixou tão triste pelo pobre velhinho... Lembrei que meus pais sempre tiveram a oportunidade de estar com sua única filha e nunca valorizaram tal chance... Enquanto aquele homem, sentado ao meu lado dirigindo um caminhão estava com o coração em pedaços por não poder estar com os seus filhos. Depois, como se sentisse como eu estava, ele me olhou pelo canto do olho e perguntou se eu estava fugindo. Não consegui mentir, e também não consegui segurar o choro, lembrei de tudo que havia me feito chegar aonde cheguei. Leopold segurou o volante com uma mão e com a outra acariciou os meus cabelos. Senti uma calma invadir o peito, apenas sorri fraco para ele e encostei a cabeça no banco, tentando dormir. Apreciei o fato de ele me deixar dormir e não fazer mais perguntas, sim, eu precisava conversar com alguém, mas não naquele momento.
Senti dificuldade para abrir os olhos, certamente devido à intensa claridade que entrava pela janela do veículo. Por algum instante eu havia me esquecido onde estava, com quem estava e o que estava fazendo, então abri os olhos depressa, ignorando toda a sensação ruim e olhei para o lado assustada. “Você deu uma boa descansada” — ouvi uma voz rouca falar. Era Leopold, e naquele momento pude responder a todas as questões em minha mente.
“Que horas são?” — perguntei esperando ouvir algo como 7 h da manhã. Ele sorriu com ternura e olhou o relógio que se encontrava em seu braço esquerdo.
“Hora do almoço!” — respondeu sorrindo e completou — “Está com fome?” Eu não sabia se eu estava com fome, muito menos como consegui dormir até àquela hora. Apenas balancei a cabeça afirmando e dentro de alguns minutos o vi encostar o caminhão em um restaurante, que tinha impressão de ser barato, aqueles próprios para quem está de passagem.
Peguei a mochila que se encontrava perto de meus pés e coloquei nas costas, tentei arrumar o cabelo, mas não tive muito resultado. Desci estranhando tudo, nunca havia estado em Londres. Vi Leopold apontar para a entrada e segui a sua indicação. Era um lugar razoavelmente confortável, mas me assustei ao só encontrar homens comendo, certamente porque todos, assim como Leopold, eram caminhoneiros.
“Aqui” — o velhinho disse puxando uma cadeira para que eu sentasse em uma mesa encostada na parede, depois sentou-se de frente para mim. “O que vai pedir?” — perguntou quando me viu analisar o cardápio. “O prato do dia” — respondi ainda com os olhos fixos no livrinho. O ouvi assobiar ou algo do tipo chamando uma senhora, que devia ser a dona do local e também trabalhava por ali. Ele fez os pedidos e minha barriga realmente começou a roncar, fiquei um pouco encolhida, tinha vergonha só em pensar que alguém poderia estar ouvindo aquilo.
“Cansada?” — me assustei ao ouvir Leopold perguntar, foi como se ele me acordasse de um devaneio.
“Um pouco” — respondi com um sorriso que se encontrava apenas no canto da boca. Não demorou muito e os pedidos chegaram, era uma quantidade de comida espantosa para o preço tão baixo, e muito gostosa, por sinal. Não dei conta de comer tudo, o velhinho levantou a cabeça e riu, disse alguma coisa como se eu fosse fraca para estar comendo ali. Ri da situação e olhei em volta, realmente, todas as pessoas ali pareciam repetir o mesmo prato que eu havia até afastado de mim por não aguentar mais nenhuma colherada. Leopold se ofereceu para pagar, mas eu lembrei que antes de fugir peguei algumas pratas que estavam em cima da mesa, certamente minha mãe as esqueceu de guardar. Paguei a minha parte e saímos, voltei ao caminhão e seguimos para o centro da cidade. Fiquei deslumbrada com a beleza de Londres, acho que eu cheguei até a fazer aquela cara de pateta de quando você é criança e nunca viu uma bicicleta na vida.
“Bonita, não?” — novamente acordei de um devaneio com Leopold falando isso. Ele havia percebido a minha surpresa com todo aquele ambiente. Era tudo muito novo. Sussurrei algo como “Uhum” e sorri. Fomos a algum lugar onde ele teria que depositar as encomendas, nesse momento pensei em como eu seguiria a minha vida dali para frente. Por segundos eu até cheguei a esquecer tudo o que tinha acontecido no mês anterior. Então antes que eu parasse para pensar na minha “super ideia”, desci disfarçadamente do caminhão e bati a porta com muito cuidado para que não fizesse muito barulho. Avistei Leopold conversando com um rapaz, que devia trabalhar ali, e corri. Mas corri muito, sem nem saber onde estava. Não sei explicar como fui parar em uma das avenidas mais movimentadas de Londres, apenas lembro de andar olhando abobalhada cada grande prédio que meus olhos conseguiam enxergar. E foi isso que eu fiz a tarde toda: andar, conhecer, me surpreender. Já estava anoitecendo e eu sentei em uma calçada, aquela realidade começou a me assustar. Mesmo que eu detestasse os meus pais e aquela vida medíocre, o que seria de mim ali, com 16 anos, sentada em uma calçada?
