sexta-feira, 5 de julho de 2013

June 15th


Capítulo 18


(Colocar para carregar: Matchbox Twenty - Could I Be You)
(Colocar para carregar: Josie and the Pussycats - You don't see me)
Eu já estava pronta, agora só faltava colocar o arranjo na cabeça e terminar a maquiagem. Mel lutava com sua meia-calça preta e eu a ajudava como podia. Seus pais viajaram para a Espanha, a negócios, ou seja, sua mansão era apenas... Nossa. Ah, antes que eu esqueça, me formei! Finalmente consegui terminar o Ensino Médio. Isso elevou tanto a minha autoestima que se eu soubesse que seria assim, nunca teria largado a escola em Bolton. Era mais uma etapa vencida na minha vida. Agora era a hora de correr atrás de um emprego e, quem sabe, finalmente largar as calçadas. Mel concluiu mais um ano de faculdade, ela só tem o próximo ano até pegar o diploma. Nós duas não poderíamos estar mais felizes. Quer dizer, exceto pelo fato da nossa vida amorosa estar um tanto quanto complicada.
Melanie e seus dois homens: o que era uma simples diversão, está virando um certo problema. Mica sabe dela e de Chay, mas Chay nem imagina que ela esteja saindo com Mica ao mesmo tempo. Sendo assim, ela está cada dia mais estressada, porque ambos exigem mais tempo e ela não sabe mais o que fazer. Eu já disse o que deveria ser feito, mas Mel nem cogita a possibilidade de desistir de um dos dois. Então, creio que no fundo ela aprecie a situação. E a minha, bem, a minha não é novidade. Transo todos os dias, menos nos fins de semana — claro que não com quem eu realmente desejava estar fazendo isso — e meu “caso” com Thur é sempre concluído com “três pontinhos”. Nunca sei o que pode acontecer. Depois do almoço na casa de Mica, nós encontramos os garotos apenas duas vezes, na sexta e no sábado passados. Eles foram até o nosso apartamento e dormiram por lá. Não, nada aconteceu entre Thur e eu. Não sei de onde mesmo consegui resistir, suas investidas eram incessantes. Pegava-me quase arrancando as minhas unhas de tanta vontade de ceder, mas não, me tranquei em meu quarto e o mandei para o inferno. A nossa relação não estava tão constrangedora, talvez pelo fato de ele sempre quebrar o gelo. Thur me provocou o tempo inteiro. Quanto mais eu mentalizava não falar com ele, mais ele puxava assunto e me deixava corada.
Hoje é o grande dia: a festa à fantasia de Mel. E eu não vou mentir, tenho medo do que algumas doses de tequila e uísque podem fazer comigo. Digo, com as minhas vontades. Não vou ser hipócrita, eu sei que se eu topar com o Thur essa noite, vou ficar louca para colocar as mãos em volta de seu pescoço e beijá-lo como nunca fiz antes. Só que ninguém precisa saber disso, principalmente ele. Vou tentar me manter afastada o quanto puder. Vou grudar em Harry, isso. Ele sempre é o melhor parceiro de dança, então vamos dançar juntos a noite inteira e o Aguiar nem terá a chance de se aproximar de mim. Não da forma que ele faz normalmente e me deixa completamente maluca.
— Ugh! Isso machuca! — Mel me acordou de meus pensamentos, ao colocar uma tiara.
— É, por isso estou enrolando pra colocar a minha — falei passando um pouco de blush.
— Nossa, nós vamos arrasar muito hoje à noite — disse se olhando no espelho.
— Eu estou é com vergonha — confessei em um tom de voz trêmulo e Mel soltou uma gargalhada. — Que é? Não é porque sou garota de programa que não posso sentir vergonha! E outra, essa fantasia não está muito sugestiva, não? — perguntei rindo.
— Só pro Aguiar e pra mim né, que sabemos no que você trabalha. O resto... — deu de ombros.
O pior de tudo é o Aguiar, o maldito Aguiar. Já vou até me preparar para ser perseguida por ele e ouvir as suas risadinhas abafadas quando me ver fantasiada de dançarina de can-can. Mel e eu vamos estar assim. A diferença é a parte interna do vestido e alguns detalhes. Ambos os vestidos são pretos, mas o meu tem detalhes rosa choque; já o de Mel, vermelhos. Contratamos alguns seguranças, garçons e recepcionistas, não íamos ficar servindo ninguém, né? Pelo que conseguíamos ver da janela do quarto, muitas pessoas já estavam chegando. Ninguém que importasse tanto, já que a ansiedade mesmo era para ver os garotos. Grrr.
O DJ já tinha começado a tocar, afinal já passava das 11 da noite. Terminamos de nos arrumar e ficamos fazendo poses na frente do espelho, como se tirássemos fotos. Rimos da nossa idiotice e resolvemos descer. Antes, colocamos as tiaras.
A decoração da festa estava divina, tinham algumas velas pelo jardim e tendas rústicas. Os recepcionistas também usavam fantasias, o que acrescentava um clima de "todos estão curtindo"’. Ah, não posso esquecer o barman. O contratado foi aquele mesmo do aniversário de Mel, ele deu um desconto incrível, porque, segundo ele, nunca tinha trabalhado para mulheres tão lindas. Nós nos aproveitamos da situação e jogamos certo charme, o que o fez baixar ainda mais o preço. Descemos as escadas e fomos até o jardim. Cumprimentamos várias pessoas, na verdade, convidamos todas as pessoas de nossas classes, era realmente uma comemoração pelo fim do ano letivo. Por sorte, todos decidiram aderir ao espírito da festa e não tinha ninguém sem fantasia. Deixei a rodinha em que estávamos batendo papo e fui até o bar, pegar tequila para mim e para Mel.
