sexta-feira, 7 de junho de 2013

June 15th


Capítulo 6.


(Colocar para carregar: Busted - Brown Eyed Girl)

Quatro dias se passaram desde aquele episódio. Naquela segunda-feira, não fui à calçada, estava com muita preguiça de deixar o edredom, e também estava garoando. Fui todos os outros dias, Arthur não apareceu lá e muito menos ligou. Aquilo me magoava, porque toda vez que lembrava de suas mãos em mim, sentia flutuar. Sentir a sua respiração tocar os lábios foi uma das melhores sensações que tive nos últimos anos.
Desejar aquele homem estava virando hobby. Então por que pra ele não foi assim? Ele devia estar com raiva de mim, ou nojo, ou viu que era errado se envolver com uma prostituta. Se envolver? Por que eu estou dizendo que ele deveria estar envolvido? Por que eu jogo o que eu estou sentindo para ele? Sou uma tola, por isso me iludo e sempre espero o que não vou ter. Pelo menos tive uma notícia boa hoje pela manhã. Tirei a nota máxima na pesquisa de história. E lembrei que tive a ideia de pesquisar sobre a Guerra Civil Americana por ter assistido “E o Vento Levou” com ele: Arthur.

Essa sexta-feira não estava sendo feliz como a da semana passada. Na semana passada, uma hora dessas, eu estava no clube com ele e seu amigo Chayzito. Já devia estar dentro da piscina, brincando com ele. Então uma semana depois estou aqui, na janela do meu quarto, observando a cidade, os carros passarem e me sentindo estranha, como se faltasse alguma coisa. E eu sei bem o que está faltando. Mesmo sem ter muito contato físico com Arthur, a sua presença já vale por mil abraços. Não vou mentir, a sua companhia se tornou quase um vício, mesmo o conhecendo há relativamente pouco tempo. Cansei daquela vista e fui até o som, que fica perto da minha cama. Peguei o porta-CD e vocês já sabem qual escolhi. Os meus terapeutas. Os irmãos Gallagher sempre têm o que dizer sobre o que eu estou passando. Sentei-me perto do som e apoiei a cabeça na cama, sentindo cada palavra da canção “Don’t Go Away”. Uma lágrima teimosa escapou quando lembrei o dia do cinema, depois do dia no clube, em seguida cantar com ele e por último ele sorrindo e acariciando aquela mulher no shopping. Arthur definitivamente me tratava como uma pessoa normal, ele conseguia me tirar da dura realidade e quase me fazer voar. Nunca senti isso, nunca. Tenho certeza de que ele nem ao menos imagina como me faz sentir. Eu devia ser apenas mais uma forma de ele poder se distrair. Mas não consigo entender por que me procurou de novo. Ele tem uma vida boa, eu acho. Quem ficou marcada e surpresa com tudo aquilo que ele fez fui eu, que nunca tive muitos momentos de felicidade. Então o que eu tinha para oferecer? Nada, absolutamente nada.