Vi uma movimentação estranha e decidi colocar a minha mochila atrás de mim, para que ninguém tentasse me assaltar. Depois quando as pessoas se aproximaram, pude ver que eram três mulheres, com umas vestimentas um tanto quanto depravadas. As analisei por algum tempo, já tinha entendido o que estava acontecendo. E não me pergunte de onde, mas naquele momento eu encontrei a resposta para todas as minhas dúvidas. Aproximei-me de uma delas, que me olhou dos pés à cabeça, mas foi até simpática. Perguntei quanto elas ganhavam por programa, elas riram, as três, e me encararam, olhando-me de novo dos pés à cabeça, como se dissessem que eu não servia para aquele tipo de “serviço”. Eu entendi o motivo delas pensarem isso, estava com um agasalho, calça jeans e um tênis, vestida como o que eu era: uma adolescente. Ouvi uma outra perguntar que roupas eu tinha na mochila, sentamos e eu fiquei no meio, abri a bolsa e peguei alguns pares de peças que eu tinha ali. Elas olhavam peça por peça e depois me olhavam, como se eu fosse um “projeto”. “Essa aqui”, ouvi a primeira moça com quem eu conversei falar. A olhei e olhei para as roupas que ela segurava. Era uma saia que ia até o joelho e uma blusinha que era bastante apertada.
"Toma, veste isso”, ela falou me dando as peças e apontando para um beco. Senti um vento gelado tomar conta do local quando tirei o agasalho para me vestir. Acho que eu nunca havia trocado de roupa tão devagar. Saí e elas estavam sorrindo e aplaudindo, como se eu tivesse saindo dos bastidores de um programa de televisão, achei a cena idiota e sorri de volta. A mais alta delas disse que apenas faltavam uns ajustes, e dobrou a minha saia até ela se transformar praticamente em uma calcinha e prendeu com grampos que ela usava na cabeça. Vi vários carros de luxo e uns lixos encostarem lá para pegá-las, confesso que a cada veículo que eu via dar seta para encostar, me escondia, ficando atrás das demais.
O problema se intensificou quando as três haviam saído para fazer programa. Antes de a última deixar o lugar, ela me explicou como tudo funcionava, quanto eu deveria cobrar e como devia agir, também me entregou alguns preservativos, disse para eu não me esquecer de usar, e saiu. Fiquei me abraçando para tentar aliviar o frio que sentia, coisa que não deu muito resultado, agradeci mentalmente a cada carro que ignorava a minha presença ali. Sabia que precisava do dinheiro, para ter algum lugar para morar e conseguir comer, mas qual é, eu tinha 16 anos, aquilo me assustava de forma mortal. Foi quando vi um carro parar, pude ver que era um homem velho, aparentemente tinha uns 60 anos. Ele sorriu com uma cara de tarado que fez meu estômago embrulhar e me chamou. Respirei fundo, pensei em desistir, mas tudo o que eu passei me veio à cabeça, como se me empurrasse para dentro daquele carro.
Coloquei a mochila nas costas e entrei, ele mesmo fechou a porta, fazendo questão de encostar seu braço nas minhas pernas, mas depois ficou pior, pois ele apalpou a minha coxa, senti uma lágrima sair de um dos meus olhos naquele momento. Eu estava me vendendo, era a única coisa que eu conseguia pensar. Chegamos a um quarto de motel barato, tudo ocorreu como a última moça me explicou, tentei seguir à risca todas as orientações dela. Claro que meu coração parecia gritar para que eu desse um chute ou um tiro naquele velho sem vergonha que devia ter uma esposa e filhos em casa, mas a razão era mais forte.
“Já estou aqui mesmo” — tentava pensar para que achasse a conformação. Cada toque daquele homem parecia ser um tapa que eu levava em cada parte do corpo, como aqueles que costumava levar em casa. Eu só havia transado uma vez na vida, e nem tinha muitas lembranças daquele momento. A minha segunda vez estava sendo com um sujeito que eu nunca havia visto, que estava cheirando a álcool e que certamente usava dentadura. Ele me falava umas palavras chulas, que eu fazia questão de bloquear os ouvidos para que elas entrassem e saíssem assim que chegassem lá. Fechei os olhos com força na hora que senti a minha intimidade ser pressionada, doía como se fosse a primeira vez, mas ele não teve nenhum cuidado, nenhum mesmo, foi com força, horrivelmente doloroso, a cada pressão que ele fazia era um choro sufocado que saía de mim, desejei por praticamente a relação inteira que ele broxasse, o que não aconteceu. Depois pareceu que apaguei, só voltei a encarar a dura realidade quando o vi jogar algumas notas de dinheiro em cima de mim.
Eram várias, certamente ali estava o meu sustento do mês inteiro. E realmente estava. Depois que ele saiu, levantei e me vesti. Me sentia nojenta. Olhei para o espelho, mas me recusei a ficar na frente dele. Lembrei então de que havia um ser dentro de mim. O que eu estava fazendo? Fiquei tão traumatizada com relações sexuais que só voltei para a calçada um mês depois. Tinha conseguido um lugar para morar, um lugar horrível, diga-se de passagem, mas pelo menos servia de alguma coisa. Das outras vezes fui mais corajosa, como posso dizer, mais “fria”. Tudo o que eu estava vivendo parecia virar rotina, mas eu sabia que não tinha muito futuro ali, já que daqui a alguns meses a minha barriga estaria crescendo e eu estaria certamente na calçada, mas não fazendo programa, e sim pedindo esmola, já que acreditava que nenhum homem iria ter fantasias com uma grávida.