— O que vai querer, francesinha? — o idiota do barman perguntou com uma cara safada, me olhando da cabeça aos pés. Ele estava fantasiado de pirata.
— Tequila, dupla! — respondi rindo e ele me atendeu quase que imediatamente. — Nossa, que eficiência!
— Quando isso me favorece, faço de tudo para atender a clientela — piscou e eu soltei uma risada abafada.
— Obrigada — falei ainda rindo e pegando os dois copos.
— Obrigado nada, isso vai te custar anotar o meu telefone — falou já pegando uma caneta no bolso e procurando um papel.
— Não, não. Deixa isso pra depois! — ri sem graça e tentei sair dali.
— Claro que não, me dê uma de suas mãos e eu anoto!
— Nããããão, eu vou suar e vai apagar, no fim da festa você me passa, ok? — desconversei, saindo dali com um copo em cada mão e andando praticamente de ré. Até que senti um peitoral e duas mãos em meus ombros. Como se isso não bastasse, ainda sinto a respiração perto da minha orelha.
— Vou te sugar todinha... — sussurrou e eu me virei em um impulso, quer dizer, primeiro virei a primeira dose de tequila. Era Thur, eu não estava tão surpresa, porque só pelo sussurro e pelo cheiro, sabia que era ele. Confirmar aquilo só acrescentou um pouco mais de batidas malucas em meu coração. Antes que pudesse xingá-lo pelo que disse, notei que estava fantasiado de vampiro. Sorri fraco.
— Ah, claro. Vampiro! — pensei em voz alta e ele riu.
— Não um simples vampiro, o Drácula — falou se vangloriando e eu ri. Ele estava deslumbrante, seu traje era completamente preto e seu rosto tinha uma maquiagem bem feita. O vampiro mais sexy que eu já vi. E olha que quando assisti ao filme do Drácula, achei que aquele era o homem mais sensual que os meus olhos já tinham visto. — Você vai ficar com os dois copos? — perguntou espantado, me vendo segurá-los.
— Não, esse é pra Mel — mostrei um dos copos.
— Deixa que eu levo — pegou o copo da minha mão e foi na frente, apressado. Corri um pouco para alcançá-lo.
— A Mel está ali, naquela rodinha — tentei guiá-lo.
— Eu sei — respondeu simplesmente e foi andando em direção a ela. Thur entregou o copo de Mel e eu fiquei com o meu, já vazio (não queria voltar ao bar e ter que inventar outra desculpa para não anotar no número do pirata). Ele tirou algumas fotos com os amigos dela e depois ficou ao meu lado. Eu tentava fingir que Thur não estava ali, o que não era possível. — Vem aqui — falou me puxando pela mão e eu nem tive tempo de recusar. Não que eu fosse realmente fazer isso.
— Onde? — perguntei tendo que apressar os passos, pois ele praticamente corria.
— Você vai ver, curiosa — me olhou rindo. Caminhamos um pouco e fomos parar do outro lado do jardim, perto da piscina. Eu estava realmente com medo daquela situação. — Aqui — falou parando de andar e passando a mão na cabeça.
— Por que você me trouxe aqui? — perguntei sem entender, o olhando.
— Não te falei que ia te sugar todinha? Então... — respondeu soltando uma risada alta e me abraçando em volta dos ombros. Eu realmente não conseguia entender.
— Dããã — espalmei a mão desocupada em seu peito e o empurrei. — Sério.
— Sei lá — cruzou os braços e olhou para a piscina.
— Aff Arthur, você me trouxe aqui pra “sei lá”? Tchau! — falei dando as costas e saindo rapidamente. Mas só na minha cabeça para achar que sairia dali de forma tão fácil. Thur me puxou com certa força e me prendeu em seus braços, em seguida arremessou o meu copo longe. — Isso custa caro, Aguiar — reclamei, olhando para onde o copo estava jogado, mas não quebrou, thank god.
— F***-se — riu e me segurou com mais força. Eu tentava não encará-lo. Não podia beijá-lo. Não mesmo. Mas ele procurava isso, com intensidade. Nossos rostos brincavam, o dele de atacar e o meu de desviar. As minhas mãos espalmadas em seu peito já não tinham forças para lutar contra e eu já estava hipnotizada com os seus olhos. Em uma fração de segundo, Thur fez o favor de pressionar seus lábios contra os meus. Tentei manter a boca fechada, de forma que não passasse de um selinho duradouro, mas não foi muito fácil. Ele pressionou tanto que não tive escolha. — Oh Deus, por que a minha namorada não consegue ser tão boa assim? — Thur disse assim que nossos lábios se separaram e eu não podia crer naquilo. O empurrei e saí realmente correndo. Idiota. Imbecil. O que ele tinha que falar na namorada ali? Eu achei que era a única pessoa que ainda lembrava da existência dela. Mas não, ele tinha que soltar um comentário egoísta e infantil que me fizesse sentir incrivelmente culpada por ter cedido e beijado novamente aqueles lábios cruelmente doces e vermelhos.
Voltei para o outro lado do jardim e dei de cara com Mica, que estava fantasiado de homem aranha.
— E aí? Vai querer dar um beijo de cabeça pra baixo? — perguntou me abraçando e eu ri. — Eu sei que vai, mas se eu fizer isso a sua amiga me aposenta — coçou a cabeça e franziu a testa.