Continuei ouvindo a canção e lembrando mais momentos, agora não havia só uma lágrima teimosa, mas várias, e faziam rebelião. Além de Arthur, voltei a me lembrar de Bolton, de tudo o que aconteceu antes de vir pra cá. Como estavam os meus pais? Eu sei que eles não merecem que eu me preocupe, mas querendo ou não foram 16 anos vivendo naquela casa. Desde que saí de lá não ouvi falar mais nada. Não faço ideia de como eles estão vivendo, se ainda moram no mesmo lugar, se estão bem, mal, vivos ou mortos. Depois me lembrei daquele velhinho, o Leopold, do caminhão. Será que ele conseguiu rever os filhos? Será que ainda estava trabalhando? Queria ter a chance de reencontrá-lo, de reencontrar Carol e seus pais e até mesmo os meus pais. Reencontrar Arthur. É, estou mesmo cheia de problemas.
Enxuguei as lágrimas e decidi fazer algo para me distrair, então peguei a minha bolsa e lembrei do meu lugar favorito em Londres: a London Eye. Aquela roda literalmente gigante já serviu de refúgio tantas vezes, me faz bem ir lá. Saí de casa e peguei um táxi, antes de sair deixei um bilhete para Mel, caso não chegasse em casa a tempo. Quando fui me aproximando, já notava que um sorriso tentava se instalar em minha face, apenas deixei que ele se mostrasse. É impossível lembrar de problemas olhando aquela roda-gigante. Paguei e desci, andei olhando fixamente, havia muitos turistas por ali. Todos felizes e tirando fotos e mais fotos. Notei uma movimentação estranha, umas garotas histéricas dando pulinhos e preparando papéis e canetas. Foi então que uma esbarrou em mim, quase me jogando no chão. — Desculpe — ela disse cordialmente, mas estava ofegante e apressada. — É que o Mika, do McFly, está aí!
E deu um pulinho, gritando em seguida e correndo para perto dele. Apenas fiquei olhando aquela situação e rindo para mim mesma. McQuem? Não me chamem de antiquada ou por fora, mas é que não me ligo muito na música atual, nem na TV atual e nem em nada atual. Acho que já deu pra perceber. Ah claro, esse McFly tocou por meses no som da Mel, todos os dias. Gostei de uma música sobre uma garota que tinha cinco cores no cabelo, mas nunca prestei muita atenção nas outras.
Continuei o percurso, cada vez me aproximava mais da roda-gigante, não pude deixar de admirar. Mesmo conhecendo há muito tempo, sempre dá uma sensação boa se ver tão pequeno perto dela. Esperei um bom tempo para que sobrasse uma cabine, até que depois de uns 40 minutos consegui uma vaga. À medida que ia subindo, eu ia conseguindo pensar mais em tudo. Talvez a minha vida nem fosse tão ruim quanto eu talvez goste de acreditar. Digo, podia estar pior. Eu podia estar em Bolton, perto dos meus pais me infernizando, tenho certeza que se eu trabalhasse lá todo o dinheiro que ganhasse seria para sustentá-los. Não teria conhecido a Mel e muito menos conhecido o que é viver. E o principal: não estaria vendo a bela cidade de Londres no topo de uma roda-gigante. É, eu sou uma pessoa feliz, em partes. É como diz naquela canção: “sou pequena e o mundo é grande”. Quantas pessoas fariam de tudo para ter uma vida parecida com a minha, tirando a parte de ser prostituta.
Depois de alguns minutos, foi a hora de descer. Parecia estar mais leve, olhar cada pedaço de Londres em miniatura sempre me faz bem. Sinto-me como se de alguma forma pudesse controlar tudo, ver tudo e sentir tudo. Quando desci ouvi mais gritarias de menininhas atrás de mim, o tal Mika devia estar em uma das cabines e devia estar descendo nesse momento. Coloquei as mãos nos bolsos e saí de lá. Caminhei um bom tempo pela avenida ao lado. Estava precisando disso. Parei para comprar cachorro-quente, faz tempo que não sinto esse gostinho de alimento da rua. E isso é engraçado. Vi vários pais comprando bexigas para os filhos adiante, e notei o quanto essas imagens mexem comigo. Eu quero constituir família um dia. Mesmo que esse sonho demore muito tempo para se realizar. Quero ter um cara que me ame, que me faça sentir a pessoa mais feliz do mundo. Quero acordar todos os dias com a mesma pessoa, ter um bom emprego, estar formada em um bom curso. Olhar para trás e ver que tudo isso o que eu estou passando é passado, cinza e eu espero que bem distante. Casar, ver a Mel e o homem que ela ama ao meu lado no altar. Engravidar, poder dar essa notícia aos que eu mais gosto, ter meus filhos e vê-los correndo enquanto leio um bom livro ao lado do homem que eu amo, isto é, vou amar. É, mas isso parece estar tão longe de acontecer para mim. Acho até que talvez não aconteça. Na maioria das vezes que paro para pensar no futuro, me imagino quarentona, talvez com algum sucesso profissional e sozinha, sempre sozinha. Não tive um exemplo de família em casa, e acho que é até estranho para quem nunca sentiu isso desejar sentir. Acordei de meus devaneios e já tinha acabado de comer o cachorro-quente. Andei tanto, acho que nem senti os pés. Então peguei um táxi. Enquanto estava lá dentro, olhei para o relógio, que marcava exatamente 6 da tarde. A mesma hora que marcava no relógio de Arthur há uma semana, no clube. Balancei a cabeça e sorri fraco. Eu sou mesmo uma idiota.