E assim foi pelos meses seguintes, até eu completar o que eu acreditava serem cinco meses de gestação. Aquele dia não saiu da minha cabeça até hoje. Antes de ir para a calçada, estava me aprontando, sabia que aquele seria um dos meus últimos programas, já que a minha barriga estava querendo aparecer. Comecei a sentir fortes contrações, deitei na minha cama e fiquei encolhida desejando que aquilo tudo passasse logo para eu poder garantir mais um tempo de comida e dormindo em um lugar até confortável. Mas não passou. Não sei de onde tirei forças, mas levantei da cama esbarrando e me segurando na parede e assim segui até o banheiro. Sentei no vaso e urinei, mas não foi uma urina normal, senti uma pedra sair de dentro de mim, acho que meu grito podia ser escutado na vizinhança inteira. Foi então que ouvi a porta do meu quarto ser arrombada, era a dona da pensão e seu filho.
Eles me viram ali, sentada, gritando e chorando, com as mãos cheias de sangue. Depois daquilo só lembro de ter acordado em um hospital, e aquela mulher segurando a minha mão e dizendo que eu havia perdido a criança que esperava. Não quero parecer desumana, ou egoísta como aquela “mãe” que tanto critiquei, mas foi melhor assim. Eu não teria como sustentar uma criança, se fosse para ela vir ao mundo e passar fome, pensei ser melhor que ela nem viesse. O que eu fazia de errado para a minha vida não seria justo ser refletido na vida de um ser inocente. Depois que recebi alta voltei para as calçadas, e assim foi por mais dois anos, nas calçadas e morando naquele muquifo. Foi então que um homem aparentemente rico me pediu depois de um programa para que eu fosse sua dama de companhia em um importante jantar. Eu tinha 18 anos, já estava mais adaptada à vida que levava. Aceitei e ele me levou no outro dia de tarde para fazer compras, me deu o mais belo vestido que já vira em toda a vida. Sapatos, pulseiras, colares, tudo. Transformou-me em uma perfeita “dama”. Ele era bom para mim, fez programas comigo inúmeras vezes, era solteiro, parecia ter por volta de 40 anos. Então me sentia muito à vontade com aquele sujeito, tínhamos certa “intimidade”. Naquela noite entrei em um dos mais belos restaurantes de Londres, que antes só o via de longe, não tinha condições de jantar lá, nem financeiras e nem tinha trajes para isso. Havia inúmeros granfinos ali, alguns dançavam no salão próprio para isso ao som de canções que faziam sucesso nos anos 70, 80 e 90. John, como se chamava o homem a quem eu estava acompanhando, puxou uma cadeira para que eu me sentasse, mas antes me apresentou às pessoas presentes na mesa. Uma delas era Mel, a minha atual melhor amiga.
O jantar estava sendo oferecido por seus pais, que eram donos de uma multinacional, ainda são. Ela foi adorável comigo, e até me chamou para ir ao banheiro com ela. Mel me passou confiança desde a primeira conversa que tivemos... A achei engraçada, ela era meio hiperativa, então a vi abrir uma das portinhas de sanitários e sentar no vaso ainda com a tampa fechada.
“Diga-me, Rachel” — ela começou. — “O que você faz da vida?”.
Gelei, profundamente. Se eu dissesse o que eu realmente era ela iria me tratar incrivelmente mal, mas não sei de onde saiu sem que eu percebesse:
“Dama de companhia”. Ela continuou antes que eu pretendesse continuar...
“Vulgo: Prostituta?”. Não tive como não rir nesse momento. Ela me olhava incrédula, mas depois soltou uma gargalhada. Fiquei sem graça depois e confirmei com a cabeça. “Eu imaginava” — ela me surpreendeu. O que é isso? Eu realmente tenho cara da profissão? Parece que ela ouviu os meus pensamentos. “Não que você tenha cara, longe disso... mas é que em cada jantar o John traz mulheres diferentes, geralmente elas têm cara mesmo, porque usam maquiagens pesadas e de muito mau gosto. Diferente de você, que me parece naturalmente uma dama. Só que por estar com o John, eu já desconfiei.”
UFA! Aquela loira me surpreendeu! Acho que até mais do que eu surpreenderia ela. Afinal, não é comum uma garota da alta sociedade tratar bem uma prostituta.
“E... bem, meu nome...” — prossegui.
“O que tem seu nome?” — ela me olhou confusa. “Não é Rachel, chamo-me Lua.” Vi-a levar uma das mãos à boca e arregalar os olhos.
“Nossa, então você tem tipo, uma personagem?” — ri alto com a definição que ela deu para a minha situação, e assenti com a cabeça. Conversamos bastante até anunciarem o jantar em um microfone, afinal eu tinha que acompanhar o John. Mel me encheu de perguntas, e eu fiz o mesmo. A minha vida era surpresa para ela e a dela era mais surpresa ainda para mim. Foi então que a louca, sem nem me conhecer direito, me chamou para dividir apartamento com ela.
“O QUÊ?” — perguntei achando que tinha escutado errado.
“É isso mesmo! Não é nada muito caro, não precisa se preocupar. Quero sair da casa dos meus pais, já tenho praticamente a vida feita, tenho um emprego bem longe da multinacional deles e quero definitivamente viver a minha vida.” — ela deu mais informações sobre o local que estava olhando para morar e ainda me disse que não se importava que eu continuasse trabalhando, bem, como prostituta. Voltamos para o salão, havia ficado de dar resposta para ela depois, ela me passou o seu número do celular e eu fiz o mesmo. Quando a noite acabou, estava cansada, com os pés me matando, John pareceu perceber e apenas me levou até em “casa”. Agradeceu a noite que tivemos e disse que me ligaria depois.