— Mica! — bati em seu braço. — Bem que eu precisava mesmo de um beijo desses, de um cara que preste — falei em tom de brincadeira, mas eu sei que tinha uma certa revolta em minha voz, pois ele me olhou espantado.
— Então os seus problemas acabaram! Eu sou esse cara! Eu presto, sou lindo e ainda tenho pernas sexies — fez propaganda de si mesmo e eu gargalhei.
— Expecto Patronum! — ouvi atrás de mim e me virei assustada. Caí na risada. Era Chay, fantasiado de Harry Potter. Eu não sei se a fantasia era para ser engraçada ou se é simplesmente pelo fato de ser o Chay ali, mas eu não conseguia parar de rir, nem Mica — #@$¨% merda, do que os imbecis estão rindo? A melhor fantasia aqui é a minha!
— Claro que é, ninguém está falando o contrário... — ironizei, ainda rindo.
— Claro que não, a melhor aqui é a minha, porque, afinal, é minha — Mica disse, birrento, batendo no próprio peito.
— Cadê o Harry, gente? — perguntei procurando-o com o olhar.
— Serve aquela taquara rachada ali? — Chay apontou para onde Mel estava, e Harry estava ao seu lado, fazendo uma imitação de Elvis Presley, sua fantasia.
— Meu Deus, essa fantasia caiu muito bem nele! — falei espantada e rindo.
— QUÊ? O Elvis deve estar se revirando agora! Ele conseguiu f*** com a moral do cara. Diferente de mim, que elevei o potencial do Peter Parker — Mica disse ainda batendo no próprio peito.
— Potencial homossexual, você diz — Chay provocou, rindo.
— Você vai ver um dia o quanto eu sou homossexual — Mica respondeu e eu notei que em seu tom de voz tinha algo diferente... Estava cheio de mensagens nas entrelinhas.
— Vamos dançar, Micael? — o chamei, evitando que falasse mais besteiras, porque por enquanto Chay não tinha entendido o que ele queria dizer.
— Vamos, eu dançaria comigo mesmo, mas você sabe que isso é bizarro — respondeu e eu dei um tapa em seu braço. Despedimos-nos de Chay e fomos para a pista de dança.
— Mica, pelo amor de Deus, deixa de ser louco! — falei alto, para que pudesse ouvir, devido à música alta.
— Que foi? — perguntou rindo, ele sabia do que eu falava.
— É errado isso que você e a Mel fazem, mas não joga na cara do Chay, não.
— Quando ele merece, eu jogo essas indiretinhas inocentes. O Chay é burro demais pra entender, relaxa! — piscou e eu dei um soco leve em seu peito. A canção agitada já estava acabando e uma lenta começava.
(Coloque a primeira canção para tocar)
Mica colocou as mãos em minha cintura e eu coloquei as minhas em seus ombros. Mantínhamos alguma distância.
— Já pensou se eu te agarrasse? Ia fazer com a Mel o que ela faz com o Chay.
— Cala a boca, homem-aranha. Você nem sabe o que diz — falei rindo e ele riu também. Pareceu querer falar alguma coisa, mas notei que desistiu. Mandou um olhar suspeito para alguém que estava atrás de mim. Tirou as suas mãos da minha cintura lentamente e tirou as minhas de seus ombros, segurando uma delas.
— Tem alguém querendo dançar com você. Boa sorte — beijou a minha mão e saiu devagar. Antes de me virar para ver quem era, senti o seu perfume cada vez mais próximo e seus dedos massagearem a palma da minha mão. Thur e eu ficamos frente a frente. Ele me olhou com certa súplica, então eu apenas abaixei a cabeça e a encostei em seu ombro, assim como fiz com uma das mãos. A outra estava no ar, junto com a dele, entrelaçada. Senti seu toque em minha cintura e fechei os olhos. Estávamos dançando lentamente e eu sabia cada verso da música que tocava. É incrível como quando estou com Thur todas as músicas que ouvimos fazem algum sentido. Essa, para variar, dizia exatamente o que eu tinha vontade de dizer para ele, mas não era capaz.
“Well now, you're laughing out loud
(Bem, você está gargalhando)
At just the thought of being alive
(com a simples ideia de estar vivo)
And I was wondering
(E eu estava pensando)
Could I just be you tonight
(Eu poderia ser você apenas esta noite?)
You show your pain like it really hurts
(Você demonstra sua dor como se ela realmente doesse)
And I can't even start to feel mine
(E eu nem posso começar a sentir a minha)
Well, I'm standing in place
(Bem, eu continuo na mesma)
With my head first and I shake
(E eu começo a agitar a cabeça)
I see your progress stretched out for miles and miles
(Eu vejo seu progresso se estender milhas e milhas)
Comecei a lembrar de tudo o que estava acontecendo ultimamente. Comigo, com a minha mente, com Thur, com Sophie. Esse não é o tipo de situação que eu quero para mim. Até quando eu vou ter que ser sempre a distração? Eu queria tanto estar ali, com aquele homem, deitando a cabeça em seu ombro e não pensando em nada... Mas não, eu estou com ele, com a cabeça em seu ombro e não consigo parar de lembrar de vê-lo sorrindo ao lado da namorada e falando nela após me beijar.