Cheguei em casa e a Mel já estava lá, mas estava em seu quarto. Fui procurá-la.
— Noooossa, toda cheirosa! Vai pra onde amiga? — falei entrando no quarto e vendo-a indecisa entre várias peças de roupa jogadas na cama, vestida apenas de calcinha e sutiã, com o cabelo preso em coque. Ela se virou para mim e sorriu.
— Vou sair com o pessoal da faculdade. Quer ir?
— Não — usei um tom desanimado. — Você sabe, tenho que trabalhar.
— Esse ou esse? — ela falou pegando dois vestidos e segurando um em cada mão. O que estava na mão direita era um pouco curto e vermelho. Esporte fino. Já o outro era preto e tomara que caia.
— Esse! — falei apontando para o vermelho.
— É, também gostei mais desse — deixou o outro vestido na cama e enquanto vestia o escolhido, voltou a falar. — London Eye? Você tinha um encontro lá? — perguntou se olhando no espelho.
Fui até a cama e comecei a dobrar as outras peças que ela havia deixado esparramadas.
— Quem dera! — ri fraco. — Fui só espairecer — falei fazendo um movimento exagerado com os braços, fazendo-a rir.
— E conseguiu? — indagou se olhando de costas no espelho.
— É, acho que sim. Cheguei à conclusão de que a minha vida não é tão ruim — falei me dirigindo ao guardarroupas, guardando peça por peça.
— Claro que não. E vê se deixa pra ir à London Eye de novo quando eu estiver em casa, poxa! — fez bico.
— Oh céus, coitadinha de você! 'Tá bom! – massageei os ombros dela. — Por que você está tensa?
— Você ainda pergunta? — fez cara de inconformada. — Cada dia tentam arrancar mais a minha pele naquele escritório.
— Bom, então se diverte bastante hoje, volta relaxada! — sorri e fui até a porta.
— Luinha? — chamou-me antes que eu saísse.
— Diga — virei-me já segurando a porta.
— Scarpin ou sandália?
— Definitivamente scarpin! – ri e Mel agradeceu.
Saí do quarto dela e fui para o meu. Estava completamente aérea, quando ouvi meu celular tocar. Abri a bolsa e o peguei, deitando na cama para atender.
— Oi.
— Rachel? 
— Oi John — revirei os olhos.
Eu gosto dele, é muito legal e carinhoso comigo, quando me pega pra fazer programa. Mas o problema é que quando decide ficar no pé, liga praticamente a semana inteira pra falar nada com nada. E ele decidiu encher logo essa semana, de terça-feira até hoje, ligou todos os dias, no mesmo horário.
— Oi! Tudo bem? 
— Er, tudo. E você? – olhei para o lado e vi aquele maldito balde de pipoca, bufei.
— Tudo bem, mas você tem certeza que está bem? Acho que te ouvi bufar! — dã.
— Ah, impressão sua — tentei parecer normal.
— Você vai pra calçada hoje?
— E eu tenho escolha? — ri ironicamente, ele riu também. — Por quê?
— É só que eu queria te chamar pra jantar. — ah não, definitivamente NÃO. Já vamos jantar juntos no sábado, pra quê isso?
— Ahm — pensei em alguma desculpa. — Não vai dar, John. Tem um cliente marcado pra hoje, ele disse que vai estar me esperando assim que der 8 horas. A gente se vê amanhã, lembra? — rezei para ele acreditar.
— Ok, é verdade. Que horas você quer que eu passe pra te pegar amanhã? Lá na calçada? — por que ele estava perguntando agora? Amanhã vai ligar do mesmo jeito e perguntando a mesma coisa!
— Amanhã a gente vê isso, que tal? — falei impaciente.
— É, você está certa! Amanhã te ligo pra confirmar! – Você ia fazer isso de qualquer forma, John.
Despedimos-nos e eu desliguei. Fiquei com um pouco de peso na consciência, John tentava ser bonzinho, mas eu queria que entendesse que tudo tem o seu momento. Coitado, ele também não sabe o que se passa na minha vida particular. É, minha culpa de novo. Permaneci deitada com o celular na mão e olhando novamente para aquele balde de pipoca. Um filme passou em minha mente, lembrei perfeitamente daquele dia em que o compramos, quer dizer, que o Arthur o comprou. Senti um aperto no peito.
— Estou indo, viu? — Mel apareceu na porta do quarto, me despertando do sonho acordada.
— Ok, se cuida e se diverte por mim! — fiz cara de derrotada e ela riu.
— Você que não quer ir! Chata — deu-me língua.
— Tenho que trabalhar, né, amiga? — arqueei as sobrancelhas. — Você está indo de táxi?
— Não, o Jack está aí embaixo me esperando — sorri como se insinuasse que eles estão juntos e ela me mostrou o dedo do meio. — Deixa eu ir, estou de carona, sabe como é! – ela saiu. Mas não por muito tempo, nem deram 2 segundos e já estava parada na porta de novo.
— Que foi? Esqueceu alguma coisa?
— Sim. Estou bonita? — fez cara de conquistadora barata e eu comecei a rir, em seguida Mel riu também.
— 'Tá perfeita! — sorri cordialmente e ela piscou para mim, mandando beijos e finalmente deixando o apartamento.