Aquela não foi mais uma noite normal para mim. As palavras de Mel pareciam não me deixar dormir. Pensar em deixar aquela pensão era quase que um sonho. E tudo o que ela havia dito do apartamento me deixou ainda mais animada, daria para pagar tranquilamente, ainda mais porque John me deu uma quantia que daria para pagar com folga três meses de aluguel adiantados no lugar onde ela havia indicado. Liguei para Mel na mesma hora, era madrugada, mas eu não quis saber. Conversamos por cerca de uma hora, claro, ela me ligou de volta, eu não tinha créditos para tanto. Mel parecia mais animada até do que eu mesma. No outro dia, pela manhã, fechei a minha conta na pensão, respirei fundo e peguei o metrô. Nunca mais tinha lembrado de sentir aquela felicidade, o coração bater sem estar sufocado, era uma nova vida que eu estava começando. Eu teria finalmente uma amiga, depois de tanto tempo. Não que eu não tivesse conhecido boas garotas na calçada, mas fazer laços de amizade já é muito diferente. Deu tudo certo para morarmos juntas, já estamos dividindo este apartamento há dois anos, sim, agora tenho 20. E me encontro aqui, no dia 15 de junho. Continuo nas calçadas, mas também voltei a estudar. Estou quase concluindo o colegial em um curso intensivo, que toma as minhas manhãs. Posso dizer que tenho uma vida normal, bem mais alegre e diferente daquela que eu levava há exatos quatro anos.

E alguma coisa hoje mudou completamente tudo o que eu achei que estava convencida. Estava sentada, esperando algum carro parar, tem dias que eu realmente tenho preguiça de ficar esperando em pé, confesso que às vezes até me escondo. Mas só tinha sobrado eu praticamente, todas as outras já tinham saído. Então eu vejo um carro que aparentemente não é dos mais populares, já devo tê-lo visto em um daqueles comerciais de carros de luxo. Então ele dá a seta e encosta perto de onde eu estava sentada. Vi o vidro do banco do carona ser abaixado e um rapaz, muito novo por sinal, novo no sentido de ter a mesma idade que eu ou um pouco mais, o que me chamou realmente atenção, já que geralmente são velhos tarados com frustrações sexuais que param ali. Ele me chamou. Levantei com receio, será que ele estava perdido no caminho? Porque a cada passo que eu dava, podia notar o quanto ele era lindo e jovem, mas então por que ele procuraria uma garota de programa? Cheguei à porta do carro, me abaixei para ficar na altura da janela e coloquei a cabeça para o lado de dentro.
— Em que posso ajudar? — perguntei de cínica, porque eu sei pra quê eu sirvo.
— Pode ficar comigo até às nove? — ele perguntou e eu pude sentir um cheiro de álcool.
Meu Deus, como ele era lindo. Tinha a pele branca e aparentemente suave, seus olhos tinham um tom azul que eu jamais havia visto, eram hipnotizantes e me fizeram nem conseguir responder com palavras, apenas assenti com a cabeça e entrei no carro. Ele foi o trajeto inteiro calado, enquanto eu olhava cada parte do carro, aquilo estava me impressionando, devia ser realmente um carro muito caro.
— Um dia eu deixo você dirigir — ele falou dando uma risada marota em seguida, se não fosse por estarmos no meio do trânsito, acho que teria saído loucamente do veículo de tão envergonhada que fiquei. Ele realmente percebeu que eu estava literalmente “babando” pelo seu carro. Sorri sem graça e soltei um “desculpe”, o fazendo balançar a cabeça como que dizendo para eu deixar pra lá. Outra coisa me chamou atenção, além do carro e da boa pinta daquele rapaz: o percurso. Ele não me levou para aqueles motéis baratos de beira de estrada, ele me levou para um hotel aparentemente caro e movimentado. Entramos na garagem e o ouvi dizer “Vamos pelo elevador de serviço, não vai ser legal você aparecer no lobby nesses trajes...” — ele sorriu e eu o encarei abobalhada, não conseguia desviar a atenção de seu rosto perfeito. Então o segui e fomos pelo elevador que se encontrava um pouco distante de onde ele havia deixado o carro. Entramos e o vi pressionar o botão “5”, fomos parando de andar em andar, e a cada parada eu rezava para que ninguém entrasse, estava realmente com vergonha de estar vestida daquela forma e ainda mais ao lado de um homem tão bonito, sabia que o deixaria constrangido também. Eis que quanto mais eu rezo, mais assombração aparece: quando o elevador parou no 4º andar, um casal de velhinhos o adentrou, pude sentir os olhos da senhora viajarem de mim para o seu marido, como se quisesse o pegar no ato, me olhando. Ouvi o rapaz que estava comigo soltar um riso abafado, percebi que ele havia entendido o que se passava. Finalmente paramos no 5º andar, e quando fomos saindo o vi acenar para os velhinhos e em seguida ele segurou a minha mão, senti vontade de matá-lo, por tanta vergonha que estava sentindo. Mas acabei deixando escapar uma risada por ver o quão brincalhão ele é, assim que a porta do elevador foi novamente fechada, ele soltou a minha mão e me pediu que esperasse para achar as suas chaves.
— Tudo bem — disse prestando atenção desde o teto até o chão do andar em que estávamos. Era tudo muito bem decorado, o teto era espelhado e havia um lustre assustador de tão lindo no meio do corredor, o piso era de carpete vermelho, e as paredes tinham um tom marfim com detalhes de madeira.