This is the sound that I make
(Este é o som que eu emito)
These are the words I chose
(Estas são as palavras que escolhi)
Somehow the right thing to say
(De alguma maneira, as coisas certas para se dizer)
Just won't come out
(Apenas não aparecem)”
— You're laughing out loud. At the thought of being alive — sussurrei o trecho do refrão em seu ouvido e apenas me soltei de seus braços, deixando a pista de dança e procurando algum lugar para ir. Eu estava desnorteada, nem ao menos olhei para trás para ver como ele ficou. Eu não posso estar gostando de Thur, isso é ridículo. Eu não sou mais uma adolescente. Pior ainda é ver como tudo aquilo estava me afetando. Não consigo mais viver a minha vida normalmente, era como se ele tomasse conta da minha cabeça até nas horas vagas.
O bar, foi a única coisa que eu enxerguei durante a ‘fuga’ que fazia. Cheguei ao meu destino e pedi duas doses de uísque. Claro que tive que aguentar diversas cantadas do barman, mas isso não parecia nada perto do que tinha que aguentar dos meus pensamentos.
— Lua? Vem beber e nem me chama! — Mel disse sentando ao meu lado e pedindo algumas doses também.
— Desculpa, eu estava meio louca.
— O que houve?
— O de sempre — respondi desanimada.
— Thur? — perguntou num tom óbvio.
— Sim, o de sempre — repeti.
— Ah não, você não vai deixar de curtir a NOSSA festa por causa desse monstro, vai?
— É, você está certa! Jack Sparrow, tequila dupla! — pedi rindo e batendo o copo na mesa, Mel riu e pediu o mesmo. Tomamos algumas doses ali, sentadas e falamos muitas bobagens. Até sermos surpreendidas por “Harry Presley”, como ele mesmo fez questão de ser chamado naquela noite. Ele se juntou e ficamos os três enchendo a cara. Vi Thur de longe, rindo alto e cantando algumas meninas que estudavam com Mel. Mica estava na mesma rodinha e parecia tentar impressioná-las. Já Chay, conversava entusiasmado com uma garota que também estava vestida de algum personagem de Harry Potter. Tentei não me fixar muito e esquecer os “problemas” que nem eram para ser problemas se eu não fosse idiota e tivesse deixado a situação sair do meu controle. Por que o fato de Arthur ter namorada parecia pesar mais na minha consciência do que na dele? Era eu quem devia estar tirando maior proveito da situação, não ele!
— Quem está pronta para rebolar com o Presley, aqui? — Harry indagou, apontando para si mesmo e nós duas gritamos, levantando e segurando uma em cada mão dele. Caminhamos até a pista de dança e Chay se juntou a nós.
— Achei que você ia ficar com a cabelo de vassoura a noite toda! — falei entrelaçando meu braço no de Chay.
— É a Hermione, ok? — me corrigiu e eu ri.
— É o retardado que é fã de Harry Potter, ok? — Harry emendou e foi xingado.
— Ela não sabe de nada, aquela garota. Poser! — Chay disse inconformado, balançando a cabeça.
— Qual é, Chay. Só você que nessa idade lê aquilo! — Mel zombou e nós rimos, menos ele. — É, é até compreensível.
— Cala a boca aí ô dançarina de can-can, sei muito bem o que isso significa! — Chay rebateu e nós rimos ainda mais.
Chegamos à pista e fizemos uma roda grande, alguns amigos meus estavam nela. Dancei bastante com Jake e depois me virava para dançar com Harry. E vice-versa. Chay foi ao bar várias vezes pegar bebidas para nós quatro. Thur continuava perto do bar, investindo em uma garota, eu podia ver pelo jeito que agia e Mica, bem, Mica agora estava na nossa roda e eu juro que o vi entregar alguma coisa na mão da Mel. Ela, no entanto, mantinha o punho fechado para que não caísse. Dançamos bastante, até dancei com Mica também. Depois de algum tempo, Mel deixou a pista de dança e foi até a entrada da casa. Ela devia estar indo ao banheiro. Continuei dançando, agora com Chay, mas tirei a minha atenção de meus passos de dança por notar que Mica deixara a roda disfarçadamente, fazendo o mesmo caminho que Mel tinha feito. Esses dois não prestam, mesmo. Ninguém mais tinha percebido o que estava havendo, muito menos Chay, que agora fingia patinar na pista e depois foi para o meio da roda tentar fazer dança de rua — muito mal por sinal — e foi vaiado, principalmente por Harry. Tudo estava muito bem, até Thur resolver aparecer na pista com o braço em volta do pescoço daquela safada com quem ele conversava perto do bar. Ele tomava cerveja e falava coisas no ouvido dela, que ria como uma retardada no cio e me fazia querer dar uma voadora no meio dos dois. Espera, o safado é ele. Tem namorada, tenta me pegar e ainda vai atrás de outra? É problemático demais para eu ficar tentando entender. Que se dane. Que se exploda. Ele não vai estragar a minha noite, não vai.
O QUE É ISSO? LOIRA VAGABUNDA! Se esfregando sem vergonha nele, arranhando seu peitoral, que nojenta! E ELE? QUE CARA É ESSA? Grrrrrrr. Dá vontade de quebrar todos aqueles dentes que fazem os meus olhos doerem de tão brancos. Thur agora dançava com ela do mesmo jeito que fazia comigo no dia da bebedeira na casa de Mica. Era questão de segundos para que os dois estivessem se beijando. Eu não ia suportar ver isso, eu sabia. Vê-lo beijando Sophie já era um castigo, mas eu meio que estava preparada para ver, era como se fosse rotineiro. Agora uma nova garota não, ah, isso eu não ia conseguir ver de braços cruzados. Não consegui controlar as minhas pernas e quando voltei à minha sã consciência já tinha feito. Fui até os dois e derramei uísque no cabelo dela, fingindo tropeçar. Depois pedi desculpas e saí correndo, sendo seguida por Chay, que ria descontroladamente e se oferecia para ter o cabelo molhado por mim. Segundo ele, seria uma “honra”. Eu bufava, mas ria abafado. Só posso ter um neurônio a menos, só posso ser mais problemática que o Thur para agir dessa forma. O que eu estou fazendo? Agindo como uma adolescente que vê o namoradinho beijando a líder de torcida. EU TENHO QUE MORRER ASFIXIADA, lentamente, para ter tempo de ver o quanto sou burra e só faço as escolhas erradas.
