***
Trinta minutos mais tarde, depois de Mari e Jackie
ajudarem Lua a colocar o vestido de madrinha sem estragar o cabelo nem a maquiagem,
Mel entrou na sala e olhou chocada para Lua.
— Caramba, o que fizeram com a minha irmã?
As duas não vinham se dando muito bem no último ano. Lua
odiava o jeito como Mel deixava aquele idiota que namorava em segredo passar
por cima dela. Todo mundo via sua gêmea como atirada e destemida, mas Lua sabia
que Mel simplesmente conseguia esconder as emoções melhor do que o restante
deles.
Cada vez que Lua tentava abordar a situação, a irmã
bloqueava cada vez mais de sua vida. Mel era mestra em tiradas sarcásticas e
secas, como Lua sabia muito bem, e tinha sido atingida vezes demais nos últimos
meses. No entanto, apesar de tudo o que acontecera entre elas durante o último
ano, ela amava a irmã. Como não poderia, quando sempre foram as metades de um
todo?
E esse dia era um daqueles que Lua precisava de sua
gêmea, da outra metade que entenderia tudo automaticamente, no nível do DNA,
para dar-lhe segurança.
No afã do momento, quando tomara a decisão de sacudir um
pouco das coisas, o fato de Mari e Jackie a produzirem parecera dar-lhe poder.
Mas, para alguém como ela, que sempre ficava feliz em desaparecer na multidão,
esse cabelo e essa maquiagem eram uma distância muito grande do seu verdadeiro
eu.
E se as pessoas rissem dela?
E se
Arthur risse dela?
Ela morreria. Ah, sim, bem ali no meio daquele dia
especial de Chloe e Chase, na frente de 300 pessoas, cairia seca e morta no
chão.
Mel chegou mais perto e fez uma volta completa ao redor
da irmã, observando-lhe o vestido de cetim tomara-que-caia cor-de-rosa. Lua fora
a última a encontrar Chloe no loja de noivas para escolher o vestido de
madrinha. Ainda que fosse definitivamente mais conservador do que o de Mel, Lua
esquecera-se de quanto o cetim caía bem em suas curvas, mais justo do que
qualquer outra coisa que tinha, com certeza. Era um estilo clássico de estrela
de cinema, a la Marilyn Monroe no
vestido de “Feliz Aniversário, Sr. Presidente”, com uma fenda profunda subindo
por uma das pernas.
Por fim, Mel disse:
— Você está maravilhosa, Luinha.
Lua respirou profundamente, aliviada.
— Graças a Deus.
— Se bem que — Mel continuou com a testa levemente
franzida — não está parecendo muito você. — A expressão ficou mais
acentuada. A Mari convenceu você a usar
algo novo?
— A maquiagem foi ideia minha. E o cabelo também.
Mel franziu o cenho novamente.
— Não consigo entender. Você nunca quis experimentar nada
novo antes.
Lua forçou um balanço dos ombros, como se não se
importasse se a irmã a compreendia ou não. Mesmo que se importasse, e muito.
— Só queria ver como seria parecer um pouco diferente por
um dia.
— Humm. — Mel analisou=a novamente, da cabeça aos pés, e
Lua soube que sua irmã descobriria a verdade naquele exato momento. — Ah, não.
Não me diga que vai tentar conquistar o A...
Lua pulou em direção à irmã para cobrir os lábios de Mel
com a mão antes que o nome de Arthur pudesse sair. Gostaria de dizer a Mel que
sua transformação não tinha nada a ver com ele, mas não podia mentir para sua
irmã gêmea.
— Sei o que estou fazendo.
Mel balançou a cabeça, arrancando a mão de Lua de ciam de
sua boca.
— Você não faz a mínima ideia do que está fazendo. Eu
adoro o A...
— Mel!
— ... como um irmão, mas isso não quer dizer que não veja
os pecados dele, Luinha. Principalmente quando o assunto é mulher. — Mel
olhou-a com firmeza. — Não faça isso.
Ela nunca pensara em admitir isso a ninguém, nem mesmo à
sua irmã, mas agora pegou-se dizendo:
— Você não sabe o que é ser invisível. — Instintivamente,
ergueu o queixo e empinou os ombros. — Estou cansada disso. — Queria que sua
irmã gêmea entendesse, mas, em vez disso, Mel disse:
Você adora me
dizer quando estou fazendo besteira. — Lua tentou protestar, mas a irmão
colocou as mãos nos ombros dela e a fez virar-se para o espelho. — Desta vez, é
você quem precisa ouvir. Não faça isso, Luinha. — Mel apertou os ombros dela. —
Não. Faça. Isso.
Lua encarou a mulher incrivelmente sexy refletida no
espelho: nunca teria conseguido fazer isso sem ajuda profissional.
Era agora ou nunca.
— Preciso fazer isso.
Mel parecia séria e preocupada, como Lua jamais vira.