— Terra chamando — olhei-o com mais vergonha ainda quando me acordou do transe e o vi segurando a porta do quarto, já dentro do lugar, então pedi licença e entrei. O ouvi trancar a porta depois que passei, mas estava mais preocupada em admirar a beleza daquele lugar, o quarto era igual aqueles que vemos em filmes americanos de presidentes e coisas do tipo. — Você ainda não viu nada — ele disse bem perto do meu ouvido esquerdo, me fazendo dar um pulo disfarçado e virar-me de frente para ele. Nos encaramos um pouco, eu tímida pela beleza que ele tinha e ele acho que por não saber por onde começar. Já tive muitos clientes assim, que ficavam me olhando, como que pedindo permissão para colocar as mãos em mim. Não vou mentir, prefiro quando as coisas ocorrem dessa forma, porque consigo esquecer durante o programa o que eu realmente estou fazendo. Mas esse garoto, ele definitivamente não é como os outros. Vou falar um pouco mais dele. Seus cabelos são levemente ondulados, tem alguns cachos e são um pouco bagunçados, mas um bagunçado atraente. Quando o estava encarando, tive a impressão de conhecer aquele rosto, mas afastei esse pensamento com a ideia de que talvez o tenha visto em algum catálogo de cuecas da Calvin Klein, a Mel adora levar essas coisas para casa.
Voltando à situação, o lindo rapaz me deixou encarando a porta e foi tratando de tirar a camisa social preta que vestia, em seguida as calças, ficando apenas de boxers do Barney, o que me fez rir. Ele se deitou naquela cama aparentemente confortável e com um controle remoto fez a televisão aparecer de dentro de um balcão, confesso que quase gritei de susto, nunca tinha visto uma coisa daquelas. Eu devia estar com a cara mais retardada possível, admirando cada ponto naquele ambiente.
— Você não vai vir? — ele perguntou batendo com uma das mãos no lado livre daquela cama, me chamando para sentar. Caminhei devagar, e antes de sentar onde ele mandou, apenas tirei os sapatos. — Qual o seu nome? — perguntou enquanto eu ainda estava de costas, tirando os sapatos. Me assustei com aquela pergunta, dificilmente os clientes perguntam essas coisas, eles não costumam se importar. Sentei-me e olhei para ele com um olhar de dúvida. — Não sabe o seu próprio nome? — aparentemente ele fez a mesma cara que eu estava fazendo, só que seguida de uma risada. Sorri de volta, não consegui me controlar.
— É Rachel, e o seu? — senti vontade de esmurrar a minha própria boca, desde quando eu tenho o direito de saber o nome dos meus clientes? Eles só devem falar se quiserem! Já quis emendar um “desculpe”, mas antes de eu dizer isso ele falou por cima.
— Tem certeza que você não sabe o meu nome? — ele me olhou incrédulo. Qual é? Por acaso eu tenho que ser vidente?
— Juro que não, e até queria te pedir desculpa por perguntar, não tenho esse direito. — falei evitando transtornos. O ouvi gargalhar, mas que diabos esse menino tem?
— Pedir desculpas por perguntar o meu nome foi a coisa mais engraçada que já ouvi nos últimos tempos.
— É, mas você ainda não disse! — maldita boca a minha, o que eu tinha que retrucar? Ele riu mais alto ainda e eu senti vontade de dar um soco naqueles belos dentes incrivelmente brancos que formavam o sorriso masculino mais bonito que eu já vi na vida.
— Gostei de você. Meu nome é Arthur, e eu assumo que fico feliz por você não saber quem eu sou.— Oi? Ele bateu a cabeça quando nasceu? Por que ele estava enrolando tanto? Os garotos da idade dele geralmente são os mais rápidos, mal entram nos quartos e já estão tentando tirar a minha roupa. E ele estava ali, com uma boxer infantil, um corpo extremamente sexy e o rosto mais perfeito do universo, rindo de mim. O que diabos estava acontecendo comigo também? Por que eu estava desejando que ele me tocasse? Se eu sentia tédio a cada cliente que eu encontrava? Sexo para mim é como ler jornal, tenho todo dia, mas nem sempre é interessante. Ok, digamos que eu nunca tive um cliente assim tão lindo. Claro que eu tinha meus dias de boa clientela, mas nunca um garoto tão novo e tão, tão, tão... perfeito. — Então Rachel, o que você gosta de fazer nos dias de folga? — ele falou cutucando o controle remoto procurando algum programa interessante na TV.
— Ahm, desculpe ser indelicada, mas... Te interessa mesmo? — MALDITA BOCA, MAL—DI—TA. Para a minha sorte ele nem desviou o olhar da TV, apenas riu fraco e disse “Sim.” QUE PROBLEMA AQUELE MOLEQUE TEM? Ele estava querendo me provocar? Só podia. Aí então comecei a imaginar que talvez ele estivesse esperando uns amigos pra fazer aquelas coisas sonhados pelos homens e os amigos haviam se atrasado. Resolvi fazer o jogo dele. — Não que eu tenha muito tempo de folga, mas quando tenho gosto simplesmente de ver filmes antigos. — aí então ele se virou para mim, que ainda estava sentada exatamente da mesma forma que no início do diálogo.
— Deita aí — o filho da mãe disse. Deitei-me ao seu lado, fiquei encarando o teto, e além do cheiro de álcool senti um perfume muito bom. Geralmente os clientes parecem beber o perfume, tornando um cheiro insuportável que me faz querer colocar as tripas para fora. Mas Arthur não, parece que ele tinha tudo na medida certa. Continuei encarando o teto e sentindo aquele perfume suave, porém muito masculino. — Por que você tá encarando o teto? — o ouvi perguntar sentindo seu par de olhos azuis me olhando.
— Estou esperando! — falei impaciente.