— Vai, joga uísque em mim, me chama de p*ta do Thur! — Chay gritava, afeminado, me fazendo parar de andar por algum tempo e rir.
— Cala a boca, Micael... Foi sem querer! — menti.
— Eu sei que foi, acredito nisso intensamente. Mas se eu fosse você, tomava cuidado para não deixar isso sair do controle e enlouquecer... — ironizou e me deu a mão. — Vamos beber.
— Definitivamente é o melhor que fazemos! — falei deitando a cabeça em seu ombro e indo em direção ao bar.
— Umas vinte doses de tequila, meu chapa! — Chay bateu na mesa e me olhou arqueando as sobrancelhas.
— Você está falando sério? — perguntei espantada.
— Claro, sem chapar o coco a gente não aproveita nada! — respondeu dando de ombros e sentando. — Brincadeira, só dois copos mesmo.
— Ah bom! — sorri aliviada. Mas pensando bem, não seria nada mau ficar inconsciente e esquecer o quanto eu sou idiota. O pedido foi atendido e nós começamos a competir quem tomava mais rápido. Até os três primeiros copos, eu ainda sentia algum ardor na garganta, mas depois começou a descer como suco. O Chay já ria da minha cara, segundo ele, eu estava ficando vesga. Continuamos a competição e quando percebi, Harry, Mica e Mel já estavam em volta, batendo palma e fazendo suas apostas em quem beberia mais sem dar vexame. Tentei procurar Thur com o olhar, mas foi impossível, já que tudo começou a rodar. Olhei para o lado e Chay já batia na própria cabeça, reclamando de tontura, também. Decidimos parar juntos e fomos vaiados e chamados de trouxas. Levantei e encontrei os braços de Harry me segurando, porque não consegui ficar em pé. Claro que todos riram da minha cara.
— Ei, banana podre! — ouvi Chay zoar enquanto eu era ajudada por Mel e Harry a ficar de pé.
— Eu te ajudaria, mas alguma coisa entrou na minha unha, Rachel — Mica disse e eu mostrei o dedo. As pessoas pareciam se mover em câmera lenta. Eu tinha plena consciência de onde estava e com quem estava, mas era como se não conseguisse controlar o caminho que as minhas pernas faziam. Fiquei apoiada em Mel e fomos para a pista de dança, Harry agora ajudava Chay a caminhar. Bem feito, ficou rindo de mim.
— Mel, eu acho que não consigo dançar — falei sem nem ouvir a minha voz.
— Ah, você vai ter que dar um jeito, se ficar sentada é pior que quando a tequila pegar vai ser de uma vez! — ela disse chutando uma lata de cerveja vazia que estava no meio do caminho. Ouvia a voz de Chay muito distante, falando um milhão de bobagens e fazendo Harry e Mica rirem muito. Quando percebi, ele estava bem ao nosso lado. Eu já não funciono muito bem quando estou sóbria, tonta, então, sou pior ainda.
A única coisa que eu não queria e, mesmo desnorteada ainda continuava com esse pensamento, era ver Thur com aquela loira aguada. Tá, o aguado é ele, o safado é ele, mas eu não sei por que raios a raiva que sinto é quase que cem por cento dela. Respirei fundo e pedi que Mel me soltasse, ela me olhou preocupada e eu disse que tudo ficaria bem. Andei com um pouco de dificuldade, mas parei para dançar. Os meninos fecharam a roda e eu nem conseguia ver onde Thur estava, só sabia que na pista não era. A não ser que eu também tivesse desenvolvido problema de vista. É, ele devia estar se agarrando com ela atrás de alguma árvore. Dane-se. DANE-SE. Eu ia curtir a festa com a minha melhor amiga e os meus novos melhores amigos. Ele que se ferre. Comecei a dançar e meu estômago começou a revirar, eu não me dou muito bem com tequila em excesso. Puxei Mel e nem consegui falar nada, por sorte ela percebeu o que estava havendo e me seguiu, apenas dizendo para os meninos que ia comigo em casa e já voltávamos.
— Você vai vomitar? — perguntou enquanto corríamos, apenas assenti. — Ai droga! Vamos ao banheiro lá de cima, senão você vai ser perturbada aqui. — me puxou para as escadas e eu não sabia se conseguiria segurar por muito tempo. Ainda bem que consegui, e assim que a porta do banheiro foi aberta, mandei ver. Nem consegui chegar ao vaso. — EEEEEEWWWWWWWWWW! Desculpa amiga, mas eu não consigo olhar pra isso!