— Os garotos não vão se aguentar ao ver você desse jeito.
Quer dizer, eles estão acostumados a me verem tirar vantagem do visual, mas
você... nem pensar. Não vão gostar nem um pouco disso.
— Azar deles.
Finalmente, Mel quase sorriu, mas então perguntou:
— O que vai acontecer se seu tiro sair pela culatra?
O coração de Lua fraquejou ao pensar nas muitas coisas
que poderiam sair erras com relação a seu brilhante plano de ensinar uma lição
a Arthur por ignorá-la durante todos esses anos. Mesmo assim, achou-se
confiante e segura quando respondeu à irmã:
— Não vai sair pela culatra.
E, mesmo ainda sentindo o calor das pontas dos dedos de
Arthur onde ele havia lhe tocado o rosto, ela disse a si mesma que essa era a
verdade. Pois se havia uma coisa que todo mundo sabia sobre Lua Blanco era que
ela nunca, jamais, mentia. A ninguém.
E, certamente, não para si mesma.
Ellen, a gerente da vinícola de Marcus, que havia ajudado
Lua com muitos detalhes do casamento, enfiou a cabeça na porta do quarto.
— Está na hora de dar nosso adeus à noiva. Vocês duas
estão lindas. — Ela levou uns dois segundos a mais olhando para Lua, com uma
leve expressão surpresa no rosto, antes de dizer: — Na verdade, mais do que
lindas. Estão prontas?
O coração de Lua saltou no peito ao pensar em sua entrada
triunfal. Claro que não estava pronta... mas aquilo era o máximo que
conseguiria estar.
Ela juntou-se a Mel, a Sophia, namorada pop-star de
Marcus, a Megan, namorada de Gabe, e às duas outras madrinhas, antigas amigas
de Chloe, no pórtico. Como madrinhas principais, Lua e Mel decidiram no joquempô qual das duas entraria primeiro
com Marcus, o Blanco mais velho.
Lua tinha certeza de que Mel trapaceara. Sempre fazia
isso. No entanto, agora ela estava feliz
por não ser a primeira a entrar. Melhor ainda era ter Chay como parceiro
caminhando pelo corredor com ela. Esperava que todos ficassem babando sobre o
astro de cinema, pelo menos tempo suficiente para que se acostumasse um pouco
melhor à sua nova persona de deusa
sexy.
***
Como Mel previra, os irmãos pararam e ficaram
embasbacados diante dela ao caminharem até o pórtico. Infelizmente, a surpresa
virou cara feia em questão de segundos.
— Lua?
A expressão dos rosto de seu irmão mais velho parecia
anunciar uma trovoada, e ela teve que se forçar a manter os pés firmes no chão
na frente de Marcus, em vez de recuar e sair correndo de volta para dentro,
para limpar a maquiagem do rosto e pentear seu cabelo escovado e brilhante de
volta ao estilo a que todos estavam acostumados.
— Que diab...
Sophia colocou a mão no antebraço de Marcus bem a tempo.
— Ei, bonitão — ela brincou. — Ouvi dizer que você é o
dono dessa espelunca.
Graças a Deus que Marcus não tinha forças para resistir à
sua namorada de tirar o fôlego, especialmente quando ela, na ponta dos pés,
cochichou alguma coisa no ouvido dele e o fez puxá-la para um canto escondido
do pórtico e beijá-la.
Lua fez uma anotação mental para, no futuro, retribuir à
altura de Sophia pelo que acabara de fazer. Talvez um novo e-reader já recheado de livros para serem lidos durante as longas
horas em turnê?
Por azar, Gabe estava logo atrás e perguntou:
— Por que está usando toda essa maquiagem, Luinha?
Megan, que tinha se tornado uma das amigas mais íntimas
de Lua depois que as duas haviam se reencontrado alguns meses atrás, deu um
olhar cúmplice à amiga antes de entrar na frente de Gabe.
— A Summer precisa de ajuda com a cestinha de pétala de
flores. Está chamando você, Gabe.
O irmão bombeiro de Lua tinha se apaixonado loucamente
pela amiga dela e sua filhinha, depois de salvá-las de um incêndio perigoso.
Ele não tinha a menor chance de continuar prestando atenção no que quer que
fosse que Lua estava aprontando quando a filhinha de 7 anos de Megan precisava
dele.
Era uma pena que Ryan, Micael e Chay não tivessem
namoradas no pórtico para distraí-los. Ryan olhava de Lua para Mel.
— Vocês duas não vão fazer aquele negócio de gêmeas
trocadas de novo, vão? — disse ele.
Micael parecia totalmente confuso.
— Se estiverem aprontando alguma, é melhor eu nem saber.
— Então, continuou: — Juro por Deus, Boazinha, se alguém só olhar para você
atravessado, vou arrebentar a cabeça do cara no chão até virar adubo para o
vinhedo de Marcus.