— Esperando o quê? 'Tá aí! — agora eu que o encarei, será que ele tinha ideia das coisas que falava? Então ele prosseguiu. — Perguntei o que você gosta de fazer nas horas vagas, você disse que gosta de ver filmes antigos, aí está um belo filme antigo! — só aí encontrei algum nexo em suas palavras. Olhei para a TV e estava passando “Romeu e Julieta”, já na versão com Leonardo Di Caprio. Amo aquele filme, agradeci internamente aArthur, por me deixar assistir a minha parte favorita. — Nossa, você gosta mesmo, hein? Nem pisca. — ele disse estalando os dedos na frente dos meus olhos. Sorri sem graça e ele já foi falando. — Tô brincando, pode assistir aí, vou tomar um banho e pedir algo pra gente comer, tô com fome.
— Como quiser — soltei sorrindo para ele. O ouvi dizer mais alguma coisa que não me lembro bem o que era, pois estava observando a cena dos lençóis brancos. Ouvi Arthur cantar no chuveiro, ri sozinha, aquele garoto é louco mesmo. Enquanto ele cantava, pude notar a sua voz, ele era realmente afinado, e eu pude jurar que já havia escutado aquela voz antes. Mas parei de pensar nisso quando o vi sair do banheiro apenas de toalha em volta da cintura, bagunçando os cabelos molhados que jogavam água por onde ele passava. Ele se aproximou.
— Escolhe alguma coisa que você goste! — Arthur disse me dando um cardápio. Não conhecia a maioria das comidas que vi ali, e acho que expressei isso, porque o ouvi dar risada. — Te aconselho Canelone de peito de peru. — disse mais uma vez o rapaz com um sorriso vitorioso.
— Pode ser! — eu disse sorrindo amistosamente.
Arthur, do jeito que estava, sentou-se do outro lado da cama e pegou o telefone que estava no criado que fica ao lado da cama. Discou para a recepção e ao fazer o pedido, o vi tapar o lugar de falar do telefone com a mão e virar para mim confuso.
— A gente pensou em tudo, menos na bebida. O que você sugere? — o que eu sugiro? Tem alguma coisa muito errada com essa criatura, muito mesmo. Tentei não parecer tão sem graça o quanto realmente estava.
— Sei lá, um vinho? — falei e rapidamente ele contestou.
— Nááá, bebi demais por hoje, que tal suco? — o que ele fazia me perguntando? EU NÃO SOU NINGUÉM, ARTHUR, ACORDA.
— Pode ser — falei com a voz fraca, estava começando a ficar com sono, mas ainda assim bem atenta ao filme. Notei que ele já havia desligado o telefone e estava sentado do meu lado, olhando para mim com os braços cruzados.
— Você tem certeza que não sabe quem eu sou ou tá me zuando? — OI?
— Juro que não sei! — respondi quase que no mesmo instante.
— Borracharia, posto de gasolina, peças sendo arrancadas de um carro, alguém cair de cima de um amontoado de pneus? — ele falava isso e gesticulava exageradamente, como se quisesse me fazer lembrar dele de algum lugar.
— Hum, você é frentista? — de todas as risadas que ele havia dado desde que o conheci, aquela tinha sido a mais escandalosa, como se eu tivesse falado uma grande besteira. Mas a pessoa fala “borracharia, posto de gasolina, peças sendo arrancadas de um carro, alguém cair de cima de um amontoado de pneus?” e quer que eu pense exatamente o que? Ator de Hollywood? — Que foi? — perguntei, mas tive a impressão de não ter servido para nada, já que ele continuou rindo inconformado, dando tapinhas na cama com uma mão e segurando a barriga com a outra.
— Na... na... Nada — ele disse tentando conter o riso, mas não deu muito resultado. Finalmente a sessão de risos acabou quando ouvimos baterem na porta e dizerem “serviço de quarto”. Arthur se levantou para atender e eu o observei fazer todo o caminho, nunca tinha visto um corpo tão definido, MEU DEUS, o que estava acontecendo? Não é normal eu sentir desejo. — Vamos comer? — ele disse apontando para as bandejas em um carrinho. Assenti e levantei, o cheiro era maravilhoso, ele realmente sabia o que estava pedindo. Fiquei surpresa pelo fato de Arthur ter me servido, parecia aquelas mães corujas, perguntando todo tempo “tá bom?”, “quer mais?”, cheguei até a rir.
Comemos bastante, apreciei cada pedaço daquele Canelone, estava delicioso, e sabia que não veria Arthur tão cedo, ou talvez nunca mais depois dessa noite. Também aproveitei para observá-lo comer, beber e até mastigar. Parece que o seu rosto foi desenhado à mão, e aqueles olhos... Os olhos mais azuis que eu já avistara até aquela fase da minha vida. Depois que comemos, ele se levantou e foi até o closet, que parecia ser enorme. Voltou de lá vestido em uma bermuda branca e uma camisa da Hurley, dando uma aparência ainda mais jovem do que quando ele estava no carro. Colocou um gorro da mesma cor da camisa e pegou as chaves do carro.
— Vamos? — ele não cansa de me surpreender. Como assim, VAMOS?
— Hã? — me fiz de desentendida.
— Lembra que eu perguntei se você podia ficar comigo até as nove? São nove horas! — o vi olhar o relógio em seu pulso. Essa foi boa! Eu, que sou a garota de programa, é que devia estar cronometrando, e não ele, o cliente.
— Você está falando sério? — falei confusa quando percebi que ele estava destrancando a porta para sair.