Fiquei de joelhos, antes que caísse, as minhas pernas tremiam demais e eu não conseguiria ficar em pé por muito tempo. Mel correu para fora do banheiro, para buscar desinfetante e panos para limpar aquilo. Mas antes de descer as escadas, ela voltou no banheiro e disse para eu não sair de lá, porque senão poderia passar mal de novo e sair vomitando pelo corredor. O que não seria legal, já que o piso era de carpete. O pior de tudo é que eu nem estava bêbada. Só estava tonta. A vergonha é ainda maior. Mel voltou logo, me deu um copo d’água e eu tentei ajudá-la a limpar, ela recusou, mandou que eu ficasse sentada, relaxando, pois limparia tudo. Depois que terminou, me tranquei no banheiro e lavei a boca, escovando os dentes em seguida. Parecia que tudo o que precisava sair tinha saído. Já não sentia embrulho, apenas a garganta estava um pouco dolorida. Saí do banheiro e lembrei que Mel, antes de sair, tinha ordenado que eu descesse imediatamente, que não queria que eu ficasse sozinha. Estranhei o seu excesso de preocupação, primeiro com o carpete e depois com o fato de eu ficar sozinha. Quanto ao carpete, eu entendo, estaria da mesma forma que ela e, não que ela não seja uma amiga atenciosa, mas não costumava me tratar como uma criança, principalmente quando eu fazia esse tipo de coisa. Resolvi parar de pensar nisso e deixei o banheiro. Estava muito cansada, minhas pálpebras estavam pesando e eu não daria conta de dançar, muito menos de ficar olhando os outros dançarem. Pensei primeiro em descansar no quarto de hóspedes e, depois, descer. É, era isso o que eu faria. A minha respiração estava um pouco complicada, o meu coração palpitava. Sou muito nervosa, quando passo mal parece que vou ter um troço. Cheguei à porta do quarto, que estava fechada, e ri de mim mesma ao ver a minha mão tremer quando foi em direção à maçaneta. Tive dificuldade para girá-la, mas insisti.
Antes não tivesse feito isso.
— Lu? — Thur perguntou, soltando a garota que estava em seu colo, pressionada contra a parede, usando somente calcinha e sutiã pretos. Eu não parecia estar vendo aquilo realmente, apenas continuei olhando fixamente para os dois. Larguei a porta daquele jeito e corri, voltando para o banheiro e me trancando. Sentei na tampa fechada do vaso, apoiei os cotovelos em meus joelhos e tampei os ouvidos. Fechei os olhos, cerrando-os e tentei me acalmar. É incrível como do mesmo jeito que o álcool vai entrando e aumentando a pressão, os sentimentos ficam aflorados e você não consegue controlá-los. Eu não queria chorar, juro que não, porque sei que sou mais forte que isso. Talvez se eu estivesse sã, nem ao menos tremeria. Antes que eu pudesse segurar ou ignorar, as lágrimas quentes já deslizavam sobre as minhas bochechas e eu sentia aquele velho aperto no coração. Isso me lembrou muito a primeira vez que o vi com Sophie, no shopping. Eu me senti exatamente daquela forma, mas agora estava muito pior. Muito menos suportável. Ouvia a música alta abafada e ia me acalmando. O coração foi voltando ao ritmo normal, as mãos já não tremiam tanto. Respirei fundo. Apoiei a cabeça na parede e continuei sentada. Abri os olhos lentamente e fiquei encarando a parede.
— Lu? — ouvi a voz de Mel chamar em um tom baixo e, em seguida, ouvi duas batidas leves na porta. Responder ou não?
— Oi — respondi simplesmente. Sou carente demais para esnobar a minha amiga, que só quer o meu bem.
— Abre pra mim? — perguntou e eu levantei, destrancando a porta. — Tudo bem com você? Estava chorando? — odeio que ela me conheça tão bem.
— Não — a abracei apertado e ela retribuiu, mexendo em meus cabelos. Afundei a cabeça na curva de seu pescoço.
— Eu falei pra você descer, Lu. Eu falei! — disse indignada e eu me desvencilhei, encarando-a.
— Hã? Você sabia? — a olhei arqueando as sobrancelhas e levando uma das mãos à boca. Lembrei da cena que vi quando abri a porta repentinamente e só deu tempo correr para o vaso, abrir a tampa e vomitar de novo. Eu odeio isso. Odeio ser fraca para bebida e odeio enjoar ao ter lembranças desagradáveis. Mel segurou o meu cabelo com uma mão, para que não sujasse, e massageou meu ombro com a outra. Eu estava sentada no chão, com as mãos no vaso e a cabeça enfiada, vomitando mais e mais. Tossi e Mel me deu um pouco de papel higiênico, para limpar a boca. Limpei e arremessei no lixo. — Desculpa — pedi, olhando para cima e vendo Mel me olhar com um meio sorriso, ela balançou a cabeça cordialmente e eu voltei a encarar o vaso. Tentava recuperar a respiração.
— O que está acontecendo? — ouvi a voz de Thur e aquele coração que acalmava as batidas, já não dava mais sinais de vida.
— Nada, bebeu demais — Mel disse e eu olhei para onde eles estavam.
— Quero ficar sozinha com a Mel, sai — falei abanando uma das mãos e Mel cochichou alguma coisa para Thur, que me olhou por cima dela e saiu. Ela, então, trancou a porta e mandou que eu tirasse a cara do vaso, para dar descarga. Feito isso, sentei no chão, encostada na parede e ela sentou ao meu lado.
— Desde quando ver o Thur com outra te afeta tanto? — perguntou me puxando para deitar a cabeça em seu colo.
— Eu também queria saber — respondi com a voz rouca, a minha garganta doía terrivelmente. Ela não disse mais nada, apenas ficou fazendo carinho na minha cabeça. Me encolhi e fiquei olhando para as minhas mãos entrelaçadas bem na minha frente. — Mel, volta pra festa. — ordenei, olhando para cima e a vendo olhar em um ponto fixo.