— E se alguém olhar para mim? — Mel perguntou, parecendo
afrontada, obviamente tentando tirar a atenção dos irmãos de sua irmã gêmea.
— Você sabe se cuidar — ele respondeu.
— Eu também sei — Lua advertiu.
— Até parece — Chay retrucou.
O segundo irmão mais velho dela, que por acaso era um dos
maiores astros de cinema do mundo, a observava em silêncio. Apesar de serem
como a água e o vinho, ele sempre fazendo sucesso sob os holofotes e ela
querendo se afastar disso o máximo possível, Lua sempre fora especialmente
próxima de Chay.
Ele pegou na mão dela.
— Vamos ensaiar nossa caminhada pelo corredor.
Lua estava tão atormentada pelos irmão que só naquele
momento percebeu quem estava faltando.
— Onde está o Arthur?
— Ele teve uma emergência com as bebidas — Chay respondeu
e, então, quando estavam do outro lado do pórtico, elogiou-a: — Você está
linda, Luinha.
— Obrigada.
— O que está acontecendo?
Ela engoliu em seco.
— Eu queria ficar bonita para o casamento.
— Você já era bonita. Antes... — Ele apontou para o
cabelo, maquiagem e vestido.
O coração dela se apertou diante da maneira como o irmão
a olhou, como se fosse uma menininha a quem ele precisasse proteger. Será que
ele não via? Era exatamente por essa razão que ela precisava fazer isso. Assim,
todos parariam de pensar nela como a doce e meiga Boazinha.
Mas Chay não percebia, nenhum de seus irmãos percebia
que, cada vez mais, alimentavam a decisão dela.
Uma parte dela queria desesperadamente confiar em Chay,
amparar-se nos braços fortes do irmão mais velho. Mas sabia que era melhor não.
Se lhe contasse o que estava fazendo, ele provavelmente a trancaria na casa de
hóspedes até o casamento terminar.
— Vou entrar no corredor de braços dados com um astro de
cinema — ela forçou-se a dizer. — Quem
sabe onde essa foto vai parar?
Infelizmente, Chay não chegou nem perto de morder a isca.
— E desde quando você liga para essas coisas?
Desde nunca, mas isso era outra coisa.
Ela inclinou-se para frente e envolveu-os nos braços.
— Estou tão feliz por estar aqui. Estava com saudades de
você.
Sentiu o beijo dele em sua testa. Desde os 2 anos de
idade, ela nunca tivera um pai, mas nunca sentira um vazio. Não, pois sempre
fora envolvida por tanto amor, com Chay e Marcus e Chase para abraçá-la, com
Micael e Ryan para pegar no pé dela, com Gabe e Mel para brincar e brigar com
ela.
— Também senti saudade de você, Boazinha. — Ele
afastou-se para olhá-la novamente. Ela se perguntava por que não ficava brava
quando Chay usava seu apelido, mas queria acabar com Arthur quando ele o dizia.
— Acho que não esperava voltar da Austrália e ver que você tinha mudado.
— Ainda sou a mesma — ela insistiu com uma voz suave.
A verdade, porém, era que mal havia passado uma hora de
sua “transformação” e as coisas já estavam diferentes. Para começar, nunca
tivera conversas como essa com nenhum de seus irmãos. E, ainda que não
estivesse completamente segura se algum dia usaria esse visual de novo, apesar
de seus receios em se fazer de boba em um vestido elegante e saltos altíssimos,
havia uma parte dela que gostava da mudança. Que porcaria! Até mesmo a
garçonete de seu restaurante tailandês favorito tinha perguntado da última vez
que estivera lá: “Vai pedir o de sempre?”.
Lua, de repente, deu-se conta de que estava enredada em
uma armadilha. Uma armadilha boa e gostosa.
Os passos na direção deles fizeram Chay e ela se
separarem, e o irmão arrumou-lhe o cabelo de volta no lugar.
— Você realmente está linda, Lu. Diferente, mas
estonteante.
Dessa vez, só havia orgulho nos olhos dele. E quando os
dois obedeceram Às instruções de Ellen para seguir Marcus e Mel pelo corredor
através das vinhas até o caminho enfeitado com rosas, Lua não precisou fingir
seu sorriso radiante.
Preparem-se,
ela
pensou, Lua Blanco está prestes a soltar
as asas.
E, se desse tudo certo, Arthur Aguiar não faria ideia do
que o teria atingido.
...CONTINUA!...
Hey, girls!
Quero só ver a reação do Aguiar quando vê-la.
u.u
Querem o beijo deles logo? *-*
Perfect! posta ++! PF POSTA MAIS 1 CAPÍTULO DE "June 15th".
ResponderExcluirBeijo!
ResponderExcluirPosta mais posta!
ResponderExcluirPosta mais!
ResponderExcluirAcho que beijo? Na hora certa. Já to imaginando a cara do Arthur quando ver ela :P
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