— Claro — ele disse concluindo com uma risada baixinha, que certamente achou que eu não fosse ouvir.
— Tudo bem, então — quem sou eu para questionar, não é? Levantei devagar, e andei da mesma forma até a porta, ainda tinha alguma esperança de ele dizer que estava brincando, que nós não íamos embora. Não queiram me matar, mas eu realmente me senti atraída por aquele cara. Mas não, era verdade.
Arthur abriu a porta e indicou para que eu saísse em sua frente, saí e ele fechou tudo. Fizemos novamente aquele trajeto do elevador de quando chegamos, mas dessa vez o contrário. Saímos já na garagem, de longe ele pressionou o alarme que abriu aquele carro espetacular. Entrei e ele entrou em seguida, fizemos o percurso inteiro em silêncio, mas o silêncio foi quebrado quando paramos em um sinaleiro e ele colocou uma canção bem conhecida por mim. Sem notar comecei a cantarolar baixinho, o fazendo rir, já estávamos perto da calçada onde ele tinha me pegado.
— Você é estranha... — arregalei os olhos, quem ele pensa que é para me chamar de estranha? Estranho é ele que pega uma garota de programa na calçada e não faz absolutamente nada ao chegar no quarto, até pede jantar para dois.
— E você... É gay? — era só o que passava pela minha cabeça naquele momento, então devolvi na mesma moeda. Percebi que já estava naquela calçada tão conhecida, ele havia acabado de encostar o carro. Olhou para mim incrédulo e apenas balançou a cabeça negativamente.
— Mulheres... — sorriu em seguida. Aquele sorriso “colgate” que acho que até me fez sorrir de volta para ele. Arthur tirou o cinto de segurança para pegar a carteira em seu bolso, em seguida tirou cerca de 500 libras e me deu. O olhei assustada, não acreditando, nem ao menos peguei o dinheiro de sua mão, ele ficou por alguns instantes oferecendo a quantia para o ar. — Não vai aceitar? — ele me olhou como se eu fosse um bicho de sete cabeças.
— Ahm, não tudo isso... sério, não precisa, nem fizemos nada! — quando falei isso, a expressão de surpresa dele triplicou.
— Você tá doida? Não fizemos nada? A gente jantou, você assistiu Romeu e Julieta, me esperou tomar banho pra comer, andamos de elevador e você me diz que não fizemos nada? — o tom dele era tão convencido que quase acreditei no que ele me dizia. Fiquei tão assustada que nem peguei dinheiro nenhum e saí correndo de dentro do carro. O mesmo fiz quando estava na calçada, corri para apanhar um táxi, eu tinha algum dinheiro no bolso, definitivamente tinha que ir para casa. Ouvi Arthur gritar “Rachel” e me seguir com o carro. ELE É ALGUM MANÍACO? Era o que eu estava pensando enquanto corria. Será que ele é desses que leva a prostituta para um quarto, não faz nada, convence de que é um bom moço e depois descobre todos os telefones, endereços dela e a mata enforcada ou com facadas? Quanto mais esses questionamentos me vinham à cabeça mais eu corria. E para o meu medo, mais ele corria com o carro me seguindo também. Até que finalmente o carro parou, percebi que não tinha ninguém me seguindo. Parei, me flexionei e coloquei as mãos nos joelhos, tentando pegar algum ar, já que estava ofegante. Não, não, não, definitivamente, não podia ser! Senti uma mão gelada tocar o meu ombro, lembrei que tinha um spray de pimenta no bolso e no mesmo impulso que coloquei a mão no bolso já puxei o spray e nem quis saber quem estava atrás de mim, me virei e o pressionei sem cuidado nenhum, ouvindo gritos inconformados e transtornados. Era ele, Arthur. Agora ele se contorcia tentando de alguma forma aliviar a dor que estava sentindo.
— O que você quer, seu maníaco disfarçado em um corpo bonito? — eu gritava e acho que ele nem ao menos estava me ouvindo, de tão desesperado.
— O... o... pega o... aaaah... o dinheiro... no... meu... ahhh... Bolso! — ele disse tentando apontar com uma das mãos para o bolso da frente de sua bermuda.
— Vou pegar mesmo, só pra você aprender a nos deixar em paz! Assassino! — o que eu estava pensando? Como eu poderia chamar alguém de assassino e ainda colocar a mão em seu bolso? E se ele tivesse alguma arma ou sei lá o que e disparasse contra mim? Mas no momento da adrenalina correndo pelo corpo nem pensei duas vezes, coloquei a mão no bolso dele e puxei as notas valiosas, saí correndo como se o tivesse assaltado e pude ouvir até dobrar a esquina seus suspiros de dor. Peguei o primeiro táxi que vi e fui imediatamente para casa. Chegando lá me certifiquei de que aquele rapaz não estivesse por perto e subi as escadas, abri a porta com certa rapidez, um pouco atrapalhada, já que a pressa é inimiga da perfeição. Entrei, tranquei a porta e fui me deixando escorregar, ficando sentada e encostada na porta, respirando ofegante. Depois levantei calmamente e fui para o meu quarto, Mel certamente não estava em casa ainda.