— Não, vou ficar aqui com você, até você ficar melhor — me olhou e sorriu, então sentei.
— Eu já estou bem. Obrigada, de coração — a abracei.
— Tem certeza? — perguntou ainda abraçada em mim.
— Tenho. Volta lá, eu vou ficar bem, só preciso descansar — respondi ainda forçando a garganta, para que alguma voz saísse, e a soltei. Mel me deu um beijo na bochecha e levantou, piscando para mim e deixando o banheiro. Olhei do vaso à minha frente para a pia e quase chorei pensando que teria que levantar e escovar os dentes de novo. Mas, com muito sacrifício, consegui ficar de pé e ir até a pia novamente. Primeiro lavei a boca só com água e em seguida enchi a escova de dente de pasta e escovei cada milímetro.
Enxuguei-me e saí do banheiro, ainda um pouco tonta, mas me apoiei na parede. Estava fraca, eu sempre fico assim. Fui até o quarto de Mel, sabia que lá não tinha perigo de pegar ninguém se agarrando, a não ser que fosse ela e Mica e, a essa altura, seria até cômico se isso acontecesse, porque aí eu esqueceria o que tinha visto. Ou pelo menos lembraria, mas com outras pessoas como atores principais. Mas não, ainda bem que o quarto estava escuro e vazio. Acendi a luz e estava tudo exatamente como tínhamos deixado. Fechei a porta e abri o guardarroupa. Tirei a minha fantasia e vesti o babydoll que tinha levado. Olhei para a cama de Mel e soltei um suspiro, deitar era tudo o que eu precisava. Deitar e dormir por uns três dias. Como isso não era possível, então me conformei de que apenas dormiria essa noite. Joguei-me naquele colchão mole e confortável e enterrei a cabeça em um travesseiro igualmente mole e igualmente confortável. Fiquei de bruços e lembrei que não tinha apagado a luz. Bufei, levantei e a apaguei. Joguei-me na cama novamente, dessa vez para dormir, mesmo. Fechei os olhos e tentei fazer o mundo parar de girar, apenas para que eu pudesse me sentir sozinha e sem problemas. Lembrei que nem tinha me despedido de Harry, Chay e Mica, mas Mel com certeza os diria que eu estava mal e eles entenderiam. Aquela era para ser uma noite maravilhosa. Se eu tivesse escutado a Mel, nada disso teria acontecido. Se eu tivesse feito o que ela disse, de quando sair do banheiro somente descer as escadas, não teria visto Thur entre as pernas daquela vadia loira. Meu Deus, já não bastam duas? Ouvi a porta do quarto abrir, mas as minha pálpebras estavam pesadas demais para que eu lutasse contra elas e abrisse os olhos. Devia serMel, porque estava meio barulhento e ela não é a melhor com portas. Apenas virei a cabeça para o outro lado e desejei mentalmente que ela não acendesse a luz. Mas ela o fez e eu coloquei o travesseiro sobre a minha cabeça.
— O que aconteceu? Bebeu demais? — ouvi uma voz bastante conhecida falar e abri os olhos bruscamente. Não sabia o que fazer, se respondia ou se fingia que estava dormindo. — E eu sei que você está acordada — droga. É, mas talvez ele precise mesmo ouvir algumas coisas.
— Pra você, eu morri! — respondi ainda imóvel.
— Deixa de ser infantil, Lu.
— Trato as pessoas da forma que elas merecem — falei ríspida, tirando o travesseiro da cabeça e sentando na cama. Thur estava parado, escorado na porta do quarto.
— E por que eu mereço ser tratado assim? — perguntou como se não entendesse e isso me deixou mais irritada.
— Porra, Thur — ele sempre me olha espantado quando me ouve falar isso. — Me beijar no jardim, falar da namorada e ainda pegar outra é demais, você não acha? — maldita língua.
— Não era pra você ter visto! E eu sei por que ajo assim — falou arqueando as sobrancelhas e coçando a cabeça.
— F***-se se eu vi ou não. Eu cansei desse seu modo de agir, como se todas as coisas erradas que fizesse tivessem uma razão que as compensasse. E eu não falo por mim, eu falo por uma pessoa que está há um ano presa a você, que não merece nada disso!
— Você pensa mais na Sophie do que eu! Para com isso! — Thur alterou a voz.
— Isso não é normal, Aguiar. Não mesmo. Você devia ter consciência do que faz! — quase gritei, balançando a cabeça, e ele sentou na beira da cama, de costas para mim.
— Eu tenho plena consciência de tudo o que eu faço, e eu tenho consciência do que provoco em você — disse simplesmente, como se estivesse dando ‘bom dia’. Fiquei entalada com as palavras que eu adicionaria, pois elas voltaram assim que ele disse as últimas palavras. Eu sei que Thur sabe o que provoca em mim, mas ouvir isso de sua boca é um tanto quanto assustador.
— Você não sabe de nada — desconversei, indignada, com as mãos tremendo.
— Você sente ciúmes, não sente? — perguntou se virando e me encarando. Eu devia estar com a cara mais imbecil do mundo.
— NÃO! Não viaja! — neguei, franzindo a testa.
— Então, por que está agindo assim?