Decidi levantar e tomar banho, tinha que ir trabalhar ainda, por mais que isso me desanimasse profundamente toda vez que lembrava. Precisava ficar em casa, sempre estou com preguiça, eu sei, mas fazer o quê? Essa vida cansa também!
Tomei banho com pressa e me troquei da mesma forma. Como já falei antes, quanto mais cedo eu for, mais cedo eu volto. Coloquei um vestido extremamente curto, um pouco rodado e calcei um tamanco razoavelmente alto. Peguei uma bolsa pequena para guardar a chave e saí de casa, fui para a calçada.
Tudo correu normalmente. Para a minha sorte, até que o cara que passou para me pegar não era lá essas feiúras e era bem novo. Devia ter uns 30 anos, no máximo. Tentei curtir aquele programa, estava precisando. Mas aí vocês já imaginam. Não consegui. Continuei sentindo como se fosse um robô, sentia cada toque e cada posição mais mecânicos do que os anteriores. Depois que encerramos tudo, ele me pagou e me devolveu para a calçada. Ainda era cedo, para a minha felicidade o programa não durou muito tempo. Então assim que desci do carro, notei outro, dessa vez familiar, estacionado do outro lado da rua. Não devia ser Arthur, eu acho, parecia nem ter ninguém lá dentro. E se fosse ele, do jeito que é maluco, estaria no meu lugar da calçada, que nem fez daquela outra vez. Normalmente, quando eu volto de um programa essa hora, espero por outro. Mas hoje realmente eu precisava voltar pra casa. Abracei-me tentando me aquecer, ventava um pouco mais forte e eu infelizmente não consegui muito resultado. Fui andando e sentia o vento gelado soprar meu rosto e meus cabelos, até que era uma sensação boa. Quando virei a esquina para chegar onde pego o táxi, notei um carro me seguindo. Apressei os passos, para conseguir chegar logo onde queria, estava com medo. Já ouvi falar muitas vezes de prostitutas sendo assaltadas, sequestradas e o diabo a quatro. Graças a Deus nunca aconteceu nada do tipo comigo, a não ser uma vez que percebi estar sendo seguida, mas consegui me esconder a tempo.
Comecei a correr, e quanto mais corria, mais o ouvia acelerar, até que ele passou por mim e parou. Vi a porta sendo aberta, uma sensação de desespero e vontade de gritar pareciam tomar conta de mim, mas depois de alguns segundos pude ver a pessoa que saiu do carro: Arthur. Esse idiota não cansa de me surpreender! Ele desceu do carro rindo e eu respirei aliviada, com a mão no coração, sentindo-o saltitar. Então começou a se aproximar e eu fiquei ali, estática.
— Ficou com medo? — começou a rir da minha cara, exatamente como ele sempre faz. Em seguida segurou a minha mão, que devia estar congelada. — Nossa, isso tudo foi medo de eu ser um maníaco?
— Idiota! — falei ainda ofegante, arrancando uma gargalhada dele.
— Tratei logo de mostrar que era eu, fiquei com medo de você estar com algum dos seus amados sprays! — ele colocou as mãos para o céu, como se agradecesse por eu ter esquecido o spray em casa. Comecei a rir.
— Também não é assim. Você me assustou demais aquele dia.
— Te assustei como? Só porque não fiz o que deveria ter feito? — nunca o vi ser tão direto! Senti corar. Depois de falar isso, ele segurou a minha mão com mais força. — Vamos?
— Pra onde? — olhei-o confusa.
— Vou te deixar em casa. Está ficando frio, e desse jeito que você está, vai pegar um resfriado — nem pude responder, quando vi, ele havia acabado de abrir a porta do carro para mim. Entrei e então ele a fechou, depois foi para o seu lugar.
Não cansei de o olhar dirigir. Senti sua falta. Meu coração parecia bater em um ritmo mais confortável. Era como se tivesse pegado o meu coração e o colocado pra descansar. Já devo ter dito isso mil vezes, mas nunca me senti assim antes. Quer dizer, completamente. Senti uma coisa parecida há dois anos, quando estava pegando o metrô para conhecer o apartamento que dividiria com Mel.
Arthur não desviou os olhos de seu caminho, acho que mesmo fazendo as piadinhas dele, ainda restava um constrangimento entre a gente. Por tudo que aconteceu na segunda. Mas eu estava feliz, apesar de não termos trocado uma palavra durante o percurso inteiro. Estava realmente feliz. Chegamos em frente ao prédio. Estacionou e eu fiquei encarando o painel do carro. Ele colocou uma mão no volante e com a outra ajeitou o cabelo, me deixando hipnotizada. Em seguida, virou-se para mim. Em menos tempo do que podia imaginar, aqueles olhos azuis já penetravam em minha mente, deixando-me completamente vulnerável e nas nuvens. Ficamos assim, em silêncio. Eu devia estar fazendo a cara mais idiota do mundo. E ele, ah, ele estava terrivelmente lindo, como sempre. O silêncio foi partido quando Arthur riu.
— Sei que isso é meio... Cara de pau, mas posso subir com você?
Meus olhos ficaram arregalados e eu fiquei confusa. O que eu responderia? Decidi fazer como o ditado popular e “seguir o coração”. Eu estava sentindo muita falta da companhia daquele cara, a quem eu queria enganar? Meu coração estava dançando de tão feliz por ele estar ali comigo.
— Pode — sorri fraco.
Subimos. Eu subi na frente e por várias vezes o peguei olhando para a minha “parte traseira”, que devia praticamente saltar toda vez que esticava uma perna para mudar de degrau. Toda vez que o pegava, ele ria e abaixava a cabeça, fazendo-me rir também. Entramos no apartamento e eu acendi as luzes. Ele foi direto para a poltrona e ligou a TV.
— Você tá folgado, hein? Já chega ligando a TV! — brinquei, enquanto trancava a porta.
— Eu sei que sou extremamente bem-vindo nesse lugar. E essa TV sentiu a minha falta essa semana, pode falar TV! — disse no seu tom mais brincalhão e soltou um beijinho para a televisão. Fiquei sem graça, ele realmente é bem vindo aqui, mas como pode saber disso? Grr.
— Dããããã! Isso foi muito besta, pior do que os Teletubbies, Arthur! — falei chegando um pouco mais perto e lhe dando um pedala.
Ele se virou e me olhou com uma cara confusa.
— Você não vai tomar banho?
— QUÊ? 'TÁ DIZENDO QUE EU ESTOU FEDENDO? — falei alto e dei um tapa em seu braço.