Tirei a roupa com cuidado, ainda estava me tremendo, e fui para o banheiro. Me olhei no espelho e respirei aliviada. Liguei o chuveiro, que estava com a água bem morna, me fazendo relaxar, aquela tinha sido uma noite difícil. Ou nem tanto. Arthur me veio à cabeça, comecei a lembrar de tudo o que aconteceu, quer dizer, tudo o que aconteceu antes de ele tentar me pagar. Não sei qual a razão de ter pensado aquilo, mas fiquei mal quando me veio a possibilidade de ele não ser uma pessoa ruim. Não, ele era lindo demais para ser ruim. Lembrei de quando ele segurou a minha mão quando saímos do elevador, e me peguei sorrindo inconscientemente. Nunca tive um cliente que pegasse na minha mão, só John, e naquele jantar oferecido pelos pais da Mel, dois anos atrás. Comecei a me sentir angustiada, será que eu deixei aquele rapaz sofrendo com pimenta nos olhos sem ele estar realmente planejando me matar? Eu sou louca? Ou ele é louco? Essas perguntas voaram para longe quando ouvi a porta sendo esmurrada. Enrolei-me na toalha e calcei uma sandália de borracha, saí pingando água por onde passava, meu coração ia acelerando à medida que chegava perto da porta, e se fosse Arthur? E se quando eu abrisse, ele pressionasse um pano com veneno sobre o meu nariz?
— Luinha, você está aí? Diz que você está aí amiga, pelo amor de Deus! — era Mel, meu coração quase parou, de tão aliviada que fiquei.
— Estou aquiii, agora pára de socar essa porta porque eu não sou surda — ouvi-a resmungar alguma coisa e abri a porta. Mel entrou bufando, já pude perceber que seu encontro não tinha ido às mil maravilhas.
— Foi uma merda! — parece que ela tinha adivinhado o que se passou pela minha mente.
— O que aconteceu? — após perguntar isso, ela arremessou a bolsa que segurava em cima da mesa e sentou bruscamente no sofá apoiando os pés na mesinha de centro.
— O QUE ACONTECEU? ESSE É O PROBLEMA, NÃO ACONTECEEEU — ela falou histérica, abrindo os braços para o ar.
— Mel, eu sou a garota de programa aqui! Você não pode sair transando no primeiro encontro não, sua louca! — ela virou para mim e jogou uma almofada, me pegando de surpresa.
— Dãããããã! Não estou falando disso, estou falando da química, sabe? Não rolou... ele é muito nerd, só fala de livros, livros, livros. Ah vá pro inferno, já tenho que encarar trocentos livros na faculdade e aquele imbecil vem querer conversar sobre LIVROS, MALDITOS LIVROS — não consegui segurar o riso. Mel continua a mesma louca de sempre.
— Ew, coitada de você. Mas pensa bem, eu nem me lembro qual foi o último encontro que eu tive, fora assim, hum, você sabe... — ela assentiu. — Vou trocar de roupa, já volto, vê se relaxa — concluí indo para o meu quarto. Depois de já estar vestida com uma camisola de seda, deitei em minha cama e abracei um urso de pelúcia, ouvi baterem e dei passe livre. Mel entrou e se sentou perto de mim, abraçando os joelhos.
— Como foi o movimento hoje? — ela perguntou. Adoro esse jeito da minha amiga, ela me faz sentir tão natural, como se eu trabalhasse em uma loja ou sei lá. A diferença é que no caso eu seria um produto vendido. Ok, voltando ao raciocínio.
— Ah, escondi-me algumas vezes, tava com preguiça — fiz careta.
— E então? Pegou ninguém? Caramba hein, você está fraca, amiga! — ela riu e me deu um tapinha no braço. Pensei duas vezes se contava ou não do Arthur para ela. Ele é um homem lindo, sexy e tal, mas fiquei com medo de contar da parte do spray de pimenta e a Mel me olhar como se eu fosse uma maluca desvairada.
— Teve um cara... — resolvi contar. Ela bateu palminhas, como se fosse uma grande novidade.
— Um cara...? — ela falou como que fazendo para eu prosseguir.
— Um cara muito bonito, jovem e com o par de olhos azuis mais bonitos que eu já vi. — ao ouvir isso, ela abriu a boca como se fosse soltar um grito, mas apenas levou uma das mãos à boca e me deu uns três tapas no braço.
— Conta mais, conta mais, conta maaaaaais — ela gritava mais ainda.
— Conta mais o quê? — eu me fiz de desentendida.
— Ai sua imbecil, ele é bom de cama mesmo? Digo, valeu a pena tanta beleza? — coitada da minha amiga, esperava uma grande resposta, pela cara que estava fazendo.
— Não transamos — dei de ombros como se fosse a coisa mais comum a se falar.
— COMO ASSIM? ELE É GAY? — ela falou espantada. Comecei a rir, também cheguei a pensar nisso, até perguntei a ele.
— Não sei, pensei mais que ele fosse um maníaco do que gay, até joguei spray de pimenta nos olhos dele — senti mais três tapas e a Mel me fez contar detalhe por detalhe da noite.
Ouvi expressões como “huuuuum”, “AAHHH MEU DEUS”, “que fofo” praticamente a todo momento. Mas a única coisa que ouvi na última parte foi “SUA LOUCA, DOENTE, VOCÊ É DOENTE”, já desconfiei que fosse ouvir isso e talvez ela tivesse razão. Depois ela me deixou dormir e eu fiquei sozinha com os meus pensamentos, a Mel comentou que queria muito conhecê-lo, que se eu não quisesse fazer programa com ele, podia passar pra ela, que ela aceitava, me fazendo dar boas gargalhadas... Não tão altas e escandalosas quanto as de Arthur, mas boas gargalhadas. Adormeci sem nem perceber.

Continua..

Todos créditos reservados á: Fanfic Obsession



Alguém gostou?? Se sim comenta , que eu posto outro bem grandão hoje ainda ! 

Um comentário:

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