— Porque eu simplesmente não devia ter te conhecido melhor, ter ficado amiga dos seus amigos e ter um dia te beijado. Tudo isso é errado, você devia ser um mero cliente e ter sumido da minha vida, ainda mais depois de ter levado uma boa quantidade de spray de pimenta na cara! — quase vomitei tais palavras e ele as ouviu atento. — Eu não quero mais, Arthur. Não quero. Vamos acabar com isso, chega! — falei colocando as mãos na cabeça e bufando.
— Acabar com o quê? — perguntou, me olhando confuso.
— Com essa relação pessoal. Eu amo os meninos, não quero mesmo ficar sem a amizade deles, e nem sem a sua. Mas é só isso Thur, amizade. Não quero ficar entre você e uma mulher que te ama e que pode te fazer muito feliz! — respondi com a voz trêmula, parte do que eu disse não era o que eu realmente queria ter dito. Eu não quero a amizade dele, porém é a única forma de eu ficar bem com a minha consciência e parar de fantasiar um futuro, sempre quebrando a cara.
— Então 'tá, é com a relação pessoal que você quer acabar? — perguntou e eu assenti, com vontade de negar. — Ok, então eu te proponho uma semana no Brasil como minha acompanhante, nada mais. Com todas as despesas pagas, quando voltarmos pra cá. Você vai ser a Rachel e eu estou te contratando — propôs, tirando os sapatos e a camisa que vestia.
(Coloque a segunda canção para tocar)
— O que você está fazendo? Não, sem chance! — indaguei nervosa, mas ainda digerindo o que ele tinha acabado de propor. Será que ele queria tanto estar comigo que até me contrataria? Não, não o Thur que eu conheço. Ou será que esse é mais um dos seus ataques de homem bonzinho? As coisas foram ficando piores do que eu imaginava, pois Thur apagou a luz, pegou dois travesseiros e se acomodou, sentado, abrindo os braços.
— Deita aqui, e eu não aceito ‘não’ como resposta — convidou, ainda com os braços abertos, e eu vi um sorriso tentador em seu rosto, mas tinha pouca claridade. Eu tenho como resistir?
— Só abraçados, nada mais. Promete? — perguntei me odiando pelo fato de já estar cedendo. Ele apenas assentiu, sorrindo fraco, e eu me joguei em seus braços, deitando a cabeça em seu peitoral nu e recebendo cafuné.
— Como eu te beijaria se eu sei que você estava vomitando? Eca — brincou e eu dei um tapa leve em seu rosto.
Sentir o perfume de Thur de novo parecia um remédio. Fiquei acariciando sua barriga e sentindo seu queixo apoiado em minha cabeça, sua outra mão passeava pelo meu braço, me deixando arrepiada. Fechei os olhos e suspirei, tive a impressão falsa de que tudo estava bem e que, mesmo sendo falsa, era o que iria me fazer dormir tranquilamente sem pensar tanto no amanhã. Apesar de saber que, a partir de amanhã, tudo poderia estar diferente. Essa podia ser a última vez que eu deitaria com Thur, mesmo que inocentemente. Eu não acho que depois das merdas que eu falei ele vá querer continuar tendo alguma coisa. E eu sei que se isso acontecer, a única pessoa que vai sofrer as consequências serei eu. E ir ao Brasil? Meu Deus. É melhor dormir. Respirei fundo e abracei Thur pela cintura, ele ficou roçando a bochecha em minha cabeça e ali mesmo eu adormeci, querendo, por alguns instantes, tê-lo conhecido de outra forma, não ser quem sou e até ser Sophie.
“I dream a world where you understand
(Eu sonho com um mundo onde você entende)
That I dream a million sleepless nights
(Que eu sonho a milhares de noites sem dormir)
I dream of fire when you're touching my hand
(Eu sonho com o fogo quando você segura a minha mão)
But it twists into smoke when I turn on the lights
(Mas isto se esvai em fumaça quando eu acendo as luzes)
I'm speechless and faded
(Estou sem fala e desvanecida)
It's too complicated
(É muito complicado)
Is this how the book ends?
(É assim que o livro acaba?)
Nothing but good friends?
(Nada além de bons amigos?)
Cuz you don't see me
(Porque você não me vê)
And you don't need me
(E você não precisa de mim)
And you don't love me
(E você não me ama)
The way I wish you would
(Do jeito que eu queria que amasse)
— Lu? — Thur chamou cochichando.
— Hum? — perguntei sem me mexer.
— Você está se sentindo bem?
— Uhum — respondi simplesmente e sorri para mim mesma ao ver que ele estava preocupado.
— Ok, então dorme, vou ficar aqui com você — disse passeando com a ponta dos dedos pelo meu rosto. Respirei fundo e senti cada toque, era como se ele me dissesse, apenas com aquilo, tudo o que eu esperava ouvir, ou enxergar. Só Arthur Aguiar me faz sentir assim.
This is the place in my heart
(Esse é o lugar no meu coração)
This is the place where I'm falling apart
(Esse é o lugar que eu estou me despedaçando)
Isn't this just where we met?
(Não é exatamente onde nos encontramos?)
And is this the last chance that I'll ever get?
(E é essa a última chance que terei?)
I wish I was lonely
(Eu queria estar sozinha)
Instead of just only
(Ao invés de apenas só)
Crystal and see—through and not enough to you
(Cristal é um 'vidro' que você vê através, mas não é suficiente)”

Continua ..

Autora: Ingrid H.

Ps: Desculpem a demora
Ps-2: Comentem !


3 comentários:

  1. Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais

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  2. Para ler a continuação entre neste link -- >> http://132blogdamylena.blogspot.com.br/ <<--

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