— Outch! – fez careta e fez carinho no lugar que bati. — Não, nada a ver. É que aquele dia você me disse que toda vez que volta dos programas se sente imunda! Sacou? — ele fez uma cara engraçada, como se esperasse que eu concordasse. Então fiz expressão de surpresa, porque realmente tinha lembrado de ter dito isso. — É, eu devia descontar esse tapa, mas vou deixar por isso.
— Ei, mas como você sabe que eu tive um programa hoje? — perguntei completamente confusa.
— Tenho sangue de detetive, você sabe – deu de ombros. Foi então que lembrei do carro que havia visto. Era realmente ele, ficou só esperando eu voltar para casa para vir junto. Sem vergonha!
— Então você ficou me espionando? Que coisa feia! Esperava mais de você! — falei balançando a cabeça. Ele riu e se levantou da poltrona.
— Se eu fosse você, corria. Também tenho sangue de atleta e te pego rapidinho! — bateu o pé, ameaçando correr atrás de mim. Soltei um grito e corri, ele veio atrás e eu entrei depressa no quarto, fechando a porta e pressionando-a para que não conseguisse entrar, mas ele empurrava com mais força, e eu já a estava perdendo, porque estava rindo demais. Fazer força e gargalhar ao mesmo tempo não combina muito e Arthur conseguiu entrar, então corri pro banheiro e consegui me trancar lá dentro.
— VOU TOMAR BANHO, Arthur. DESISTA! — falei, quer dizer, berrei em meio a risadas. Ouvi-o gargalhar do outro lado da porta.
— Então vê se quando for se trocar põe um vestidinho tipo esse que você tá! — a altura de suas gargalhadas triplicou e eu continuei rindo, mas sentia as bochechas vermelhas como duas maçãs. QUE SAFADO!
Nem me dei o trabalho de responder, apenas continuei rindo e fui tomar banho. O melhor banho de todos. Acho que o mais demorado também. Passei sabonete e shampoo quase que numa eternidade. Saí e escovei os dentes. Abri a porta do banheiro devagar, enrolada na toalha, para ver seArthur não estava no quarto. Mas não estava, então corri até a porta do quarto e a tranquei, antes que ele fizesse alguma gracinha. Ouvi a sua risada vinda da sala. Não que isso seja uma coisa difícil, já que até quando ri baixo a sua risada é meio indiscreta. Ele devia estar vendo algum programa humorístico. Então coloquei a toalha que estava enrolada em meu corpo na cabeça, para secar os cabelos e abri o guarda-roupa. Aquele velho dilema. O que vestir? Antes que pudesse me decidir, ouvi o celular pessoal tocar. Estava ao lado da minha cama e corri para atender.
— Oi?
— Luinha?
— Não, Britney Spears! Quem atenderia meu celular, Mel? — comecei a rir e ela me xingou de alguma coisa. Podia ouvir o som alto do lugar e muitas pessoas conversando.
— Nossa, como você é grossa! Já teve melhores dias, minha cara! — rimos e ela continuou. — Liguei pra te avisar que não vou dormir em casa!
— Como não? Vai dormir com o Jack?
— Sua *#$%, vai pra casa do $%@#%! Claro que não! Vou pra casa da Julia, ela me chamou e tal! Tudo bem pra você? 
— Sei, sei que não é o Jack... você finge que me engana e eu finjo que acredito! — ouvi-a resmungar, chamando-me de mais palavras grandes. — Tem problema não, pode se divertir aí! Tudo pelo seu bom humor de volta! — ela riu e nos despedimos.
Voltei para o guardarroupa. Vesti uma calcinha de renda e optei por um babydoll com um short não muito curto e uma blusinha de alcinha brancos. Tirei a toalha da cabeça e penteei os cabelos, depois passei um perfume, respirei fundo, destranquei a porta e fui para a sala. Arthur, que estava assistindo TV, desviou o olhar rapidamente, deixando-me completamente envergonhada. Olhou-me da cabeça aos pés e arqueou as sobrancelhas, dando um sorriso em seguida.
— Melhor do que eu imaginava!
Vocês imaginam bem a cara que um homem faz nessas horas, queria me esconder em um buraco se tivesse oportunidade. Apenas fingi ignorar e sorri pra ele, sentando ao seu lado no sofá.
— O que você está assistindo?
— Não tem olhos? — fez uma cara cínica.
— Que engraçadinho! — falei tomando o controle de sua mão e mudando de canal.
— Eeeeeei, aí é sacanagem! — e puxou o controle de volta. Cruzei os braços e bufei. Ele me olhou e riu. – Você que procura isso e fica querendo dar uma de ofendida!
— EU PROCURO O QUÊ? Você que me cortou, apenas fiquei com o orgulho ferido — olhei para a TV e ele começou a passar a mão no meu cabelo, deixando-me completamente em transe.
— Coitadinha, que mundo cruel! — e colocou a minha cabeça deitada em seu ombro. Pude sentir seu perfume, aquele perfume que me encantou desde a primeira vez que estive com ele. Como senti falta daquele cheiro. Não estava acreditando que permitiu termos esse tipo de proximidade desde, bem, você sabe desde quando. Decidi apenas aproveitar o momento e me ajeitei melhor, senti a mão que estava em minha cabeça descer para o meu ombro. O olhei de relance e percebi que olhava atento para a TV. Fechei os olhos e senti meu corpo relaxar, não teve nada que eu desejasse mais nesses últimos dias do que estar naqueles braços, com AQUELE cara. — Você não vai dormir, né? Não é justo! — falou me acordando do transe e me olhando.
— Não, quer dizer, acho que não — afastei-me, sentando direito, como estava antes e sorri fraco. Ele piscou e voltou o olhar para a TV. — Quer comer?
— Finalmente me ofereceu alguma coisa, estava achando que você era tão mal educada — balançou a cabeça rindo e me fez rir.
— Vou pedir uma pizza! — ele ergueu os braços comemorando.
— Deixa que eu peço, com essa minha voz de macho eles entregam rapidinho. E também você não deve entender nada de cardápios — deu de ombros. Dei um tapa em seu braço.
— Como você é capaz de dizer uma coisa dessas? — olhei-o inconformada, mas sorrindo.
— E como você é capaz de FAZER uma coisa dessas? — falou apontando para onde bati em seu braço.
— Desculpa, desculpa! – falei acariciando seu braço. — Então como prêmio de consolação e como pedido oficial de desculpas deixo você pedir! — sorriu vitorioso e puxou o celular do bolso.

Fiquei o observando, ele parece tão responsável, tão dono da própria vida. Tentei me intrometer e opinar um sabor de pizza, mas me impediu, dizendo que eu ia gostar do que ele pedisse. Dei outro tapa e ele disse que quando desligasse descontaria. E então o fez, mas não me batendo, e sim começando a fazer cócegas.
Ele tem dedos mágicos? Estava quase sem ar de tanto rir, cada vez que ria mais, sentia a intensidade das cócegas aumentar, devia estar acordando a vizinhança toda com aquelas gargalhadas, e ele ainda fazia “shhhh”, idiota! Tentava empurrá-lo, mas não tinha muito resultado. Então fui me rendendo e me inclinando, quando percebi já estava deitada no sofá e Arthur por cima de mim, com as mãos quase grudadas nas minhas costelas, gargalhando QUASE tanto quanto eu, já que levava vantagem por ser ELE quem estava provocando as minhas. Tivemos que parar, porque meu celular começou a tocar, DE NOVO. Arthur me largou subitamente e sentou, indicando com a cabeça para que eu fosse atender. Levantei ofegante e ainda rindo, passei por trás do sofá, indo ao quarto e dei-lhe um pedala. Atendi a MALDITA ligação.
— Quem é? — nunca fui grossa.
— Oi, er, Rach, é o John! — DE NOVO? AH MEU DEUS, ELE ESTÁ FICANDO SEM LIMITES!
— Hum, que foi John? — falei querendo que ele percebesse que havia me incomodado.
— Te acordei? — não, imbecil, você me tirou de uma sessão de cócegas com um homem lindo, mas fingi bocejar.
— É — falei simplesmente.
— Desculpa, é só que queria perguntar se você não queria mesmo sair hoje. Abriu uma casa noturna ótima e queria te levar... — deve ser a mesma que Mel estava.
— Não, hoje foi muito cansativo, John, não consigo mesmo — menti e ele pareceu aceitar, dando-me “boa noite” e desligando. Então usei a cabeça dessa vez e desliguei o celular.
Pronto, não ia ser interrompida mais uma vez. Voltei para a sala, e antes de chegar ao sofá, Arthur me olhou rindo, aquele sorriso ridiculamente perfeito.
— Vamos aprender pra que serve o botãozinho vermelho do celular, né Rachel? — falou batendo na própria testa, dizendo que sou burra. Então me aproximei e lhe dei mais um pedala, sentando ao seu lado de novo. — Porra, você só me bate! O que tem de errado comigo? Meus amigos também sempre me batem. Sou eu, sempre eu! — falou inconformado e fazendo bico.
— Ouuuuunnn, pobre Arthur! — apertei as suas bochechas e ele deitou a cabeça no meu ombro, então o abracei ao redor do pescoço com um braço e flexionei o outro para alisar os seus cabelos.
— Isso, faz carinho no seu escravo — começamos a rir. Ficamos assim um tempo, vendo o que ele estava assistindo na TV. Era um programa de auditório de games, com charadas e coisas do tipo. Ele sempre acertava todas, devia ser viciado nesses jogos, o que me fez rir e achá-lo mais parecido ainda com uma criança. Apesar de sua altura e sua beleza exuberantes.
Depois de algum tempo a pizza chegou, era um sabor que eu realmente nunca havia experimentado, tinha um nome estranho que nem lembro mais agora para falar. Fomos para a cozinha e nos servimos, colocamos refrigerante nos copos e ficamos sentados um de frente para o outro.
— NOOOSSA, isso é a coisa mais gostosa que eu já experimentei! — falei assim que coloquei o primeiro pedaço na boca. Arthur balançou a cabeça e levou uma das mãos para tapar os olhos, como se reprovasse o que eu fiz, rindo.
— Noooossa, como você é bruta, não te ensinaram a não falar de boca cheia? — colocou as mãos na cintura, como se fosse meu pai e arqueou uma das sobrancelhas. Comecei a rir e tomei um pouco do refrigerante.
— Não, e também nunca tive quem me ensinasse — dei de ombros rindo. Ele então se levantou e ficou atrás de mim, pegou a minha mão e a guiou, até levar o garfo à boca. Em seguida, enquanto eu mastigava, tampou a minha boca.
— Agora 'tá tendo, quero ver você falar! — falou fazendo ainda mais força. Eu não sabia se mastigava, se engolia ou se ria. Então acho que fiz tudo ao mesmo tempo.
— Eca, você é nojenta, melhor eu voltar pra minha pizza — saiu fazendo careta e se sentou de novo. Fiquei rindo incontrolavelmente e notei que ele também. Comemos em meio a brincadeirinhas, arremesso de calabresas e gotas de refrigerante voando. — Você tem canudos? — falou procurando por eles com o olhar, em algum canto da cozinha.
— Tenho, pra quê? Você é daqueles que acredita que os dentes amarelam quando se toma coca-cola sem ser com canudo? — ele balançou a cabeça.
— Nunca imaginei que você fosse me chamar de gay novamente, estou decepcionado! — e bufou, rindo.
— Aiii, nada a ver — ri sem graça. — Tem ali, naquela gaveta! — olhou de mim para a gaveta e voltou a me olhar, sério. — Que foi?
— Não vai pegar pra mim? — perguntou inconformado.
— Meu Deus, você dá trabalho demais! — levantei batendo o pé e fui até a gaveta, peguei um canudo e antes de voltar para a cadeira...
— ÊPA, quero dois! — sorriu provocando a minha ira, bufei, voltei e peguei outro. Dei-lhe os dois canudos. — Agora sim!
Ri ao vê-lo tomando coca-cola no canudo, parecia mais criança ainda. Estava de cabeça baixa, concentrada no meu pedaço quando senti algo minúsculo bater na minha cabeça. Levantei-a subitamente e vi Arthur me olhando, esboçando um sorriso e com o canudo na boca, porém fora do copo, apontando na minha direção.
— O QUE VOCÊ JOGOU EM MIM? — ele sorriu e me mostrou outro papelzinho enrolado minúsculo. — Não acredito que você, desse tamanho, ainda tem paciência pra enrolar papéis e arremessá-los através de canudos! — balancei a cabeça inconformada.
— 'Tá bom, então eu posso enrolar e jogar um em tamanho grande, sem canudos, mas... — antes que eu pudesse me defender, ele jogou em mim, acertando a minha cabeça. — Com as mãos! — falou mostrando-as já vazias e rindo.
Peguei um guardanapo, enrolei e joguei nele de volta, ficamos fazendo isso por um bom tempo, até uma das minhas bolinhas cair direto no seu copo.Arthur me xingou rindo e levantamos para despejar o refrigerante na pia. Enquanto estava de cabeça baixa fazendo isso, notei que ele foi até a gaveta dos canudos novamente. Quando voltei a olhá-lo, caí na risada, Arthur estava com dois canudos enfiados no nariz, um em cada narina, e dois na boca, cada um representando um canino. Ele esticou os braços, imitando um zumbi e eu corri para o meu quarto, com ele me seguindo. Fiquei empurrando a porta para que não entrasse, mas conseguiu abrir de novo. Então tirou os canudos do nariz e da boca e jogou no lixo do meu banheiro. Quando voltou, eu estava sentada no chão, escolhendo um CD.
— Vamos ver o que você tem! — e tomou o porta-CD da minha mão. Olhei para cima e o vi observar cd por cd, concentrado. — Hum! Esse! — falou arqueando as sobrancelhas e me entregando um cd do Busted, que era copiado e nem é meu, já que gosto mais de bandas realmente antigas. Mel devia ter deixado ele ali, junto com os meus. — Sai daí. — sentou ao meu lado e me empurrou de leve, dei um pedala novamente, mas deixei que escolhesse a música.

(Coloque a canção para tocar)

Ouvi aquela melodia doce começar, eu conheço essa música! Essa banda fez uma regravação da música de Van Morrison. Eu dançava com Carol quando tínhamos 10 anos, principalmente nas festas em sua casa. Aquela canção é muito gostosa. Fechei os olhos e comecei a dançar com a cabeça, ouvi Arthur rir e senti uma energia boa, então o ouvi cantar — com aquela voz que não ouvia desde o dia em que cantamos no carro, e que parecia novamente massagear os tímpanos — o trecho que se passava: “My brown eyed girl. You my brown eyed girl” (Minha garota dos olhos castanhos. Você minha garota dos olhos castanhos). Abri os olhos e o vi me encarando e sorrindo. E então ele continuou.

“Whatever happened
(O que quer que tenha acontecido)

To Tuesday and so slow
(Para terça-feira e tão devagar)

Going down the old mine
(Desceu a velha mina)

With a transistor radio
(Com um aparelho de rádio)

Standing in the sunlight laughing
(Mantendo-se na luz do sol sorrindo)

Hiding behind a rainbow's wall
(Se escondendo por trás de uma parede de arco-íris)

Slipping and sliding
(Dormindo e deslizando)

All along the water fall, with you
(Por toda a cachoeira, com você)

My brown eyed girl
(Minha garota dos olhos castanhos)

You my brown eyed girl
(Você, minha garota dos olhos castanhos)”

Arthur se levantou, puxando as minhas mãos e começamos a dançar, quando dei por mim já cantarolava o “sha-la-la-la” com ele, que me envolvia e me rodava às vezes. Senti como se estivesse em um daqueles filmes. Um casal feliz, dançando sobre o carpete do quarto. A única diferença é que não somos um “casal”, mas estávamos felizes. Dançávamos e ríamos bastante, de vez em quando ele me abraçava por trás e cantava no meu ouvido. Todos os problemas, todas as dúvidas, todas as inseguranças pareciam ter sumido. Estava finalmente “vivendo” o momento. Só isso. Aproveitando e sentindo aquele perfume, vez ou outra encontrando aquele par de olhos fascinantes me olhando e sorrindo, assim como os seus lábios. Eu não era mais Lua, nem Rachel, era apenas a SUA “garota dos olhos castanhos”. Arthur fez questão de frisar isso no último verso da canção, apontando para mim e olhando no fundo dos meus olhos, cantando em alto e bom som: “You my brown eyed girl.” Senti o coração na garganta.
Quando a música acabou deitamos ofegantes em minha cama. Havíamos perdido qualquer noção que talvez nem existisse mesmo. Dançamos muito. O cd continuou tocando e Arthur me olhou. Olhei-o de volta. Parecia querer me dizer alguma coisa.
— Você tem um papel e uma caneta? – perguntou em meio a respirações pesadas. Droga. Só isso? Tentei controlar a respiração.
— Tenho.
— Empresta? Antes que eu perca o raciocínio? — e sorriu, encarando o teto. Disse algo como “uhum” e levantei. Fui até a estante e peguei meu caderno, abrindo em uma folha livre, depois peguei a minha caneta e coloquei os dois em cima da barriga de Arthur, voltando a deitar. Ele agradeceu e levantou, segurando o caderno em uma mão e a caneta em outra, indo em direção à estante. Puxou a cadeira e se sentou, colocando-os lá em cima.
— Dãããã, se fosse pra você ir praí eu nem tinha me levantado — falei rindo e ele se virou fazendo careta. Depois voltou a ficar de costas para mim. Notei que desviou a atenção para seu lado direito. Voltou a me olhar.
— Você ainda tem isso? — indagou, apontando para o balde de pipoca e sorrindo.
— Você disse pra eu guardar... Aí está! — bati continência e voltei a encarar o teto.
— Louca... — murmurou e eu peguei meu travesseiro, jogando-o em suas costas. Ele riu e voltou a se concentrar no caderno e na caneta.
— O que você está fazendo? — levantei, me dirigindo à estante. Parei atrás dele e só consegui ler algo como “Eu e você temos muito...”; antes de conseguir ler o resto, ele virou a folha.
— Como você é curiosa! Fala de boca cheia, tem costume de agredir as pessoas, jogar spray de pimenta e ainda é curiosa? Você precisa de educação, mocinha! — Arthur falou rindo, se levantou e ficou de frente para mim, segurou fortemente os meus braços e me virou de costas para ele, forçando-me a ir até a cama, sentando-me lá em seguida. — Fica aí, quietinha que eu tenho que fazer isso com certa urgência — e voltou pra lá.
Bufei e fiquei olhando para a janela, que estava aberta. Entrava algum ventinho, as cortinas se movimentavam lentamente. O que aquele anormal estava fazendo? Uma carta? Ele não tem coragem de falar as coisas na cara? Ri internamente e deitei. Comecei a observá-lo. Ali, de costas, trajando uma camisa social preta com as mangas dobradas e uma calça da mesma cor, escrevendo concentrado. Tem alguma coisa que ele faça que seja feia ou sem charme? Porque se tiver, alguém precisa me mostrar antes que eu comece a me apaixonar. Arthur coçou a cabeça e notei que rabiscou algo que devia ter feito errado. Deitei de bruços, encarando a janela e não mais as suas costas. Parecia que tudo estava se ajeitando. Já não sentia aquela angústia habitar o peito, a cabeça já não latejava com problemas. Eu estava em paz. Sem que percebesse ou pudesse controlar, havia dormido. Dessa vez não tive sonhos estranhos como estava tendo por toda aquela semana. Sonhei com um jardim, um jardim realmente muito bonito. O céu nunca estivera tão azul, depois todo esse céu se transformou nos olhos de Arthur. Estava da mesma cor e me olhava sorrindo, abrindo os braços. Aproximei-me. Pelo que pude perceber, estávamos os dois de branco. Ele com um terno e eu com um vestido longo, com alguns retalhos. O abracei, não um simples abraço, mas o abraço que tanto desejei dar-lhe. Apertado, insolúvel. Então nossos olhares se encontraram. Senti novamente a sua respiração encontrar os meus lábios. Nossos narizes se encostaram, como se fizessem carinho um no outro. E nossas bocas...
— Desculpa — acordei subitamente sentindo Arthur atrás de mim e me abraçando. O olhei por cima dos ombros, confusa.
— Pelo quê? — falei tentando manter os olhos abertos.
— Achei que meu relógio tinha te machucado.
— Não — sorri fraco e voltei a fechar os olhos. ESPERA. — Que horas são? – perguntei sentando rapidamente.
— Três da madrugada — olhei para trás e era realmente o que eu estava pensando. Arthur estava deitado, dessa vez sem a camisa e a calça, só de boxers, aparentemente brancas, já que só pude ver pelo abajur estar ligado. Devia ter apagado a luz e deitado. — Que foi? Tem algum problema eu ficar? Se tiver eu já vou, ou então juro que saio cedo. Antes até que a sua amiga possa pensar em me ver — falou preocupado.
— Ná... Não, não esquenta, Arthur.
— Thur — ele me interrompeu, sorrindo. AH DEUS, ELE ESTAVA REALMENTE MANDANDO CHAMÁ-LO DE Thur? Eu sou a filha da mãe mais sortuda que existe.
— Ok, Thur — tentei soar naturalmente, na verdade estava corada. — Ela não vai dormir em casa — cocei a cabeça, ainda associando o fato de estar com ele ali, se oferecendo para dormir comigo.
— Ah que bom, estava com preguiça de ir pra casa, caso você me mandasse — sorriu maroto. — Vem, deita, não queria ter te acordado.
Fiz o que pediu e deitei ao seu lado, na mesma posição que estava antes, de costas para ele. Senti seu braço me envolver na cintura. De conchinha. Sempre quis dormir de conchinha. Não poderia me sentir melhor, acho até que dormi sorrindo.



To em falta com vcs né? Tava em época de Prova (denovo) e não deu pra postar espero que gostem e que comentem MUITO! Já sabem se tiver comentários posto mais Um Bônus pra vcs .. AA, se alguém tiver facebook e quiser que eu add , deixa o link aqui nos comentários ok? bjs 

Créditos de blog: Mandy, Heart LuAr

Todos créditos reservados á: Fanfic Obsession


4 comentários:

  1. Awwwn! Amei!!! Adoro essa web!

    ResponderExcluir
  2. mds que perfeitaaaaaaaaaa , posta mais um pfvr *-*

    ResponderExcluir
  3. pelo amor de Deus,posta mais,cara to apaixonada por essa web,me viciei,ela é um das melhores ou talvez até a melhor de todas as webs <3

    ResponderExcluir
  4. linda demais essa web

    ResponderExcluir

 

©código base por Ana .
©layout por Sabrina - Fashion Cats Designs